Em cumprimento de um dever

(Virgínia da Silva Veiga, 06/07/2019)

Não li ainda que factos criminosos imputam a um Ministro da Defesa. Assim, de repente, sem estudar, fiquei com a ideia que Azeredo Lopes não fez nada de censurável, bem pelo contrário. 

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O caso de Tancos envolveu uma guerra entre quatro delicados sectores: Polícia Judiciária, Polícia Judiciária Militar, Ministério Público de Lisboa e Exército. O tema era desvio de material militar que, se sei alguma coisa e alguma entendi, nunca foi devidamente arrolado, desde o Estado Novo, não sendo, por isso, num primeiro momento, possível apurar o que havia sido furtado ou mesmo se havia sido. Membro da NATO, em época de terrorismo, Portugal estava muito mal numa fotografia onde o retrato caía cá dentro e lá fora como um estrondo. Portugal era notícia. 

Que se pedia a um político? Que reforçasse os meios de vigilância – o que foi feito – e tentasse diminuir o estrago na imagem enquanto o caso pontual era averiguado por quem de direito. Um ministro não é um polícia, não é um acusador, é um apaziguador. Não é para fomentar guerras, é para fomentar a paz.

Fiquei ontem deveras impressionada com Mariana Mortágua. Num programa onde se digladiava com um dos mais populistas passistas, admitia, por esgares, acenos de cabeça, silêncios e palavras, que Azeredo Lopes possa ser considerado um criminoso. 

E fazia-o, contudo, sem um facto, como ela própria disse. Sustentando-se na comissão de inquérito do parlamento ao caso Tancos, dizia não haver qualquer facto conhecido a que o MP se reporte para o constituir arguido. Podia acabar aí o discurso, mas não. Sem sustento nenhum – como por ela expressamente afirmado –, nada de onde resultasse uma actuação ilegal do ministro, admitia e acoitava, sem uma chamada de atenção, as teses do seu interlocutor que chegou ao cúmulo de, sem nenhum facto imputável a Azeredo Lopes ou a ninguém, insinuar que o primeiro-ministro também devia ser constituído arguido! Mariana não o desdisse. 

Volta, Carlos César! Afinal ainda há quem faça pior figura porque um assunto muito feio é criticar quem nos estende a mão, outro, bem pior, é deixar fomentar um ataque a um político por o ser.

Vou ler sobre o tema. Saber que outras atitudes, que não impedir um agudizar de escândalo sobre as nossas Forças Armadas e a nossa Judiciária, praticou Azeredo Lopes, onde é que este Ministro praticou um só acto que impedisse a investigação entregue ao MP, o que, afinal, justifica que o Poder judiciário se imponha e venha apreciar e ajuizar actos políticos, numa total inversão da Constituição.

De resto, não tenho a menor dúvida que Azeredo Lopes, tal como reforçou os meios de vigilância do material bélico, continuará até ao fim a fazer o que se espera dele, mesmo já sem estar em funções: diplomacia política, coisa que o MP de Lisboa parece ignorar ser um dever.

6 pensamentos sobre “Em cumprimento de um dever

  1. Ui?

    Nota. Andam à rasca, os bichos metafóricos e as bichas da floresta. Sobre o que se passou na comissão de Tancos, presidida por um ilustríssimo aveirense (quem?, ah pois é!!)*, já me pronunciei n’A Estátua de Sal. Por ora acrescento, apenas, que o BE e também o PCP com a sua idiossincrasia em relação à tropa (onde gosta sempre que se perceba que está infiltrada por eles…) foram bem papados… pelo PS. Chegaram tarde, né?

    Asterisco. Lisura política e asseio intelectual, sim, mas isso não será pedir o impossível a esta malta da família do PS que se habituou a viver à grande e francesa?

    #standupcomedy

    https://tvi24.iol.pt/videos/politica/azeredo-lopes-constituido-arguido-trabalho-da-comissao-de-inquerito-nao-esta-em-causa/5d1f36240cf2c300105c8eb1

  2. Pois é, o “Sucesso” tomado e tornado “sucesso” pelos mídia oportuniatas acerca de iniciantes personagens sem vida própria para além da escola-estudo-partido-política-escola-estudo num contínuo ambiente específico circunscrito na contemplação e atracção do sucesso popular propagandeado e não fundamentado ou feito de opiniões de ocasião, normalmente lisonjeios de gente interesseira, é quase sempre fatal para tais criaturas que rapidamente se apropriam do sentimento e estilo “super-juíz-inspectora-julgadora” cheias de sí e pesporrência quase insuportável.
    Foi o caso do menino do CDS, agora um paladino reaccionário cá dentro e na Europa, num outro “inquérito” e está-se tornando óbvio com a Marianita.
    É repugnante a maneira como ela pergunta directamente às pessoas inquiridas se, “não receberam algum crédito pelo “favor” prestado” como se já estivesse em tribunal para condenar por preconceito adquirido por mimetismo do zé pagode alienado pelos mídia.
    E o seu estar, tiques e esgares significantes de presunção acusativa estão ainda para além dos mesmos truques e significados do “orelhas” dos noticiários da RTP que gramamos quase diariamente.

    • Telegrama.

      Da série “Fun Family Things To Do In #Lisbon, #Strasbourg, #Brussels, Beja, Barcelos, Castelo Branco, #Braga, Arroios, Penha de França, S. Domingos de Benfica And Campo de Ourique”

      Nota. Estes tipos (Pedro, o Tadeu e o Costa) prometem dar trabalho aos pais e à Dona Judite, pás.

      Assinado: RFC, porreiro pás!

      Pedro, quero ser teu amigo

      Causou furor a notícia de que Pedro Costa, flho de António Costa,
      contratou três amigos como assessores para as
      Juntas de Freguesia de São Domingos [de Benfica] e Campo de
      Ourique. Um deles, sob o muy nobre título de “assessor de higiene urbana”, vai ganhar 1300 euros
      por mês para, citamos, “andar na rua a ver o que
      está limpo e o que não está”. Gente tem tentado
      contactar Pedro Costa para se oferecer para fazer
      mais por menos, mas o telefone do jovem autarca
      em estado interrompido. Chovem candidaturas?

      Fonte: Expresso, 6.7.2019, p. 16.

      _____

      estatuadesal diz:
      Julho 6, 2019 às 3:55 am

      O RFC ficou zonzo de tanto rir … 🙂🙂

  3. Eleitoralismo puro e duro. Sobretudo porque em Portugal temos o péssimo hábito de só julgarmos o governo no fim de cada legislatura. Como se as outras forças políticas também não tivessem ido a eleições com programas eleitorais. Como se diz agora.

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