Novo Banco: o brutal falhanço do Banco de Portugal

(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 16/12/2016)

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A venda do Novo Banco vai ser de novo adiada, agora para janeiro. É bom lembrar que o banco deveria ter sido vendido em 2015. Depois no primeiro semestre de 2016. Em seguida na segunda metade deste ano. E agora vamos para 2017. O responsável pela estratégia de venda é o Banco de Portugal. A única conclusão é que o Banco de Portugal está a falhar clamorosamente.

Voltando atrás, ao fim de semana de 2 e 3 de Agosto de 2014, quando o governador do Banco de Portugal anunciou a resolução do Banco Espírito Santo, perante a estupefação da generalidade dos portugueses, já que a instituição era dirigida por uma administração liderada por Vítor Bento, da total confiança de Carlos Costa, e de onde já tinha sido varrida toda a influência de Ricardo Salgado e da família Espírito Santo.

Nesse fim de semana, Carlos Costa insistiu com Vítor Bento para ser o presidente do Novo Banco, que iria nascer na segunda-feira. Bento hesitou mas acabou por aceitar, sob pena da instituição não poder abrir as portas nesse dia. Acertou, contudo, uma estratégia com o governador: precisava de três a cinco anos para estabilizar o Novo Banco, credibilizá-lo no mercado, antes de o vender. Mas em setembro a ordem do Governo PSD/CDS foi para que a instituição fosse vendida o mais rapidamente possível, num prazo máximo de seis meses – e o governador fez sua essa orientação. Resultado: a 13 de setembro de 2014 é conhecida a demissão de Vítor Bento da presidência do Novo Banco.

O governador vai então buscar ao Lloyds, do Reino Unido, Eduardo Stock da Cunha, um dos “wonder boys” da equipa liderada pelo “golden boy” António Horta Osório, presidente do banco britânico. Com Stock da Cunha, que entrou a 14 de setembro de 2014, eram favas contadas: em três penadas o banco seria vendido, e recuperados os 3.900 milhões de euros com que o Fundo de Resolução capitalizou o banco.

Pois bem: quase dois anos depois, a 6 de julho de 2016, Eduardo Stock da Cunha anuncia a sua renúncia ao cargo de presidente do Novo Banco, regressando a Londres sem ter concretizado a venda da instituição. Para trás ficaram até essa altura mais de 27 milhões de euros em serviços de consultoria, assessoria financeira e jurídica e serviços de apoio jurídico, contratados por ajuste direto pelo Banco de Portugal, a maior arte dos quais relacionados com a resolução e a venda do Novo Banco.

Por exemplo, o BNP Paribas foi contratado como assessor financeiro dias antes de ser anunciada a resolução do BES, a 3 de agosto de 2014. O valor do contrato era de 15 milhões de euros para assessorar o Banco de Portugal na primeira tentativa de venda do Novo Banco, que acabou por ser suspensa.

Como a venda não se concretizava, o Banco de Portugal decidiu contratar mais uma pessoa: Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado dos Transportes do Governo PSD/CDS. O contrato, publicado no portal da contratação pública, para a prestação de “serviços de consultoria”, foi assinado em 18 de dezembro de 2015, mas com efeitos a partir de 1 de novembro de 2015, por um período de 12 meses e a contrapartida financeira de 304.800 euros.

O contrato já foi entretanto renovado por sucessivos períodos de três meses – e o Novo Banco continua por vender.

E assim falharam até agora todas as tentativas de venda do Novo banco, apesar de na primeira (em setembro de 2015) se ter dito que havia 17 (!) interessados. No final ficaram três, mas as negociações conduziram a um beco sem saída. Agora, o novo processo de venda tem vindo de novo a arrastar-se e vai cair para 2017, espera o banco central que em janeiro. E, como é óbvio, o maior problema é que até agora todas as propostas foram, do ponto de vista da oferta em dinheiro, totalmente descoroçoantes, para não dizer irrisórias. O que quer dizer igualmente que muito pouco do que foi colocado pelo Fundo de Resolução no Novo Banco (3.900 milhões de euros) será recuperado.

Perante isto, só se pode concluir, dois anos e meio depois, que estamos perante um falhanço rotundo e clamoroso da estratégia seguida pelo Banco de Portugal para vender o Novo Banco, não obstante os inúmeros consultores (a quem o banco central já pagou cerca de 30 milhões) e os três presidentes (Vítor Bento, Stock da Cunha e agora António Ramalho) em dois anos e meio.

Pode ainda concluir-se que o Banco de Portugal não sabe vender bancos. E que Carlos Costa é o pior governador que passou pelo banco central – apesar de continuar a atirar as culpas para cima de outros. Os seus atos atingiram pesadamente a imagem da República (quando decidiu passar cinco emissões obrigacionistas subscritas por grandes investidores internacionais do Novo Banco para o BES mau) e estão a custar muito (e vão continuar a custar) aos contribuintes (resolução do BES e do Banif). E o problema é que ainda faltam quatro anos para se ir embora.

4 pensamentos sobre “Novo Banco: o brutal falhanço do Banco de Portugal

  1. Conclusão obviamente precipitada ou está ao serviço de interesses desconhecidos. Onde já se viu o capital investir sem perspetivas de vir a ganhar e muito? Aos capitais não interessa o bem publico nem o bem de um país nem o bem do mundo!

  2. E já agora…podia nos dizer qual o vencimento de um Carlos Costa ??? Quanto custa aos contribuintes as borradas de um senhor cujo trabalho principal consiste em aumentar as dívidas do nosso estado ?????Aposto que muitos gostariam de saber.

    • VITOR BENTO é apenas um CARECA, falho de ideias economista na linha do velho medina carreira esse abutre. é dos tais que fala fala e fala mas nunca fazem nada Resta o mais parecido é o luiz campos e cunha, mas este mais mentiroso. Não aguentou a bronca e depois dizem sempre que a culpa é dos outros…
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