Observadores internacionais são assediados por acompanhar referendos na Ucrânia

(Por Vanessa Martina Silva e Gabriela Beraldo, in Diálogos do Sul, 26/09/2022)

Jornalista Sonja Van der Ende no memorial das Vítimas do neonazismo ucraniano

Um jornalista alemão corre o risco de ser preso, outro, que prefere ter a nacionalidade preservada, pode perder o emprego no importante veículo em que trabalha e uma repórter holandesa foi praticamente banida de seu país e entrou na lista de pessoas “caçadas” pelo governo ucraniano.

Essa é a situação de alguns dos observadores internacionais que estão visitando centros eleitorais durante o referendo sobre a incorporação – ou não – de territórios na Ucrânia à Rússia.

Em 2014, as regiões de Donetsk e Lugansk decidiram se tornar independentes de Kiev e se autoproclamaram repúblicas populares, o que não foi reconhecido pelo poder central ucraniano e, desde então, uma guerra civil assola o país.

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Após o incremento do conflito com a operação levada a cabo pela Rússia para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, DonetskLugansk e também as regiões de Kherson e Zaporíjia decidiram realizar um referendo para consultar a população sobre o desejo de se incorporar – ou não – à Federação Russa. A consulta, que ocorre desde a última sexta-feira (23), termina hoje, terça (27).

Perseguição

Stefan Schaller é gerente da companhia Energie Waldeck-Frankenberg GmbH, uma pequena empresa alemã, e hoje trabalha mais com jornalismo. Esteve na Rússia para fazer parte da delegação de observadores eleitorais e acabou sendo convocado pela Alemanha para se reportar à polícia.

De acordo com informações, ele recebeu um e-mail informando a demissão. Além disso, se voltar à Alemanha poderá enfrentar três anos de prisão. Mas qual o crime que ele teria cometido, perguntamos à jornalista Sonja Van der Ende, que mora na Rússia há seis meses, também ela perseguida na Europa: “ele esteve em Donbass [região que engloba Donetsk e Lugansk] e todos que visitam esta região não são criminosos de guerra, mas inimigos do Estado” na Europa.

Sonja esteve em Donbass não apenas uma, mas nove vezes acompanhando as ações militares russas, totalizando um período de aproximadamente dois meses. Seu crime foi, em suas palavras, “fazer algo não permitido pelo governo europeu e holandês, porque a Rússia é considerada inimiga”. 

Ela avalia que a liberdade de expressão e de imprensa está prejudicada na Europa. Quando ela contou que muitas pessoas em Donbass foram mortas por milícias neo-nazistas, realmente foi assim. Ela esteve em uma fábrica de aço e viu como milícias ucranianas portavam broches com o símbolo nazista SS, além do livro Mein Kampf, escrito por ninguém menos que Hitler. Porém, “na Europa eles dizem que não é verdade. Tem muita gente boa ajudando o povo ucraniano, mas estão matando a população de Donbass”.

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Outro jornalista, que prefere ter sua nacionalidade preservada, foi demitido do jornal em que trabalha, o maior em sua região, porque concedeu entrevista opinando sobre o referendo. A embaixada russa em seu país repercutiu a declaração e a ucraniana pediu sua demissão.

Assédio

Em alinhamento com a comunidade internacional que não reconhece o direito da população russa na Ucrânia decidir seu futuro, meios de comunicação hegemônicos começaram um verdadeiro assédio contra os observadores internacionais.

O jornal italiano Coriere de la Siera publicou uma matéria em tom bastante enfático contra os observadores, chamando o processo de “farsa” e destacando a presença de 13 italianos. 

O comissário de direitos humanos da Ucrânia, Dmitry Lubinets, pediu ao serviço de segurança de 20 países que imponha sanções a 39 observadores internacionais do referendo. 

Ele pediu que observadores estrangeiros que cruzaram “ilegalmente” a fronteira sejam considerados personas-non gratas na Ucrânia e “outros países democráticos”.

Esse tipo de ação é bem conhecida no país e tem por objetivo promover desestabilização psicológica.

Vanessa Martina Silva, jornalista, editora da Diálogos do Sul e Observadora Internacional dos referendos de Lugansk, desde Sharti, Rostov do Dom, Rússia.


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7 pensamentos sobre “Observadores internacionais são assediados por acompanhar referendos na Ucrânia

  1. O segundo link deste post, “observadores internacionais”, remete para observadores presos em Abril de 2014 por militares das repúblicas separatistas e não para a actualidade. Convinha um pouco mais de rigor, pois para a falta dele e a manipulação descarada temos sempre os do costume. Além disso, para tiros no pé também já nos bastam os sipaios da União Europeia. E compreendendo os motivos dos referendos actuais, não deixa de ser verdade que as condições em que são feitos, com grande parte da população ausente e sem um recenseamento rigoroso, os esvaziam de credibilidade.

  2. Nada de que não se estivesse à espera. Entretanto começam a chegar os primeiros resultados apurados do Referendo:

    ▪Referendo sobre adesão de Zaporozhie: 18% dos votos apurados, sendo que 98,19% destes são a favor da adesão

    ▪Referendo sobre adesão da República Popular de Donetsk: 14% dos votos apurados, sendo que destes 97,91% são a favor da adesão

    ▪Referendo sobre adesão da República Popular de Lugansk: 13% dos votos apurados, sendo que destes 97,82% são a favor da adesão

    ▪Referendo sobre adesão da região de Kherson: 14% dos votos apurados, sendo que destes 96,97% são a favor da adesão

    https://vk.com/sputnikbrasil?w=wall-211720765_4346

    Havendo interesse, ver também:

    https://vk.com/sputnikbrasil?w=wall-211720765_4336
    https://vk.com/sputnikbrasil?w=wall-211720765_4357

    Ao mesmo tempo, e ao que já se sabe, o exército ucraniano continua a pagar muito cara a “vitória de Pirro” que alguns líricos dizem ter alcançado nos limites mais longínquos da linha de contacto de 1 000 Kms.

    A tropa de ataque foi travada e destruída pela aviação e artilharia russas.

    Uma ofensiva militar que perde a capacidade de continuar a progredir fica isolada e à mercê de contra-ataques, como está a suceder. Sem contar com segundas e terceiras linhas e sem apoio aéreo e artilharia de choque, as forças mistas NATO/Ucrânia nunca tiveram hipótese nenhuma. Poucos soldados sobreviverão ao massacre em curso, os 70 Kms “libertados” são agora um matadouro russo.

    Praticamente todos os analistas militares competentes previram o que está a acontecer desde o início. Sem surpresas portanto.

    Por outro lado, toda a zona de Kharkov está a ferro e fogo e às escuras, os centros de alojamento e entreposto de tropas de reforço estão a ser incinerados, agora que os russos descobriram onde eles estão. Parece que, para desgosto dos estrategas de sofá da nossa praça, voltou tudo à normalidade. Apenas há um aumento exponencial da dor

    Depois de passarem seis meses a acumular derrota atrás de derrota, os ukronazis dão um ar da sua graça, muito localizado e limitado em zona estrategicamente irrelevante e com custos pesadíssimos, e já se vaticinava por aí a inversão do sentido da guerra, a demissão de Putin, uma revolução colorida em Moscovo e eu sei lá que mais.

    Dizem por aí que é preciso ser otimista, mas assim também é um bocadinho demais.

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