(Carlos Esperança, in Facebook, 06/03/2025)

(O texto que segue é mais uma deliciosa e pertinente alegoria. Provavelmente mais ancorada na realidade do que seria desejável. Os meus parabéns ao Carlos Esperança.
Estátua de Sal, 06/03/2025)
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O meu pai anda desorientado com as decisões do Dr. Trump, de que tanto gosta, e da sua política externa, e também não sabe o que dizer do adorado André e do seu querido Almirante das vacinas.
A minha mãe anda feliz por prever para breve o fim da guerra na Ucrânia. Não gosta de mortes, de ucranianos ou russos, e não percebe o Costa, de quem gosta muito, e que foi para Bruxelas por causa daquele parágrafo maldoso escrito pela D. Lucília e, pensa a minha mãe, ditado pelo Marcelo.
Ontem, dia de Carnaval, a minha mãe disse-me para ir brincar com os da minha idade e, na sua pitoresca linguagem, disse-me: Diana diverte-te que o Carnaval é curto e longa a Quaresma, e eu preferi estar com a minha mãe do que com miúdos da minha idade, que são imaturos e ainda me parecem crianças.
O meu pai saiu cedo a dizer mal da Uber e dos imigrantes e lá foi com o táxi à procura de clientes. Aproveitei para falar com a mãe que esteve todo o dia em casa. Perguntei-lhe o que era uma avença e ela disse-me que era uma quantia predeterminada, em princípio justa, para pagar mensal ou anualmente serviços prestados ou a prestar.
A seguir fez-me aquele riso de cumplicidade e começou a abrir o livro, que a avença do Montenegro parecia ser a forma de iludir o fisco quando era advogado ou de prestar um serviço à empresa dos casinos, serviço pelo qual continuou a receber depois de ser PM. Foi apanhado por jornalistas e apressou-se a transferir a avença, essa e outras, para a mulher, enquanto os partidos da oposição o enxovalhavam em público. Depois de se ver aflito, incapaz de desistir desse rendimento, decidiu dizer que a empresa que tinha dado à mulher e aos filhos, agora, que já não era dele, a deu afinal só aos filhos.
Tudo lhe correu mal, até os dois apartamentos que comprou em Lisboa na Travessa do Possolo, viraram tragédia. O Professor Cavaco que também lá tem casa tinha posto o país a rir quando construiu clandestinamente duas marquises e o Montenegro pôs o país a perguntar se não havia ali dinheiro não declarado.
Para agravar a tragédia, a empresa de Casinos, que não precisava dos filhos, bastava-lhe o pai, retirou a avença quando, para apagar pistas, passaram a ex-empresa do PM da sua casa de Espinho para o Porto. A Solverde não quis lesar o seu bom nome com a ligação à família Montenegro, neste caso aos filhos, e retirou-lhes a avença.
Mas o mal já estava feito e os partidos da oposição atacaram na AR a idoneidade moral do Montenegro e via-se que o governo tinha os dias contados. Foi aí que o PM, que já tinha no PSD quem o quisesse substituir, encontrou a forma de obrigar o partido e o Marcelo a aceitarem que fosse ele a disputar de novo as eleições.
Eu ainda perguntei se o Marcelo não era amigo do Montenegro, mas a minha mãe disse-me que não, era apenas cúmplice e andava arreliado porque não lhe ligava importância. Até lhe impôs o Procurador Geral da República, sem o consultar, e era obrigado; tinha feito o mesmo com a constituição do Governo, apenas porque sabia que Marcelo punha os nomes dos ministros nos jornais antes de lhe dar posse; e acabou a anunciar a moção de confiança para o encurralar.
Diz que levou escrito o guião, a dizer que a oposição não o deixava governar, que tinha governado muito bem e dado tudo a toda a gente e, aqui a minha mãe disse, que com a folga orçamental e o bom desempenho da economia que herdara. E que preferia ir a eleições do que ter paciência para responder às perguntas a que dizia ter respondido sem nunca responder. Até chamou às eleições um mal necessário.
A minha mãe disse que Montenegro era um jogador exímio, que mostrara ao Marcelo urbano que um rural podia ser melhor do que ele. Olha, Diana, foi Marcelo que lançou o país em crises sucessivas. As três crises políticas escusadas foram provocadas pelo PSD, as duas primeiras por Marcelo e a última por Montenegro.
Agora, com o PSD e Montenegro a tentarem sobreviver e o PS em perigo, com Marcelo fora de jogo, lá vamos para eleições com o almirante a ganhar calado e o André a fazer esquecer que no seu bando há mais delinquentes do que nos outros partidos.
Lá vai o Montenegro a pedir ao Gonçalo da Câmara Pereira para voltar a acompanhá-lo e ao Nuno Melo para poder manter aquele exótico partido com que tomou posse – a AD.
Ui, o meu diário já vai muito longo. Conto mais conversas com a minha mãe noutro dia.
Musgueira, 6 de março de 2025 – Diana
Não sei porquê, mas cada vez que vejo na televisão o Major-General Isidro debruçar-se sobre a guerra na Ucrânia, faz-me lembrar Mohammed Saeed al-Sahhaf, ministro da informação de Saddan Hussein… 🙄
A mim acontece-me o mesmo, mas tive a sorte de um passarinho me explicar porquê.
Também me disse o passarinho que lhe ia caindo o bico quando soube que o Isidro era major-general. No tempo em que voava por cima dos quartéis, diz ele, os Isidros eram todos sargentos.
Sargentos, não, que os havia dignos desse nome quando, obrigatoriamente, por quartéis andei. »Cabos Lateiros» talvez….