(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 04/02/2020)

No inverno de há dois anos, uma epidemia de gripe particularmente violenta afetou 45 milhões de pessoas nos Estados Unidos, provocou 810 mil hospitalizações e deixou 61 mil mortos no país. O novo vírus detetado em Wuhan, na província chinesa de Hubei, pode ser mais contaminante e portanto mais grave, dado que se supõe que 20% dos casos sejam infeções severas e 2% possam ser mortais. Essas percentagens poderão ser menores, caso haja uma subestimação da população afetada, o que se poderá verificar dentro de semanas. Mas tudo indica que se trate de uma pandemia. A maior operação de quarentena da história da humanidade, fechando uma região com 40 milhões de habitantes, poderá por isso ter sido tardia ou insuficiente para evitar algum contágio noutras regiões e países. Há portanto um grave problema novo de saúde pública (há outros mais antigos, como a malária, 219 milhões de casos em 2017, com 435 mil mortos, e a tuberculose, com mais sete milhões de casos diagnosticados em 2018). Mesmo que uma vacina seja possível dentro de poucos meses, os efeitos serão duros e até podem vir a ser duradouros.
Algumas agências fazem cenários de choques do coronavírus que vão de uns perigosos 1,5% a uns alucinantes 6%, o que seria uma grave recessão mundial. (…) Estamos num tempo em que toda a gente teme que alguém acenda um fósforo ao lado do barril de pólvora
Um dos impactos económicos imediatos foi nas Bolsas. Em Xangai, a queda foi de cerca de 8%, a maior desde o susto de 2015. Foi menor noutros mercados mundiais, mas o perigo mantém-se. Não há razão para menos. Os preços de alguns produtos importados pela China estão a cair, antecipando uma menor procura. Várias empresas que estão instaladas na China fecharam provisoriamente as fábricas ou serviços locais (Apple, General Motors, Ikea, Starbucks, Tesla) e as suas ações desvalorizaram-se na Bolsa norte-americana. As suas vendas e os seus lucros vão ser atingidos, resta saber quanto e por quanto tempo. Além desse efeito, para os Estados Unidos o banco Goldman Sachs antecipa uma redução do crescimento em 0,4% neste trimestre pela diminuição das exportações e do turismo. O crescimento do PIB chinês, que terá descido de 6% para 5% no ano que findou (o que reduziu a evolução do PIB mundial de 3,6% em 2018 para 3% em 2019), poderá baixar para 2% neste primeiro trimestre.
Já tinha havido impactos grandes quando de outra epidemia, a do vírus SARS, em 2003. O efeito no PIB mundial terá então sido de 0,2%. Mas a economia chinesa é hoje seis vezes maior, pelo que algumas agências fazem cenários de choques que vão de uns perigosos 1,5% a uns alucinantes 6%, o que seria uma grave recessão mundial. Os números podem ser exagerados, todas estas projeções são feitas com hipóteses muito rudimentares, mas antecipam pelo menos o medo das agências internacionais. Estamos num tempo em que toda a gente teme que alguém acenda um fósforo ao lado do barril de pólvora.
A agravar tudo, temos Donald Trump na Casa Branca. O acordo que foi assinado a 15 de janeiro adiava algumas tarifas punitivas contra as exportações chinesas e comprometia esse país a compras suplementares de 200 mil milhões em produtos e serviços dos EUA. Não parece haver dúvida de que o acordo seja cumprido mesmo em condições de redução da dinâmica da economia chinesa, ou até de recessão. O governo chinês tem recursos e reservas para apoiar as suas empresas em importações dessa grandeza. O que está por saber é se Trump aproveitará este contexto para tentar explorar a insatisfação da população chinesa, de Hong Kong a Wuhan, tentando vulnerabilizar o governo de Xi Jinping e lançando novas iniciativas de guerrilha económica. Disso ainda pouco se sabe, mas o governo chinês tem dado sinais evidentes e até ansiosos, demonstrando temer essa nova viragem nas relações sempre conflituosas entre os dois países. Há quem se lembre da história do escorpião, que dificilmente esquece a sua natureza, como a rã descobriu tarde demais.
A nível nacional o que mais temo é que os efeitos económicos da epidemia sejam o “diabo” tão desejado pela direita.
Uma crise económica que anulasse os resultados financeiros e a moderada compensação que o PS está a fazer á população pelo que perdeu nos anos da outra crise seria um bilhete de ida para o governo de uma coligação das direitas, quiçá com o Passos á frente.
A propaganda da direita é sempre a mesma, que o PS é responsável por todas as crises, mesmo mundiais.
E o povo, ora romanticamente enaltecido ora insultado de nazi por uma esquerda bipolar… Bem, falando francamente o povo é bronco como um calhau, é mais futebol ⚽ e isso. E PAPA tudo, por mais estúpido que seja, que a direita lhe impinja em caso de crise estanto o PS no poder.
O querido líder Costa é que anda a justificar a continuação da austeridade permanente com estarmos preparados para a crise. Quando o inevitável lhe cair na cabeça, não temos pena.
Estou-me nas tintas para o Costa.
O meu medo 😱 é o Passos voltar para lá.
Ainda me lembro da “geringonça” que a esquerda fez com a direita para derrubar o PS e o que todos pagámos pela brincadeira.
Graças a outro que estava a preparar o futuro no pelotão da frente com políticas “responsáveis” de “flexibilizar” os vários mercados.
O PS não aprende que não há meio-neoliberalismo, e a culpa é dos outros, claro.
O PS não é meio neoliberal, é neoliberal mesmo.
Mas mesmo assim existe uma grande diferença entre o partido que criou o SNS e os que votaram contra – como se pode ver com este governo em comparação com o do Passos.
E se levámos com o Passos foi graças à esquerda.
Essa teoria só tem um problema, a maior parte da terceira via na eurolândia levou uma coça e não voltou a ser alternativa, e já nem as vacas voadores convencem maiorias. Nem ficaram grandes saudades do prisioneiro 44 nem a parte dos maiores seguidores.
E isso tem a ver com?
Até parece que a esquerda alguma vez teve melhor resultado que a terceira via fosse onde fosse.
Estamos a falar que antes estes que o Passos e você fala como se houvesse alternativa.
Deve ser o bloco que vai ganhar as eleições…
E você acha que há alternativa a Costa ser visto como um perigoso despesista que levou o país ao descalabro se ele sorrir só mais um bocadinho.
> Até parece que a esquerda alguma vez teve melhor resultado que a terceira via fosse onde fosse.
Dito depois do Sinn Fein ganhar as eleições, é obra.
O Sinn Fein é católico e nacionalista, não é exatamente de esquerda.
Mas mesmo magnanimamente contando como esquerda, isso faz com que em cerca de duzentos países que existem no mundo, em meia dúzia a esquerda ganha eleições, de tempos a tempos.
Por exemplo, na Irlanda até agora essa suposta esquerda nunca tinha ganho eleições em 90 anos.
Performance impressionante…