Cinco conclusões das sondagens

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 20/05/2015)

         Daniel Oliveira

                        Daniel Oliveira

As sondagens dão a coligação PSD/CDS bastante próximo do Partido Socialista. Com o eleitorado bastante volátil – cerca de um quarto diz-se disponível para votar em novos partidos – e uma previsível abstenção bastante alta, é bom termos cuidado com crenças demasiado fortes nestas sondagens. Até porque os partidos que estão no poder tendem a sofrer mais com a abstenção, que não se faz sentir de forma tão clara nas sondagens. Ainda assim, estas pesquisas de opinião são bons elementos de análise. E dizem-nos cinco coisas.

A primeira: se as eleições fossem hoje, a direita teria, no seu conjunto, o pior resultado de sempre desde que há eleições livres. É que a esmagadora maioria das análises que vou lendo e ouvindo ignora este ponto. Se a coligação está a morder os calcanhares do PS é porque a direita se juntou toda para conseguir uns medíocres 36%.

A segunda: o PS não consegue descolar. Quem olhe para estas sondagens e diga que elas são um apelo ao voto útil, só pode estar a tresler os resultados. Se houvesse voto útil, não havia dois terços de pessoas contra este Governo e, no entanto, apenas um terço disponível para votar no principal partido da oposição. É exatamente porque o PS não está a conseguir afirmar-se como alternativa – o que teria de corresponder a um discurso claramente distintivo do do PSD e CDS – que muita gente não compreende a utilidade do voto nos socialistas.

PARA ALÉM DE SABER QUEM GANHA E PERDE, É BOM PERCEBER QUE PODEMOS VIR A ASSISTIR, EM VÁRIAS FRENTES, A MUDANÇAS DOS EQUILÍBRIOS POLÍTICO-PARTIDÁRIOS HABITUAIS

A terceira: PS, PSD e CDS, todos juntos, têm 70% dos votos. Ainda longe da razia em Espanha ou na Grécia, é, se retirarmos as eleições de 1985, em que se sentiu o epifenómeno do PRD, o pior resultado do erradamente chamado “arco da governação”, aproximando-se, mas para pior, dos resultados dos finais dos anos 70, quando o PCP tinha votações acima dos 15%. Apesar dos media teimarem em ignorar a realidade, é fora do espaço destes partidos que está a haver crescimento. E esta é a parte que me parece estar a ser mais negligenciada pelas sondagens, tal como já aconteceu nas europeias.

A quarta: nenhuma candidatura terá maioria absoluta. Pode ser que as juras de que não haverá bloco central tenham como função dramatizar a escolha, como último e único argumento para captar voto. Mas a verdade é que sem bloco central teremos duas situações diferentes. À esquerda, ou o PS governa em minoria, ou vai fazendo, conforme os casos, acordos à esquerda e à direita, ou faz um acordo com quem à esquerda ganhe força para isso – e isso obriga-o a mudanças substanciais no rumo programático que começou a definir e que não está a entusiasmar ninguém. Tirando o último caso, estamos a falar de um Governo para durar um ou dois anos. Caso seja a direita a vencer, excluindo o bloco central, não tem parceiro com quem conversar. Talvez Marinho Pinto, o que me parece arriscado e improvável que chegue. Ou seja, o Governo também durará um ou dois anos.

A quinta: há espaço de crescimento para os novos partidos. Diz a sondagem do Expresso que 66% acham positivo que surjam novos partidos (o que contraria a posição jocosa da maioria dos comentadores) e cerca de 23% dos portugueses estão disponíveis para votar num deles. Têm 4 ou 5 meses para se darem a conhecer.

Em resumo: para além de saber quem ganha e perde, é bom perceber que podemos vir a assistir, em várias frentes, a mudanças dos equilíbrios político-partidários habituais.

4 pensamentos sobre “Cinco conclusões das sondagens

  1. Augusto Santos Silva ontem na TVI24 fez uma apreciação às
    duas últimas sondagens muito diversa desta que, parece fei-
    ta em cima do joelho pelo D. Oliveira aliás, na linha do que
    tem sido o posicionamento do jornal em que escreve e, dos
    outros meios de comunicação do mesmo grupo!
    Pela reacção atabalhoada do p. ministro no debate de hoje,
    mostra que o PS está com propostas de alternativa às polí-
    ticas da maioria com condições de ganhar com facilidade
    as próximas eleições!!!

  2. Melhor encomenda que esta análise política das sondagens só a encomenda do passos à sua assessora para lhe escrever a biografia autorizada; mas pouco.
    Todas as premissas do raciocínio político interpretativo de do sobre as sondagens vão aos saltinhos na carreira direitinho aos desejos eleitorais do Livre.
    E do não é um político igual aos outros, nunca, jamais, qual quê; ele saltita de partido em partido como o pardal de esplanada de mesa em mesa à procura das migalhas mas, atenção, ele fá-lo por convicções politico-filosóficas e honestidade intelectual como prova, à saciedade este artigo inteiramente despegado de partidarite.
    E também porque escreve num jornal absolutamente independente do ti balsemão sócio nº1 do psd e a jogar tudo, expresso, sic(ques), visão e o próprio balsemão e homens de mão, assanhadamente contra a possibilidade de A. Costa chegar a PM.
    O ti balsemão está cagado de medo que lhe cortem o eterno encosto ao pote do poder que suporta os seus negócios rentáveias.
    Sócrates, perante a chantagem da imprensa, ameaçou cortar-lhe a licença de tv à sic, agora treme como um pudim de gelatina que lhe aconteça algo semelhante.
    E, claro, do e os do mundo balsemão, uns fingem de esquerdistas outros de direitolas mas, no fundo servem a um senhor único; o patrão

  3. Noto com desagrado que raro é o analista que se debruça sobre o valor e legitimidade destas percentagens quando ignoram as abstenções. Pode dar jeito, mas ŕaece-me moralmente reprovavel encher paginas com a representatividade que permite que um partido com pouca mais de 30% dos votos tenham maioria- ingles e “esquecem” uma parcela tão grande (por vezes 60%) sem nenhum remorço democratico. Tretas tem a nossa joana muito.

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