(Isabel Moreira, 29/10/2016, Expresso Diário)
Mais uma vez, o PSD mostrou que não sobra nada do que dá nome ao partido – social democracia.
Vem sendo evidente para todas e para todos que o PSD não tem discurso. Podia ter, mas não tem. Escolheu a trincheira de uma nova direita, desconhecida da nossa memória democrática, uma direita que apelida de “bolchevistas” ou produtos “das esquerdas radicais” medidas consensuais à social democracia mediana, como manuais escolares gratuitos para alunos do 1º ciclo básico.
Desta vez, o PSD foi mais longe no suicídio, na destruição do legado de um partido que fez parte da construção da democracia portuguesa.
No debate de quinta-feira, marcado pelo PSD, sobre as consequências das cativações orçamentais nos serviços públicos, a deputada oradora foi Maria Luís Albuquerque. Não vou perder tempo sobre o rosto do governo que cortou, demitiu, degradou, desmotivou e desorganizou em matérias de serviços públicos (tendo mesmo um plano para cortar mais, caso tivesse continuado a governar) teve o desplante de dizer acerca deste orçamento de estado. Foi tudo obsceno. Foi particularmente obsceno por ter sido dito pela deputada com o CV conhecido.
Desplante é uma coisa, destruir o legado de um partido político é outra. Ora, Maria Luís Albuquerque, na sua intervenção, disparou sobre os sindicatos, descobriu que representam interesses obscuros, talvez lóbis, assim, de repente, todo um discurso em nome do PSD que trata o sindicalismo como um obstáculo maldoso, quem sabe endinheirado.
Imagino que na Arrow Global Maria Luís Albuquerque não tenha de perder muito tempo a pensar em direitos dos trabalhadores. Mas no Parlamento fala em nome do PSD e arrasa uma das bases da social-democracia: a defesa do sindicalismo.
O PSD, assim, atira para um lixo cósmico o legado ao qual pertencia, à Europa social que retirou consequências de um conflito histórico entre capital e trabalho. As lutas sociais não foram ignoradas pelos democratas e a necessidade de regular os conflitos foi o berço do triunfo do movimento operário e sindical. Sem este movimento, como o PSD usava saber, pura e simplesmente não haveria Estado social.
A longa história da violação grosseira da dignidade das trabalhadoras e dos trabalhadores na era do capitalismo selvagem, quebrada com o sindicalismo, com a representação dos direitos dos trabalhadores, foi, para os defensores das correntes socialistas e sociais-democratas, uma vitória dos trabalhadores e da sociedade. Não há social-democrata que se preze que admita que uma sociedade é decente se a parte mais fraca da relação laboral – o trabalhador – não tem direito a estar sindicalizado ou que a sociedade é decente se as leis laborais são impostas sem concertação social.
Estamos a viver, ainda, momentos de enormes dificuldades no mundo do trabalho e, concretamente, nos serviços públicos. Há quem, precisamente nesses momentos, recorde a história, e se recuse rasgar o papel dos sindicatos, o mesmo é dizer o contrato social, a certeza de que a precarização laboral e a exploração, para além de indignas, não têm nenhuma relação positiva com o crescimento económico. É o que faz o PS.
Já o PSD, logo pela voz de Maria Luís Albuquerque, aproveita o momento para reduzir o sindicalismo a grupos de interesses, pondo a nu esta nova direita, a que vimos governar durante quatro anos e que assim continuaria se pudesse, avessa a compromisso coletivos alargados, uma direita antissindical, o mesmo é dizer uma direita que matou a social democracia, a que diria necessariamente isto: não há estado social sem sindicalismo; o desemprego e a precariedade reclamam o reforço do movimento sindical.
É este o suicídio do PSD.
Exatamente! Como foi e é possível essa pessoa continuar sentada no Parlamento? Como pode o atual governo pactuar com tal situação? Este o estado indigno a que Portugal chegou. E depois admiram-se dos quase sessenta por cento de abstenção!
Mas será que este ou qualquer outro governo está interessado em combater a abstenção? Mais parecem uns servidores de poderes invisíveis que cuidam de esconder não vá aparecer outros indivíduos mais diligentes que eles!
É de uma Kristalina evidencia que entre os politicos de direita não abundam nem escrupulos nem vergonha.
“Sem este movimento, como o PSD usava saber, pura e simplesmente não haveria Estado social.”
A direita moderna sabe-o perfeitamente, é esse o objectivo final.
Porque será que os comentadores comentam, as pessoas concordam, porém, nada acontece? Todos os partidos sem exceção querem lei igual para todos os servidores do Estado. Contudo, pergunto, qual será a VERDADEIRA CAUSA que leva o PS a distanciar-se das suas regras de transparência? Gostava de ouvir a opinião de Inês Moreira. O que estará por detrás das contraditórias e esfarrapadas justificações dadas? Um técnico, um serralheiro da finança – que me desculpem os dignos serralheiros – seraficamente dobra as leis de transparência que a ética republicana defende como pilares?