A inconveniente complexidade

(Boaventura Sousa Santos, in Público, 20/04/2022)

No eixo comunicacional do Atlântico Norte vivemos uma guerra de informação sem precedentes. Conheci-a nos EUA durante dois períodos. No primeiro, durante a guerra do Vietname que vivi no seu momento de crise final (1969-1971); culminaria com a publicação dos Pentagon Papers em 1971. O segundo momento foi a guerra do Iraque, a partir de 2003, e a saga das armas de destruição massiva, um embuste político de que viriam a resultar muitos crimes de guerra. Mas na Europa nunca tinha assistido a este tipo de guerra de informação, pelo menos com a magnitude actual. Caracteriza-se pela erosão quase total entre factos e manipulação das emoções e percepções, entre hipóteses ou conjecturas e verdades inatacáveis.

No caso concreto da guerra da Ucrânia, a manipulação visa impedir a opinião pública e os decisores políticos de pensarem e decidirem sem excessivo stress na única medida que agora se impõe: a busca de uma paz duradoura na Ucrânia e na região de modo a pôr fim ao sofrimento do povo ucraniano, um povo que nestes dias partilha a trágica sorte dos povos palestiniano, iemenita, sírio, sarauí e afegão, ainda que sobre estes últimos pese o mais profundo silêncio.

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A guerra da informação tem por objectivo continuar a guerra das armas enquanto tal convier a quem a promove. Nestas condições, não é fácil lutar com factos e experiência histórica porque, do ponto de vista da guerra de informação, explicar é justificar, compreender é perdoar, contextualizar é relativizar. Mesmo assim, tentemos.

1. Causas

Para demonizar o inimigo é crucial desumanizá-lo, ou seja, imaginá-lo como tendo agido criminosamente e sem provocações. Ora a firme e incondicional condenação da ilegal invasão da Ucrânia (em que insisti desde a minha primeira crónica sobre o tema) não implica ter de ignorar como se chegou a tal. Neste caso, aconselho a leitura do livro publicado em 2019, War with Russia?, do professor emérito da Universidade de Princeton Stephen Cohen, recentemente falecido.

Depois de analisar com inexcedível detalhe as relações entre os EUA e a Rússia desde o fim da União Soviética e, no caso da Ucrânia, sobretudo desde 2013, Stephen Cohen conclui deste modo: “Proxy wars [guerras em que os adversários usam países terceiros para prosseguir os seus objectivos de confrontação bélica] são uma característica da velha Guerra Fria, são pequenas guerras no chamado ‘Terceiro Mundo’…Raramente envolveram militares soviéticos ou americanos, quase sempre apenas dinheiro e armas. Hoje as proxy wars entre os EUA e a Rússia são diferentes, estão localizados no centro da geopolítica, são acompanhadas de demasiados instrutores americanos e russos e possivelmente combatentes. Duas já irromperam: na Geórgia em 2008, onde forças russas enfrentaram o exército da Geórgia financiado e treinado com fundos e pessoal americano; e na Síria, onde já foram mortos muitos russos por forças anti-Assad apoiadas pelos EUA. Moscovo não retaliou, mas prometeu fazê-lo quando houvesse ‘uma próxima vez’. Se tal acontecer, envolverá uma guerra entre a Rússia e a América. O risco de um tal conflito directo continua a crescer na Ucrânia”. Assim se previu em 2019 a guerra que neste momento martiriza o povo ucraniano.

Bashar al-Assad e Vladimir Putin, em Sochi, em 2017, com o ministro da Defesa russo e o chefe de Estado-maior das forças russas que ajudaram o Presidente sírio a manter-se no poder Sputnik/Reuters

2. Democracias e autocracias

Na linguagem dos EUA o mundo divide-se em dois: democracias (nós) e autocracias (eles). Ainda há poucos anos a divisão era entre democracias e ditaduras. A autocracia é um termo muito mais vago que, por isso, pode ser usado para considerar autocrata um governo democrático tido por hostil, mesmo que a hostilidade não derive das características do regime. Por exemplo, na Cimeira da Democracia realizada em Dezembro de 2021, por iniciativa do Presidente Biden, não foram convidados países como a Argentina e a Bolívia, que tinham passado recentemente por vibrantes processos democráticos, mas são menos receptivos aos interesses económicos e geoestratégicos dos EUA.

Em contrapartida, foram convidados três países que a Casa Branca reconheceu serem democracias problemáticas (o termo usado foi flawed democracies), com corrupção endémica e com abusos dos direitos humanos, mas com interesse estratégico para os EUA: as Filipinas, por contrariar a influência da China; o Paquistão, pela sua relevância na luta contra o terrorismo; e a Ucrânia, pela sua resistência à incursão da Rússia. Compreendiam-se as reservas no caso da Ucrânia, pois poucos meses antes os Pandora Papers davam detalhes sobre as empresas offshore do Presidente Zelenskii, da sua mulher e dos seus associados.

Agora, a Ucrânia representa a luta da democracia contra a autocracia da Rússia (que, a nível interno, deve estar a par da Ucrânia em termos de corrupção e de abusos de direitos humanos). O conceito de democracia perde, assim, boa parte do seu conteúdo político e transforma-se numa arma de arremesso para promover mudanças de governo que favoreçam os interesses globais dos EUA.

3. Ameaças

Segundo peritos da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em 2020, 40% das forças militares da Ucrânia (um total de 102.000 membros) eram milícias paramilitares de extrema-direita, armadas, financiadas e treinadas pelos EUA, Inglaterra, Canada, França e Suíça, com integrantes de 19 nacionalidades. Desde que a guerra começou, mais elementos se lhes juntaram, alguns vindo do Médio-Oriente, e mais armas receberam de todos os países da NATO. A Europa está assim em risco de ter no seu seio um nazi-jihadismo nutrido, e nada nos garante que o seu raio de acção se limite à Ucrânia.

Em 1998, o antigo conselheiro de segurança do Presidente Carter, Zbigniew Brzezinski, afirmava em entrevista ao Nouvel Observateur: “Em 1979, aumentámos a probabilidade de a URSS invadir o Afeganistão… e criar a oportunidade de lhes dar o seu Vietname”. Não me surpreenderia se este playbook da CIA não estivesse agora a ser aplicado na Ucrânia. As recentes declarações do secretário-geral da NATO, segundo as quais “a guerra na Ucrânia pode durar meses ou até anos” – combinadas com a notícia da Reuters (12 de Abril) de que o Pentágono ia reunir com os oito maiores produtores de armas dos EUA para discutir a capacidade da indústria para satisfazer as necessidades da Ucrânia “se a guerra com a Rússia durar anos” – deviam ter causado alarme entre os líderes políticos europeus, mas aparentemente apenas os motivaram para uma corrida aos armamentos.

As consequências de um segundo Vietname russo seriam fatais para a Ucrânia e para a Europa. A Rússia (que é parte da Europa) só será uma ameaça para a Europa se a Europa se transformar numa imensa base militar dos EUA. A expansão da NATO é, pois, a verdadeira ameaça para a Europa, como há vinte anos alertou o insuspeito Henry Kissinger”.

4. Critérios duplos

A UE, transformada numa caixa de ressonância das escolhas estratégicas dos EUA, defende como lídima expressão dos valores universais (europeus, mas nem por isso menos universalizáveis) o direito da Ucrânia de integrar a NATO, enquanto os EUA intensificam a integração (veja-se o US-Ukraine Strategic Defense Partnership, assinado em 31 de Agosto de 2021), ao mesmo tempo negando que ela esteja iminente.

Certamente os líderes europeus não sabem que o direito reconhecido à Ucrânia de aderir a um pacto militar é negado a outros países pelos EUA e, se soubessem, isso não faria qualquer diferença, tal é o estado de torpor militarista em que se encontram. Por exemplo, as pequenas Ilhas Salomão do Oceano Pacífico aprovaram em 2021 um projecto de pacto de segurança com a China. Os EUA reagiram de imediato e com alarme a esse projecto e enviaram altos responsáveis de segurança para a região a fim de travar a “intensificação da competição de segurança no Pacífico”.

5. A verdade vem tarde demais

A guerra de informação assenta sempre numa mistura de verdades selectivas, meias verdades e mentiras puras e duras (as chamadas false flags) organizada de modo a justificar a acção militar de quem a promove. Estou certo de que neste momento está em curso uma guerra de informação tanto do lado russo como do lado norte-americano/ucraniano, ainda que, devido à censura que nos foi imposta, saibamos menos sobre o que se passa no lado russo. Mais tarde ou mais cedo a verdade virá ao de cima. A tragédia é que virá sempre demasiado tarde.

Neste conturbado início de século temos uma vantagem: o mundo perdeu a inocência. Julian Assange, por exemplo, está a pagar um altíssimo preço por nos ter ajudado neste processo. Aos que ainda não desistiram de pensar com alguma autonomia recomendo a leitura do capítulo da Hannah Arendt, intitulado Mentir em Política, no livro Crises of the Republic, publicado em 1971. É uma reflexão brilhante sobre os Pentagon Papers, uma recolha exaustiva dos dados (entre eles, muitos crimes de guerra e muitas mentiras) sobre a guerra do Vietname, uma recolha realizada por iniciativa de um dos maiores responsáveis dessa guerra, Robert McNamara.

6. A pergunta que ninguém faz

Quando os conflitos armados são em África ou no Médio Oriente, os líderes europeus são os primeiros a pedir o cessar das hostilidades e a urgência das negociações de paz. Por que é quando a guerra é na Europa os tambores da guerra tocam incessantemente e nenhum líder apela a que se calem e a voz da paz se ouça?

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico


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18 pensamentos sobre “A inconveniente complexidade

  1. Grande texto. Parabéns ao Boaventura Sousa Santos.

    Destaco:

    «Segundo peritos da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em 2020, 40% das forças militares da Ucrânia (um total de 102.000 membros) eram milícias paramilitares de extrema-direita, armadas, financiadas e treinadas pelos EUA, Inglaterra, Canada, França e Suíça…»

    102 MIL nazis e amigos. E o seu líder convidado para falar no Parlamento português…

    Ao ver o branqueamento feito aos de Azov e companhia, só pergunto: será que a “imprensa livre” do Ocidente não tem um pingo de vergonha na cara?

    E repito o que já perguntei antes: se quem denuncia a verdade está preso (Assange), o que é que isso diz dos que ainda estão soltos? Resposta: que não investigam, que não incomodam, e que não dizem a verdade. Estão soltos porque fazem parte da máquina de propaganda. E é também por isso que Assange incomoda tantos, inclusive “jornalistas”…

    • Ai Carlitos, Carlitos, não tens emenda. Precisas de pimenta na língua. E não digas que defendo a censura, defendo apenas uma justa retribuição: tu dizes cada vez mas baboseiras, e eu punha-te cada vez mais pimenta a língua. Até te rebentarem as “almeródias”

  2. Cuíde-se BSS,pq os guardeães do Templo das TVs sem excepçao Nacionais ,pois esses Megafones univocos,que diáriamente nos obrigam a seguir a sua “religao” de Jornaleiros Pavlovianos ,descobriram que só os Povo de cor branca ,são agredidos na suas terras ePaíses ,pois todos os outros que não brancos ,podem sê-lo pqa Europa ,finge não ver nem conhecer os massacres e pilhagens que acontecem nesses Continentes e até paga para se ver livre daqueles que fogem à Guerra e á miséria ,pagando para “exportá-los” para Paises terceiros ,como aconteceu com refugiados para a Turquia ….Vergonha digo eu ,hipocrisia dirão outros…….

  3. Mais uma vez a ES de Sal não publicou o que escrevi…..P^? não voltarei a faze-lo ,pq só publicam a “voz do dono”…

    • Torna a acusar-me de nao publicar os seus comentarios, sem razao alguma, e será a ultima vez que o fará aqui, porque então, sim, será bloqueado. Mas quando o fizer avisá-lo-ei aqui mesmo. Não sou o FB nem a Umião Europeia. Mas até a asneira deve ter limites.

  4. O Boaventura Santos, igual a si próprio, nada traz de novo. O argumento das “proxy wars”, em que é aliás recorrente, é o ponto forte da sua tese contra o imperialismo americano. Mesmo que discretamente busque uma equivalência entre este e o do opositor, o russo, não consegue disfarçar o seu pendor quando é cuidadosamente selectivo nas referências e transcrições que faz de autores. Por exemplo, diz que “para demonizar o inimigo é crucial desumaniza-lo, ou seja, imaginá-lo como tendo agido criminosamente e sem provocações”. Isto dá vontade de rir. Os russos não precisam de incitação e provocação para revelarem a sua face demoníaca. Nisso têm toda a iniciativa, porque quem arrasa cidades inteiras, mata civis e viola mulheres e crianças é que lavra a sua própria condenação, sem que outrem lhe tenha de fazer a folha.

    Mas sobre as “proxy wars” o André Freire e o Elísio Estanque respondem-lhe bem num artigo em co-autoria publicado no Diário de Notícias: esse argumento morreu ou perdeu validade com o fim da Guerra Fria.

    Quando o Boaventura Santos compara democracia e autocracia, transmite a impressão de que não é muito substancial o diferencial de valor. E a falha grave é omitir, sim omitir, que a democracia pode ter muitos defeitos, e tem, mas é onde circula livremente a opinião e a informação, ao invés do que se passa no outro lado. Revolta que se aluda a manipulação da comunicação, insinuando-a no Ocidente, quando, pelo contrário, na Rússia de Putin é onde ela é uma realidade absoluta e aparentemente indestronável. Realmente, é preciso não ter pudor.

    Depois, há dados que ele apresenta e me suscitam dúvidas sobre a sua inteira veracidade: “40% das forças militares da Ucrânia eram milícias paramilitares de extrema-direita, armadas, financiadas e treinadas pelos EUA, Inglaterra, Canada, França e Suíça, com integrantes de 19 nacionalidades”; “desde que a guerra começou, mais elementos se lhes juntaram, alguns vindos do Médio-Oriente, e mais armas receberam de todos os países da NATO. A Europa está assim em risco de ter no seu seio um nazi-jihadismo nutrido, e nada nos garante que o seu raio de acção se limite à Ucrânia”.

    É estranho que não mencione os sírios recrutados pela Rússia e o Batalhão Wagner, de mercenários, por exemplo. E quando diz que a Europa corre o risco de incorporar “um nazi-jihadismo nutrido” imputando a responsabilidade ao país invadido e agredido, fico com razões para duvidar da honestidade intelectual do Boaventura Santos.

    Bem, talvez seja apenas a circunstância de ele habitar aquele limbo dilecto de certa esquerda intelectual herdeira de Sartre. Aí predomina a abstracção e esta usa a estratégia da simplificação e incorre em imprecisão, vacuidade e ambiguidade relativamente ao objecto da análise e do estudo.

    Mas valeu bem a leitura do artigo dos outros dois autores citados.

    • «porque quem arrasa cidades inteiras, mata civis… é que lavra a sua própria condenação»

      Tem toda a razão.
      Assim sendo, fico à espera da sua condenação da Ucrânia cuja guerra de 8 anos matou +13 mil no Donbass e destruiu tantas estruturas civis em Lugansk e Donetsk, e tem um Presidente que andava a prometer fazer o mesmo na Crimeia. E o que fizeram nas outras cidades, está mais que documentado pela Amnistia Internacional, Human Rights Watch, ONU, e OSCE.

      Fico também à espera que condene o Apartheid (ditadura xenófoba/racista) de Israel, e a ocupação ilegal dos países vizinhos: Síria e Palestina – com constantes bombardeamentos, ataques a zona civis, violações de Direitos Humanos, e roubo de casas de famílias inteiras, escorraçadas por militares de metralhadoras apontadas.

      E já agora os bombardeamentos da Turquia (NATO) contra os Curdos.

      E a guerra, invasão, e roubo de território feito pelo Azerbaijão (com armas da NATO) contra a Arménia.

      E espero que em nome das crianças mortas pela Arábia Saudita e Al Qaeda no Yemen, você deixe de abastecer o seu carro com derivados do petróleo saudita, caso contrário está a financiar um regime que só há pouco mais de um mês atrás mandou matar 81 opositores.

      Ou o governo do Mali que, com ajuda da França e Alemanha, matou centenas de Tuareg nas últimas semanas.

      Espero também que deixe de comprar produtos made in USA, em protesto contra todas as invasões dos últimos 30 anos.

      E que pelo menos se lembre de todas as vezes que a NATO (ou os exércitos da NATO) ajudaram os EUA a cometer crimes de guerra, a matar centenas de milhares, e a criar milhões de refugiados, e ainda mais milhões de desgraçados e esfomeados, como as 5 milhões de crianças no Afeganistão agora a passar fome, enquanto os EUA e a UE roubam esse país, depois de o destruírem ainda mais ao longo de 20 anos.

      Gostava que me justificasse a “defesa” que a NATO fez ao invadir e bombardear a Sérvia, e sob que regra do “direito internacional” é que se partiu aquele país em tantos pedaços.

      Ou a intervenção da NATO/EUA na Líbia, país terraplanado que ainda hoje não se levantou.

      Explique também como é que ter cada vez mais mísseis, tropas, bases americanas implantadas nas fronteiras da Rússia através da NATO, podem ser consideradas medidas de “defesa” e “segurança” legítimas?
      E depois explique porque é que é um “perigo” e “é necessário responder” a um mero acordo de segurança entre a China e as minúsculas Ilhas Salomão.

      Explique como é que a Crimeia, que fez um referendo onde 97% escolheram sair da Ucrânia e voltar à Rússia, é uma “anexação ilegal”, mas dar cargas de porrada em quem quer votar e prender políticos Catalães, é feito em nome da “democracia”.

      Justifique como é que EUA+EU andam a matar milhares de pessoas no Irão, Venezuela, Bolívia, etc, com terrorismo económico (aka sanções) e patrocínio de golpes de Estado, e isso não merece uma única crítica do povo Ocidental. Pelo contrário, cria-se toda uma narrativa na “imprensa livre” para justificar todas essas acções, e depois ainda se atrevem a ter a real lata de dizer “estes refugiados Venezuelanos fogem da crise feita pelo Maduro” sem referirem uma única vez os planos dos corruptos Ocidentais que já disseram coisas como: “o objetivo é fazê-los passar fome”.

      No final de tudo isto, diga-me também como é que comprar gás aos EUA em vez de à Rússia ajuda a fazer a paz, e como é que comprar petróleo à Arábia Saudita em vez de à Rússia ajuda a defender a liberdade, e como é que treinar e armas nazis (até o FBI tem relatórios sobre isto) que depois são colocados em posições chave do SBU e da Guarda Nacional ucraniana e perseguem pessoas e fazem-nas desaparecer, é em nome da “democracia”…

      No final, quero que me diga o que devem os EUA/NATO fazer neste cenário:
      – “revolução da dignidade” no Estado no Canadá, para derrubar oligarquia NeoLiberal corrupta, deitar abaixo Trudeau, e tirar o Canadá da NAFTA e pedir adesão à união económica da Rússia e China.
      – ilegalização dos partidos pró-NATO e pró-EUA, perseguição a quem é contra o golpe, prisão de opositores
      – proibição da língua inglesa, censura de todos os canais americanos, e criação de organismo só para a propaganda do novo regime
      – milícias paramilitares Estalinistas instaladas em posições chave de órgãos oficiais militares e de poder, constantemente a espalharem mensagens de ódio e ameaça contra os EUA
      – guerra de 8 anos contra os independentistas do Quebéque com 13 mil mortos, e bombardeamentos constantes junto à fronteira dos EUA, com o Canadá a violar constantemente os acordos de paz assinados com os EUA
      – militarização do Canadá com armas e mais armas da Rússia e China, e ajuntamento de 100 mil tropas na zona de conflito para fazer o ataque final a essa população
      – votação na ONU a favor da glorificação do Estalinismo, insulto à memória dos Aliados da 2ª Guerra Mundial, e celebrações nas ruas, de tocha na mão, de “heróis” que bateram records de assassinato de americanos, como por exemplo o Bin Laden
      – Presidente fantoche do novo regime Canadiano a ameaçar que vai reconquistar território aos EUA nem que seja à força, e que em breve instalará armas nucleares apontadas às cidades americanas.

      E minha dúvida não é se os EUA/NATO/Ocidente vão apelar à paz. A minha dúvida é só quantos dias passam (nunca irão esperar 8 anos pela resolução diplomática como fez a Rússia) antes da invasão americana/NATO e da guerra total com cidades canadianas terraplanadas à bomba, sem qualquer corredor humanitário, com fronteiras fechadas aos emigrantes, e com MILHÕES de mortos logo nas primeiras semanas, à imagem do que fizeram no Iraque e arredores.

      De facto, não é possível fazer a equiparação entre o imperialismo de quem se defende junto à sua fronteira (e salva incontáveis vidas de ucranianos russófonos e russos que seriam todas “limpas” pelos Azov), com o imperialismo de quem ainda esta semana enviou mais uma fornada de armas para Taiwan só para preparar o seu ataque na frente leste contra a China, e lucrou com mais uns quantos bombardeamentos (e mortes) no Yemen, Síria, e Palestina.

      A diferença entres nós (eu, Estátua, BSS, etc de um lado) e pessoas como você do outro, não é quem está a favor ou contra a Rússia. É que nós somos de tal forma contra a guerra, que condenamos todo o contexto que foi escalando e a tornou inevitável, enquanto que vocês acham que há guerras boas ou más consoante a fábrica da bomba (se é que chegam sequer a ouvir falar das outras guerras, omitidas pela “imprensa livre”, ou com contextos manipulados ao cúmulo de se chamar “terrorista” a Palestinianos e “legítima defesa” aos mísseis do invasor Israelita).
      Nós percebemos que a Rússia foi ameaçada, você só “percebe” aquilo que vier na cartilha da Washington e lhe for dado a comer pela CNN… Lembro-me que os meus avós tiveram uma burra na aldeia, mas nem ela enfardava assim tanta palha!

      Quanto ao “nazi-jihadismo”, basta olhar os factos, os relatórios de instituições credíveis e reportagens dos que se atreveram a fazer jornalismo desde 2014 até 2021. E lembrar como a fomentação da radicalização só para desestabilizar certas zonas faz parte do modus operandi da CIA. Já nos deram os Talibã, os Contra, a Al-Qaeda, a seguir o ISIS, e agora os Azov.
      Desonestidade intelectual é a sua, que nega factos, e se limita a repetir a propaganda Ocidental sobre o grupo Wagner. Mesmo que fosse verdade, o cerne da questão é este: a Ucrânia é o ÚNICO país do Mundo onde batalhões nazis estão integrados oficialmente no exército e serviços secretos, e falam abertamente no objetivo da “limpeza” do Donbass primeiro, e do resto do Mundo a seguir.

      E não foi Putin que encomendou um relatório ao instituto Rand para saber em que países colocar gasolina na tentativa de ver a Rússia a arder. Foram os EUA. E lendo o relatório, vemos os passos a serem todos seguidos de acordo com o guião, sanções (pagas pelos Europeus) incluídas!
      E não foi Putin que prometeu que (parafraseando) “as vossas crianças vão ter de se esconder num bunker enquanto as nossas vão à escola”! Foi o golpista pró-UE e pró-NATO/EUA chamado Poroshenko, e estava a ameaçar o povo do Donbass!
      O que Putin prometeu foi diferente: “ou ouvem as preocupações de segurança da Rússia relativamente à ameaça bem real da NATO, e cumprem os acordos de paz de Minsk e deixam de matar e bombardear no Donbass, ou teremos de tomar medidas”.
      Pois cá estão as medidas. Agora é lidar!

      E já agora, lidem também com o fim da ditadura do Dolar e suas sanções, e o fim do NeoColonialismo do SWIFT. As alternativas já estão aí, para salvar 87% da população Mundial das garras criminosas do Ocidente autoproclamado “comunidade internacional” à moda do Guaidó… É isso que vocês são, um bando de ridículos Guaidós, com vontade de calar (nem que seja pela força) todos os “Bolivarianos” (no sentido de independentes em relação ao NeoColonialismo Ocidental) dos 87% do Mundo não-alinhado.
      Agora é ver o triste espetáculo do fim do império (e seus vassalos), e rezar para que o velho chéché não carregue no botão vermelho!

    • Tanta verborreia para dizer que já decidiu quem é o “bom” nesta história e está incomodado com quem se atrever a questionar o seu frágil estado mental. Triste e desnecessário.
      Se o que reteve do artigo foi que BSS é a favor de Putin, está do lado Russo ou sequer a tentar branquear as atrocidades que estão a ser cometidas na Ucrânia, lamento mas parece que algo correu muito mal durante o processo “educativo” que o trouxe até aqui.
      Aliás, no ocidente criou-se tal aversão a qualquer pensamento que divirja da batuta recitada periodicamente na TV, que qualquer pessoa que se atreva a ter uma opinião enraizada na objectividade, como é claramente o caso de BSS, têm que desperdiçar 3 parágrafos a constatar o óbvio: “a guerra é má, os refugiados ucranianos devem ser auxiliados, blá, blá, blá”. Porque de alguma forma nos ultimos dois meses parece que ser objectivo é defender tacitamente crimes de guerra e violação de crianças… haja pachorra para tanto puritano online.
      São estas situações que definem os verdadeiros progressistas da malta que apenas segue à boleia da corrente apenas por que “o outro lado” são um bando de porcos chauvinistas. Ser progressista é, acima de tudo, ser estupidamente crítico e objectivo. E é exactamente o que BSS demonstra. Mas isto dá um trabalhão dos diabos. Implica ler uma data de livros complicados e absorver montes de informação contraditória e muita gente não está disposto a abdicar do ver o Benfica para tal, como parece ser claramente o caso.
      Como tal, ligam a CNN durante o intervalo do jogo, absorvem umas baboseiras entre punhados de amendoim torrado, para passar a 2ª metade do espetáculo a tentar perceber o que ouviram enquanto se mantém atentos ao próximo “fora de jogo”. Claramente não dá e o resultado está à vista: figura de urso, completamente desnecessário.
      Tal e qual como há 20 anos atrás (Iraque 2003), o ocidente está ser bombardeado com propaganda para pintar o outro lado como maléfico, como se o Putin tivesse acordado na manhã de 24 de Fevereiro e tivesse dito “É hoje! Apetece-me matar todos os Ucranianos. Amanhã podem ser Paquistaneses, mas hoje quero mesmo é ver a Ucrânia a arder!”.
      Tal como há 20 anos atrás, quem se atreve a pisar fora da linha é sacrificado (ainda se lembra da oposição da França e a consequente parvoíce das “Freedom Fries” nos EUA? Onde é que anda essa gente hoje? Ahhhh….)
      Putin é calculista e claramente amigo dos oligarcas, i.e., corrupto. Mas a mesma objectividade que me faz percepcionar estas características proíbem ignorar o facto de ele é também ultra-racional. Não há qualquer registo histórico de uma única decisão “emocional” daquele lado. Todas as decisões são jogadas num tabuleiro que, infelizmente, só ele é que consegue ver. A tese de que Putin atacou a Ucrânia para evitar o que aconteceu em 2003 com Sadam faz muito mais sentido, com base em tudo o que aconteceu até aqui, que outra coisa. Não deve faltar muito até lhe venderem que a invasão da Ucrânia se deveu a um cozinheiro ucraniano no Kremlin que serviu a Putin um Strogonoff abaixo da média.
      Daí que esta abordagem pateta e simplista de considerar o homem como “tresloucado” ou simplesmente maléfico, uma versão real do Dr. Evil, como claramente parece ser a sua opinião, não é extremamente ingénua e intelectualmente preguiçosa, como muito perigosa! Se há alguém que precisa de ser tomado muito, muito a sério é Vladimir Putin. Nem que seja porque o tipo tem centenas de ogivas nucleares no seu arsenal. Isto torna-me “Putinista” ou do lado Russo? Claro que não. Apenas revela a minha cautela em torno do barril de pólvora que esta porcaria se está a tornar.

      • Obrigado Carlos Marques e obrigado Henrique Silva. Já agora, obrigado Boaventura Sousa Santos, mesmo que não ande por aqui.

  5. Parabéns ao Carlos Marques que arrasa sem piedade os minions propagandistas, coitados aqui não se safam, mas que continuem a visitar a Estátua pois sempre lêem o que aqui se publica e quem sabe comecem a abrir os olhos, até penso que no íntimo é isso que eles procuram….

  6. Obrigada à Estátua de Sal e ao Carlos Marques por não deixarem sem resposta as mentiras e as meias verdades propaladas pela CS e depois repetidas, sem a mínima reflexão, por alguns comentadores que por aqui vão passando.

  7. Esta análise é brilhante … a esconder quem tem feito anexações de territórios de países vizinhos… Geórgia, Crimeia, e agora Donesk etc a Rússia sempre quis o acesso a mares quentes… só que agora não estamos no tempo dos czares…

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