Com amigos assim quem precisa de inimigos?

(Rui Namorado, in Facebook, 14/10/2015)

Rui Namorado

Rui Namorado

1. Foram ou são dirigentes do PS. No decurso de um processo negocial conduzido pelos órgãos legítimos do partido defendem publicamente a submissão do PS à coligação de direita que nos tem atrofiado, enfraquecendo assim a nossa posição negocial. Os argumentos que aduzem coincidem com os da direita. Será que têm consciência de que estão a ferir profundamente o partido a que pertencem e, principalmente, que estão a deixar-se transformar em verdadeiros “cães de guarda” do grande capital financeiro e da teia de interesses que afoga o nosso país.?

2. Seguem a mesma linha dos anteriores. Desempenharam altas funções em nome do PS. Durante os desmandos do governo Passos-Portas estiveram civilizadamente calados. Foram extraí-los da naftalina política em que estavam mergulhados para virem vociferar angelicamente contra a posição do PS.

3. São associações patronais, jornais, estações radiofónicas e televisivas. Há uma deontologia de imparcialidade política que os deveria guiar. Mas alinham ruidosamente no coro de hipocrisias da direita vencida pelo povo, tentando fazer sobre o PS a mais miserável das pressões.

4. A direita é civilizada enquanto a deixam predominar. Quando afetam o seu domínio, mesmo que apenas institucional e parcialmente, perde o verniz, deixando vir á superfície a suam idiossincrasia autoritária e trauliteira. Perde de vista os interesses dos portugueses que tenta reduzir ás conveniências dos interesses que sustenta.

5. Os resultados finais do presente processo de formação do governo não são ainda conhecidos. A maior parte do eleitorado votou contra a coligação de direita. Não é certo, mas parece cada dia mais provável, que a maioria contrária á coligação de direita no governo possa gerar um entendimento suscetível de suportar um governo. Será a solução governamental mais fiel á vontade expressa pelo conjunto dos eleitores.

6. Se essa solução for inviabilizada pelo jogo livre das vontades de todos os partidos com assento parlamentar, pessoalmente ficarei desiludido, politicamente serei contrário á solução, o país perderá, mas a democracia permanecerá sem lesões graves , se tiver funcionado dentro de um inequívoco respeito pela Constituição.

Mas se uma solução que conduza o PS a formar um governo com suporte parlamentar maioritário soçobrar mecê da conjugação das pressões acima denunciadas, com outras não referidas mas bem evidentes oriundas de muitos centros de poder de facto , nacionais e internacionais, ficarão criadas as condições para um desastre político.

Nesse caso, não será apenas o PS o atingido no cerne da sua credibilidade e da sua dignidade de partido socialista irrenunciavelmente democrático. Não o serão apenas os outros partidos de esquerda predispostos a um acordo assim sabotado, não serão apenas as vítimas concretas de um então possível futuro governo de direita , não será apenas o país no seu todo. Em última instância, a inviabilização de um governo liderado pelo PS por força de pressões extra-institucionais e /ou por processos inconstitucionais, será um rude golpe na democracia. Se os votos de mais de cinquenta e cinco por cento dos eleitores forem ignorados em nome da exclusiva valorização de trinta e oito por cento dos outros, que democracia daí transparecerá ? A democracia ficará moribunda, o povo de novo cercado, mas a legitimidade política do poder descerá para zero.

Não sabemos o que poderá acontecer, mas é pouco provável que um governo ilegítimo possa dormir descansado. De facto, um poder ilegítimo por anemia democrática dificilmente será obedecido, a não ser á força.

8 pensamentos sobre “Com amigos assim quem precisa de inimigos?

  1. Trauliteiros temos muitos. Onde estava dito que se formaria uma maioria de esquerda? Têm todo o direito e é um passo que já devia ter sido dado (o PCP e BE assumirem responsabilidades na governação e sairem da contra tudo e contra todos), mas convenhamos que nunca foi dada essa opção ; e percebe-se porquê, a votação será diferente… e cá estaremso daqui a um ou dois anos para o conferir; certo?

  2. Deve haver um referendo como na Grécia. Se o PS de Costa tivesse avisado durante a campanha eleitoral que, mesmo se perdesse as eleições, iria formar governo com o apoio da extrema esquerda, qual teria sido o resultado eleitoral? Não teria sido uma maioria absoluta da do PaF e um substancial grupo parlamentar do … MRPP???

  3. Bem exposto!. Nada está a ser feito “ás escuras” por António Costa à margem do partido. O partido tem órgãos decisórios e a minoria “de responsáveis” que não aceita suas decisões terá de aguardar, dentro do partido, por outras formas legítimas de expor suas ideias. … Tudo o que vá para além disso, exposto na praça pública, só enfraquece o partido do qual “eles” dizem pertencer e defender.

  4. Estou completamente de acordo com o que aqui está escrito. A minha opinião é, por isso, idêntica. A direita está desorientada e os seus apoiantes socialistas saíram do armário para a defenderem. Assim se conhecem as pessoas acomodadas e mal colocadas no espectro político, pois falharam na escolha de partido e têm feito até agora que o PS pareça não ser carne nem peixe relativamente ao espectro político! Se é de esquerda é com a esquerda que se deve entender, caso contrário, é ao contrário, mas acho que chegou a hora de se definir e acabar com o jogo do empurra, ora é de esquerda, ora é do centro e, por vezes, até é de direita!

  5. Apoio os dizeres de Rui Namorado! É meu entendimento, de que o Governo deve prosseguir com as políticas que vem aplicando, e, aqueles que discordam, aceitável, têm oportunidade de se pronunciarem no seio dos orgãos do Partido. Integrei a Comissão Nacional e a Comissão Política Nacional e, ao tempo, não muito longínquo, era assim o expressar pensamento/opinião, em Democracia!

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