A MESTRA DE PASSOS

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Fonte: SINAIS DE FOGO – A MESTRA DE PASSOS – por Soares Novais

(Soares Novais, In Blog A Viagem dos Argonautas)

Apesar de ser Casanova, a senhora ex-ministra das Finanças não é dada a aventuras. Bem pelo contrário: a antiga mestra do Dr. Passos joga sempre pelo seguro. Atesta-o o seu currículo profissional, a forma obediente como cumpriu as ordens do senhor Schäuble, e o ter aceitado, agora, sem pestanejar, ser administradora de um fundo que compra aos bancos dívida em incumprimento e a tenta recuperar.

A senhora, que perante o clamor da Nação foi obrigada a pedir a avaliação da subcomissão de ética da Assembleia da República, tem nariz empinado, o olhar frio de um “serial killer”, e falta de pudor a toda a prova.

Veja-se: quer acrescentar ao seu salário de deputada, mesmo que a meio-tempo, o de administradora do dito fundo. Um fundo com a qual manteve contactos privilegiados enquanto titular das Finanças públicas, nomeadamente na questão do Banif.

Não sei qual será o parecer da subcomissão de ética da Assembleia da República, nem o que fará a senhora administradora. Mas sei, isso sim, que se trata de uma questão de decência. De decência moral e ética. Mesmo que a sua acção no tal fundo se limite ao mercado inglês.

Há muito que se sabe que a Assembleia da República está recheada de advogados/legisladores e que muitos dos arautos da austeridade só a querem para os outros. Para os mais frágeis, para os mais pobres. É o caso desta senhora ex-ministra e do dr. Cavaco, o quase ex-presidente que se notabilizou por ser um dos mais gastadores da Europa.

Também se sabe há muito que nenhum ex-governante tem necessidade de recorrer ao subsídio de desemprego. Por mais incompetente que seja. Alguns exemplos:

– Ferreira do Amaral saiu directamente de um governo do dr. Cavaco para presidente da administração da Lusoponte;

– Dias Loureiro deixou de ser ministro e fez fortuna como um dos homens fortes da Sociedade Lusa de Negócios – a exemplar proprietária do exemplar Banco Português de Negócios;

–  José Sócrates teve direito a alegado contrato milionário com uma farmacêutica;

– Armando Vara fez-se “banqueiro”, na Caixa Geral de Depósitos e no Millennium BCP, e foi administrador da brasileira “Camargo Correia” para o mercado de África, até o robalo congelado do sucateiro Godinho lhe cair no regaço…;

– Miguel Relvas tornou-se consultor e está prestes a tornar-se banqueiro com a aquisição do Efisa;

– Fernando Ruas, o “Quim Barreiros” de Viseu, que o dr. Passos fez questão de exportar para o Parlamento Europeu, embora já reformado não prescindiu de um cêntimo que fosse do chamado subsídio de reintegração;

– Maria de Belém acumulou o cargo de deputada com o de consultora do BES Saúde sem qualquer sobressalto cívico. Tal qual confessou durante a sua patética campanha para a Presidência da República;

– Ou Jorge Coelho que, depois de se demitir  de  ministro  após a queda da ponte de Entre-os-Rios, foi servir o amigo António Mota  da  Mota/Engil;

Estes são alguns exemplos. Mas outros há. Interpretados por outras figuras menores, tipo cãezinhos de colo. Como aquele capacho, que aos quarenta e poucos anos, garantiu subvenção vitalícia, logo após o seu patrão autárquico ter de prestar contas à Justiça.

O espertalhaço em causa valeu-se da lei que o protegia e borrifou-se para o facto da generalidade dos seus concidadãos ter de descontar mais de 40 anos para, depois, serem bafejados com reformas que os coloca no limiar da pobreza.

E há também quem estando em funções públicas não perca a oportunidade de fazer negócios privados. Como aqueloutro vereador que, depois de fechar os olhos a ilegalidades num empreendimento imobiliário de um dos três mais ricos de Portugal, viu a empresa do pai equipar 85 cozinhas do dito.

Por mim, entre estes falsos moralistas e o libertino Casanova prefiro este último. Giacomo Casanova era culto, inquieto, viajado.

A tempo: Faltam pouco mais de 50 horas para o dr. Cavaco deixar o Palácio de Belém. Celebremos o facto. E encomendemos a sua alma, pois estamos em tempo de Quaresma.

 

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