O Governo Sombra dos abutres

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 24/11/2017)

quadros

João Quadros

Pergunta um jornal – “Estará o país a ficar insensível, perante tanta tragédia?” A líder do CDS sente isso mesmo e recorda o dia em que as notícias davam conta de um novo aumento do número de mortes provocadas pelo surto de “legionella”. “As pessoas quase que aceitaram isso como uma coisa natural. Esta indiferença à morte não é normal e tem muito a ver com a forma como o próprio Governo vai reagindo”, critica Assunção Cristas. Estou a perceber o ponto de vista, mas também poder ser por causa das imagens dos atentados em Nice, etc. Também pode ser por causa dos jogos de computador.

Também pode acontecer que toda esta indiferença, perante a gravidade da morte, seja por termos tido um PM, de um governo a que Cristas pertenceu, que, perante a cura para a hepatite C, e que custava uns milhares, disse: “os Estados devem fazer tudo o que está ao seu alcance para salvar vidas humanas, mas não custe o que custar”. Nessa altura, Cristas estava em casa a ver a série The Walking Dead e assinou de cruz.

O que me parece é que o CDS já foi o partido do táxi, agora é o partido do carro funerário. Assunção Cristas é um abutre a pairar sobre as desgraças. Como o abutre procura alimentar-se de carcaças, Assunção tenta ganhar votos contando campas. A líder do CDS acusa o Governo de, perante as tragédias, agir “de forma errada, pouco sensível e pouco humana”, mas dá á sensação de que reza para que elas aconteçam. Nisso, Passos foi mais honesto, assumiu que desejava que viesse aí o Diabo.

Havia uma senhora inglesa, de seu nome Anne Germain, que falava com os mortos num programa da TVI. Agora temos uma Cristas, suposta líder da oposição, que fala pelos mortos. É como se Cristas estivesse possuída por um resultado que acha que foi bom nas autárquicas. Diz coisas exactamente ao contrário do que dizia quando foi governo. Desde o aumento de pensões, passando pelo congelamento de carreiras, até a esta sensibilidade para com as mortes. Dir-se-ia com foi possuída pelo espírito do Louçã, não estivesse ele vivo e de boa saúde, mas mantendo a voz de professora da primária. Quando vejo imagens de Cristas a defender o investimento do Estado na Assembleia da República, estou sempre à espera que ela consiga girar a cabeça 180 graus, como a pobre coitada do Exorcista.

Cristas concentra-se em todos os tipos de mortos. Os que morreram durante este Governo e os que já estavam enterrados há anos, como no caso do panteão. É a nossa espírita. Tem mais ligação com o além do que com o que se passou enquanto foi ministra.

Cristas, perante a seca, pedia que rezássemos. Agora exige medidas ao Governo. Pois eu exijo que, para que ela seja fiel ao que defendeu, que vá à Fátima de joelhos, com uma vela em forma de nuvem, e que não beba água daqui até lá, para que acabe por compensar.


TOP-5

Necrologia

1. Ministro da Saúde anuncia que Infarmed vai para o Porto – Trabalhadores do Infarmed vão ter aulas de formação para apreenderem a trocar o V pelo B e a usar mais calão.

2. Governo chama Jorge Jesus e Ana Malhoa para defender taxa sobre o sal – e dar cabo da língua portuguesa.

3. Ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães, acusado de assédio e de enviar foto das partes íntimas a uma jornalista americana – que estupidez, depois de tudo o que temos feito para promover Portugal lá fora. Espero que ele tenha usado Photoshop.

4. Governo avisa que devem ser tomadas medidas por causa da seca – Deixo a dica, agora que vem aí o Natal: eu tinha um tio que era tão forreta que demolhava o bacalhau na caixa do autoclismo.

5. Presidente da Câmara do Porto agradece a descentralização do Infarmed – Descentralizar era fazer o festival da Eurovisão em Pedrógão.

2 pensamentos sobre “O Governo Sombra dos abutres

  1. Esta esquerda é hipócrita, mentirosa e incorrigível. Ainda que haja aproveitamento político por parte de quem se manifesta contra as mortes de cidadãos que dependem em parte da segurança do Estado, a razão estará sempre do seu lado. Era o que faltava, é que com Passos valia tudo como arma de arremesso; e agora com Costa nem os mortos pudessem ser lamentados, sabendo-se que uma grande percentagem a ele e à sua incompetência se deve… E burra também! “os Estados devem fazer tudo o que está ao seu alcance para salvar vidas humanas, mas não custe o que custar”, não significa que os estados não vão pagar! Significa que deve haver um processo de negociação entre Estado, farmácias, laboratórios, etc, para se chegar a um preço equilibrado nos medicamentos imprescindíveis à vida, sem chantagem ou coacção (como julgo que veio a acontecer). Agora essa de que “Passos assumiu que desejava que viesse aí o Diabo”, é de mentecapto! “Desejava”, onde, de que forma??? E ainda que não desejasse, será que o Diabo não veio, sob a forma de tantos mortes? . .

  2. Quando se dá o “microfone” a alguém sem critério corremos sempre o risco de perceber a dimensão da sua ignorância sobre o assunto tratado. É exactamente o caso deste artigo. O João Quadros obviamente não sabe, mas o estado, nenhum estado, gasta recursos ilimitados para prolongar a vida dos doentes e se assim fosse, se os recursos fossem inesgotáveis a esperança de vida seria obviamente bastante maior. Nem sequer vale a pena fazer o enquadramento da situação que o país vivia ou perceber a diferença entre a decomposição do estado á frente dos nossos olhos, também face a uma conjuntura financeira, mas sobretudo por incúria e uma escolha orçamental difícil. Mas o que se passou no caso da hepatite C foi uma coisa completamente diferente daquela que é a percepção que o João Quadros teve da questão. Os tratamentos da hepatite C sempre foram muito caros e sempre estiveram disponíveis para todos os doentes com indicação de tratamento, mais, antecipou-se a terapêutica para doentes sem sintomas segundo a recomendação internacional. O novo, à altura, medicamento, o Sofosbuvir, sem os efeitos secundários do Interferon e da Ribavirina e com resultados terapêuticos muito superiores, chegou ao mercado com um preço de tratamento de 50.000€, um valor completamente incomportável para tratar os 100.000 doentes com a doença, sintomáticos e assintomáticos, 5 mil milhões de Euros, quase 70% da verba do SNS. Na altura o governo estava a negociar um valor mais baixo que fosse exequível, o que foi conseguido com a pressão publica sobre a Gilead que baixou o valor para metade o que deu a possibilidade de se tratarem 13 mil doentes, aqueles a quem o tratamento tradicional não tinha resultado. Essa é a prática que se mantem hoje, só são tratados com o novo fármaco uma pequena % dos doentes, como aliás com outros medicamentos, nomeadamente no campo oncológico onde até há medicamentos que nem são usados exactamente por causa do preço. O João Quadros simplesmente distorce os factos para os fazerem caber numa realidade alternativa em que quer crer!

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