É oficial: estamos em guerra

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 03/02/2023)

Miguel Sousa Tavares

O envio dos tanques Leopard para a Ucrânia representa uma mudança essencial e a dois níveis no papel dos países neutros, embora amigos ou aliados da Ucrânia. Por um lado, não se trata mais de enviar armas para ajudar Kiev a defender-se da invasão russa e a evitar que, como nos contam para adormecermos, depois da Ucrânia, Moscovo venha por aí fora até à foz do Tejo, mas sim de armas ofensivas que permitam a Kiev assegurar a tal vitória que, segundo o secretário da Defesa norte-americano, é o objectivo final da guerra e garantirá que nunca mais a Rússia se atreva a aventuras semelhantes, ainda que provocada. E, por outro lado, não sendo uma decisão colectiva, tomada no âmbito da NATO (o que implicaria o desencadear da Terceira Guerra Mundial), significa apenas uma decisão unilateral de cada país, tomada por vontade própria.

Assim sendo, e juntando os nossos quatro leopardozinhos — dos 37 que temos e dos 12 operacionais — ao contingente de 120 já garantidos a Zelensky, o que Portugal está na iminência de consumar, para todos os efeitos legais e políticos, é uma declaração de guerra à Rússia, através do seu envolvimento directo no conflito. E a seguir aos Leopard, irão talvez os F-16, que Zelensky logo tratou de pedir mal obteve os tanques, naquelas suas emissões televisivas matinais onde todos os dias reclama novas armas que, mais tarde ou mais cedo, lhe são dadas. Não sei mesmo se com o entusiástico prosseguimento da guerra, não teremos a seguir de avançar com os nossos submarinos e as fragatas MEKO — na certeza, porém, de que, tal como sucede com os tanques e os F-16, também aí Zelensky terá meia desilusão: sucede que, se as nossas Forças Armadas gostam de ter ao serviço os melhores brinquedos disponíveis no mercado, como em tempos reportava um embaixador americano, rapidamente a maior parte deles são armazenados por falta de peças sobresselentes, falta de interesse superveniente ou falta de respeito pelos contribuintes.

Como quer que seja, declarámos guerra à Rússia. Pelo que, se um dia destes, essa fragata russa que anda aí pelo Mediterrâneo, à passagem por Lisboa, se lembrar de nos saudar com uns quantos mísseis, não fiquem chocados. É uma hipótese altamente improvável, mesmo nas sapientes conjecturas da dupla Rogeiro/Milhazes, mas, em termos de jus belli, não haveria nada de que reclamar. O que eu reclamo é da forma como nos envolveram neste processo, como se fosse a coisa mais banal do mundo.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

Em primeiro lugar, foi verdadeiramente surpreendente e humilhante que a primeira fonte que noticiou o envio de tanques portugueses para a Ucrânia fosse o próprio Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, em conferência de imprensa. Fazendo-o sem que a hipótese tivesse ainda sido sequer veiculada aqui e sem que a Alemanha, fabricante dos Leopard, tivesse dado autorização para a sua reexportação para um cenário de guerra, Zelensky mostrou o quanto a sua vontade são ordens para o Governo português.

Em segundo lugar, é extraordinário que uma decisão desta relevância seja decidida sem passar pela Assembleia da República (onde tantas trivialidades são discutidas assanhadamente), pelo Conselho de Estado (tantas vezes convocado para debater o sexo dos anjos), e mesmo sem uma palavra do comandante supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa, a quem nenhum assunto, por mais ridículo que seja, passa sem comentário.

Sem uma explicação pública do primeiro-ministro e nem sequer o habitual abanar de cabeça concordante do ministro figurante dos Negócios Estrangeiros. E, claro, sem qualquer manifestação de interesse em debater o assunto pela opinião pública, mais interessada em debater há 15 dias a invasão do palco do São Luiz por uma transloucada sexual em defesa do monopólio dos papéis teatrais pelas diversas espécies sexuais contemporâneas e futuras.

E, enfim, é para mim espantoso que António Costa, que vive a desculpar-se com a inflação e outros problemas importados por via da guerra — o que é verdade — não peça aos manifestantes que estão na rua, os professores e outros, a todos os portugueses descontentes e em dificuldades, que vão antes manifestar-se em frente às embaixadas dos Estados Unidos, da Rússia, da Ucrânia, da representação permanente da UE, exigindo o fim da guerra e a abertura de negociações de paz. Sei bem que somos um pequeno país cuja voz vale o que vale. Mas se, apesar de pequenos, servimos para enviar tanques e aviões para a guerra, também servimos para perguntar até quando é que teremos de pagar por ela, enquanto vemos os fabricantes de armas a fazerem fortunas, a economia americana a prosperar enquanto a Europa definha e se ajoelha, a Ucrânia a ser destruída paulatinamente, o combate às alterações climáticas a retroceder anos e os ignorante úteis ou fingindo-se de tal a proclamar que não há outro caminho senão continuar a guerra indefinidamente. Ao prestar-se a enviar os Leopard para a Ucrânia — e, logo depois, os F-16 e o mais que Zelensky exigir, até às armas nucleares —, António Costa não pode deixar de estar consciente da contribuição, ainda que relativamente pequena, que Portugal está a dar para a escalada da guerra e a sua continuação sem fim à vista. Assim, é hipócrita queixar-se mais da guerra: podia era meditar no exemplo do seu amigo Lula da Silva, que, solicitado a enviar também tanques para Zelensky, ofereceu-se antes para fazer parte de um grupo para mediar a paz. Mas isso é tudo o que por aqui, na Europa, é proibido sequer pensar: é o novo TINA (There Is No Alternative).

2 Um ano depois da surpreendente maioria absoluta que libertou António Costa da chantagem dos seus parceiros de esquerda e lhe abriu um horizonte de quatro anos de oportunidades e dinheiros do PRR, apesar da guerra, da inflação e da subida abrupta dos juros do BCE, não há melhor síntese para definir este ano do que a frase, dita há dias, pela ministra Mariana Vieira da Silva: “Acabou o tempo das eleições, este é o tempo de governar.” Que seja aquela que é, talvez, o elemento mais lúcido deste Governo a dizer aquilo que todos pensamos é irónico e eloquente do que foi este ano: um ano perdido. A seu favor, o Governo tem os dados económicos positivos da conjuntura; e contra tem, sobretudo, a falência indisfarçável de tudo aquilo que são serviços públicos essenciais para os quais pagamos impostos sem qualquer correspondência com o retorno recebido. Mas, acima de tudo, o que o Governo de António Costa revela é uma desesperante falta de horizonte para o país, de reformar o que está podre à vista de todos, de enfrentar e romper o círculo vicioso das corporações que se apoderaram do Estado e dele fazem a sua coutada e o seu cofre privado. Mas nisso, verdade seja dita, só tivemos um primeiro-ministro que, nos últimos 30 ou mais anos, se atreveu a travar esse combate e a pensar para a frente: é aquele cujo nome não pode ser pronunciado, sob pena de passarmos para a lista de suspeitos sob escuta ordenada pelo juiz Carlos Alexandre.

3 Se a TAP, na sua totalidade, vier a ser vendida pelos €900 mil em que, segundo o Expresso, foi avaliada, isso significa que, apenas contando com a última injecção de capital público, a bravata da sua renacionalização por este Governo terá custado aos contribuintes €2,3 mil milhões — mais uns milhões pagos aos privados para se irem embora, aos trabalhadores para serem despedidos e aos actuais administradores pelo “sucesso” da “recuperação” da companhia. E se, como por aí consta, a TAP acabar nas mãos da Ibéria, esta tratará de canibalizar e pagar-se rapidamente com a próspera exploração das rotas do Brasil (obra do brasileiro Fernando Pinto) e das dos Estados Unidos (obra do brasileiro-americano David Neeleman), mas prestando um serviço bem pior a brasileiros, americanos e portugueses. Além disso, matará o mítico hub de Lisboa, a invocada razão primeira da renacionalização, e que logo será transferido para Madrid e ao serviço do turismo concorrencial de Espanha, inclusivamente levando a questionar outra vez a urgência do sempre adiado novo aeroporto de Lisboa. E, por último, dará aos portugueses aquela que, pela minha experiência pessoal, e, entre as companhias de referência, é a pior companhia aérea do mundo, a seguir à Turkish Airlines. Mas há sempre uma consolação: como me dizia há dias um comissário de bordo da TAP, quando lhe devolvi, intocado, o intragável jantar servido a bordo (e por onde passa também o “sucesso” da “recuperação” da empresa): “Quando a Ibéria tomar conta disto, servimos tapas.” É isso: de TAP passamos a TAPAS — €2,3 mil milhões depois. Não admira que o outro tenha fugido da fita do tempo.

4 O anarcossindicalismo do STOP, que tanto entusiasma as senhoras professoras, desdenha de tribunais arbitrais ou das leis do país, e não se comove com os pais que não têm onde deixar os filhos para irem trabalhar e ganhar o seu salário ou com os filhos pobres que não têm onde comer a sua única refeição decente porque o sindicato dos professores paga aos auxiliares para eles fazerem greve e fecharem as escolas. Temendo ser ultrapassada pela dinâmica deste novo sindicalismo, Catarina Martins, do BE, após reflexão, concluiu que, apesar dos “problemas” levantados por estas formas de greve, o que importa é que as maiorias absolutas (burguesas e parlamentares) “nada podem contra as maiorias sociais, que fazem mover montanhas e tremer o mundo”. Lenine disse o mesmo há mais de 100 anos e praticou-o. Uma vez conquistado o poder em nome das massas, ele fez tremer o mundo. Começou por liquidar — literalmente, fuzilando e massacrando numa orgia de sangue — os burgueses e os parlamentares, os anarcossindicalistas, os sociais-democratas, os socialistas revolucionários e todos os companheiros de caminho até ao partido único, e depois os operários que faziam greve e os camponeses que não entregavam as suas colheitas, para, sobre um cemitério de milhões de mortos, erguer um “mundo novo” a que chamaram URSS. É absolutamente extraordinário que, passados mais de 100 anos, ainda haja quem, por pudor ou por puro oportunismo político, ainda se atreva a desafiar a história.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia


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16 pensamentos sobre “É oficial: estamos em guerra

  1. Texto muito bom até ao STOP
    Quem mandou fuzilar foi Estaline
    A escola não é um depósito de crianças
    Na pandemia como é que davam as refeições às crianças carenciadas?
    Agradeço as suas análises

    • O texto só é bom até ao Lula, que é de facto neste momento um grande exemplo no Mundo.
      Ou seja, só se aproveita o ponto 1 (em 4), e mesmo aí há reparos a fazer:
      «a inflação e outros problemas importados por via da guerra — o que é verdade»

      Não é verdade. Nunca nos últimos 25 anos uma guerra (daquelas “boas” porque era a NATO/EUA a decidir quem invadia) causou inflação. E esta também não causa. O que causa inflação são as sanções ILEGAIS, só levadas a cabo pelos tresloucados vassalos que os EUA têm em Bruxelas e arredores.
      Quem recusa gás Russo barato e depois o compra 4x mais caro aos EUA, é porque quer. Não é por causa da guerra.

      O restante texto do Miguel é mais do costume: um bafio que cheira a fascismo que tresanda.
      Ora é a Esquerda que tinha o PS amarrado numa “chantagem”, ora é a comparação da popular Catarina Martins aos alegados crimes de Lenine (que se matou, foi porque teve de matar, e se o alvo da matança foi a burguesia, convém contar o início da história, dos tempos em que a burguesia procedia à matança do povo, mas disto os fascistas com todas as letras e os fachos ou colaboradores dos fachos ao “apenas” os bafientos como o Miguel nunca se lembram…).

      Lenin, Trotsky, e Estaline, mataram a ditadura do czar, a respectiva burguesia e o seu exército branco, e mataram muito bem!
      Foi o que permitiu o fim da matança do povo, e permitiu a revolução por inteiro. Mas estes idiotas bafientos andam mesmo em 2023 a chorar a revolução que é a causa para os trabalhadores hoje em dia terem direitos? Andam a chorar o fim da ditadura do czar que mandava matar o povo quando este “invadia” as ruas das cidades a protestar contra a fome?

      A alternativa é o que se viu em Portugal: os fascistas à solta desde 1975-1976, primeiro na sombra, depois a sair do armário, e agora no Parlamento de forma aberta (já lá estavam antes, mas noutros partidos e mais contidos) a almejar chegar ao poder. Quanto tempo falta agora até matarem o povo novamente?
      É disto que os “liberais” nunca se lembram! Nem pensam sequer!! Os terroristas do MDLP estão a fazer o quê na AR, na TV, na vida? Deviam estar todos numa cova funda!

      Quem mata os que querem matar, não comete crime. Foi assim na Revolução Soviética, foi assim na Segunda Guerra Mundial, e está a ser assim no Donbass. Quando se mata “gente” desta, não se mata humanos. Matam-se bichos. Bichos que, se deixados à solta, patrocinados pelos Donos Disto Tudo, mais tarde ou mais cedo voltam a matar.
      Fui só eu que vi os clips do congresso dos fascistas a dizer que querem dar novamente cacetada am pessoas do BE e do PCP?
      Esta gente não pode andar à solta! E se pegam em armas para matar democratas e sindicalistas, então quem os mata a eles (aos fascistas) é herói, não é criminoso!

      É preciso ter de explicar isto?!? A minha paciência chegou ao fim. Por isso aqui vai: o problema do Bolsonaro foi ter sobrevivido à facada, e o problema do Ventura é ainda não ter levado nenhuma. É isto, sem papas na língua! Ou matamos o bicho, ou o bicho mata-nos a todos. E quem diz estes, diz também os bichos disfarçados de “democratas liberais” que nos levam a todos para uma guerra nuclear (a ÚLTIMA Guerra Mundial) em nome do imperialismo dos bichos da NATO, e do ultra-naZionalismo dos bichos de Kiev. Mas esta gente acha mesmo que alguma dessas vidas merece o oxigénio que anda a desperdiçar? Já deviam estar todos num buraco em Bucha!!!

      Quanto ao STOP, se recusa serviços mínimos, é porque luta contra quem (governo dos bafientos mascarados de rosa) recusa cumprir a lei das carreiras. Se uns não cumprem, porque é que os outros hão de cumprir. Era como exigir que a Rússia lutasse com luvas de algodão enquanto os Nazis matam com HIMARS. E de facto é mesmo isso que esta burguesia faz, todos os dias, quando chama “democracia” e “heróis da resistência” aos nazis, e depois chama “criminosos de guerra” a quem luta contra Nazis de forma a proteger os civis ucranianos pró-Russos.

      Na questão da TAP, lá está o fanatismo do Miguel a falar do que custa a TAP, sem dizer o quanto o país ganha com ela. Fala do hub, do turismo, etc, mas nunca coloca no texto quanto isso dá ao país. E assim se manipulam tolos que hoje em dia acreditam que a TAP é uma coisa que “custa” e que nada dá de volta. Depois admiram-se de ficar com TAPAS em vez de TAP…

  2. É extraordinário que, passados mais de 100 anos, ainda haja quem, por pudor ou por puro oportunismo mediático, aceite o revisionismo da história só porque o importante é a escola tomar o papel dos pais para que eles possam criar riqueza para o patrão, consequentemente não percebendo a inevitável relação com os fenómenos na província e mais além.
    Ao contrário da economia, é natural; a sua capacidade de ser pago depende de não o perceber, hoje como sempre.

  3. Há muito tempo que não gostava tanto de um texto de opinião do Miguel.

    Helas, tinha de vir a dose de demagogia e manipulação das massas no final.

    Então o problema são os professores que protestam pelas suas condições de trabalho e de vida e os pais que não têm onde deixar os filhos para irem ganhar os seus salários é que estão certos ?

    Maniqueísmo desnecessário, Miguel…

    Em primeiro lugar, que eu saiba, a escola não é um hotel de vulgos cães ou animais em que se deixem as crias entretidas durante o dia.

    A escola é o local em que se forma a massa cerebral que conduz um país no futuro e que irá contribuir para o seu desenvolvimento económico, cultural e, porventura, científico, entre outras coisas…

    Mas para isso é preciso investimento.

    Para isso acontecer, é preciso que haja condições que permitam o desenvolvimento pleno dos alunos… E isso passa por dar condições de trabalho dignas a uma classe que é abusada há décadas, pois são essas as pessoas que vão motivar as crianças nos seus estudos e que os vão orientar durante o seu percurso até alcançarem um certo grau (ou a totalidade) de autonomia.

    Em segundo lugar, o problema dos pais não terem condições para fazerem outra coisa que não seja deixar as crianças na escola o dia inteiro talvez esteja mais rapidamente relacionado com a própria maneira como o mercado de trabalho está organizado, impingindo horários excessivos para quem trabalha e não permitindo a conciliação da vida laboral com a vida familiar, do que propriamente nos professores que se exprimem através de algo que é um direito consagrado na Constituição – a greve.

    Afinal de contas, não convém antagonizar demasiado o patronato, já que os seus lucros são mais importantes do que a criação de carreiras dignas que ofereçam mais tempo às pessoas para usufruir a companhia dos mais próximos ou, inclusive, apoiar os filhos na sua infância e adolescência, as épocas mais importantes no desenvolvimento de todo o ser humano.

    Tudo isto ainda por cima numa era tecnológica em que certas atividades podem ser mais facilmente mecanizadas sem implicar necessariamente perda de rendimentos ou de emprego por parte da classe trabalhadora.

    Mas lá está – fazer este tipo de coisas implica que vamos criar uma sociedade distópica em que se matam crianças ao pequeno almoço…

    Ah, Miguel, já agora: o Lenine andou a fuzilar sociais democratas e socialistas revolucionários ? Estás bem ?

    Não terás querido dizer “rechaçou uma invasão britânica no norte do país enquanto tropas do Corpo Expedicionário Americano desembarcavam em Vladivostok ?”

    https://www.warhistoryonline.com/world-war-i/the-day-that-the-usa-invaded-russia-and-fought-with-the-red-army-x.html

    Ah, pois, não queres porque isso vai contra os interesses da burguesia em perpetuar uma narrativa vil e mentirosa para justificar a exploração a que sujeitam sociedades inteiras…

    Quando é para subjugar uma revolução dos trabalhadores, justificam-se (quando sequer se falam delas) as invasões de potências estrangeiras, mas quando é para defender o estado que mais prosperidade trouxe para a sua população, que criou uma indústria avançada em meros 30 anos (algo que levou 100 anos ao capitalismo ocidental a concretizar) que permitiu travar o avanço das tropas nazis, tudo enquanto eram embargados e vilipendiados por todas as potências ocidentais, lá vem o Lenine e os milhões de mortos…

    É que nem é mentira refutada por historiadores ou análises estatísticas nem nada…

    Já agora: ever heard of NEP ? Educa-te Miguel, educa-te…

    Quando pessoas como tu acham que a execução de fascistas, reaccionários, tipos pagos para reverter a acção revolucionária, literalmente espiões e sabotadores é coisa “má” ou “injustificada”, eu fico estupefacto…

    E ponho-me a pensar como é que Portugal aguentou quase 50 anos sem reverter outra vez à ditadura.

    Por isso é que agora só se ouve falar do 25 de Novembro – sem se falar do 28 de Setembro de ’74 ou do 11 de Março de ’75 ou do Verão Quente de ’75…

    De qualquer das formas, aquilo por que os professores portugueses reclamam é coisa que até nas mais atrasadas Sociais-democracias se faz…

    Aquelas que os liberais tanto gostam de elogiar, mas tanto evitam alcançar… E essas não são ditaduras…

    Mas o Miguel elogia o Sócrates pelas reformas e a seguir contradiz-se e acha que é mau trabalhadores lutarem pela melhoria das condições da sua profissão…

    Eu ainda hei-de perceber quais são as reformas boas ou as reformas más…

    • “Em primeiro lugar, que eu saiba, a escola não é um hotel de vulgos cães ou animais em que se deixem as crias entretidas durante o dia. ”

      O problema é que é. O novo normal é crianças serem crianças sendo transportadas num veículo fechado para um panóptico inspirado num campo prisional, para ver se saem imaculadas máquinas de produção que nunca descobriram nada por si próprias nem passaram por riscos.
      É normal que o menino do colégio ache que assim é que está bem.

      “Mas o Miguel elogia o Sócrates pelas reformas e a seguir contradiz-se e acha que é mau trabalhadores lutarem pela melhoria das condições da sua profissão… ”
      É pior que isso. As reformas que elogiou chamava-se Maria de Lurdes Rodrigues, passando mais de uma década a lamentar a existência de Mário Nogueira.
      As reformas do bem são, como sempre daqueles lados, uma hierarquia meritocrática de iluminados, que, obviamente, nunca falha, só pode ser falhada.

      • Como dizia um qualquer iluminado ontem no Observador: o que é preciso é criar carreiras que compensem o desempenho e não o tempo de serviço.

        Eu tive de rir para não vomitar.

        Ele que vá ter com os professores sujeitos a vagas para efeitos de progressão de carreira e que não avançam, apesar de terem condições para o fazer, quando o problema foi precisamente interromper a contagem do tempo de serviço e criar um sistema baseado no “desempenho” que castiga até aqueles que têm classificações elevadíssimas para passarem de escalões.

        Se não tivessem interrompido a contagem, ninguém estava a reclamar.

        Ora, que eu saiba, quando uma pessoa tem bons resultados e não avança apesar disso, o mais provável é deixar de se esforçar, já que o esforço não leva a lado nenhum.

        Mas lá viriam os liberais reclamar e dizer que depois as pessoas se iam acomodar e não trabalhavam por terem salários garantidos.

        Por isso é que há estudos de economistas que afirmam que vínculos laborais mais estáveis levam a que os trabalhadores se sintam mais ligados ao local de trabalho e ao processo produtivo (neste caso, de ensino e aos seus alunos) e que obriga as empresas (neste caso as escolas e o estado) a fazerem um maior investimento em formação o que é benéfico a longo prazo e absolutamente fulcral para a inovação de tudo: seja processo produtivo, sejam os próprios produtos.

        Parece que é difícil perceber que pessoas contentes com o que fazem (e que não estejam colocadas a 600 km de casa, não durmam no carro e não tenham 4 empregos, preferencialmente), fazem-no com maior entusiasmo.

        É destas pérolas que nascem as ditaduras.

        P.S. para alguns (muitos), antes um Mário Machado do que um Mário Nogueira.

  4. Acrescento ainda isto, Miguel: estivesses tu tão preocupado com a escola pública que reclamasses e te questionasses tão fervorosamente sobre o porquê de 25.000 alunos terem estado sem aulas no ano passado, da mesma maneira que reclamas quanto ao “anarcossindicalismo” (aprendemos palavras grandes!) ou à greve de trabalhadores que dão 30 anos à profissão para receberem 1625 euros ao fim do mês…

    For fuck sake.

    • Tudo enquanto o CEO da Jerónimo Martins ganha 3 milhões de euros num ano – 262 vezes mais do que qualquer dos trabalhadores que te servem nas caixas de pagamento do Pingo Doce.

      Na minha terra, isto tem um nome e era considerado crime há 500 anos:

      Sodomia.

      Mas o problema são sempre aqueles que reivindicam o que é deles – o seu trabalho, pago na totalidade.

      Já para não dizer que as reivindicações dos professores são as coisas mais banais de sempre e nem sequer podem ser consideradas extremas.

      Pelo menos mais extremas do que o congelamento de carreiras – algo que qualquer fascista viria logo reclamar e classificar como atentado à liberdade se acontecesse a CEO’s de multinacionais, esses vultos do trabalho duro.

      Mas é mais importante o Medina andar num périplo de televisões a falar da “situação difícil do país” enquanto nos sodomiza com impostos inflacionados para pagar uma dívida também ela inflacionada e que vai continuar a aumentar enquanto existir um BCE a aumentar taxas de juro à bruta e uma Alemanha que não paga as contas de gás…

      Claro que depois não convém falar das operadoras, explicar que os preços delas aumentaram mais de 7% desde 2009 em Portugal, enquanto desceram 10% no resto da Europa, não convém dizer que elas só aumentam os salários dos trabalhadores no máximo dos máximos até 2,5%, não convém dizer que Portugal tem de investir 7% do seu PIB (todos os anos) nos próximos 7 anos em eficiência energética das casas (coisa que não vai acontecer enquanto o Orçamento é decidido pela “Nazi dos Cavalos”), não convém falar do abuso que é o mercado da habitação português e não convém falar das Jerónimo Martins, SONAE’s, GALP’s e EDP’s que registam lucros recorde enquanto sobem os preços para cobrir os custos da inflação, coitadinhos…

      Mas depois não há dinheiro para salários e pensões – só para indemnizações milionárias, palcos para o Papa ou assessores de 20 e poucos anos saídos das faculdades de direito…

      Tudo está bem neste cantinho neoliberal, tirando os professores que não querem trabalhar.

      Ah e as faltas de reformas, claro.

      Critica-se o António Costa por não fazer nada, mas quando as pessoas se organizam para criticar o governo e reclamar a acção nula aí já é a desordem dos anarcas…

      Tudo para dizer: está tudo mal, não se faz nada, a esquerda falhou…

      Venha o PSD!

      Ainda dizem que Portugal não tem desporto: campeões incontestados do ping-pong político!

    • Há centenas, ou mesmo milhares de profissionais, a trabalharem no duro, que deram mais de 30 anos à profissão e ao fim do mês recebem metade daquele valor.

      • Portanto, a solução é nivelar por baixo para todos enquanto banqueiros e empresas como a Galp, SONAE, Jerónimo Martins e outras acumulam lucros recorde ?

        Se há outros que recebem ainda menos, ao fim de 30 anos de serviço, do que os professores, então esses profissionais também têm o direito de reclamar e fazer valer a sua dignidade enquanto trabalhadores ?

        Por outro lado, está a falar de que trabalhadores ? Trabalhadores com os mesmos níveis de qualificação exigidos para a profissão docente ?

        Não estamos apenas a falar de licenciados. Estamos a falar de professores com mestrados, créditos extra de acções de formação, etc, que recebem estes salários.

        O problema é achar que 1000 euros ou menos são um salário decente, em Portugal, na situação atual de crise financeira, recuperação pós-pandemia e inflação causada pelo eterno imprimir de Biliões de euros durante os 2 anos de pandemia e pelas sanções ilegais impostas à Rússia.

        Mesmo que nem houvesse estes fatores, os salários reais dos trabalhadores estão estagnados há décadas. Décadas.

        Enquanto isso, banqueiros têm os bolsos cheios dos resgates que o Estado Português (o senhor, portanto) lhes pagou.

        Não critico o que me diz, pois tem toda a razão.

        Mas isso diz mais sobre a maneira como se tratam os trabalhadores em Portugal e da maneira como se olha para a questão dos salários do que diz sobre a luta dos professores.

        Cumprimentos.

  5. Gostei imenso de ler.
    Espero que o Cravinho vista o fato do nazi Zelensky e que o Costa leve a bandeira portuguesa para a frente de batalha

  6. Tudo está lá. Guerra, perspectivas, o estado da democracia, profundidade de pensamento…

    Alguém que faz sentido nestes tempos em que tenho a impressão de que estão a esconder do povo até ao último momento, em que os estão a conduzir-nos à guerra mundial.

    Não sou historiador, não tenho a visão a posteriori que algumas pessoas têm, mas de facto as pessoas não compreenderam e não vão compreender mesmo quando tudo acabar! Para eles, a guerra é a Rússia a atacar a Ucrânia, mas as verdadeiras questões são “quem está a alimentar esta guerra desde o início? “Porque é que a Rússia atacou a Ucrânia”? “Poderia a guerra ter sido evitada?”

    Mas mesmo assim, sabíamos em Fevereiro de 2022 que estávamos numa 3ª guerra mundial na Europa (para outros países estamos lá há ainda mais tempo). Agora, após o roubo de países árabes como o Iraque e a Líbia, temos de admitir que tentar roubar a Rússia é ousado. Se queres ganhar em grande, tens de jogar em grande. Especialmente porque neste conflito existe um seguro contra todos os riscos, a arma nuclear! Os perdedores do conflito? Como sempre, a verdade e as pessoas..

    Isto precisa de mais investigação e as pessoas prefeririam ser embaladas pelos media e pelo nosso querido governo do que fazer a sua própria investigação… No que me diz respeito, o Ocidente está a tentar medir a força da Rússia e enfraquecê-la através da Ucrânia, pergunta parva, mas porque é que a Rússia enviou o seu pior equipamento militar no início desta guerra? Porque é que a Rússia, que é uma superpotência, que tem um exército de milhões de soldados e armamento de alta tecnologia, não terminou esta guerra quando ela começou (e aqui já vejo alguns que dirão que é porque julgou mal o poder da Ucrânia ), não devemos esquecer que a Rússia também tem um dos melhores serviços de inteligência, por isso subestimou o poder de um país, não creio que a verdadeira razão seja esta.

    Os líderes da NATO compreenderam que a Ucrânia não pode ganhar contra a força de ataque russa. Pelo contrário, ao ritmo a que as coisas vão, não restará muito (deste país) para ser recuperado na UE.
    Já há algum tempo que tinham compreendido que a guerra económica contra a Rússia, que supostamente entraria em colapso, falhou miseravelmente, especialmente porque o resto do mundo, que muito rapidamente compreendeu as manobras sórdidas de Washington nesta matéria, não seguiu os países da NATO.

    Agora, que opção lhes resta para impedir a Rússia de ganhar esta guerra, para além de entrar directamente em guerra com ela? O papel de todos os meios de comunicação social é “vender” os Portugueses nesta próxima fase crucial da guerra, depois de os ter “vendido” sobre a ajuda militar maciça à Ucrânia e as sanções económicas à Rússia. Tal como lhes “venderam” as 5 ou 6 doses de vacinas que enriqueceram os fabricantes de vacinas.

    Pessoalmente, penso (e estou mesmo certo) que o exército ucraniano será derrotado e destruído durante a próxima ofensiva russa. Os tanques prometidos pelos EUA e Co. e que deverão chegar ao teatro de guerra ucraniano dentro de vários meses serão então inúteis de facto. E a partir desta situação, o que mais me preocupa é a forma como os EUA irão reagir à rotina ucraniana, mas também de facto à derrota da UE, da NATO, e também à sua própria derrota.

    Estranhamente, tenho a forte sensação de que se alguém usar a bomba nuclear primeiro nesta história, serão os EUA. E se for esse o caso, aconselho-vos a comprar postais das vossas respectivas capitais, porque depois da resposta russa, eles já não existirão. A menos que os EUA, ou melhor, os seus estúpidos líderes, compreendam de uma vez por todas que são tudo menos intocáveis quando se trata da Rússia. Parece que os EUA se sentem investidos de algum tipo de poder messiânico, tenho a certeza que Cristo não gosta de criminosos!

    Os líderes políticos tem repetidamente tomado decisões desfavoráveis contra Portugal, e sempre favoráveis aos EUA. Será isto uma coincidência?
    Quando se fala da agressão da Ucrânia, não se tem em conta o sentimento de defesa dos russos, com a atitude e os ataques contra as populações de língua russa. Especialmente depois de tudo o que é conhecido sobre as ações da CIA na Ucrânia desde 2004.

    O nosso mundo está lentamente a deslizar para o outro pólo político. Precisamos de cair em si e de fazer da Rússia um parceiro. Sei que é difícil de admitir, mas temos de nos sentar com eles e partilhar o bolo. Não é tanto que eles tenham ganho, mas sim que nós tenhamos perdido. O modelo ocidental, tal como proposto, é feito de cartão. Esse é o problema com o Ocidente… Não temos mais nada para oferecer. Isso não significa que a Rússia tenha algo melhor para oferecer, mas enfraquece a nossa posição e faz de nós o alvo perfeito.

    Parece-me difícil de compreender: a suposta ingenuidade dos europeus em relação à política dos EUA.
    Não há mais ingenuidade da parte destes líderes globais do que havia em relação ao “vírus mortal” de 2020.
    Querem subjugar o seu povo, “globalizá-lo”, o que não seria possível se unissem forças com a Rússia tradicional e conservadora.
    O movimento lgbt, wokismo, etc., não se dão bem na Rússia.

    Também sublinho a relação entre a agressividade belicosa da Inglaterra e o problema do seu nível de vida em declínio. Parece-me que se aplicarmos o conceito girardiano, é normal que qualquer sociedade que esteja a deteriorar-se a partir de dentro procure manter a sua coesão, projectando a sua violência para o exterior…

    Os nossos “jornalistas” são lamentáveis, quaisquer que sejam os meios de comunicação social: incapazes de inteligência, de alto ponto de vista ou de visão a posteriori. Incapazes mesmo de relatar os factos correctamente. O pior é que eles parecem sinceros.
    Ainda mais preocupantes são as análises dos generais , que em tempos foram pagos para nos defenderem: eu seria a favor da suspensão do seu pagamento porque eles demonstram todos os dias a sua nulidade no que deveria ser a sua especialidade.. (as suas previsões são sistematicamente invalidadas)

    Portanto, a humanidade e especialmente as nossas belas democracias ocidentais ainda não aprenderam nada com as guerras anteriores.
    O que temos de recordar é que a guerra nunca mais parou desde… 1914 (!) pelo menos: guerra mundial orquestrada pelos inícios do grande capital, remissão temporária no meio com um tratado de Versalhes digno de César (ai dos vencidos, 2ª guerra alimentada pelos EUA, eles outra vez, guerra fria, guerras petrolíferas… Não estou a descrever tudo, é para isso que servem os historiadores.
    Guerras civis, guerras económicas, ditaduras, Vietname, Afeganistão, África, tráfico de drogas e de armas, manipulações das grandes organizações com vocações desviadas, e agora, a guerra europeia que não é outra coisa senão uma guerra imperialista dos americanos contra a Rússia, tendo como pretexto a Ucrânia e como vítima designada a Europa, naturalmente.

    Quanto aos alemães, permanecerão no clã anglo-saxão porque desde a crise do bloqueio de Berlim, eles têm uma dívida moral para com os EUA. Este país tem uma população alemã, nórdica e anglo-saxónica muito numerosa. A Segunda Guerra Mundial foi um exemplo da relutância em ir para a guerra contra os nazis. O inimigo era o comunismo, que tinha o vento nas suas velas naquela época. Recordemos que os EUA continuaram a negociar com a Alemanha até 1944 com a Coca-Cola (Fanta), a IBM para ajudar o Holocausto e a Ford que doou 35.000 dólares por ano ao Reich. Roosevelt teve mesmo de processar uma companhia petrolífera do Texas que ofereceu o seu petróleo a Hitler de graça…

  7. Ora andava eu a vasculhar o youtube quando encontrei a definição exacta do Miguel e que este artigo comprova – um machista não leninista

    https://www.youtube.com/watch?v=XPMSqcO-xgE

    E já agora, não é um bocado estranho as pessoas tratarem um septuagenário por «o Miguel»? Acho que isso diz tanto sobre as pessoas e este país como sobre «o Miguel»…

  8. Transloucada? Apesar de o seu texto ter várias ideias e críticas interessantes, a forma como fala do evento no S. Luís é absolutamente desprezível. Claro que nada de estranho para um homem branco, hetero, de classe média alta que encarna o privilégio sem vergonha. Saia um pouco desse seu lugar e vá ver o que outres têm a dizer, talvez que ainda tenha muito a aprender.

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