A batalha de Itália, na guerra interina da UE

(Por Valter Marques, in Blog Bipolaridades, 26/09/2022)

No passado domingo ocorreram as eleições legislativas em Itália, ainda que se enviassem odes aos Deuses do Olimpo (dada a proximidade com a Grécia e ambos partilharem Deuses na mitologia), incluindo ameaças veladas do centro nevrálgico da UE, aos cidadãos italianos, para não ousar alterar o stablishement terrorista da UE e dos lacaios assassinos da OTAN, os italianos, fazendo jus ao seu cancioneiro antifascista, entoaram alto e a bom som Bella Ciao.

A sociedade europeia vive um dilema, que esta batalha italiana, vem, não cauterizar feridas, mas sim, lançar pedras de sal na fractura exposta, se por um lado, e vamos dividir a opinião formada em duas vertentes, a pró União Europeia, e a dissidente anti União Europeia, pelo menos no estado em que se configura, se digladiam pela adição de argumentos de partes, brandindo espadas em opiniões, avisos e até impropérios, esta batalha perdida pelo império UE/OTAN, está longe de significar a capitulação imperial.

Historicamente, Itália no seu período mais negro, apelou ao nacionalismo, viveu sob Mussolini, um período conturbado de fascismo radical, podemos também incluir nesta “equação”, a Espanha de Franco, e naturalmente Portugal de Salazar, mas foquemo-nos em Itália.

O fascismo italiano foi possível, graças ao apoio do nacional-socialismo alemão, ou a doutrina nazi alemã, o eixo do mal de 1932 a 1945, era composto pela Alemanha nazi, a Itália fascista e o Império Japonês, como suplentes Espanha de Franco, Portugal de Salazar e o Pacto Ribbentrop-Molotov (1939-1941) acordado entre Alemanha e a URSS.

Se o nacionalismo italiano do século passado, foi manifestamente nefasto para a sociedade, o mesmo que se ergue neste século em Itália, é diametralmente oposto ao seu antecessor, e uma razão simples e singela disso mesmo, são as alianças que se quebram, a ruptura com o stablishement actual reinante e a retórica de desvinculo com o norte da europa e as suas políticas, é manifestamente uma mudança de rumo na politica interna e externa de Itália, se o fascismo do Séc. XX dependia da aliança germano-italiana, a do Séc. XXI depende da aliança com a sociedade italiana, e aqui reside o primeiro entrave aos novos governantes.

Itália, tal como toda a Europa Ocidental, está, não na beira do abismo, mas no inicio da queda, em plena aceleração rumo aos confins do abismo, ainda que numa fase preliminar, e em que o agravamento da situação socioeconómica se esteja ainda a espraiar, e o descalabro seja, já aceite e conhecido, esta mudança de rumo e o desvinculo das políticas da UE, irá no curto prazo acelerar a hecatombe, e no curto prazo, dificilmente este novo executivo, as conseguirá debelar.

A primeira batalha de Itália, está ganha, mas a guerra não se vence em uma batalha, mais virão, algumas de suma importância, outras de importante conquista estratégica, a mais importante será travada dentro de fronteiras, e curiosamente contra quem elegeu este novo executivo, será a sociedade que entregou os destinos a Meloni, a mesma que a irá contestar.

Meloni herda uma Itália sem eira nem beira, um caos socioeconómico, e uma população dividida, entre humanitarismo bacoco a terceiros, e os italianos pouco dados a humanitarismo bacoco, no rescaldo da fraudemia que assolou o mundo ocidental, com um excesso de mortalidade a rondar os 20%, com o desemprego a aumentar (actualmente 9,2%), com uma taxa de inflação galopante, e sem soluções de curto prazo, que de forma convincente, reúna consenso na sociedade.

Meloni, tem a tarefa Herculânia de erigir novamente Itália, resta saber se tem súbditos capazes.

A UE, vai retaliar, não fosse ela um antro de terrorismo, mas até para a UE, o trabalho vai ser complicado, com o euro em queda picada, com a economia á beira do colapso, desmilitarizada, e sem bases para se suster a um Inverno, e com três frentes de batalha internas, Hungria, Sérvia e agora Itália, além destes problemas interinos, surgem outros, Turquia e Argélia, a Turquia como membro de facto das políticas da UE e a Argélia como única solução para o gás no sul da Europa, o primeiro, longe dos valores Sacro Imperiais da UE, e aliado de Putin, o segundo também muçulmano e cliente do aparato militar russo, não obstante ao facto da Turquia de forma clara, mostrar a intenção de anexar território dentro da UE, anexando parte da Grécia, que curiosamente ambos são parceiros OTAN.

A configuração geopolítica do ocidente da europa, pode muito bem ser diferente em 2023, basta que os italianos, assim o desejem.

Seja como for, e não obstante ao destino dos italianos, 2022, marca de forma irreversível o fim da UE, nos moldes e estruturas actuais, e o tiro de partida foi dado em Itália, ainda que o percursor fosse a Rússia, quem comprou a pólvora foi Bruxelas e a Ursula Von Der Leyen, que assumiu uma guerra em nome de uma sociedade, que não a elegeu, que não a vai reconhecer, nem sentir saudades.

A primeira batalha de uma longa guerra, foi vencida, mais se seguirão, é uma guerra de intelectos e sapiência, diferente da guerra armada de canhões e mosquetes.

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7 pensamentos sobre “A batalha de Itália, na guerra interina da UE

  1. A população da UE deve exigir à senhora Ursula que se mostre disponível para apoiar as pessoas e as empresas com o mesmo empenho e em dimensão equivalente ao que tem mostrado e disponibilizado à causa ucraniana.

  2. O que ele quer sei eu, o que leva é mais uns quantos a ir ao pote. Destrói-se uns barcos cheios de seres humanos e já fica toda a gente contente até às próximas.

  3. Dizem que porque existem problemas socioeconómicos, a extrema-direita chega ao poder. De facto, quando as outras partes mostraram a sua incompetência e criaram problemas socioeconómicos..

    Sou o único que desconfia que um antigo golfista e antigo banqueiro central europeu pudesse ser nomeado presidente do conselho… não havia realmente mais ninguém competente?
    Sou o único que pensa que é normal que os italianos, que estão cada vez mais em apuros apesar de todos os esforços feitos para a UE, se estejam a tornar soberanistas?

    Os de direita acreditam que algumas pessoas são melhores do que outras.
    Apesar do facto de nem todos partirem do mesmo ponto da grande corrida para satisfazer necessidades vitais, depois conforto, depois poder.
    As pessoas inclinadas para a extrema-direita acreditam, sem rodeios, que alguns grupos sociais são melhores do que outros grupos sociais (o grupo social em que acreditam/querem fazer parte, sendo aquele que está no topo da hierarquia do seu “sonho”).

    A Alemanha nazi, a Itália fascista e a URSS não eram mais socialistas do que as Repúblicas democráticas da Coreia e a China são democráticas, isto é, por palavras, mas não por actos.
    Não com hierarquias em forma de pirâmide com um líder quase divino no topo dos únicos partidos permitidos em cada país respectivo.

    Os países europeus sujeitos a restrições orçamentais e políticas para permanecerem na Europa… Esta utopia não pode durar muito tempo. Além disso, podemos sentir o nervosismo dos líderes europeus que sentem o vento a soprar!

    Meloni já anunciou que não é a favor de deixar a Nato, a UE ou o euro, nem mesmo por referendo… Meloni nem sequer é crítica em relação às sanções contra a Rússia. A menos que ela tenha escondido o jogo durante a campanha para beneficiar de uma boa visibilidade mediática e enganar os burgueses globalistas, não vejo o que esperar desta senhora…

    Uma fogueira na frigideira, esta política italiana. Um entretenimento. …nada mais. …Este país está lixado …tal como nós. A destruição da economia mundial conduz ao caos socioeconómico global e à miséria das populações. As finanças internacionais são como uma fênix que se queima e se ergue das cinzas por si só, que é a sua natureza. A casta dominante sobreviverá ao caos socioeconómico global e mais forte do que antes. …um novo ciclo económico está prestes a renascer.

    Há grande falta de realismo político ao esquecer que o governo deve ser validado pelo Presidente da República italiano que não pode seguir a escolha maioritária. Foi o que aconteceu da última vez quando o Presidente exigiu a formação de um governo de coligação chefiado por um tecnocrata.
    É bom sonhar num mundo ideal !!!! Mas com um país endividado, a margem de manobra é infelizmente muito limitada… Por isso, é melhor tranquilizarem as pessoas para permitir que cheguem ao poder.

    Vai ser como o Tsipras na Grécia, que, quando chegou ao poder, tinha sugerido que com ele, “veremos o que vamos ver!” Ele era um esquerdista extremo, mas prometeu uma ruptura total com a URSS, bem… vimos: deitou-se diante da troika como uma nata! Comeu o seu chapéu e aplicou o programa de desmembramento da Grécia pretendido pela troika. Desta vez em Itália, a coligação Meloni já está a anunciar a sua total compatibilidade com a política da UERSS…

  4. Sempre que tentam meter tudo no mesmo saco e, ainda que subrepticiamente, reescrever a história saltam-me os trambelhos. Um gajo que responsabiliza a falecida urss pelo fascismo mussolinico à pala do malfadado pacto perde 99% da credibilidade 😉
    O Atrevimento da Ignorância Tem Destas Coisas
    (António Vilarigues, 2020/04/10)

    Factos Históricos:

    1. Em 1933, logo após a chegada de Hitler ao poder, em resultado dos esforços dos governos britânico e francês, foi assinado em Roma o «Pacto do Consenso e Cooperação» das quatro potências: Grã-Bretanha, Alemanha, França e Itália. Este pacto significou o conluio dos governos britânico e francês com o fascismo alemão e italiano, que já na altura não escondiam as suas intenções agressivas.

    2. Em 1934, a Grã-Bretanha e a França ajudaram Hitler a aproveitar a hostilidade da Polónia dos pans, deles aliada, em relação à URSS, tendo sido assinado o pacto de não agressão germano-polaco, que constituiu uma importante etapa na preparação da agressão alemã.

    3. Em 1935, Ribbentrop deslocou-se a Londres para assinar um acordo com a Grã-Bretanha, por força do qual esta concordava com a reconstituição das forças armadas navais germânicas com uma capacidade quase igual à da marinha de guerra francesa.

    4. Em 21 de Fevereiro de 1938, o ministro britânico, John Simon, declara no parlamento, que a Grã-Bretanha nunca tinha dado particulares garantias de independência à Áustria, uma manifesta mentira uma vez que tais garantias tinham sido dadas nos tratados de Versalhes e de Saint-Germain-en-Laye.

    5. Na mesma altura, o primeiro-ministro britânico, Chamberlain, declarou que a Áustria não podia contar com qualquer protecção da parte da Liga das Nações. Na sequência deste acordo, Hitler anexou a Áustria logo em 12 de Março de 1938, sem qualquer reacção da Grã-Bretanha e da França.

    6. A reunião entre Hitler, Chamberlain, Mussolini e Daladier, realizada em Munique, nos dias 29 e 30 de Setembro de 1938, foi a consumação do vergonhoso pacto, que foi inteiramente concertado entre os principais participantes na conspiração contra a paz. O destino da Checoslováquia foi decidido sem qualquer participação sua. Os representantes checos foram convidados a Munique apenas para aguardarem passivamente os resultados do pacto entre os imperialistas. Sublinhe-se que não foram incluidos a Checoslováquia, embora seus representantes estivessem presentes na cidade, ou a União Soviética, aliada da França e da Checoslováquia. Mas o caso não se limitou à entrega da Checoslováquia a Hitler. Os governos da Grã-Bretanha e da França apressaram-se, ao desafio, a assinar amplos acordos políticos com a Alemanha de Hitler.

    7. Em 30 de Setembro de 1938, em Munique, Chamberlain e Hitler assinaram uma declaração anglo-germânica. Esta foi a declaração de não agressão mútua por parte da Grã-Bretanha e da Alemanha.

    8. Uma declaração semelhante franco-germânica foi assinada por Bonnet e Ribbentrop no dia 6 de Dezembro de 1938. Esta foi uma declaração de não agressão mútua entre a França e a Alemanha.

    9. Na sua essência, estes acordos significaram que tanto a Grã-Bretanha como a França assinaram com Hitler pactos de não agressão.

    10. Deste modo foram criadas as condições políticas necessárias para a «união da Europa sem a Rússia». Tinha-se chegado ao total isolamento da União Soviética.

    NOTA: Todos os factos estão em documentos oficiais devidamente referenciados e públicos.

    CITAÇÕES:
    Em 13 de agosto de 1938, antes da conferência, CHURCHILL havia escrito em uma carta a David Lloyd George: «À Inglaterra foi oferecida uma escolha entre a guerra e a vergonha. Ela escolheu a vergonha e terá a guerra.»

    • Obrigado pelos pontos nos is, José Braz. Não há muita esperança para os borregos, mas umas pastilhitas de ‘Memofante’ são sempre bem-vindas.

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