A “Nossa Senhora” da UE: Ursula von der Leyen

(António Pedro de Vasconcelos, in Público, 21/09/2022)

As mais recentes fotografias de Ursula von der Leyen, tiradas durante o tradicional discurso sobre o estado da União, proferido solenemente no Parlamento Europeu de Estrasburgo, faz hoje uma semana, mostram-na enquadrada pela bandeira da União Europeia, a cabeça rodeada de estrelas amarelas sobre fundo azul e ela própria vestida de azul e amarelo. A única cor que destoa, mesmo se é sóbria e discreta, é o vermelho dos lábios. Numa delas, vemo-la mesmo com os dois dedos apontados para cima, como se estivesse a apoiar duas das estrelas que lhe enfeitam a cabeça.

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, o número de estrelas da bandeira da UE não varia conforme o número de países que a compõem – como aconteceu com a bandeira dos Estados Unidos: foram sempre 12, quer fossem 15 os países que acabaram por aprová-la na reunião do Conselho da Europa em 1985, quer fossem 28, e agora 27, mesmo se os Estados-membros estão ansiosos por repor o número 28, com a entrada iminente da Ucrânia, ou mesmo por alargar a União.

E porquê? A razão histórica é fácil de explicar: os pais fundadores da futura UE, eram, na sua maioria, fervorosos católicos; e entregaram a proposta da bandeira a Arsene Heitz, um católico francês, natural de Estrasburgo, que se inspirou na coroa de estrelas citada no versículo 12,1 do Apocalipse (“Apareceu no céu um sinal extraordinário: uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça”), versículo que os católicos costumam evocar nas festas dedicadas à Virgem Maria, que é tradicionalmente representada na iconografia cristã com a coroa de doze estrelas.

Ursula von der Leyen, coroada pelas 12 estrelas do Apocalipse, apareceu, assim, como uma reincarnação da Virgem Maria que, entre 13 de Maio e 13 de Outubro de 1917, terá aparecido aos três pastorinhos, aos quais, segundo revelaria mais tarde a única sobrevivente, a futura “irmã” Lúcia, terá profetizado a conversão da Rússia, mesmo antes de Lenine tomar o poder no que viria a ser a União Soviética e perseguir ferozmente a Igreja cristã-ortodoxa.

Ora, o que veio profetizar desta vez a presidente da Comissão Europeia, em nosso nome e dos outros 26 países da UE nesse discurso solene? Que nós todos, cidadãos europeus que fazemos parte da União, iremos combater sem tréguas o tirano russo, que ameaça a paz na Europa, garantindo que, “com coragem e solidariedade, Putin falhará e a Ucrânia e a Europa prevalecerão”.

Pelo caminho, foi dizendo que, apesar do custo que a Europa está a pagar, “as sanções (à Rússia) estão para ficar”, porque Putin, imagine-se, decidiu utilizar a energia como arma de guerra, para responder às sanções que a UE, entretanto, lhe aplicara.

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O que a estadista europeia não explicou, ao anunciar a determinação de prosseguirmos o apoio à resistência ucraniana até à vitória final, foi qual dos cenários se seguirá ao colapso da Rússia de Putin, no caso de, como garante, a Ucrânia ganhar a guerra e expulsar as tropas russas dos territórios entretanto ocupados e da Crimeia.

    Vale, por isso, a pena, que nos interroguemos, nós, sobre as possíveis consequências da heróica e vitoriosa resistência do povo ucraniano.

    Primeiro cenário: o derrube do governo de Putin e, quiçá, o seu assassinato. O que virá a seguir? Há duas forças na sociedade russa que poderão eventualmente juntar-se para o derrubar, mas que, no dia seguinte, estarão a disputar o poder: os saudosos do comunismo e os “ultras” da direita, que defendem uma nova “abertura democrática”, versão americana, isto é, como fez Ieltsin, a liberalização do mercado, com privatizações e entrega a novos oligarcas das empresas estratégicas do Estado, com as consequências que se conhecem, e que acabou, ao fim de vários litros de vodka, a pedir a Putin para tomar conta da Rússia, a troco de lhe salvar a cabeça. Ou seja, uma guerra civil pelo poder, ou seja, o caos.

    Mas admitamos que, ao contrário do optimismo da nossa líder, é Putin quem ganha, eventualmente recorrendo a armas nucleares. Em que estado ficará o mundo, admitindo que a China, a Turquia, a Índia e o Irão, entre outros, nunca se solidarizarão connosco? O que fará a Europa? Vingar a Ucrânia, declarando guerra à Rússia? Ou, pelo contrário, ficando-se apenas por condenações verbais e sanções económicas?

    Qualquer dos cenários bélicos, uma vez que a Nossa Senhora Ursula, em nosso nome, exclui a negociação e que um novo milagre de Fátima é improvável, é catastrófico. O mais provável é que, se se mantiver na sua cátedra, nos aponte uma solução desesperada, enquanto o Titanic se afunda: “Fujam! E o último a sair que feche a porta!”


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    9 pensamentos sobre “A “Nossa Senhora” da UE: Ursula von der Leyen

    1. Vi agora uma reportagem do bruno pzp na sic sobre a referendo em Donetsk. Nem um único dos entrevistados é contra! Bestial… isto sim é jornalismo verdadeiro e imparcial! Esperemos pela reportagem das manifestação na ruzzia…

      • Imparcial era se encontrasse o contrário, ou bastava à Reino Unido e, quando não convém, fizesse metade-metade para dizer que a terra é plana?
        Ainda por cima não precisam de desculpa, basta dizer que é adulterado porque os habitantes se piraram; a chatice é que foi em direcções opostas.

          • Interroga-se quem se encontra, provavelmente divididos em diferentes partes quando ainda em pseudo guerra-civil, quanto mais agora, incluindo migrações. A verdade é impossível mesmo se fosse tentada… excepto que, pasme-se, há mesmo ucranianos com medo de Kiev (e Moscovo, claro), e isso, credo, prometeram-me que era mentira.

      • Pode sempre ver as sondagens ocidentais feitas na Crimeia por uma reputada empresa Alemã, e que confirmam os números do referendo à Autodeterminação.

        A mesma coisa acontece no Donbass.

        Eu respeito a Democracia, que é o povo a decidir.
        Eu respeito a Soberania, que é o povo a decidir por si em vez de obedecer a imposições externas.
        E ei respeito o Direito Humano à Autodeterminação, que é o que levou os Ucranianos pró-Democracia (e poryanto anti-golpe e anti-nazi) a votarem pela independência ainda em 2014.

        Uma idependência que a Rússia recusou reconhecer, em nome da paz dos acordos de Minsk, e da integridade territorial da Ucrânia.

        Os meus valores, sendo universais e coerentes, aplicam-se ao Brexit, à independência da Escócia, da Catalunha, do Kosovo, e dos povos russófonos da ex-Ucrânia.
        São os mesmos valores que levaram Portugal ao 25-Abril e ao fim da guerra e das colónias.

        É lidar.
        E digo-lhe já, quem não lida bem com estes valores e factos, é mais fascista/imperialista do que pensa.

        O que você gosta mesmo é da invasão da Palestina, do Apartheid de Israel, da repressão policial na França contra os Gilets Jaunes, da violência policial em Espanha contra os eleitores Catalães, e das invasões e guerras todas da Nato, de todas as brutais ditaduras apoiadas pelo Ocidente, e dos golpes de Estado contra Democracias (Chile 1973, Ucrânia 2014, Bolívia 2019, etc).

        Do que você gosta mesmo, é do total silêncio da máquina de FakeNews e propaganda Ocidental, chamada “imprensa livre”, em relação à ACTUAL invasão de militares Franceses no Iémen, de tanques Turcos no Curdistão, e de tropas USAmericanas na Síria e Iraque.

        E o Assange preso por ter denunciado os crimes contra a humanidade cometidos pelo grupo terrorista do império: NATO.

        E as sanções ilegais contra povos pacíficos como o Cubano, cujo “crime” foi ter acabado com a ditadura fascista pró-USAmericana, e enviar “tropas” de médicos para ajudar países necessitados.

        E vir aqui a todos os artigos repetir ad nauseam os ataques ao jornalista português que relatava a verdade a partir do Donbass.

        Isso é que são os seus “valores”…

    2. Quando olhamos para o estado do mundo e especialmente para a sua evolução, a sua tendência a longo prazo, só podemos ser pessimistas. É apenas o bom funcionamento de um cérebro que vê a realidade no rosto. Mas é a nossa vontade que nos permite transcender esta realidade em algo concreto e acima de tudo útil no contexto anteriormente analisado.

      A questão essencial é antes como vamos gerir este mundo inelutável. Um questionamento global das nossas sociedades que irá gerar vencedores e perdedores…lutas e guerras em perspectiva a todos os níveis e uma grande dificuldade para orquestrar esta mutação de grande magnitude…o melhor lugar será o dos cronistas ansiosos por contar a história aos sobreviventes…

      A China entrou no jogo e o seu PIB passou de quase nada para 20% do PIB mundial. O sudeste asiático está a chegar. Depois a Índia. Trabalham arduamente e têm acesso ao consumo. Este novo consumo para eles só pode ser alcançado consumindo menos aqui, com um tamanho de bolo constante ou mesmo decrescente. Este é o principal factor da queda do nosso poder de compra.

      O decrescimento não é um assunto fácil de explicar , mas ainda mais difícil para o cidadão médio de compreender a matemática e a lógica por detrás dele. Por um lado, não é a forma como somos treinados e, por outro lado, é demasiado difícil de aceitar, torna as pessoas mais ansiosas do que qualquer outra coisa. As pessoas à minha volta não estão prontas para mudar e não as censuro.

      Tornámo-nos consumidores para os gestores, tornámo-nos clientes para os médicos, gostaria de saber o que nos tornámos para os polícias, acho que saberemos em breve.

      Pode ser bom abordar o tema da robotização/automação e da IA que irá substituir cada vez mais empregos.

      Ao mesmo tempo, é uma coisa boa… com os colapsos e fluxos migratórios actuais, vamos precisar de muita gente com as mãos no chão…
      Excepto que a agricultura 2.0 não tem a intenção de contratar em massa..

      Infelizmente, há muitos travões extremamente potentes no decrescimento:

      O nosso dinheiro. O dinheiro é actualmente criado pela dívida, e o crescimento da dívida é necessário para que a oferta de dinheiro em circulação aumente. Se pararmos o crescimento, entramos num problema de solvência.

      Os interesses dos mais ricos. Quem são os proprietários do capital, que mais cresce e traz mais dinheiro.

      Todos os nossos fundos sociais, sejam pensões, doenças, etc., assentam num crescimento de 1 a 2% ao ano…

      O nosso orçamento e a nossa dívida nacional, também se baseiam no crescimento.

      Em suma, a fim de alcançar o decrescimento, teremos de limpar o nosso ambiente financeiro e a nossa gestão. Este tipo de mudança raramente é feita em silêncio, mas as forças estão do lado da ordem actual…

      A UE proibiu toda a exploração de petróleo e gás desde 2011… ao comprimir a produção global e ao proibir toda a exploração global para as empresas europeias, reduzimos a oferta, enquanto a procura é maior de ano para ano.

      Agora, onde a perspectiva é distorcida, é que os Estados tomaram conta da energia impondo directrizes industriais (toda a electricidade para a UE em 2035 ou Califórnia). Não estamos a responder à lógica do mercado, mas sim à lógica política. A este respeito, a ONG IPCC tem vindo a trabalhar para o G7 há muito tempo para nos levar ao que estamos actualmente a experimentar.

      Recordem que todas as projecções energéticas anteriores (petróleo, gás, carvão) têm sido ultrapassadas desde os anos 70 e 80 até aos dias de hoje… Os choques da oferta são políticos. Estamos bem cientes de que se não se investir na exploração e exploração, haverá certamente escassez de energia (petróleo e gás)… Isto é um facto. Desde 2020, as bolsas ocidentais tornaram os seus investimentos mais verdes (um pouco como no mundo árabe onde a islamizaram)…

      O que contradiz estas injunções políticas e repetidas (o aquecimento global de Al Gore em 2006), são alguns investidores que encorajam a continuar a investir maciçamente em energias de carbono (12.000 biliões de dólares ou mais). O fracasso previsível destas políticas será suficientemente visível dentro de alguns anos, como o provam os choques endógenos (racionamento, cortes de energia, abrandamento económico, declínio, recessão, mesmo estagflação) e os choques monetários. Os Estados, através dos seus bancos centrais, brincaram com o fogo durante o C19, para os EUA a partir de 2008 (2015 para o BCE), produzindo dinheiro. Não devemos cair nessa armadilha por muito tempo, já estamos a beber a taça.

      Estamos literalmente num beco sem saída.

      Os nossos líderes tencionam resolver os problemas (revolta, escassez, decrescimento, ….) simplesmente através de uma guerra.
      Esta tem sido a estratégia desde o início dos tempos.

      Penso também que a guerra já começou, é económica e em breve se tornará também militar,e total.
      Foi em parte por isso que os EUA provocaram a guerra na Ucrânia e que os russos não hesitaram em invadir a Ucrânia.
      Será o mesmo em Taiwan com a China!

      É por isso que penso que é demasiado tarde para tentar sensibilizar as pessoas para o problema.

      Estou a preparar-me para o colapso que se avizinha e já me organizei.
      O dinheiro não vai valer nada muito em breve, é melhor gastá-lo para agradar a si próprio e preparar-se para o que está para vir!

      A história mostra que acaba numa depressão com preços elevados em comparação com o rendimento nominal. Pobreza energética, pobreza informática, pobreza de mobilidade, pobreza de viagem,vacinação, etc. A energia, a gasolina, os vales de alimentação estão a voltar. O mal-entendido da população dará outro resultado político. A temperatura deste Inverno dará a velocidade do declínio.

      Os EUA não são auto-suficientes em petróleo .
      Pode-se acreditar que os EUA, se olharmos para as quantidades e acreditarmos que todo o petróleo é igual. Os EUA não podem fazer muito com o seu petróleo, precisam de petróleo pesado como o russo ou o venezuelano para poderem refinar algo útil nos EUA, o Petróleo que têm está em declínio excessivo.

      Estamos a caminhar para um arrefecimento e isso vai doer porque não estamos perto, excepto na Rússia.

      A UE mostra todos os dias que é uma colónia do império americano.

      Um oficial superior da marinha diz que a campanha militar da Rússia deve muito aos modelos tradicionais soviéticos de guerra. No entanto, continua a expressar a sua admiração pela natureza única da actual campanha militar conduzida pelas forças russas.. Os ocidentais comuns que lêem e ouvem os principais meios de comunicação social são uns idiotas e foram presenteados com uma novela de histórias sobre a guerra na Ucrânia. Aparentemente, a Rússia tem vindo a perder a sua guerra na Ucrânia desde os primeiros dias do conflito.

      Isto é evidenciado pelo facto de que a Rússia aparentemente não conseguiu conquistar Kiev e outras cidades do norte nas primeiras semanas do conflito. Durante a sua tentativa falhada de conquistar Kiev e outras cidades do norte, as tropas russas cometeram numerosos crimes de guerra através de artilharia e ataques com mísseis contra infra-estruturas civis e áreas residenciais. Para piorar a situação, as forças armadas russas sofreram pesadas baixas, a taxa de deserção é elevada e os generais são um bando de idiotas que não puderam dar uma festa numa cervejaria gay americana. Aparentemente, é apenas uma questão de tempo até que as malvadas hordas russas sejam empurradas de volta através da fronteira com o rabo entre as pernas, graças a uma combinação de bravura ucraniana e armamento ocidental,mas não é este ponto também contradiz toda a propaganda ocidental triunfante que proclama grandes derrotas para a Rússia quando as forças ucranianas ganham pequenas vitórias tácticas e a Rússia retira as suas tropas de uma posição. O quadro que foi apresentado da guerra na Ucrânia é completamente contraditório e falso para a realidade da situação no terreno. Surpreendentemente, a informação que apoia e mina totalmente a narrativa da guerra dos meios de comunicação ocidentais é fornecida directamente da casa de banho.

      A União Europeia nunca será uma potência, os americanos, os nossos grandes amigos, vendem-nos gás “ecologicamente questionável” a um preço elevado. Este conflito marca o fim da UE, do Euro, talvez até da potência industrial do continente … Em 5 anos seremos uma potência agrícola e turística sob o protectorado americano …

      Quanto mais nos apercebemos da necessidade de sairmos da Europa, mais o governo pressiona o ritmo para nos afogar nela…. Que querem transformar os países num estado federal e, no processo, empobrecer o nosso povo ..

      Será este o preço que temos de pagar pela nossa liberdade? Sim, esse é o preço, mas porquê dizer que é suposto (em primeiro lugar) dar a nossa liberdade? A nossa liberdade de quê?

      • A ideia do decrescimento é fazer mais com menos, ou seja aproveitar melhor os recursos desperdiçando menos em luxos e vacuidades, principalmente em função da conta bancária, não tendo nada a ver com a quantidade de capital. O resto, como no resto dos planos verdes que ameaçam ser populares, é mais uma desvirtuação capitalista de tentar não mudar nada.

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