Especulações sobre a guerra da Ucrânia e Vladimir Putin

(Wolfgang Bittner, in Geopol.pt, 21/03/2023)

O que é necessário é movimento no confronto com os defensores da guerra, agitadores e mentirosos, sobretudo uma ampla frente contra a entrega de armas, o rearmamento e a militarização da sociedade.


Há muita especulação sobre a guerra da Ucrânia: sobre uma ofensiva de Primavera da Rússia e uma contra-ofensiva da Ucrânia (com apoio estratégico dos EUA); também sobre o estado de saúde do presidente russo, a sua fortuna, o seu palácio no Mar Negro, a sua filha, a sua fábrica de tanques, a sua relação com Xi Jinping e assim por diante.

Agora o Tribunal Penal Internacional da Haia emitiu um mandado de captura para Putin “por crimes de guerra”. O ministro da Justiça alemão, bem como o chanceler federal, saudaram este facto, embora o TPI esteja mais uma vez a demonstrar a sua parcialidade e incompetência com a sua acção contra o presidente russo. O TPI já lidou alguma vez com os crimes de guerra de Biden, Bush, Cheney, Kissinger ou Blair?

Em Kiev foi festejado, mas de lá vêm sobretudo mentiras, agitação e exigências descaradas de qualquer maneira. O facto de importantes políticos e jornalistas tomarem parte nas campanhas de mentiras e agitação é prova da depravação na cena política e mediática. Parece que em muitas áreas estamos a lidar com fanáticos ideologicamente confusos, lunáticos e criminosos cuja mais alta autoridade de Washington tem o mundo ocidental na mão.

É claro: o que está a acontecer na Ucrânia com esta guerra provocada é da responsabilidade dos EUA (uma vez que também determinaram a evolução na Europa durante muito tempo). A Alemanha não deve nada à Ucrânia e ao seu governo liderado por nacionalistas e fascistas. Os refugiados ucranianos, a quem foram concedidos direitos especiais na Alemanha, poderiam facilmente ser acolhidos em refúgios a serem instalados na Ucrânia ocidental. Mas os políticos em Berlim não representam os interesses alemães, mas estão obviamente a seguir instruções de Washington, à custa do seu próprio povo. Está a tornar-se evidente que a Alemanha está a ser arruinada. A Rússia queria a paz na Europa, especialmente com a Alemanha, mas os EUA impediram que isso acontecesse.

O presidente dos EUA Joseph Biden acredita agora ter atingido o objectivo dos seus esforços de décadas para sujeitar a Rússia aos desejos ocidentais, bem como aos interesses seus estratégicos. Mas a Rússia é uma potência nuclear e nunca permitirá uma derrota que resulte em vassalagem e desmembramento do país. Portanto, a guerra terminará quando os EUA compreenderem que a Rússia não desistirá e vencerá. Até lá, o país deverá ser ainda mais enfraquecido.

No entanto, não se pode excluir que uma grande guerra venha a ocorrer, mesmo que seja devido a um incidente imprevisto. Caso se chegue a isso, a Alemanha desapareceria finalmente do mapa. No entanto, há manifestações contra todo o tipo de coisas, mas apenas muito esporadicamente contra o rearmamento, a guerra e a disseminação do ódio contra nações. A doutrinação da população tem funcionado.

O que é necessário é movimento no confronto com os defensores da guerra, agitadores e mentirosos, sobretudo uma ampla frente contra a entrega de armas, o rearmamento e a militarização da sociedade. Se alguma coisa pode ser alterada sob determinadas circunstâncias políticas é outra questão. Mas a resistência contra a política actual é possivelmente a única hipótese de sobrevivência que resta.

O autor é escritor e antigo advogado alemão

 Peça traduzida do alemão para GeoPol desde Apolut


8 pensamentos sobre “Especulações sobre a guerra da Ucrânia e Vladimir Putin

  1. Gostei daquela parte dos «refúgios a serem instalados na Ucrânia ocidental».
    Não sabia da existêcia de lugares seguros na Ucrânia, ao abrigo dos mísseis russos.
    Tudo se assemelha a um vómito moscovita!

  2. “… a resistência contra a política atual é possivelmente a única hipótese de sobrevivência que resta.”

    Concordo inteiramente e lamento que a maioria da população não manifeste coragem para sair às ruas e exigir o estabelecimento imediato da paz e o fim do incitamento à guerra que a Europa e os Estados Unidos não se cansam de fazer desde a primeira hora.
    A maioria das pessoas ou tem medo de se pronunciar e de ser acusada de não ser patriota – sempre um velho slogan para salvaguardar interesses não do povo mas de elites – ou está completamente intoxicada com as imagens e narrativa que os media ocidentais habilidosamente apresentam. Como só lhe dão a ver um lado da questão, como não há qualquer espécie de contraditório, então a capacidade de análise crítica, já de si débil, desaparece completamente.
    Recorre-se além disso àquilo a que se chama interpretação heroica da história: são bons – heróis – ou maus – monstros odiosos – os responsáveis pelo que ocorre, sem se perceber que o processo histórico é muito mais complexo e que as causas dos conflitos são as mais das vezes de natureza material ligadas â luta pelo poder e, no caso atual, nitidamente os Estados Unidos não querem perder o poder hegemónico que desde o termo da segunda guerra alcançaram, não querem que outros se sentem à mesa do banquete em que tem saciado o seu voraz apetite e para isso precisam de destruir de vez a Rússia, que abalaram seriamente em 1991, para depois procurarem partir os dentes à China e ditar as suas regras.
    No meio de tudo isto, não há qualquer lugar para ideais de democracia ou de direitos humanos, são simples flores na lapela para enganar os papalvos. A democracia é paz com justiça e os direitos humanos não são meras proclamações formais, precisam de substância para serem direitos e para responderem as necessidades dos seres humanos.

    • Adília Mesquita

      “… a resistência contra a política atual é possivelmente a única hipótese de sobrevivência que resta.”

      “Concordo inteiramente e lamento que a maioria da população não manifeste coragem para sair às ruas e exigir o estabelecimento imediato da paz e o fim do incitamento à guerra que a Europa e os Estados Unidos não se cansam de fazer desde a primeira hora.
      A maioria das pessoas ou tem medo de se pronunciar e de ser acusada de não ser patriota – sempre um velho slogan para salvaguardar interesses não do povo mas de elites – ou está completamente intoxicada com as imagens e narrativa que os media ocidentais habilidosamente apresentam. Como só lhe dão a ver um lado da questão, como não há qualquer espécie de contraditório, então a capacidade de análise crítica, já de si débil, desaparece completamente”

      Mas que “maioria da população” (suponho que se refere a Portugal) não manifesta coragem de saír às ruas. exigir o estabelecimento imediato da paz e o fim do incitamento à guerra que a Europa e os Estados Unidos não se cansam de fazer desde a primeira hora?

      Mas a que “maioria de população” tem a Adília Mesquita, o topete de chamar cobarde ?

      O que me parece é que AQUI na Estátua de Sal, o que é preciso é ter coragem, para se manifestar contra o “rebanho” do pensamento único, que quer transformar um neo nazi Putin, numa vítima das “forças ocidentais”, a NATO, os EUA, a Europa, que querem “destruir a Rússia e agora, até a China, colossos territoriais e populacionais gigantescos, com uma potência militar e bélica formidável.

      Coragem, é preciso ter, para ser AQUI uma voz discordante, que não esteja afecta àquele partido em vias de extinção, que continua a reger-se, estúpidamente, pela vulgata da Revoução Soviética de 1917, e se arvora na tosca ambiguidade de se dizer “paladino da Paz”, MAS SEMPRE com a condição “sine qua non” de ser a Ucrânia a deixar-se esmagar, sem apoio e sem luta pelo invasor.

      Coragem, é preciso ter para se sujeitar AQUI aos ataques soezes, quantas vezes cobardes, de quem se arvora NO ÚNICO DONO DA VERDADE, que como sempre , está no lado da Rússia de Putin.

      Coragem É O QUE TÊM os jornalistas, repórteres, operadores de câmara, portugueses e de todo o Mundo, que todos os dias reportam uma realidade, que nos devia envergonhar a todos. Deixam o conforto das suas casas, deixam as famílias em pânico, na incógnita de voltarem ou não a ver os filhos, para depois, serem insultados por quem está cómodamente sentado no conforto do quente e do belo sofá, e os acusa de fazerem um trabalho parcial e “sem contraditório” a favor da Ucrânia.

      Porque fazer parte AQUI do rebanho de senhores sim-sim, bem comportados…coragem não precisa a Adília Mesquita ter nenhuma, porque sabe, logo à partida, que vai ter toda a aprovação…

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