(Publicado por Carlos Esperança, in Facebook, 18/08/2021)

Tinha 38 anos quando os fascistas do genocida Francisco Franco o assassinaram em 18 de agosto de 1936.
ROMANCE SONÂMBULO
A Gloria Ginere e Fernando dos Rios
Verde que eu quero você verde.
Verde vento. Verdes galhos.
O navio sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra na cintura
Ela sonha em seu corrimão,
verde carne, pelo verde,
com olhos de prata fria.
Verde que eu quero você verde.
Sob a lua cigana,
As coisas estão olhando para ele.
e ela não pode olhar para elas.
*
Verde que eu quero você verde.
Grandes estrelas de geada,
Eles vêm com o peixe-sombra.
que abre o caminho do amanhecer.
A figueira esfrega o seu vento
com a lixa de seus galhos,
e o monte, gato garduño,
arrepia suas pitas polvilho.
Mas quem virá? E por onde…?
Ela ainda está no corrimão dela.
verde carne, pelo verde,
sonhando no mar amargo.
*
Compadre, eu quero mudar.
meu cavalo pela sua casa,
minha armação pelo seu espelho,
minha faca pelo cobertor dele.
Compadre, estou sangrando.
desde as montanhas de Cabra.
Se eu pudesse, mozinho
Esse negócio estava fechado.
Mas eu não sou mais eu.
Nem minha casa é minha casa.
Compadre, eu quero morrer.
decentemente na minha cama.
De aço, se possível.
com os lençóis holanda.
Você não vê a ferida que eu tenho
Do peito para a garganta?
Trezentas rosas morenas
Leva o teu peitão branco.
Seu sangue rezuma e cheira
ao redor da sua cinta.
Mas eu não sou mais eu.
Nem minha casa é minha casa.
Deixe-me subir pelo menos
até as altas corrimãs,
Deixe-me subir, deixe-me ir.
até as verdes barandas.
Barandais da Lua
por onde ecoa a água.
*
Os dois compadres já estão sobrando.
em direção às altas barandas.
Deixando um rasto de sangue.
Deixando um rasto de lágrimas.
Eles tremiam nos telhados
Lampiões de lata.
Mil pandeiros de cristal,
feriam a madrugada.
*
Verde que eu te quero verde,
verde vento, verdes galhos.
Os dois companheiros subiram.
O longo vento, deixava
na boca um gosto raro
de gel, de hortelã e manjericão.
Compadre! Onde está, diga-me?
Onde está a minha menina amarga?
Quantas vezes ele te esperou!
Quantas vezes eu esperará por você?
cara fresca, negro pelo,
nesse verde corrimão!
*
Sobre o rosto do aljibe
A cigana estava balançando.
Verde carne, pelo verde,
com olhos de prata fria.
Um pumbano de lua
Segura-a sobre a água.
A noite ficou íntima.
como uma pequena praça.
Guardas civis bêbados,
na porta batiam.
Verde que eu quero você verde.
Verde vento. Verdes galhos.
O navio sobre o mar.
E o cavalo na montanha.
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