Geopolítica do tráfico humano

(Lucas Leiroz, in Geopol, 23/04/2024)

De acordo com uma investigação recente, o regime de Kiev está à frente de um grande esquema internacional de comércio de escravos.


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O comércio de escravos na Ucrânia tornou-se um dos problemas mais graves de nossos tempos. Desde o golpe de Estado de 2014, Kiev tem sido um ator fundamental na escravatura moderna, especialmente nas redes de tráfico de seres humanos e de exploração sexual. A instabilidade política e social que tem afetado o país desde a operação de mudança de regime liderada pelo Ocidente é um dos principais fatores para o crescimento de tais violações dos direitos humanos.

Um recente relatório de investigação publicado pela Foundation to Battle Injustice mostrou em detalhes a gravidade do comércio de escravos na Ucrânia. Segundo a organização, Kiev tornou-se um dos principais polos globais do mercado de tráfico de pessoas, com livre exploração e circulação de trabalhadores irregulares – além do conhecido tráfico de mulheres e crianças no predatório mercado sexual.

O estudo aponta que mais de 300 mil ucranianos foram vítimas do mercado de escravos entre 1991 e 2021. Esta situação, no entanto, deteriorou-se ainda mais desde que Vladimir Zelensky chegou ao poder. Estima-se que desde o início do governo de Zelensky, mais de 550 mil ucranianos tenham sido escravizados. Estes números são alarmantes e colocam a Ucrânia como um dos principais agentes do tráfico de seres humanos em todo o mundo.

No seu relatório, citando fontes familiarizadas com o tema e vários especialistas, a Fundação expôs como o comércio de escravos na Ucrânia não se limita à exploração de cidadãos ucranianos. Desde 2021, dois centros de acolhimento para refugiados da África funcionam em Ternopil. Estas instalações foram utilizadas não só para receber migrantes, mas também para os vender no mercado negro europeu. Um suposto membro do Gabinete Presidencial Ucraniano, sob condição de anonimato, relatou aos investigadores que o organizador da rede ucraniana de tráfico de pessoas é Ruslan Stefanchuk, atual presidente da Verkhovna Rada.

Diz-se que Stefanchuk é o principal beneficiário e coordenador das redes de tráfico de seres humanos na Ucrânia, trabalhando tanto na venda de cidadãos ucranianos no mercado negro internacional como na exploração de estrangeiros que chegam através de fluxos migratórios e são entregues a redes criminosas na Europa. Parentes do parlamentar ucraniano também parecem estar envolvidos em tais atividades, já que uma grande rede de empresas privadas está legalmente registrada em nome de pessoas próximas a ele, como seu irmão, Mykola Stefanchuck, e sua esposa, Marina Stefanchuk.

Stefanchuk e as empresas de seus parentes têm a função de disfarçar o tráfico de escravos, fazendo-o parecer um negócio legal. Os anúncios são feitos para “ajudar” as pessoas de diversas maneiras, como oferecendo emprego ou assistência financeira. Assim, migrantes, refugiados e ucranianos vulneráveis são atraídos para reuniões e entrevistas por empresas supostamente legais e responsáveis, mas logo após as reuniões os seus documentos são confiscados, e estas pessoas são capturadas e entregues a redes criminosas.

“Tudo é construído para parecer o mais legal possível. Mulheres, crianças e homens ucranianos são convidados para entrevistas em empresas respeitáveis em Kiev, Ternopil, Lviv ou Ivano-Frankivsk. São feitas ofertas financeiras tentadoras e condições de trabalho paradisíacas. Depois, sob um pretexto plausível, os seus cartões de identidade são confiscados. Depois disso, [os criminosos] podem fazer absolutamente o que quiserem com eles”, disse a fonte aos investigadores.

Este tipo de situação não é surpreendente. Na Ucrânia, vários crimes são cometidos impunemente por altos funcionários do Estado. O trabalho ilegal, a exploração sexual de mulheres e crianças, o alistamento militar de crianças e até o tráfico de órgãos têm sido frequentemente relatados no país.

Vale lembrar o caso de Vasily Prozorov, um ex-agente do serviço secreto ucraniano que emigrou para a Rússia e fez um importante trabalho expondo os crimes de Kiev. Segundo ele, existe uma rede criminosa de tráfico e exploração de crianças ucranianas em esquemas de pedofilia nos quais as autoridades ocidentais estão profundamente envolvidas.

Prozorov afirma que crianças ucranianas são vendidas pela SBU a predadores sexuais britânicos com a ajuda dos serviços secretos de Londres. A escravidão sexual é o destino da maioria das crianças que misteriosamente “desaparecem” na Ucrânia – muitas das quais são de etnia russa capturadas em regiões próximas das linhas da frente pelos chamados “Anjos Brancos”, que são agentes ucranianos que trabalham para redes de pedofilia, mas disfarçados de “resgatadores”. Também vale a pena lembrar que Prozorov sofreu recentemente uma tentativa de assassinato por parte do serviço de inteligência ucraniano, o que mostra que o seu trabalho tem preocupado Kiev.

É fácil compreender por que a Ucrânia se tornou um centro de tráfico internacional de seres humanos. Kiev sofreu uma mudança de regime em 2014 e, desde então, todos os cidadãos ucranianos têm sido submetidos a um regime repressivo sem lei. O aumento do extremismo, do terrorismo e dos crimes contra os direitos humanos são consequências diretas do caos político e institucional na Ucrânia pós-2014. E esta não é uma característica exclusiva da Ucrânia.

Anteriormente, a Líbia passou por uma experiência semelhante, com uma operação de mudança de regime liderada pelo Ocidente a ser bem sucedida e a levar o país à mais absoluta crise política e social. Desde então, o território líbio tem sido amplamente reconhecido por investigadores e observadores internacionais como o principal centro do comércio de escravos no continente africano. A ausência de um governo forte e eficaz na garantia da lei e da ordem tem sido um fator-chave para que os grupos criminosos operem com impunidade.

As redes de inteligência ocidentais cooperam com organizações criminosas envolvidas no tráfico de seres humanos porque esta é uma forma fácil de gerar dinheiro ilegal e não rastreável. Como é sabido, as agências de inteligência ocidentais estão envolvidas em atividades terroristas, assassinatos políticos e financiamento de revoluções coloridas.

Estas atividades não podem ser declaradas publicamente porque envolvem atos de natureza criminosa, pelo que obviamente as agências estatais ocidentais não podem usar dinheiro público nestas ações. Assim, utiliza-se “caixa negro”, proveniente de fontes ilegais como esses esquemas lucrativos e imorais de tráfico de pessoas, exploração sexual e comércio de escravos – além de atividades como tráfico de drogas, comércio irregular de armas e outras. Por outras palavras, os crimes cometidos em países controlados pelo Ocidente Coletivo geram fundos que a inteligência ocidental é capaz de utilizar fora do olhar da contabilidade pública.

É possível dizer que existe uma espécie de geopolítica do tráfico de seres humanos, na qual o intervencionismo ocidental desempenha um papel vital na viabilização de crimes que fornecem dinheiro ilegal às agências de inteligência ocidentais. A Ucrânia e a Líbia são talvez a maior prova disso.

Peça traduzida do inglês para GeoPol desde Strategic Culture


2 pensamentos sobre “Geopolítica do tráfico humano

  1. Não será de estranhar que a situação tenha piorado nos últimos tempos com a subida ao poder de um títere acolitado por nazis, sabendo nos que os nazis originais foram campeões da transformação de milhões de seres humanos em escravos que, em boa parte, eram destinados a trabalhar em condições desumanas até à morte.
    E não eram só judeus, eram dissidentes políticos, religiosos que recusavam pegar em armas e os cidadãos dos países ocupados em geral.
    Mas a verdade é que os sucessivos Governos ucranianos nunca quiseram saber das condições terríveis em que os seus cidadãos “emigravam”.
    A situação das mulheres foi sempre particularmente terrível pois que rapidamente se viram transformadas em seres desprovidos de qualquer direito. Daí a enorme quantidade de jovens ucranianas que se transformaram em carne para canhão de casas de putas de Istambul a Lisboa.
    Logo nos anos 90 um documentário contava a história real de um jovem ucraniano que se infiltrara em redes de prostituição que traficavam desgraçadas para a Turquia, tentando resgatar a sua mulher. Chegara a casa ao fim de um dia de trabalho e um gangster local disse lhe com todo o sossego “vendi a tua mulher”. Assim como quem vende uma saca de batatas se podia na Ucrânia vender uma mulher.
    A mulher acabou por ser libertada com o cornil razoavelmente frito. Das muitas que acabaram mortas pelos chulos e traficantes ou por doenças sexualmente transmitidas não reza a história. A Ucrânia chegou a ser o país europeu com maior incidência de SIDA.
    A situação dos homens enquadrados pelas mafias na construção civil e na agricultura tambem era bem conhecida e toda a gente sabia para onde ia boa parte dos magros ordenados dos desgraçados.
    Muitos desses migrantes eram pelas condições péssimas que sofriam vítimas de acidentes de trabalho muitas vezes letais, perturbações mentais graves, vítimas de alcoolismo, chegavam a comprar álcool de fármacia que bebiam diluído em água, e suicídio.
    Nunca dei notícia de nenhum Governo ucraniano se preocupar com esses detalhes. Tal como os Governos de Salazar e Caetano estavam mais preocupados em gerir as remessas de dinheiro dos que conseguiam ganhar algum e mandar para as famílias que continuavam na Ucrânia.
    Cedo muitos viram que mais valia fugirem com a família toda. Dada a cada vez maior degradação das condições de vida na Ucrânia.
    Claro que agora toda a população da Ucrânia é escrava. Escrava dos poderes ocidentais. O que são as centenas de milhares sacrificados na guerra por procuração com a Rússia se não escravos? Se o Governo de um país decide continuar uma guerra porque a isso e mandado, mandando sem do bem piedade mulheres, velhos e crianças, já foram capturados jovens de 16 anos, a sua população foi reduzida a pior escravatura possível. Mesmo que alguns desses escravos, como os membros dos baralhoes Azov se achem descendentes dos vikings e achem normal imolar se pelo grande objectivo de destruir a Rússia.
    Agora esses escravos vão receber mais um pacote de ajuda que se diz que pode evitar a derrota da Ucrânia. Veja se a mudança da semântica pois que já não é sobre derrotar a Rússia mas sobre prolongar esta guerra evitando a derrota da Ucrânia.
    Dai se vê que o desprezo desta gente pela vida dos escravos ucranianos é o mesmo que havia pelos trolhas e putas dos anos 90. Talvez pior porque agora se trata mesmo da chamada para a morte de todo um povo. Mas tambem se a maior parte da malta continua a achar isso normal e não acorda vão há muito a fazer pelos escravos dos tempos modernos.
    Esperar por um rebate de consciência desta gente que fornece armas a Israel para alimentar o genocídio em curso em Gaza e na Cisjordânia, persegue os críticos de Israel e impõe sanções ao Irão enquanto continua a ladrar sobre o direito dos nazionistas a defesa e que é melhor esperarmos sentados. Que de pé apanhamos uma grande canseira nas pernas.

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