A Rússia já invadiu?

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 18/02/2022)

Miguel Sousa Tavares

Passo toda a quarta- -feira — dia de envio deste texto e dia marcado por todos os serviços secretos ocidentais e da NATO como o da invasão da Ucrânia pelas forças de Moscovo — à espera de confirmação dessa invasão. Passada a deadline para envio do texto sem notícias da invasão, resta-me arriscar: até hoje, sexta-feira, dia em que o jornal sai para as bancas, aposto que não houve invasão nenhuma.

Tal como o venho escrevendo há semanas e ao contrário das previsões dos ‘especialistas’, e tal como muitos nunca deixaram de esperar e ao contrário do que muitos outros, no íntimo, desejavam. Os ucranianos, primeiro que todos, mas os russos também, devem estar aliviados — pelo menos, por enquanto.

Igualmente os europeus e os cidadãos do mundo em geral que, sem guerra à vista, se livram de uma inevitável crise energética e económica de consequências dramáticas. Mas frustrados estão os vendedores de armas ao Pentágono, à Ucrânia e aos países europeus, os produtores de petróleo e de gás de xisto americano que iria substituir (espera-se…) o fornecimento de gás russo à Europa, e ainda o incendiário secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, e os líderes internacionais a braços com dificuldades internas a que a guerra serviria a preceito para desviar as atenções: Biden, Johnson, o primeiro-ministro polaco.

Domingo, quando a histeria da ‘invasão iminente’ atingiu o seu máximo, quando o espaço aéreo ucraniano começou a ser fechado, de facto, à aviação comercial — por pressão ocidental e não por decisão do Governo ucraniano ou por ameaça russa —, quando os canais habituais de informação da NATO e dos EUA nos bombardeavam com notícias constantes sobre movimentações militares russas em várias fronteiras terrestres e marítimas da Ucrânia, e quando tudo foi feito para lançar o pânico sobre os habitantes da Ucrânia, situei-me na CNN de Atlanta para seguir a par e passo os preparativos da guerra iminente. E que vejo eu como notícia quase única e sufocante? Os preparativos para o Super Bowl. Depois de garantirem a 44 milhões de ucranianos que o Exército russo iria invadi-los possivelmente já no dia seguinte, depois de convocaram os seus aliados da NATO (nós, como sempre, acriticamente incluídos) a enviarem tropas e material de guerra para as fronteiras da Ucrânia, os americanos estavam ocupados e distraídos com o Super Bowl e não queriam saber de mais nada…

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Segunda-feira, Putin fez divulgar um vídeo dele reunido com o ministro dos Negócios Estrangeiros em que Lavrov lhe dizia que deviam continuar os esforços diplomáticos, mas isso, é claro, não fez acalmar os ‘especialistas’ do lado de cá: o dia D foi então adiado para quarta-feira.

Quarta-feira a Rússia invadiria.

Terça-feira ao início do dia, o ministro da Defesa russo anunciou que tinham terminado os exercícios militares na frente sul e se tinha iniciado a retirada das forças envolvidas para os seus aquartelamentos de origem. Porém, logo uma fonte da NATO tratou de recordar que os aquartelamentos de origem não eram assim tão distantes da Ucrânia, como se lhe coubesse agora decidir onde é que a Rússia deveria estacionar as suas tropas em permanência.

Nesse mesma manhã, recebendo o chanceler Scholz, Putin garantia pela enésima vez que não ia invadir a Ucrânia e que não queria uma guerra na Europa, que seria devastadora.

Ao fim do dia, Stoltenberg dava uma entrevista à Sky News onde se esforçou para demonstrar que nada de novo tinha acontecido e por disfarçar a sua decepção porque, de facto, alguma coisa de novo parecia estar a acontecer. E às 21h30 TMG, já madrugada em Moscovo, Biden fez um discurso ‘para o mundo’, onde começou por dizer que a diplomacia não estava esgotada e depois logo passou para um verdadeiro discurso de guerra, em que as ameaças foram tantas e os avisos aos americanos para que estivessem preparados para uma guerra tão fortes, que ele próprio, a certa altura, teve necessidade de dizer “isto não é uma provocação”. Mas era e foi, do princípio ao fim, até na reafirmação de que, em caso de invasão, não haveria Nord Stream 2 (e como iria a NATO bombardear o gasoduto? E em território russo ou alemão?). Porém, entre tantas ameaças, até a de pôr fim, manu militari, se necessário, a um contrato celebrado entre dois Estados soberanos, Biden cometeu um erro de palmatória, quando sustentou que a suposta invasão da Ucrânia por parte de Moscovo não poderia ter como fundamento a existência de mísseis da NATO na Ucrânia (que não é membro da organização). Ou seja: implicitamente, ele reconheceu razão a Putin, quando este sustenta que a entrada da Ucrânia para a NATO, com a consequente possibilidade de instalação de mísseis no seu território, capazes de atingirem território russo em cinco minutos, constituiria uma séria ameaça à segurança da Rússia. E isso é tudo o que está em causa nesta crise.

É tudo o que a Rússia não aceita e tudo o que o Ocidente, os EUA e a NATO não querem compreender e em que não querem ceder. Dizem, hipocritamente, que não podem ceder no princípio da soberania da Ucrânia, do seu direito inalienável de poder integrar as organizações que quiser, e na carta fundadora da NATO de acolher os países que a ela quiserem aderir. Como se a geopolítica e o equilíbrio do terror fossem um jogo de salão em que não entram mísseis nucleares de curto, de médio e de longo alcance, cujas diferenças de tempo desde o disparo até ao alvo podem mudar todo o desfecho de uma guerra. O que diria Washington se o México (ou Cuba, outra vez) decidisse fazer um acordo de defesa com a Rússia, cedendo-lhe bases para instalação de mísseis no seu espaço, capazes de atingirem território americano em cinco minutos? Diria que nada podia fazer porque estava em causa a soberania do México? Mas no seu discurso, Joe Biden voltou a insistir na “liberdade da Ucrânia escolher o seu caminho”, mesmo que seja um caminho que, alterando todo o statu quo actual, possa conduzir à guerra. E, entretanto, segundo o Presidente americano, as tropas russas — os tais 100 mil soldados que cercavam a Ucrânia e que depois passaram a ser 130 mil — agora já eram 150 mil (e na quarta-feira, dia da invasão, passaram a ser 180 mil).

Apesar de todos os esforços de Biden, Johnson e desse incendiário imbecil que é secretário-geral da NATO, aposto que até hoje a Rússia não invadiu a Ucrânia. Espero não me ter enganado. Para grande decepção deles.

Quarta-feira o dia começou com os russos a divulgarem imagens do que afirmaram ser o início da retirada de tropas da Crimeia e o anúncio de que as que estão estacionadas na Bielorrússia começarão a sair no domingo, a data aprazada para o fim dos exercícios. EUA e NATO apressaram-se a dizer que não tinham nenhuma evidência desse facto, e na reunião da NATO em Bruxelas, entusiasmado com o discurso de Biden na véspera, Stoltenberg, ao mesmo tempo que duvidava de qualquer retirada russa, anunciava um reforço maciço das forças da NATO, navais, aéreas e terrestres, nas fronteiras ocidentais da Ucrânia. Infelizmente, ninguém lhe perguntou para quê, visto que a Ucrânia não é (ainda) membro da NATO e a sua defesa não pode ser garantida por esta. A menos que Stoltenberg nos queira fazer acreditar que, depois de engolida a Ucrânia, a Rússia prosseguiria o seu avanço Europa adentro, até reconquistar as fronteiras do antigo Pacto de Varsóvia…

Entretanto, fui lendo, aqui e ali, os nossos ‘especialistas’ no assunto — que são sempre os mesmo dois ou três a quem a imprensa dá palco, formatados em cursilhos nos Estados Unidos e doutrinados nos cocktails do 4 de Julho na embaixada americana.

De tão preguiçosos e desequilibrados, os seus argumentos chegam a ser pungentes. O mais irritante é o da “invasão e anexação da Crimeia ucraniana” em 2014.

Mais uma vez: a Crimeia nunca foi ucraniana, é russa há 250 anos, com a breve excepção do período entre a independência da Ucrânia, em 1991 e 2014. Mesmo quando o ucraniano Nikita Khrushchov, secretário-geral do PCUS, resolveu, numa noite de bebedeira, integrar a Crimeia na Ucrânia, as consequências práticas foram nulas ou puramente administrativas, pois todas — a Crimeia, a Ucrânia e a Rússia — faziam parte da URSS, governada por Moscovo.

Quando a Ucrânia se tornou independente, o normal é que tivesse devolvido a Crimeia (habitada por 65% de russos e 15% de ucranianos) à Rússia, e não que tivesse ficado à espera que a Rússia se conformasse com a perda de um território que é para ela o que o Algarve é para nós.

O segundo argumento, que repetem até à náusea e sem corar, é que tudo isto deriva da insustentável incapacidade de Putin conviver com Estados democráticos às suas portas. Não se trata, como dizem os russos, de uma questão de segurança: de verem crescer uma aliança militar, do Báltico até ao Bósforo, que nasceu para fazer frente a outra que já desapareceu, mas que, apesar disso, não pára de crescer, de se expandir e de aumentar os seus gastos militares, que já são dez vezes os de Moscovo. Não, juram eles, o que incomoda Putin não é esta postura ‘defensiva’ da NATO, não é o cerco militar, que qualquer criança que olhe para um mapa percebe: é o ‘cerco democrático’.

De facto, não é difícil conceder que Putin está longe de ser um democrata e um devoto do Estado de direito — basta pensar em Navalny para o constatar.

Sucede, porém, que nunca a Rússia foi uma democracia em toda a sua história milenar e nunca foi isso que impediu o Ocidente de se entender com ela em momentos como o de Ialta, e vice-versa: estudem a História, senhores especialistas.

Mas, já agora, cabe perguntar: acaso a Polónia, a Hungria, a Turquia — e os próprios Estados Unidos, até há pouco governados por um Trump, tão amigos e coniventes de ditaduras sanguinárias — são modelos democráticos que se recomendem a Putin?

Portanto, hoje sexta-feira, apostei que a Rússia não invadiu a Ucrânia. Espero ter ganho a aposta — não apenas até hoje, mas até um futuro tão longínquo quanto possível. Continuo convencido de que Putin — que indiscutivelmente desencadeou esta crise — o fez em estado de necessidade e por razões que são justas, atendíveis e, pelo menos, dignas de serem consideradas por todos os que não sejam beneficiários da guerra ou incendiários militantes e imbecis, como Stoltenberg.

Quarta-feira à noite, ele falava do “novo normal”, qual seria o da manutenção permanente desta situação de tensão militar na fronteira russo-ucraniana. Leiam bem o seu pensamento maquiavélico: não havendo invasão russa, é isso o que ele mais deseja. Uma situação que justifique a deslocação em permanência de tropas da NATO para a fronteira leste da Europa e uma tensão latente que permita a todo o tempo justificar a importância da NATO, do seu cargo e da sua própria pessoa.

Mesmo que isso implique que a paz na Europa esteja diariamente à mercê de um simples incidente daqueles que, por distração, por devaneio ou por incúria, desencadeiam uma guerra.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia


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18 pensamentos sobre “A Rússia já invadiu?

    • Tire as “vendas” pq se não tira não sairá nunca comoos bois do rego e o seu fim é uma Cegueira Cógita ,atrás da qual se esconde ,pq seu tetra Avo de Santa Conba não via sálva-lo ,pq agora será cadáver ……nem o tonto do Chefe da NATO o incomóda? mas cuíde-se Cógito antes CHEGA a “invasão” e lhe tire o sono …….

  1. O MST sempre foi um observador sério, isento e independente gostei bastante do que li e não é preciso saber muito para saber o que se passa neste mundo dos malucos da guerra, o poderio dos americanos está presente com as suas bases militares em quase todos os países do mundo é um facto que o Império domina, até quando? Nada é eterno nesta vida, cai um império logo aparece outro, para mal dos nossos pecados, Miguel para si o meu abraço revolucionário por não ter receio de falar sem papas boca ou na lingua.

  2. Sim, sim, basta imaginar o mapa europeu com a Bielorússia e a Ucrânia já plenamente na esfera da Rússia e de facto parece mesmo que são os EUA/NATO/Ocidente a ameaçar/invadir.

    Enfim, já não há paciência…

    • Bruce Lee,a sua técnica é de arrasar é de Box…….tire as “vendas ” pq pode cegar com alguma bala perdida ,vinda da Russia e chegue aqui à Peninsula……?

  3. Nem sempre concordo com Miguel Sousa Tavares, mas esta texto traduz inteiramente o que penso sobre esta matéria. Bem argumentando, recorrendo a factos, sem demagogia e sem papas na língua. Deveria ser divulgado amplamente.

  4. É curioso que em 2014 quando a srª. subsecretária de estado Vitória Nuland, planeou, organizou, “financiou”, dirigiu e acompanhou o golpe de estado na Ucrânia nenhum país europeu se pronunciou. Será que tinham receio (medo) que a NATO lhes fizesse o mesmo que o pacto de Varsóvia fazia aos países que sobre a sua pata se revoltavam e não cumpriam com o estipulado ?

  5. Não discuto a opinião de MST sobre o conflito Ucrânia/Rússia.
    No entanto, o seu texto enferma de algumas inverdades históricas:
    1.ª – MST afirma a determinado passo «a Crimeia nunca foi ucraniana é russa há 250 anos, com a breve excepção do período entre a independência da Ucrânia entre 1991 e 2014».
    Tal não corresponde à verdade histórica, a Crimeia nunca foi ucraniana nem russa, mas sim tártara.
    O Canato da Crimeia foi um Estado Tártaro (1441-1783), fundado por Haci I Giray, descendente de Gêngis Kã, tendo posteriormente estado sob domínio do Império Otomano e tornado-se um Estado formalmente independente através dos termos de um tratado assinado entre os russos e os turcos otomanos em 1774, e anexada pelo Império Russo em 1783, passando a chamar-se de Província da Táurida, mas sempre de população maioritariamente tártara.
    Após a 2.ª Guerra Mundial em que a Crimeia foi palco de batalhas sangrentas, e embora a península tenha sido libertada da ocupação nazi pelas forças dos Aliados em 1944, na Conferência dos 3 grandes sobre a partilha do pós-guerra, curiosamente realizada em Ialta (Crimeia), esta caiu no domínio soviético, e transformada no Obslat (província) da Crimeia da RSFS da Rússia. Sob a dominação soviética, iniciou-se em 18 de Maio de 1944 a deportação à força (Sürgün, exílio em língua tártara da Crimeia) de toda a população de tártaros da Crimeia para a Ásia Central, decretada por Estaline, como uma forma de punição colectiva, sob a alegação de que eles haviam colaborado com as tropas de ocupação nazistas e formado as legiões tártaras que combateram os soviéticos. Estima-se que 46% dos deportados tenha morrido durante o trajecto, devido a fome e doenças, sendo que no fim do Verão de 1944, após as populações minoritárias arménias, búlgaras e gregas terem sido igualmente deportadas para a Ásia Central, a limpeza étnica da Crimeia estava completa.
    Embora esta deportação tenha sido declarada ilegal e os tártaros oficialmente “reabilitados”, a verdade é que continuaram proibidos de retornar legalmente para a sua pátria, realidade que não foi alterada pela transferência do Oblast da Crimeia da RSFS da Rússia para a Republica Socialista Soviética da Ucrânia decretada por Khrushchev, descrita como uma “medida simbólica” que visava comemorar o 300.º aniversário da integração da Ucrânia no Império Russo (mas que no dizer de MST se deveu a uma “noite de bebedeira” de Khrushchev!!!).
    2.ª – Perpassa por todo o texto do MST a ideia de que a Ucrânia sempre fez parte da Rússia, apenas se tornando num Estado-nação independente em 1991, na sequência do desmembramento da URSS, o que contraria qualquer verdade histórica.
    Pelo contrário, pode mesmo dizer-se que a Ucrânia precede e está na origem da Rússia. Efectivamente, desde a Idade Média, a Ucrânia era o lar dos eslavos do leste, conhecido como o todo o poderoso “Rus de Kiev”, tendo após a sua fragmentação no século XIII, a Ucrânia sido invadida, governada e dividida por uma variedade de povos, na sequência da qual surgiu o Grão-Ducado de Moscou também conhecido como Principado de Moscou ou Moscóvia, que foi a entidade política antecessora do Império Russo e sucessora do Rus de Kiev ou Rússia de Kiev. Ou seja, é Kiev que precede Moscovo, e não o contrário.
    Mas o ideal nacional ucraniano (fundamentado na cultura e língua ucranianas, língua que o regime czarista na sua dura política de “russificação”, proibiu nas publicações e em público) sobreviveu a todos os domínios (Impérios Austro-Húngaro, Império Russo e até à integração como República Socialista Soviética Ucraniana na URSS quando esta foi criada em 1922).
    Prova da identidade nacional ucraniana foi de que a despeito da integração na URSS, a Ucrânia se tornou membro das Nações Unidas.
    Finalmente, o colapso da União Soviética em 1991, permitiu que a Ucrânia proclamasse a sua independência e se afirmasse plenamente como o Estado da nação ucraniana.

    • … ‘a península tenha sido libertada da ocupação nazi pelas forças dos Aliados’. Falso, a península foi libertada pelo exército vermelho, com um custo enorme em vidas humanas, tal como a sua defesa épica em 1941/1942 também o fora. Os aliados, i.e., britânicos e norte americanos, não derramaram uma única gota de sangue por essa defesa ou por essa libertação. Agora, se está a incluir a Rússia nos aliados, então é lícito reconhecer que a Rússia, entre outras coisas, participou da libertação de Paris ou de Roma, apesar de, ‘curiosamente’, estas regiõe não terem caído no ‘domínio soviético’….

      • Já Paul Valery (1871-1945), filósofo, escritor e poeta francês da escola simbolista afirmou que “a História justifica tudo quando se quer. Ela não ensina rigorosamente nada, pois contém tudo e dá exemplos de tudo”.
        Não sou historiador, mas por curiosidade e por mais história que estude sobre a 2.ª Guerra Mundial, não consigo encontrar nenhum estudo ou documentação que diga, como afirma, que a península da Crimeia foi libertada pelo exército vermelho.
        Tudo o que li e estudei foi que durante a 2.ª Guerra Mundial, a Crimeia foi palco de diversas batalhas sangrentas, em que as tropas do Eixo, sob o comando da Alemanha nazista sofreram graves perdas no Verão de 1941, à medida que tentavam avançar pelas águas estreitas do istmo de Perekop que liga a Crimeia ao continente. Depois de conseguirem romper o bloqueio, as tropas do Eixo ocuparam a maior parte da Crimeia, com exceção da cidade de Sebastopol, que resistiu de Outubro de 1941 até Julho de 1942, quando os alemães finalmente capturaram a cidade. A partir de Setembro de 1942, a península passou a ser administrada com o nome de Generalbezirk Krim (“Distrito-Geral da Crimeia”) und Teilbezirk (“Subdistrito Taurien”, nome derivado da Tartária). Apesar das táticas duras dos nazistas e seus aliados, as montanhas da Crimeia continuaram a ser um bastião livre utilizado pela resistência nativa (tártara) até que a península foi libertada pelas forças dos Aliados em 1944, e não pelo exército vermelho. Trata-se de um facto histórico e não de uma interpretação histórica.
        Que depois da Conferência de Ialta, na partilha entre os Aliados e a Rússia, a Crimeia tenha permanecido na órbita soviética, é compreensível porque desde Outubro de 1921 a Crimeia, designada então por RSSAC (República Socialista Soviética Autónoma da Crimeia, mas mantendo-se de maioria tártara) se tinha tornado parte da União Soviética. Concluindo, a libertação de muitos territórios europeus pelas forças dos Aliados ou pelo exército vermelho, pouco tem a ver com a repartição das zonas de influência desses mesmos territórios entre o Oeste e o Leste, decorrente das Conferências de Ialta e Potsdam.
        Quanto à imputação que me faz de “inclusão da Rússia entre os Aliados”, lamento responder-lhe que apenas a sua superior inteligência poderá admitir que eu, enquanto simples estudioso da História, pudesse incorrer numa tal confusão e erro histórico.
        Mas enfim, talvez a afirmação de Valery se me aplique apenas a mim, e o Lúcio Ferro seja o único e absoluto detentor da verdade histórica.

  6. E a NATO é um Supra Estado Nacional Europeu ,que pode pode “anexar” a UCRANIA e instalar-se nas Fronteiras de Milhares de Kms àsportas da RUSSIA? às ordens do “Cow Boy Stoltenberg……defendendo o actual Estado “Democrático “Ucraniano…….?temo pelos Povos da Região que sofrem ,mas não incomoda os Beiicistas que fazem do sofrimento dos Povos o seu negócio…….

  7. O grave não é ter uma opinião profundamente errada.
    Grave e patético é a arrogância do tom, a sobranceria de quem acha que sabe mas, afinal, foi profundamente ingénuo e baralhou tudo, num raciocínio em que ataca quem, afinal, tinha razão.
    Lamentável Miguel Sousa Tavares…

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