E o Diabo voltou pela boca de Manuela Ferreira Leite

(Por Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 16/01/2018)

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Se estes dois anos e meio de governação socialista, com beneplácito da demais esquerda parlamentar, tem tido um efeito óbvio é o da melhoria da qualidade de vida da população, antes causticada pelos cortes e pela promessa de contínua austeridade pela coligação das direitas. Muito embora a generalidade da imprensa faça um ruidoso coro para desvalorizar esse facto inequívoco, ou dele distrair as atenções com casos de lana caprina, que se vão repetindo e esgotando, mas enchem o espaço mediático, essa convicção é partilhada por uma grande maioria do eleitorado conforme se deteta em sucessivas sondagens. Por outro lado se o patronato tem mantido incólume a muralha protetora da desequilibrada legislação do Trabalho, que conseguiu impor nos tempos da troika (com redução das indemnizações por despedimento, a facilidade em rescindir contratos de trabalho, a redução do tempo de férias, etc.), viu esfumar-se-lhe a possibilidade de seguir por diante a redução de impostos preparada pela comissão liderada por Lobo Xavier.

A possibilidade de ter as esquerdas a dominar o cenário parlamentar constitui um pesadelo permanente para esse grande patronato. Os senhores da CIP, CAP, CCP e demais associações patronais sabem que, mais tarde ou mais cedo, não só a legislação laboral verá infletido aquilo que já considerava como definitivamente garantido, como aumentarão as pressões regulatórias destinadas a dificultar a evasão fiscal e o branqueamento de capitais.

É esse o contexto em que a vitória de Rui Rio foi tão bem acolhida por quem anseia retomar os sonhos cor-de-rosa prodigalizados pelo governo de Passos Coelho. Se Santana poderia alcançar o objetivo com a brutalidade populista de um Trump seriam significativos os riscos de quaisquer ganhos se revelarem efémeros. Depois da experiência dos últimos anos o patronato já percebeu, que tem de ir puxando de mansinho a corda para o seu lado em vez de o fazer à bruta. Porque a lei de Arquimedes de Siracusa é tão incontornável, que forte ação gera igual reação.

Percebem-se pois os passinhos de lã com que Rui Rio procurará dar satisfação aos interesses de quem é provedor. O primeiro objetivo será sempre afastar o Partido Socialista do PCP e do BE, que o pressionam a ser mais consequente com os seus valores do que alguns no seu seio desejariam – e não é só Francisco Assis a sentir-se incomodado com a presente solução governativa!

As palavras de Manuela Ferreira Leite vêm nesse sentido: vender a alma ao Diabo para afastar a esquerda do poder, significa que, no seu íntimo, pretenderá forçar o Partido Socialista a virar ao centro, voltando a negar aquilo que sempre deveria ter sido. Fazer com que se torne mais social-democrata do que socialista. Ora o eleitorado tem conhecido particular satisfação com esta natureza assumidamente de esquerda do PS, pelo que com ela tem ganho. E não quererá que isso conheça um fim.


Fonte aqui

3 pensamentos sobre “E o Diabo voltou pela boca de Manuela Ferreira Leite

  1. Virar as costas a quem nos deu a mão quando precisámos , tem um nome- ingratidão! Não penso que o Dr. António Costa alguma vez possa alinhar nessa conversa de quem só sabe olhar para o seu umbigo e esquece o povo. A esquerda unida nunca mais será vencida, doa a quem doer, berre quem berrar, chore quem chorar!

  2. “Os senhores da CIP, CAP, CCP e demais associações patronais sabem que, mais tarde ou mais cedo, não só a legislação laboral verá infletido aquilo que já considerava como definitivamente garantido, como aumentarão as pressões regulatórias destinadas a dificultar a evasão fiscal e o branqueamento de capitais.”

    Com o Euro, o TO e o CETA isso não passam de sonhos, que grande parte do PS será sempre contra, de resto.

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