Giovani: há silêncios esclarecedores

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 14/01/2020)

Daniel Oliveira

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Não costumo escrever sobre crimes. Porque alimentar o medo num dos países mais seguros do mundo me parece absurdo. Porque faço comentário político, e só faz sentido comentar um crime quando ele tem consequências ou motivações políticas. Se fosse claro que a morte de Giovani, estudante cabo-verdiano da Universidade de Bragança, tinha resultado de um crime de ódio racial teria escrito sobre ela. Não sendo claro, decidi nada escrever ao longo destes dias. Não porque não ache o crime bárbaro, mas porque não encontro nada de político que me permita fazer um comentário. E se critico aqueles que acham que um crime só é notícia quando o agressor é cigano ou imigrante e que só acham que a etnia é relevante quando o crime é cometido por não brancos, não faço o oposto.

Na verdade, este crime até poderia ter consequências políticas e poderia merecer comentários de responsáveis públicos. Um terço dos estudantes do Politécnico de Bragança são estrangeiros, de 70 nacionalidades diferentes. Este crime teve grande impacto na cidade, onde a instituição de ensino superior ganhou uma enorme centralidade. Cria uma sensação de insegurança que pode ter efeitos na imagem e na economia de Bragança.

Por outro lado, há as queixas de laxismo da polícia, feitas pela família de Giovani. O pai do jovem diz que a PSP negou a três dos seus amigos a possibilidade de apresentarem queixa quando estes se dirigiram, no dia seguinte à agressão, à esquadra: “Quando eles foram apresentar queixa à esquadra da PSP negaram-lhes que apresentassem queixa. Disseram-lhes que tinha de ser o próprio a apresentar queixa e que Giovani tinha seis meses para o fazer. Ver aqui . Esperam-se mais esclarecimentos sobre esta atitude, num caso que teve um seguimento – mas também uma origem – muito diferente da que existiu no caso do Campo Grande, em Lisboa. Só o empenhamento policial pode dar garantias a todos que não há tratamento diferenciado.

O que repugna na morte violenta de Giovani não é a nacionalidade ou etnia da vítima. O que repugna é que a sua etnia tenha decretado o silêncio ou discrição de quem costuma fazer da insegurança o centro do seu discurso político

A minha crónica acabaria por aqui – e por isso nem a escreveria – se a nossa situação política não tivesse mudado nos últimos meses. Não me entrego a perigosas acusações de crimes de ódio quando não sei se isso é verdade. Nem sequer sabemos a etnia dos agressores, apenas da vítima. Não me arrisco a definir a natureza de um crime pela cor de pele da vítima, assim como, ao contrário de André Ventura, não o faço pela cor do criminoso (só achou relevante a agressão a um médico quando teve a certeza que a agressora era cigana). Mas perante esta nova personagem e os que a imitam é difícil ficar por aqui.

Façamos, de boa-fé, este exercício: imaginem a notícia de que, na pacata cidade de Bragança, 15 cabo-verdianos, munidos com cintos, ferros e paus, tinham provocado a morte de um estudante. Imaginem, sem se perderem em minudências a que nunca se dá relevância nestes momentos, o debate que se instalaria. Acreditam que André Ventura e seus novos companheiros de caminhada passariam duas semanas sem abrir a boca sobre este assassinato, só se referindo a ele para sublinhar a incoerência dos outros?

O homem que fala de insegurança a todas as horas só se referiu a este caso, que provocou compreensível alarme social, duas vezes, que eu tivesse conseguido identificar. Uma para sublinhar a incoerência da esquerda e outra para partilhar o boato não confirmado de um site de extrema-direita (o mesmo que enviou um provocador para se fazer passar por “repórter” na manifestação de pesar pela morte de Giovani), que atribuía o assassinato do cabo-verdiano a ciganos. “Ui, agora é que a Joacine e o Bloco de Esquerda vão ter de arranjar um buraco bem fundo para se esconderem”, escrevia no seu Facebook, com uma satisfação pouco recomendável para o tema, o deputado. Para ele, o valor das vidas e dos crimes resume-se a este triste campeonato. Em nenhum momento decidiu dedicar uma palavra àquele que deverá ser um dos crimes mais graves a que Bragança assistiu nos últimos anos. Desta vez, esqueceu-se da “insegurança crónica” que se vive em Portugal.

O que repugna no assassinato de Giovani não é a nacionalidade ou etnia de agressores e vítima. O que repugna é que, mesmo tratando-se um crime que tem um forte impacto na vida de uma cidade, a etnia da vítima tenha decretado o silêncio ou discrição de quem costuma fazer da insegurança o centro do seu discurso político. E a certeza de que se fosse ao contrário não seriam tão discretos.



27 pensamentos sobre “Giovani: há silêncios esclarecedores

  1. Este Ventura de esquerda anda mesmo a gozar com as pessoas.

    Negros assassinaram um branco uns dias antes e este racista não diz nada.

    Uns dias depois assassinaram um negro, e se calhar até foram outros negros ou ciganos e há manifestações com milhares de pessoas aos berros comunicados de dirigentes de esquerda e do SOS racismo.

    E este senhor diz que não diz nada, porque sabe perfeitamente que não só se desconhece a motivação do crime como há indícios de uq pode ter sido cometido por pessoas de cor.

    Diz que não diz nada mas aproveita para dizer achando que se fala pouco do homicídio, o homicídio do preto, claro, que do branco está-se nas tintas. Quer o quê? Ainda mais mafestações de massas e quiçá luto nacional? Só para pretos?

    A esquerda está a revelar-se abertamente racista contra os brancos.

    Isto é um caldo de cultura para os venturas de direita. Os venturas de esquerda como este racista nojento já cá estão há muito tempo.

    • Obrigado, Pedro, estava a ver que ninguém nos defendia, os pobres e oprimidos deste mundo, quase a desaparecer face ao enorme poder da opus negrum.

      • Vai mijar na campa do branco que negros assassinaram á facada uns dias antes do assassinato do negro.

        É só o que te falta para ganhares o prémio Carl Marx do racista do ano.

        E estás seriamente habilitado ao Estaline de ouro da burrice pela ironia com que falas do desaparecimento de uma certa raça.

        É que és tão burro que nem sabes que só uma raça está em risco efectivo de desaparecer enquanto todas as outras estão em plena explosão demográfica.

        Tenta lá descobrir qual é a única raça que está em completo descalabro demogràfico e jà não consegue substituir as gerações.

        Vá lá. Você consegue. Vem nos jornais todos os dias… Isso de só ler o esquerda.net e a bola…

        Bem, não vou esperar que descubra sozinho que nunca mais saía daqui. É a raça branca mesmo.

        – Quanto a violência racista é também a raça branca a maior vítima.

        Basta ver apenas alguns acontecimentos entre muitos outros da última parte do ano e princípios deste.

        Uma equipa de uma ambulância espancada num bairro de ciganos.

        Um quartel de bombeiros alvo de um raid de dezenas de ciganos que espancaram todos os bombeiros de serviço.

        E claro, o jovem branco assassinado com que você está a gozar.

        Se um gang racista de outra etnia o esfaquear pelas costas quero ver se continua com o mesmo riso alarve. Nas costas dos outros uma facada tem sempre mais graça…

        Tudo isto ultrapassa de longe vinte anos de actividade do skinheads racistas brancos.

        A questão é que não deve haver mais de uma centena de skins no pais todo, enquanto que gangs racistas de outras etnias há milhares.

        – E não, a culpa não é dos negros em si mesmos.

        A maior parte são pessoas honestas e trabalhadoras que merecem todo o nosso respeito.

        A culpa é dos racistas brancos e negros que o incitam gangs racistas contra a população maioritariamente branca.

        E se eu não gosto de racismo contra os negros também não gosto de racismo contra brancos.

        Racistas. Todos vocês, de esquerda e de direita, deviam estar na prisão.

        Além disso eu não quero levar com o Ventura.

        E vocês estão a fazer-lhe a papinha toda e a dar-lha na boca.

        Nada melhor do que gozar com a morte de um branco morto por negros enquanto se fazem manifestações de massas contra o suposto racismo da população branca pela morte de um negro da qual não se sabe ainda a motivação e que pode ter sido causada por negros ou ciganos.

        Se o racismo fosse música 🎧 você era uma sinfonia.

        • Pedro, 21st Century is calling?

          O que é isso de “raças humanas”?

          A evidência científica deitou esse conceito por terra, visto que na espécie/subespécie humana a variabilidade genética é baixíssima entre indivíduos e as diferenças fenotípicas mais evidentes baseiam-se em características que uns e outros têm em maior ou menor grau.
          Certas classificações só mantêm por questões de mera simplificação estatística, porque aquilo a que se chama caucasiano, negro, asiático, etc, é por demais díspar sob o ponto de vista biopsicossociocultural.

          O Pedro é muito crítico de teorias sobre racismo sistémico, mas atira com uma ideia disparatada de igual ou maior calibre que é o raciscmo contra “brancos”, que existe também, mas que é algo que não tem comparação com o poder do racismo contra “não-brancos”. A incongruência de tal ideia atinge o zénite quando o Pedro confunde crimes de natureza vária cometidos por “não-brancos” com atos racistas, no fundo a sua linha de pensamento está ao nível de certa demagogia disfarçada de combate ao racismo que o Pedro tanto critica.

          Bem pode amaldiçoar o nome do André Ventura que não vejo grandes diferenças no discurso.

          • – A diferença entre um Bull Terrier e um Yorshie Terrier também é mínima e no entanto são raças diferentes.

            Essa sua ciência á Lysenko é uma treta e até perigosa.

            Por exemplo diferentes raças são mais atreitas a doenças diferentes e a vossa ideologia revisionista ainda vai causar mortos por exemplo, ao evitar que mais atenção seja dada em casos de rastreio especifico.

            – Acho interessante vocês classificarem qualquer acto contra um negro como racismo mas acharem impossível que o oposto possa acontecer.

            Mais racista que vocês só o NSDAP.

            – O racismo contra brancos é claro na sociedade actual e nas suas próprias afirmações.
            Ignorar completamente o assassinato de um branco mas urrar que nenhuma atenção é suficiente para tratar um assassinato igual contra um preto, que já enche jornais e as ruas com manifestações e tudo é racismo puro e duro.

            Vocês estão empenhados em fazer crer que existe uma raça má, a branca, a única capaz de racismo, e que todas a outras são boazinhas e incapazes do mesmo chama-se INCITAMENTO AO ÓDIO RACISTA.

        • Pedro, em primeiro lugar essa coisa das “raças humanas” já foi refutada pela evidência científica, principalmente quando se conclui que a variabilidade genética dentro da espécie é muito baixa e classificações baseadas em algumas características fisionómicas são de pouco valor, atendendo a que nós partilhamos a maior parte das características que se manifestam em maior ou menor grau.

          É muito crítico de teorias sobre “racismo sistémico”, mas defende um disparate ainda maior que é o racismo contra “brancos”, que embora exista, não tem qualquer poder comparativo ao racismo contra “não-brancos”. O zénite do seu raciocínio atinge-se quando confunde criminalidade vária praticada por “não-brancos” com atos racistas, não vejo qual a diferença entre as teorias de certa demagogia disfraçada de combate ao racismo com aquilo que afirma.

          Que eu saiba não existe qualquer agrupamento étnico com maior propensão para o crime em geral, tais tendências manifestam-se por questões ambientais, educacionais e muito fundamentalmente do desenvolvimento da personalidade – tudo questões amplamente multifatoriais.

          Não lhe vale muito a pena amaldiçoar o André Ventura, porque na essência do discurso a conversa é a mesma.

          • As tais condições condições culturais, educacionais, ambientais etc podem tornar grupos étnicos mais propensos á criminalidade e a tipos específicos de criminalidade.

            Assim, por exemplo, na sociedade actual a maioria dos criminosos da alta finança são brancos, porque são brancos que ocupam esses cargos.

            Por outro lado as comunidades de negros e ciganos são propensos a crimes violentos de rua – razão porque a prisões estão cheias deles.

            Isto não é uma questão racial mas é devido ás tais condições culturais e ambientais a que determinadas comunidades estão sujeitas e deve ser combatido por essas condições.

            Claro que tudo se torna mais difícil quando o vosso racismo antibranco impede que se possam sequer abordar as questões de criminalidade especificas das várias comunidades não brancas.

            Claro que no que toca á comunidade branca o vosso racismo provoca o contrário, aí vocês já alimentam descaradamente o estereótipo da raça má, racista por natureza, incitando ao ódio contra os brancos.

        • Não estava a fazer pouco de quem morreu, só da ideia de que a morte de brancos por negros não enche jornais. Mas também nesse campeonato continuamos a ganhar todos os dias, não é preciso racismo nem nada.
          Vá lá procriar a ver se não nos extinguimos.

          • A dissolução dos neurónios causado pelo seu avançado estado de racismo contra os brancos está-lhe a afectar os sentidos da visão e da audição.

            Há semanas que o caso do assassinato do guineense está em todos os jornais e abafou completamente o do jovem branco assassinado por guineenses dias atrás.

            Nem vi proclamações políticas inflamadas nem manifestações de solidariedade com a família do branco como já vi dezenas para o preto.

            E você ainda acha que se fala pouco…do preto.

            Ou seja para si o branco não vale nada.

            Vocês são tão racistas como os skinheads.

          • Eu não vou procriar porque me estou nas tintas para a raça branca.

            Apenas não gosto de aldrabices e de aldrabões.

            Essa ideia de que todas as outras raças estão em perigo por causa da única raça má, a raça branca é bullshit racista do pior.

            A única raça que está em risco real de desaparecimento e por acaso também a que mais sofre ataques racistas neste momento é a raça branca.

            O que vocês estão a fazer é incitamento racista ao ódio contra uma raça, neste caso a branca.

            Entre o KKK e vocês a única diferença é a raça alvo.

          • Fenómenos como o Ventura só são possíveis devido ao vosso racismo antibranco que revolta as pessoas e as leva a admitir o extremo oposto com mais simpatia.

            Igonararem completamente qualquer crime contra um branco e encheram as rua sem histeria com qualquer crime contra um negro é racismo.

            E por mais que você o queira esconder começa a dar nas vistas.

            Houve uma série de crimes contra brancos de gangs étnicos não brancos no espaço de meses e vocês ignoraram completamente o assunto.

            De repente há um crime idêntico contra um negro e vão todos para a rua urrar em protesto.

            Só falta as camisas castanhas para serem iguais aos nazis.

            • Percebe-se que treslê o termo “evidência científica”, do mesmo modo que pouco ou nade percebe de Genética – mas ninguém lhe exige que perceba, apenas que tenha o bom senso de não dizer asneiras e de comparar o incomparável, nomeadamente as tais “raças” de cães, que resultam a maior parte delas da seleção artificial de características fenotípicas para determinadas funções, não é por acaso que os anglo-saxónicos utilizam o termo “domestic breed” em vez de “race”.

              Depois, querendo dar uma no cravo e outra na ferradura, pega nos fatores centrais ao comportamento das pessoas e mete-lhes “a martelo” as etnias e a necessidade de estudar as especificidades das comunidades não-brancas quanto ao crime. Por acaso está na posse de estudos de dados estatísticos que indiquem que determinadas tipologias criminais estão significativamente correlacionadas com determinadas etnias e, mais, que crimes de natureza vária têm também uma motivação racista anti-branca? Pergunta retórica, claro, porque não os tem ou se os tiver são daqueles que lhe agradem o palato, só que a ciência não anda aqui para agradar opiniões e preconceitos.

              Essa converseta da raça má e da raça boa, para mim, não existe, existem sim comportamentos e atitudes individuais aos quais as sociedades tendem a fazer vista grossa porque afetam apenas as minorias.

              Falando agora dos casos criminais em apreço, o caso do Campo Grande foi amplamente esmiuçado nos media desde a hora “zero” e imediatamente investigado, ao contrário do caso de Bragança cujos erros investigacionais estão apontados pela PJ, portanto vir dizer que alguém está a subvalorizar o primeiro e, pior, que até se regozija é próprio de alguém no mínimo mal intencionado.

              Esteja descansado que ninguém vai votar no André Ventura por causa de certos narcísicos demagogos armados em defensores de boas causas (sim, eu sei, que também há demagogia e manipulação nestas matérias), votam nele porque se identificam com o que ele diz.

      • Sinto-me tão culpado, mas mesmo tão culpado, que vou suicidar-me já de seguida só para expiar os meus pecados de homem branco. Au revoir.

  2. Leio diáriamente ,os artigos da Estátua de Sal, porque são sérios ,bem escritos e ficamos esclarecidos relativamente ao que se passa no mundo em que vivemos . Não percebo porque razão, são permitidos estes vómitos de gente
    insana que insultam tudo e todos,sem o menor respeito. Por acaso,isto não não pode parar?

  3. Faço minhas as palavras de Vera Dantas. E acrescentaria só o seguinte: a estátua de sal tem na minha opinião a obrigação de não servir de plataforma (sem dúvida involuntária) de discurso de ódio e insultuoso, que a liberdade de expressão não contempla. Sugiro à estátua que faça uma triagem dos comentários.

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