(José Preto, in Facebook, 16/01/2017)
O congresso dos jornalistas veio testemunhar a indigência que se abate sobre a profissão e a caracteriza hoje. Precários em todo o lado e mais de metade dos jornalistas ganhando menos de mil euros mensais.
As conclusões são meros equívocos. “Jornalismo de qualidade só com empresas viáveis”. Errado. Há inúmeras empresas viáveis – viabilizadas, por exemplo, por serem meros placards de bordeis – onde não há jornalismo digno do nome, onde não há qualidade seja no que for, onde as redacções estão cheias de precários e de gente a ganhar menos de mil euros por mês…
Não são as empresas viáveis que garantem o “jornalismo de qualidade” (parece que estão a falar de texteis, mas como o texto vem da tecelagem – ainda que outra tecelagen – é possivel não embirrar muito com isso). O que garante o jornalismo de qualidade é a qualidade do jornalismo e não outra coisa. O que é preciso – e também isso é outra coisa – é que a viabilidade das empresas (jornalísticas) assente na qualidade do jornalismo. Tudo de pernas para o ar, portanto. Como é costume, de resto.
Surpreende-me que não tenha havido uma referência audivel aos que marcaram o jornalismo. Há jornalistas estudados em Literatura. E nem uma palavra quanto a eles… A mais antiga das jornalistas portuguesas está felizmente viva. Ninguém lhe prestou homenagem.
Os mais velhos jornalistas com prestígio merecido – Baptista Bastos, por exemplo – não são referidos nem homenageados tanto quanto se tenha visto ou ouvido. (A qualidade é uma abstracção, é claro). Um jornalista é presidente da Academia das Ciências, se não erro. Nenhuma referência pública ao facto. Bando de broncos.
A Milenar China deixou claro que, a partir dos oitenta anos, os anciãos têm o direito de vestir a cabaia amarela, apanágio da dignidade imperial. E ocorre que a última vez que o jornalismo representou alguma coisa aqui na terrinha, culturalmente falando, foi com os que são hoje octogenários Mesmo que tivessem sucessores, deveriam ver reconhecida a sua posição de referência. Sem sucesssores, então, nem sei o que dizer…
Decidiram os fornalistas que não irão a conferências de imprensa se não puderem interrogar… É perfeitamente irrelevante. Indo ou não indo fica tudo na mesma seguramente.
O congresso dos jornalistas foi marcado pela indigência. E, se bem vejo, saldou-se na indigência de que se ocupou.
Contou com a presença de Marcello II. Esse grande e importante homem à escala deste sítio sem importância nenhuma que todos os dias se faz mais pequeno.
Registo o evento.
É bem certo que os únicos jornais em Língua Portuguesa com relevância neste território são o Pravda e o El País.