Como deve ser designado o G7?

(João Ramos de Almeida, in Blog Ladrões de Bicicletas, 29/06/2022)

Os jornalistas não pensam muito quando têm que designar o Grupo dos Sete Países (G7), cujos governos se reúnem periodicamente para decidir o destino do resto do mundo. A sua preocupação é encontrar uma designação tecnicamente neutra que diga o essencial em poucas letras. Ora, o G7 não tem nada mesmo de neutro.

No início e talvez desde a sua criação informal em 1973 – no auge da crise gerada pelos países exportadores de petróleo – começou por designar-se o G7 como os sete países “mais desenvolvidos” do mundo. Eram os países mais ricos do FMI e o G7 assemelhava-se à típica reacção dos poderosos, apertados de repente pela rebelião dos países menos ricos (ex-colonizados), visando repor algum equilíbrio na distribuição da riqueza mundial.

Aquela designação escolhida implicava, contudo, alguma discussão. O que era isso de “desenvolvimento”? Como era possível designá-los “países desenvolvidos” havendo neles tanta desigualdade social? Não havia conflitos entre conceitos “desenvolvimento”/(neo)colonialismo ou “desenvolvimento”/”crescimento”? Por isso, foi se preferindo – nas redacções – uma fórmula mais pacífica: pronto, eram os sete países “mais industralizados” do mundo. Até porque a indústria parecia ainda ser sinónimo marcante do poder económico e aqueles países eram muito industralizados. E assim foi ficando.

Só que a formulação foi ficando, mesmo quando o mundo ia mudando, mudando, mudando.

Os países mais industralizados começaram a “desindustrializar”. Transferiram parte da sua produção para zonas do planeta com custos mais baixos. Reinventando o conceito e as virtudes da globalização, forçaram o desarme das barreiras alfandegárias a nível mundial, nomeadamente dos países mais “desenvolvidos”. Assim, poderiam vender os seus “novos” produtos nos melhores e piores mercados, sem pagar as taxas de entrada protectoras de cada mercado nacional e, assim, conseguindo margens de lucro bastante substantivas, transferindo pelo caminho parte substancial delas para os paraísos fiscais. Só que isso acarretou uma transformação na distribuição da produção a nível mundial. E – claro! – nas estatísticas.

Presentemente, apesar da designação continuar a ser a mesma, os sete países “mais industralizados” do mundo… deixaram de o ser. Veja-se o gráfico abaixo que mostra, para 2019, o peso percentual na produção mundial dos 10 países mais industrializados:

A China deixou de ser apenas um país receptáculo do investimento deslocalizado do Ocidente. A Índia foi crescendo. O mesmo aconteceu a outros países. Se a designação fosse os sete países “cujas sedes das empresas têm maiores lucros industriais” talvez se aproximasse mais da realidade. E mesmo assim resta saber.

Apesar disso e até por causa disso, o G7 manteve-se fechado a esses novos poderes. A Rússia foi recebida em 1998, mas num outro formato (G8) e, em 2014, acabou mesmo por ser expulsa. A China nunca foi aceite como membro, supostamente porque a sua elevada produção, quando dividida pelo número de habitantes, não a tornava num país “desenvolvido”… E a criação do G20 mal resolve o problema de fundo, antes tornando mais clara a distinção matricial do problema destes fóruns internacionais. O episódio da pandemia tornou evidente essa divisão.

Agora, se procurarmos, encontrar-se-á definições de G7 como o grupo de países mais ricos, mas que partilham os valores da democracia liberal, da democracia representativa e do pluralismo. Parece uma formulação que, ao criar uma falsa dicotomia (entre os bons e os maus), quer galvanizar as respectivas populações, igualmente exploradas e segregadas, para juntos defenderem a minguante parcela da riqueza mundial dos seus ricos senhores. Ao menos, “somos democratas”.

Mas a descrição aproxima-se mais dos “estatutos” de um velho clube de senhores que nunca assumiram a origem polémica da sua primitiva acumulação do seu capital e que, com um misto de desdém e receio, olham pela janela o mundo em mudança. De queixo sobranceiro, o clube sente-se como a derradeira barricada de um poder alicerçado no armário das caçadeiras. De ora em quando, carregam-nas e preparam-se para “receber” os novos membros – esses “feitos à pressa” – que forçam as portas da velha instituição. As portas abanam e parecem já não suster um letreiro onde está escrito “Reservado o direito de admissão”, e que mal esconde um outro, pendurado há apenas décadas, que mencionava algures “gente de cor”.

Talvez seja, pois, altura de os jornalistas mudarem a forma como designam o G7. Talvez os Sete Países que querem continuar a mandar no mundo?

Fonte aqui


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2 pensamentos sobre “Como deve ser designado o G7?

  1. G7. Acho que deve ficar. Se o G está para Granito ou para Gagá pouco importa. O 7 é interessante, é cabalístico. Quando, por um curto espaço de tempo, passou a G8, ficou num oito. Recuaram para o sete. Entrando como G7 para o museu das velharias inúteis, tem charme. Desenvolveu-se até ao osso, bateu no chão, definhou, sem nunca perder a grandeza nobiliárquica das relíquias.
    O último G7 foi majestoso. Teve ares de festa derradeira, cerimónia necromântica, pressentimento do inevitável. A encenação tornou-se imperiosa, já não eram. A NATO, agência sinistra e ultima ratio, assumiu o comando das operações.
    Designações. Se eu chamar a um careca Boris crescer-lhe-á o cabelo? Tentei convencer o meu cão de que era um crocodilo – de carícias nunca abdicou. Se calhar com os crocodilos ocidentais é diferente.

  2. Os pecadores G7..
    Cimeira do Orgulho do G7
    fantasma sobre o Putin.
    A saga da inveja!

    Mas que espectáculo deprimente!

    Não importa o que pensamos dos regimes políticos e dos acontecimentos actuais. Os nossos decisores nos últimos 40 anos aumentaram a dívida, permitiram que as infra-estruturas e a coesão social se deteriorassem, apresentando-se ao mesmo tempo como o alfa e o ómega da virtude. Por outro lado, temos uma europa em sintonia e massivamente apoiado pelo seu povo, porque de facto recuperou uma Rússia sem sangue e voltou a pô-la em funcionamento. Sim, com a ajuda da comunicação e da autoridade, mas também com relevância e inteligência na gestão de recursos. O resto de nós parecemos palhaços e não é certo que desta vez o muro caia do outro lado, dada a impertinência permanente da “elite” ocidental.

    Em vez de reduzir a inflação, encontrar gás e petróleo, e melhorar as condições de vida da sua população. Eles estão derramam insultos .

    Estas pessoas são supostas representar-nos como povos?
    Estas pessoas devem representar “democracia”, “liberdade” e ser a luz orientadora da humanidade?
    Estas pessoas são supostamente “os adultos na sala”?

    “Na vida, a aparência é a última coisa que atacamos. Quando se critica a aparência, é porque não se tem mais nada a criticar.
    Assim, quando as “elites” se juntam e gozam com o aspecto ou estilo de Putin, é certamente para aliviar o estado de espírito, tentando esquecer o óbvio, picante e humilhante fracasso que todo o Ocidente está a atravessar nesta guerra na Ucrânia, os imparáveis russos apesar dos milhares de milhões de ajuda e armas, e o nosso colapso monetário (euro, dólar, libra) apesar das nossas “terríveis sanções”, enquanto o rublo é forte e a Rússia ainda mais rica ao vender o petróleo a outros.
    Para ser meditado.…

    Penso que a nossa Europa ou se destruirá ou será ultrapassada por todos os outros continentes, tanta decadência e desconexão com o mundo real e as suas questões que, infelizmente, não poderão passar… Nós e os nossos aliados costumávamos ser países tão sérios… admirados por todos, agora até os países pequenos nos “mijarão” em cima, acho mesmo que acabou,Isto é o fim!

    Não me parece que sejam “grandes líderes”. São pequenos, muito pequenos, portanto não credíveis para gozar com alguém que está ausente deste pequeno círculo cheio de ressentimentos e que se sentem “fortes” juntos, mas muito fracos sozinhos.

    O G7 deram-nos um espectáculo lamentável e desonroso, indigno do seu estatuto. Esta postura infantil e pueril revela a sua incompetência, a sua inconsciência e o seu descuido. Isto demonstra factualmente a sua incapacidade de compreender o mundo e de encontrar soluções para as complexas equações que lhe estão subjacentes.
    A reparação de Putin é apenas uma lição de gestão política.
    Estes líderes, de países onde a moral e a ética afundaram até ao fundo da terra, ousam escarnecer de um Adversário maior na sua luta. Eles, cuja vergonha deveria enrubescer-lhes a testa! Eu penso em Johnson, mentiroso, trapaceiro, triste Sire. Estou a pensar em Biden, cuja total falta de palavras, credibilidade e vida dissoluta traz vergonha perante todo o Mundo. Estou a pensar em Ursula Von der Leyen, obsessiva na sua busca de um Conflito que a ultrapassa.

    Isto prova que o povo ocidental escolhe líderes de baixo nível . dizer estas coisas baixas em público é o que as crianças fazem. os líderes ocidentais têm inveja dos seus recursos.

    O Putin não é nenhum menino de coro,mas deve-se saber lidar com ele.

    Esta cimeira a 5ª em 1 ano desembolsou mais de 350 biliões de euros e dólares para a Ucrânia. Imaginem o cenário os preços em toda a Europa aumentarão em breve falhará recursos em euros se os europeus não boicotarem o G7 em 1 ano todos serão congelados a Rússia ficará mais rica os americanos deixá-los-ão cair para os asiáticos porque é o mercado que quer não baixar os preços, e o euro não será capaz de acompanhar a falta de recursos de estabilidade e rentabilidade que cairá ,não terão outra escolha senão vender os seus activos ,visto que tem uma dívidas de mil milhões de dólares para pagar os americanos e outros,vão querer torná-lo rentável visto que também os cofres estão vazios imprime a partir do nada e os ganhos russos alicerçam os impostos aumentarão da taxa suprimida preparado e será o fim aqui .

    O Ocidente continua a demonstrar uma hipocrisia e duplicidade exemplares. Não conseguem digerir o facto de que um Putin tão tenaz e robusto ainda possa existir e até ousa dar-lhes o dedo da honra ao fazer também a sua lei na Terra. Escusado será dizer que se Putin não tivesse o músculo militar para os fazer pensar sete vezes antes de agir, eles teriam corrido a reservar-lhe o mesmo destino que Saddam Hussein e Muammar Khaddafi. Com insolência e duplicidade, continuam a repetir que a soberania de um país é uma coisa sagrada e que Putin provou ser um assassino em série em nome dos direitos internacionais. Os seus próprios crimes no Iraque, Síria, Iémen, Líbia, Jugoslávia, Palestina, Sudão, Mali, Vietname, Coreia, …. e outros foram, muito provavelmente, uma forma de expressar o seu amor sangrento por estes povos. Não são.
    Não são apenas hipócritas, mas também falta de cultura geopolitica. Além disso, sob o disfarce de uma aliança chamada NATO, que não passa de uma Organização Tentacular Armada e Nociva, há muito que tinham dado a sua própria virgindade aos EUA, pois não têm vergonha de dizer que estão tão felizes e confortados a
    viver sob o guarda-chuva americano que os protegeria da chuva de Putin.

    Putin dá-lhes arrepios. Eles são impotentes contra a determinação de Putin. Só podem rezar a Deus para o convocar para o seu lado o mais depressa possível, espalhando o rumor de que um cancro adormecido está a corroer o monstro. É patético notar que, na sua impotência, tomam o seu próprio pensamento desejoso pela realidade. Se o funeral do falecido Putin não se realizar num futuro próximo, eles dariam tudo por um golpe de Estado implosão para retirar o urso russo do poder, para que pudessem dormir um pouco.
    Quanto ao Zelinsky, depois de ter ganho fama efémera como comediante, tornou-se o pseudo senhor da guerra que interpreta o Don Kixote e a comédia está em vias de ser transformada numa tragédia. O guerreiro que costumava fazer rir o seu povo está agora a sentir-se inchado pelos meios de comunicação ocidentais. Ele não sabe que os EUA estão prontos para explodir sob as brasas para que a guerra seja prolongada até ao último combatente …. Ucraniano! O comediante concordou em liderar o país numa guerra por procuração, talvez apenas por diversão.
    Foi estúpido e suicida desafiar um vizinho que era cem vezes mais poderoso. Ele tinha certamente esquecido que a sabedoria diz que nunca se deve jogar à roleta russa com …… um russo!

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