Não vás à Ucrânia, Zé

(José Gabriel, 25/01/2022)

O governo ucraniano declarou que vai perseguir e desmantelar todos os grupos políticos – e seus membros – ou outros que considere pró-russos. Não sei como se determina que um fulano é pró-russo. Deve ser como os nazis determinavam pela medição de traços fisionómicos quem era judeu, que a Inquisição decidia quem era herege, quem os fascistas portugueses definiam quem era comunista, quem os puritanos identificavam como bruxa.

É que não se trata de ver das práticas e opções políticas dos cidadãos no caso de não serem do agrado do poder, o que já seria muito mau. Trata-se de perseguir implacavelmente quem o poder decide, de um modo totalmente arbitrário, quem entende não lhe agradar. Assim, arranjaram um carimbo: pró-russo.

Lembra-se a gente da minha idade, certamente, que os manuais do salazarismo explicavam que Portugal era uma democracia orgânica e corporativa. Então como se podia prender todo e qualquer democrata, fosse qual fosse a sua concepção de democracia? Dizia-se que era comunista. Como se decidia na Alemanha nazi se que alguém era judeu? Pelo feitio do nariz e pela medição de outros traços fisionómicos. Em ambos os casos e todos os semelhantes a verdadeira razão era…porque sim. Porque o poder assim entendia. O que se passa na Ucrânia é semelhante. És da oposição? Não concordas com o governo? Queres formar um partido? És pró-russo. Vais preso.

Que desde o derrube do único presidente democraticamente eleito, operação levada a cabo a partir de manifestações apoiadas pela NATO e seus capangas, a Ucrânia é uma autocracia corrupta, todos sabem. E também sabemos que o tal presidente derrubado não era flor que se cheirasse, mas foi eleito em eleições creditadas pela comunidade internacional. Aguentassem, que a gente também aguentou dois mandatos do Cavaco.

Depois desses eventos, o governo provisório incluiu nazis assumidos, o Leste da Ucrânia – que odeia, saudavelmente e por boas razões, nazis – levantou-se em armas. A Crimeia fez um referendo e pirou-se rapidamente – a versão de cá é que foi anexada pela Rússia.

E chegamos a isto. Um governo ucraniano cheio de tiques fascistas, corrupto, pago como uma prostituta por dinheiros europeus e norte-americanos e empenhado em fazer uma “limpeza” étnica, ideológica e política no seu povo. É para este lixo de governo que vão mais estes milhões que a União Europeia acaba de aprovar, é com esta gentalha que a NATO alimenta este terrorismo informativo de uma guerra ficcional que, como as guerras reais, dá chorudos lucros – e tem menos custos.

O nosso ministro dos negócios estrangeiros insiste em que os portugueses não devem viajar para a Ucrânia. Desta vez concordo com ele, mas por muito diferentes razões: é que, ó compatriotas, podeis ser confundidos com pró-russos e engaiolados – pelo menos.


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3 pensamentos sobre “Não vás à Ucrânia, Zé

  1. Já agora podias acrescentar à lista a maneira como os soviéticos selecionavam os inimigos daquela tenebrosa e iniqua ditadura que prendeu e matou mais de 25 milhões de seres humanos dos quais 10 milhões de ucranianos.
    Devia ser pelo cheiro.
    Claro que a Crimeia se pirou para o paraiso de Putin onde reina a mais pura e cristalina das democracias, onde o autoritarismo não tem assento e a corrupção é uma miragem.
    O sectarismo e imbecilidade não pagam imposto mas deviam.

  2. A Ucrânia é a ex república sovietica que mais interessa porque tem saída para mar de aguas quentes. A União Europeia se expandiu por meio de ex países satélites da Rússia.
    Há muitas questões geopoliticas , culturais e históricas sequer tocadas no artigo.

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