Depressões Elsa, Fabien e Centeno

(Vítor Matos, in Expresso Diário, 23/12/2019)

Bom dia!

Quando há uma catástrofe natural, raramente estamos preparados. Há 18 anos, quando houve cheias gravíssimas na região de Coimbra, o então primeiro-ministro António Guterres dizia que eram precisas medidas excecionais. Ontem à noite, enquanto a localidade de Casal Novo do Rio estava a ser evacuada, soubemos que um dique no Mondego em risco de colapsar estava a ser reforçado para não se repetir o que aconteceu em 2001: a água a invadir com mais violência a vila de Montemor-o-Velho e a povoação da Ereira. Entretanto, pelas 22h30, soube-se que o dique tinha mesmo colapsado. Inundou milhares de hectares. Não há como a natureza para pôr em evidência as nossas fragilidades. O sistema não estava atualizado, explica esta peça da SIC.

Três dias depois, estamos aqui. Foi uma tempestade a seguir a outra, a depressão Fabien a seguir à depressão Elsa, chuva e vento, 11.500 ocorrências registadas pela Proteção Civil, dois mortos em Portugal e sete em Espanha, e 144 desalojados (no domingo ainda havia 354 pessoas desalojadas), linhas de comboios cortadas e problemas no abastecimento de eletricidade. Calor, seca e fogos no verão, furacões e intempéries no inverno.

A Proteção Civil, que tem trabalhado estes dias para evitar os piores cenários, não envia os SMS de alerta que inventou depois dos fogos. O Jornal de Notícias titula em manchete que “a Proteção Civil depende da vontade dos funcionários no envio de SMS” e do seu voluntarismo, por falta de pessoal. O sistema custou 900 mil euros.

Que se saiba, Mário ainda não é nome de tempestade, mas Centeno ameaça tornar-se numa depressão para o interior do Governo tal é a falta de vontade demonstrada em continuar a chefiar as Finanças portuguesas.

Nem as portuguesas nem as europeias: na entrevista que deu ao Expresso este sábado – ao David Dinis, ao João Silvestre e à Elisabete Miranda -, um ministro aparentemente desgastado pelas funções evita responder sobre a continuação no Executivo. Diz que não pensou em continuar Eurogrupo, e também que não vê incompatibilidades em passar da Praça do Comércio para o Banco de Portugal. Tudo aponta para uma saída. Para já, deixa um dique nas contas que se chama Orçamento do Estado para 2020, com um superávite previsto de 0,2%, uma cheia de impostos, mas quem lhe aprova as contas?

A Ângela Silva já tinha noticiado no Expresso, este sábado, que Marcelo Rebelo de Sousa acha Centeno “vital” para António Costa, e que o orçamento deve ser viabilizado à esquerda. A informação foi reforçada ontem, de viva voz, durante uma visita às tropas portuguesas no Afeganistão, quando o Presidente disse ontem à Lusa que “começar uma legislatura com uma hipótese de recurso é começar uma legislatura de uma forma fraca”. Marcelo não quer ‘limianices’ com apoios “aqui e acolá” só para desenrascar. Já se tinha visto no que deram as soluções politicamente frágeis.

Para já, o ministro ameaça tornar-se num sonho mau, segundo Marques Mendes que ontem à noite no comentário na SIC disse que Centeno já foi um “trunfo político e eleitoral”, mas agora é “cada vez mais um pesadelo para os seus colegas e mesmo para o PS.” Antes de arrumar as botas, ficam aqui os sete recordes do Ronaldo das Finanças. Se a saída não está à vista no curto prazo…

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