Chomsky e Barsamian – entrevista

(In TomDispatch, 16/06/2022, Trad. Júlio Marques Mota)

Consegue sequer lembrar-se de quando começou? Não lhe parece uma eternidade? E o timing – se é que se pode mesmo dizer que há um timing- tem sido pouco milagroso (se, por milagroso, quer dizer catastrófico para além do que é pensável). Não, não estou a falar do ataque de 6 de Janeiro ao Capitólio e de tudo o que o precedeu e de tudo o que se lhe seguiu, incluindo as audições em curso transmitidas pela televisão. Não, estou a falar da guerra na Ucrânia. A história que durante semanas comeu os telejornais, que todas as grandes redes de televisão enviaram os seus melhores, mesmo âncoras, para cobrir as notícias da guerra, e que agora apenas se arrasta algures no extremo limite das nossas notícias e da nossa consciência. 

E no entanto, uma guerra aparentemente sem fim e perto do coração da Europa está também a revelar-se um desastre desmedido a nível global, como Raajan Menon explicou, e este foi talvez o primeiro a notar isso mesmo aqui, em TomDisptach, ameaçando igualmente com uma crise de fome generalizada em muito do que costumava ser conhecido como “o terceiro mundo”. Entretanto, mal notadas mas mais desastrosas, são as últimas notícias sobre o carbono que uma humanidade em guerra está a verter na atmosfera e estas são tudo menos alegres. Sim, as emissões de CO2 diminuíram modestamente no pior ano da Covid, mas recuperaram de forma impressionante em 2021. De facto, tal como a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica anunciou recentemente, temos agora mais carbono na atmosfera do que em qualquer outro momento nos últimos quatro milhões de anos. Agora também atingiu oficialmente um nível 50% mais elevado do que o do mundo pré-industrial. E só para que saibam, caso não estejam a viver no oeste ou sudoeste americano a experimentar uma mega-seca de que não se vê há pelo menos 1.200 anos (com temperaturas recorde a aterrar no fim-de-semana passado), ou não tenham estado a viver em ondas de calor sem precedentes na Índia, Paquistão, Espanha, e noutros lugares, esta não é propriamente uma notícia animadora. 

Considere todo este contexto na análise de Noam Chomsky de 93 anos, um colaborador de TomDispatch, a situar a Guerra da Ucrânia no maior e mais devastador contexto possível. Fê-lo recentemente numa entrevista intitulada “Chronicles of Dissent” com David Barsamian da Rádio Alternativa. Editada por extenso, aparece agora em TomDispatch.

Fonte aqui


Bem-vindo a um Planeta que mais parece de Ficção Científica

Como o Duplo Pensamento de George Orwell se tornou o Caminho do Mundo

David Barsamian: Vamos entrar no pesadelo mais óbvio deste momento, a guerra na Ucrânia e os seus efeitos a nível global. Mas primeiro um pequeno pano de fundo. Comecemos com a garantia do Presidente George H.W. Bush dada ao então líder soviético Mikhail Gorbachev de que a NATO não se moveria “um centímetro para leste” – e essa promessa foi verificada. A minha pergunta para si é: porque é que Gorbachev não recebeu isso por escrito?

Noam Chomsky: Ele aceitou o acordo de um cavalheiro, o que não é assim tão invulgar na diplomacia. Um aperto de mão. Além disso, tê-lo no papel não teria feito qualquer diferença. Os tratados que estão no papel estão sempre a ser rasgados. O que importa é a boa fé. E de facto, H. W. Bush, o primeiro Bush, honrou explicitamente o acordo. Chegou mesmo a avançar para a instituição de uma parceria em paz, que acomodaria os países da Eurásia. A NATO não seria dissolvida, mas marginalizada. Países como o Tajiquistão, por exemplo, poderiam aderir sem fazer formalmente parte da NATO. E Gorbachev aprovou isso. Teria sido um passo para a criação daquilo a que ele chamou uma casa europeia comum, sem alianças militares.

Clinton nos seus primeiros dois anos também aderiu a esta ideia.. O que os especialistas dizem é que por volta de 1994, Clinton começou a, como eles dizem, falar de ambos os lados da boca. Para os russos, ele dizia : Sim, vamos aderir ao Acordo. Para a comunidade polonesa nos Estados Unidos e outras minorias étnicas, ele dizia : Não se preocupe, vamos incorporá-la dentro da NATO. Por volta de 1996-97, Clinton disse isso muito explicitamente ao seu amigo presidente russo Boris Yeltsin, a quem ele ajudou a vencer a eleição de 1996. Ele disse a Yeltsin: não se esforce muito neste negócio da NATO. Vamos alargar a NATO mas preciso disso por causa do voto étnico nos Estados Unidos.

Em 1997, Clinton convidou os chamados países de Visegrad-Hungria, Tchecoslováquia, Romênia — para se juntarem à NATO. Os russos não gostaram, mas não fizeram muito barulho. Então com as nações bálticas fez-se exatamente a mesma coisa. Em 2008, o segundo Bush, que era bem diferente do primeiro, convidou a Geórgia e a Ucrânia para a NATO. Qualquer diplomata dos EUA entendia muito bem que a Geórgia e a Ucrânia eram linhas vermelhas para a Rússia. Eles iriam tolerar a expansão em outros lugares, mas estes estão no seu coração geoestratégico e eles não vão aí tolerar a expansão. Para continuar com a história, A Revolta de Maidan ocorreu em 2014, expulsando o presidente pró-russo e a Ucrânia virou-se para o Ocidente.

A partir de 2014, os EUA e a NATO começaram a encher a Ucrânia de armas — armas avançadas, treino militar, exercícios militares conjuntos, movimentos para integrar a Ucrânia ao comando militar da NATO. Não há segredo sobre isso. Foi bastante aberto. Recentemente, o Secretário-Geral da NATO Jens Stoltenberg, gabou-se disso mesmo. Ele disse: isso é o que temos estado a fazer desde 2014. Bem, é claro, isso é dito  muito conscientemente e é altamente provocatório. Eles sabiam que estavam a invadir a zona leste, o que todo e qualquer  líder russo considerava uma mudança intolerável. A França e Alemanha vetaram em 2008, mas sob a pressão dos Estados Unidos a questão foi mantida na agenda. E a NATO, ou seja, os Estados Unidos, movimentaram-se para acelerar a integração de facto da Ucrânia no comando militar da NATO.

Em 2019, Volodymyr Zelensky foi eleito com uma esmagadora maioria — penso em 70% dos votos- com uma plataforma de paz, um plano para implementar a paz com o leste da Ucrânia e a Rússia, para resolver o problema. Ele começou a avançar e, de facto, tentou ir ao Donbas, a região oriental virada para a Rússia, para implementar o que é chamado de acordo de Minsk II. Isso significaria uma espécie de federalização da Ucrânia com um grau de autonomia para o Donbas, que é o que eles queriam. Algo como a Suíça ou a Bélgica. Zelensky  foi bloqueado por milícias de direita que ameaçaram assassiná-lo se ele persistisse com este seu esforço.

Bem, ele é um homem corajoso. Ele poderia ter avançado se tivesse algum apoio dos Estados Unidos. Os EUA recusaram. Sem apoio, nada, o que significava que ele foi nesta matéria abandonado e teve que fazer marcha atrás, ou seja, abandonar essa ideia. Os EUA estavam empenhados nesta política de integração da Ucrânia passo a passo no comando militar da NATO. Isso acelerou ainda mais quando o presidente Biden foi eleito. Em setembro de 2021, o leitor poderia ler isso no site da Casa Branca. Não foi relatado, mas, claro, os russos sabiam disso. Biden anunciou um programa, uma declaração conjunta para acelerar o processo de treino militar, exercícios militares, mais armas como parte do que seu governo chamou de “programa reforçado ” de preparação para a adesão da Ucrânia à NATO.

Este processo acelerou-se ainda mais em Novembro. Tudo isto foi antes da invasão. O Secretário de Estado Antony Blinken assinou aquilo a que se chamou uma carta, que essencialmente formalizou e alargou este acordo. Um porta-voz do Departamento de Estado admitiu que, antes da invasão, os EUA se recusaram a discutir quaisquer preocupações de segurança com os russas. Tudo isto faz parte dos antecedentes.

A 24 de Fevereiro, Putin invadiu, e isto é uma invasão criminosa. Estas sérias provocações não fornecem qualquer justificação para a invasão.  Se Putin tivesse sido um estadista, o que ele teria feito teria sido algo bastante diferente. Teria voltado para o Presidente francês Emmanuel Macron, agarrado as suas propostas provisórias, e mudou-se para tentar chegar a um apoio com a Europa, para tomar medidas em direção a uma casa comum europeia.

Os Estados Unidos, claro, sempre se opuseram a isso. Isto remonta à história da Guerra Fria, às iniciativas do Presidente francês De Gaulle para estabelecer uma Europa independente. Na sua frase “do Atlântico aos Urais”, integrando a Rússia com o Ocidente, esta ideia representava uma acomodação muito natural por razões comerciais e, obviamente, também por razões de segurança. Assim, se houvesse algum estadista dentro do círculo estreito de Putin, eles teriam compreendido as iniciativas de Macron e teriam experimentado para ver se, de facto, poderiam integrar-se com a Europa e evitar a crise. Em vez disso, o que ele escolheu foi uma política que, do ponto de vista russo, foi uma imbecilidade total. Para além da criminalidade da invasão, ele escolheu uma política que levou a Europa até ao fundo do bolso dos Estados Unidos. De facto, está mesmo a induzir a Suécia e a Finlândia a aderir à NATO – o pior resultado possível do ponto de vista russo, independentemente da criminalidade da invasão, e das perdas muito graves que a Rússia está a sofrer por causa disso.

Portanto, criminalidade e estupidez do lado do Kremlin, provocação severa do lado dos EUA. Foi esse o pano de fundo que levou a isto. Será que podemos tentar pôr fim a este horror? Ou devemos tentar perpetuá-lo? Essas são as escolhas.

Só há uma maneira de acabar com isto. Isso é a diplomacia. Agora, a diplomacia, por definição, significa que ambas as partes a aceitam. Não gostam dela, mas aceitam-na como a opção menos má. Ofereceria a Putin algum tipo de escapatória para a situação criada. Essa é uma possibilidade. A outra é apenas arrastar a situação presente  e ver quanto todos irão sofrer, quantos ucranianos irão morrer, quanto a Rússia irá sofrer, quantos milhões de pessoas irão morrer à fome na Ásia e em África, quanto iremos continuar a fazer  para aquecer o ambiente ao ponto de não haver possibilidade de uma existência humana habitável. Estas são as opções. Bem, com quase 100% de unanimidade, os Estados Unidos e a maior parte da Europa querem escolher a opção de não-diplomática. É explícita. Temos de continuar a prejudicar a Rússia.

Pode ler as páginas no New York Times, no Financial Times de Londres, em toda a Europa. Um refrão comum é: temos de nos certificar que a Rússia sofre. Não importa o que acontece à Ucrânia ou a qualquer outra pessoa. Claro que esta aposta pressupõe que se Putin for levado ao limite, sem fuga, se for  forçado a admitir a derrota, ele aceitará isso e não utilizará as armas que tem para devastar a Ucrânia.

Há muitas coisas que a Rússia não tem feito. Os analistas ocidentais estão bastante surpreendidos com isso. Nomeadamente, eles não atacaram as linhas de abastecimento da Polónia que estão a deitar armas na Ucrânia. Certamente que o poderiam fazer. Isso levá-los-ia muito em breve a um confronto direto com a NATO, ou seja, os EUA e para onde vai a situação a partir daí, isso pode adivinhar. Qualquer pessoa que já tenha olhado para jogos de guerra sabe para onde se irá – subir a escada de escalada em direção a uma guerra nuclear terminal.

Portanto, esses são os jogos que estamos a jogar com as vidas dos ucranianos, asiáticos e africanos, o futuro da civilização, a fim de enfraquecer a Rússia, para garantir que eles sofram o suficiente. Bem, se queres jogar esse jogo, sê honesto acerca dele. Não há base moral para isso. Na verdade, é moralmente horroroso. E as pessoas que estão a montar em cavalos de guerra dizendo que estamos a defender princípios são imbecis morais quando se pensa no que está a ser colocado em jogo.

Barsamian: Nos meios de comunicação social, e entre a classe política dos Estados Unidos, e provavelmente na Europa, há muita indignação moral sobre a barbaridade russa, crimes de guerra, e atrocidades. Sem dúvida que estão a ocorrer como ocorrem em todas as guerras. No entanto, não acha esse escândalo moral um pouco seletivo?

Chomsky: O escândalo moral está no seu devido lugar. Deveria haver uma indignação moral. Mas se vai para o Sul Global, eles simplesmente não conseguem acreditar no que estão a ver. Eles condenam a guerra, claro. É um crime de agressão deplorável. Depois olham para o Ocidente e dizem: De que é que estão a falar? Isto é o que nos fazem a toda a hora.

É um pouco espantoso ver a diferença nos comentários. E é assim, se lerem o New York Times e o seu grande pensador, Thomas Friedman. Ele escreveu uma coluna há umas semanas atrás na qual levantou as mãos em desespero. Disse ele: O que podemos nós fazer? Como podemos viver num mundo que tem um tal criminoso de guerra? Desde os tempos de Hitler que não tivemos nada de semelhante. Há um criminoso de guerra na Rússia. Não sabemos como agir. Nunca imaginámos a ideia de que possa haver um tal criminoso de guerra em qualquer sítio do mundo..

Quando as pessoas no Sul Global ouvem isto, não sabem se devem rir ou ridicularizar. Temos criminosos de guerra a andar por toda a cidade de Washington. Na verdade, sabemos como lidar com os nossos criminosos de guerra. De facto, isto aconteceu no vigésimo aniversário da invasão do Afeganistão. Lembrem-se, esta foi uma invasão totalmente não provocada, a que a opinião mundial se opôs fortemente. Houve uma entrevista com o perpetrador, George W. Bush, que depois invadiu o Iraque, um grande criminoso de guerra, ao estilo da secção de Washington Post – uma entrevista com, como o descreveram, este adorável avô pateta que brincava com os seus netos, dizendo piadas, exibindo os retratos que pintou de pessoas famosas que tinha conhecido. Apenas um ambiente bonito e amigável.

Portanto, sabemos como lidar com os criminosos de guerra. Thomas Friedman está errado. Nós sabemos muito bem como lidar com eles.

Ou tome-se como exemplo aquele que provavelmente é o maior criminoso de guerra do período moderno, Henry Kissinger. Lidamos com ele não só educadamente, mas também com grande admiração. Este é afinal o homem que transmitiu a ordem à Força Aérea, dizendo que deveria haver um bombardeamento em massa no Camboja – “qualquer coisa que voe sobre qualquer coisa que se mova” foi a sua frase. Não conheço um exemplo comparável no registo de arquivo de um apelo a um genocídio em massa. E foi implementado com um bombardeamento muito intenso do Camboja. Não sabemos muito sobre o assunto porque não investigamos os nossos próprios crimes. Mas Taylor Owen e Ben Kiernan, historiadores sérios do Camboja, descreveram-no. Depois, há o nosso papel no derrube do governo de Salvador Allende no Chile e na instauração de uma ditadura viciosa no país, e assim por diante. Por isso, sabemos como lidar com os nossos criminosos de guerra.

Ainda assim, Thomas Friedman não pode imaginar que haja algo como a Ucrânia. Nem houve qualquer comentário sobre o que ele escreveu, o que significa que foi considerado bastante razoável. Dificilmente se pode usar a palavra seletividade. Está para além do que se possa chamar espantoso.. Portanto, sim, o escândalo moral está perfeitamente no seu devido lugar. É bom que os americanos estejam finalmente a começar a mostrar algum sentimento de indignação a propósito de grandes crimes de guerra cometidos por outras pessoas.

Barsamian: Tenho um pequeno puzzle para si. Está em duas partes. O exército russo é inepto e incompetente. Os seus soldados têm um moral muito baixo e são mal dirigidos. A sua economia está ao nível da de Itália e Espanha. Essa é uma parte. A outra parte é a Rússia é um colosso militar que ameaça dominar-nos. Por isso, precisamos de mais armas. Vamos expandir a NATO. Como se conciliam estes dois pensamentos contraditórios?

Chomsky: Esses dois pensamentos são o normal em todo o Ocidente. Acabei de ter uma longa entrevista na Suécia sobre os seus planos de aderir à NATO. Salientei que os líderes suecos têm duas ideias contraditórias, as duas que mencionou. Uma, regozijando-se com o facto de a Rússia ter provado ser um tigre de papel que não consegue conquistar cidades a alguns quilómetros da sua fronteira defendida por um exército maioritariamente de cidadãos. Portanto, são completamente incompetentes do ponto de vista militar. O outro pensamento é: eles estão prontos para conquistar o Ocidente e destruir-nos.

George Orwell tinha um nome para isso. Chamou-lhe duplo pensamento, a capacidade de ter duas ideias contraditórias na sua mente e acreditar em ambas. Orwell pensou erroneamente que isso era algo que só se podia ter no estado ultra-totalitário que ele satirizava em 1984. Ele estava errado. Pode tê-lo em sociedades democráticas livres. Estamos a ver um exemplo dramático disso neste momento. A propósito, esta não é a primeira vez que tal acontece.

Este duplo pensamento é, por exemplo, característico do pensamento da Guerra Fria. Regressemos ao grande documento da Guerra Fria desses anos, NSC-68 em 1950. Leia-o  com atenção e vê-se que só a Europa, à parte dos Estados Unidos, estava militarmente em pé de igualdade com a Rússia. Mas, claro, ainda tínhamos de ter um enorme programa de rearmamento para contrariar o projeto do Kremlin para a conquista mundial.

Este é um documento e foi uma abordagem consciente. Dean Acheson, um dos autores, disse mais tarde que é necessário ser “mais claro do que a verdade”, a sua frase, tinha a finalidade de matraquear   a mente pesada do governo. Queremos que seja aprovado  este enorme orçamento militar, por isso temos de ser “mais claros do que a verdade”, concebendo um estado escravo que está prestes a conquistar o mundo. Tal pensamento percorre a Guerra Fria. Poderia dar muitos outros exemplos, mas agora estamos a vê-lo de novo de forma bastante dramática. E a forma como o coloca é exatamente correta: estas duas ideias estão a consumir o Ocidente.

Barsamian: Também é interessante que o diplomata George Kennan previu o perigo de a NATO deslocar as suas fronteiras para leste, num artigo de opinião muito presciente que escreveu e que foi publicado no The New York Times em 1997.

Chomsky: Kennan também se tinha oposto ao NSC-68. De facto, ele tinha sido o diretor do State Department Policy Planning Staff.. Foi expulso e substituído por Paul Nitze. Era considerado demasiado brando para um mundo tão duro. Ele próprio era um falcão, radicalmente anticomunista, bastante brutal em relação às posições dos EUA, mas percebeu que o confronto militar com a Rússia não fazia sentido.

A Rússia, pensou ele, acabaria por cair de contradições internas, o que acabou por se revelar correto. Mas ele foi considerado uma pomba durante todo o processo. Em 1952, era a favor da unificação da Alemanha fora da aliança militar da NATO. Na realidade, essa foi também a proposta do governante soviético Joseph Stalin. Kennan era embaixador na União Soviética e um especialista sobre a Rússia..

A iniciativa de Estaline. A proposta de Kennan. Alguns europeus apoiaram-na. Teria acabado com a Guerra Fria. Teria significado uma Alemanha neutralizada, não militarizada e não pertencente a qualquer bloco militar. Foi quase totalmente ignorada em Washington.

Havia um especialista em política externa, um respeitado, James Warburg, que escreveu um livro sobre o assunto. Vale a pena ler. Chama-se Germany: Key to Peace. Neste livro, ele insistia que esta ideia fosse levada a sério. Ele foi desconsiderado, ignorado, ridicularizado. Eu mencionei-a algumas vezes e também fui ridicularizado como um lunático. Como pôde acreditar em Estaline? Bem, os arquivos foram abertos. Acontece que ele estava aparentemente a falar a sério. Lê agora os principais historiadores da Guerra Fria, pessoas como Melvin Leffler, e reconhecem que havia uma verdadeira oportunidade para um acordo pacífico na altura, que foi rejeitado a favor da militarização, de uma enorme expansão do orçamento militar.

Agora, passemos à administração Kennedy. Quando John Kennedy tomou posse, Nikita Khrushchev, na altura líder da Rússia, fez uma oferta muito importante para levar a cabo reduções mútuas em larga escala de armas militares ofensivas, o que teria significado um forte relaxamento das tensões. Os Estados Unidos estavam então muito à frente militarmente. Khrushchev queria avançar para o desenvolvimento económico na Rússia e compreendeu que isto era impossível no contexto de um confronto militar com um adversário muito mais rico. Assim, fez pela primeira vez essa oferta ao Presidente Dwight Eisenhower, que não lhe  prestou atenção. Foi então oferecida a Kennedy e a sua administração respondeu com a maior acumulação de força militar em tempo de paz da história – apesar de saberem que os Estados Unidos já estavam muito à frente.

Os EUA inventam um “défice de mísseis”. A Rússia estava prestes a dominar-nos com a sua vantagem em mísseis. Bem, quando o défice de mísseis foi exposto, acabou por ser a favor dos EUA. A Rússia tinha talvez quatro mísseis expostos numa base aérea algures.

Pode-se continuar e continuar desta forma. A segurança da população não é simplesmente uma preocupação para os decisores políticos. Segurança para os privilegiados, os ricos, o sector empresarial, os fabricantes de armas, sim, mas não para o resto da população. Este pensamento duplo é constante, por vezes consciente, outras vezes não. É exatamente o que Orwell descreveu, um hiper-totalitarismo numa sociedade livre.

Barsamian: Num artigo em Truthout, cita o discurso “Cross of Iron ” de Eisenhower de 1953. O que encontrou aí de interesse?

Chomsky: Deve lê-lo e verá porque é que é interessante. É o melhor discurso que ele fez . Isto foi em 1953, quando ele estava a tomar posse. Basicamente, o que ele assinalou foi que a militarização era  um ataque tremendo à nossa própria sociedade. Ele – ou quem quer que tenha escrito o discurso – colocou-o de forma bastante eloquente. Um avião a jato significa isto: muito menos escolas e hospitais. Cada vez que estamos a construir o nosso orçamento militar, estamos a atacar-nos a nós próprios.

Ele explicou-o com algum detalhe, apelando a uma redução no orçamento militar. Ele próprio tinha um balanço bastante mau, mas a este respeito estava mesmo a acertar no alvo. E essas palavras deveriam ser gravadas na memória de todos. Recentemente, de facto, Biden propôs um enorme orçamento militar. O Congresso expandiu-o mesmo para além dos seus desejos, o que representa um grande ataque à nossa sociedade, exatamente como Eisenhower explicou há tantos anos atrás.

A desculpa: a afirmação de que temos de nos defender deste tigre de papel, tão incompetente militarmente que não se pode mover um par de quilómetros para além da sua fronteira sem entrar em colapso. Portanto, com um orçamento militar monstruoso, temos de nos prejudicar gravemente e pôr em perigo o mundo, desperdiçando enormes recursos que serão necessários se quisermos lidar com as graves crises existenciais que enfrentamos.

Entretanto, deitamos fundos dos contribuintes para os bolsos dos produtores de combustíveis fósseis, para que possam continuar a destruir o mundo o mais rapidamente possível. É o que estamos a testemunhar com a vasta expansão tanto da produção de combustíveis fósseis como das despesas militares. Há pessoas que estão contentes com isto. Vá aos escritórios executivos da Lockheed Martin, ExxonMobil, eles estão extasiados.

É uma bonança para eles. Até lhes é dado crédito por isso. Agora, estão a ser elogiados por salvar a civilização, destruindo a possibilidade de vida na Terra. Esqueçam o Sul Global. Se imaginarmos alguns extraterrestres, se eles existissem, pensariam que éramos todos totalmente loucos. E eles estariam certos.


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11 pensamentos sobre “Chomsky e Barsamian – entrevista

  1. Segundo alguns climatologistas “Marcel LEROUX”,etc,etc, o aquecimento global gerado pelo aumento da produção de CO2 é impossível.
    É impossível medir uma média da temperatura da terra sabendo que algumas regiões estão a aquecer e outras a arrefecer.

    Desafio todos esta gente a irem e fazerem proselitismo ecológico nas grandes capitais dos países em desenvolvimento ou melhor ainda nos grandes centros industriais no estrangeiro ou nas minas onde as crianças exploram os metais raros tão preciosos para a sua nova política ecológica.

    Qualquer ideologia leva ao fanatismo e à eliminação daqueles que não pensam como eu e outros, nenhuma diferença substancial com o nazismo ou estalinismo.
    Teria curiosidade em conhecer esta gente para ter uma ideia de como eles “educaram” os seus filhos…

    Ecologia é apenas uma oportunidade política para as pessoas que afirmam ser ecologistas. Estas são as pessoas que conduzem Tesla’s cujas baterias são feitas com terras raras minadas por crianças e recarregadas com electricidade nuclear.
    Tudo isto é estúpido e enganador.
    Colocar turbinas eólicas onde o mapa eólico mostra que o rendimento será zero…. Estas são as soluções propostas .

    Devemos estar conscientes de que os ecologistas políticos querem treinar o novo homem e a nova mulher, tal como os comunistas fizeram no passado (até ao Khmer Vermelho). A sua missão – salvar o planeta – requer uma mudança fundamental no pensamento e comportamento dos cidadãos ou corre o risco de extinção, e isto deve obviamente começar na infância.

    Não é por acaso que há uma adolescente manipulada ,com relativo sucesso porque enquanto os jovens se mobilizam para salvar o planeta, não estão a mudar os seus hábitos de viagem e a sua utilização de redes sociais e smartphones, que consomem muita energia.

    Sempre que um regime quis formatar o novo homem, só terminou no totalitarismo e nos campos de reeducação.

    Os ambientalistas são muito úteis como grupos de pressão local para evitar certas realizações desastrosas; mas muito prejudiciais nas posições de topo.

    A europa actual é um sistema económico e político orwelliano integrado, cego, psicológico e intelectualmente vitimizado e beneficiário financeiro e social do actual sistema dominante e dominante que é frequentemente chamado de ultraliberalismo (em referência à liberdade do mercado) e que é melhor chamado capitalismo [financeiramente, não regulamentado]. O nome liberalismo que este sistema de dominação política e económica dá a si próprio é perfeitamente orwelliano: liberalismo. Este sistema, que pretende ser livre, dá aos privilegiados a liberdade de privar a grande maioria dos cidadãos da sua liberdade e mesmo da sua dignidade, transformando-os em agentes económicos ao serviço do mercado livre, ou seja, em recursos humanos e consumidores. Pessoas que passam grande parte da sua vida a produzir produtos e serviços que as escravizam. Só a liberdade como princípio totalitário sem igualdade é a liberdade de uns poucos e a exploração dos outros. Liberdade com igualdade sem fraternidade é a negação da realidade ou da hipocrisia, o mito da igualdade de oportunidades é cada homem por si e nenhum homem por todos. São todos na mesma linha de partida mas não com a mesma mochila e sem regras para evitar que os mais egoístas e privilegiados abusem do seu poder. Todos os debates políticos devem sempre regressar a estes três princípios.

    Isto explica perfeitamente o que tem acontecido nos últimos 2 anos neste mundo através “do poder que tomou o Poder” e exibe a sua força..Tudo se tornou claro quando se expôs a relatividade absoluta estabelecida como uma nova regra porque despojada das bases da equidade e da harmonia, bem como da lógica do que faz sentido! Ao dissolvermos os opostos verdadeiro/falso, bom/ diabólico, +/- etc., provocamos a decadência dos valores morais, intelectuais e espirituais que constituíram a base das nossas sociedades,e com o fim do livre arbítrio, do pensamento.
    Portanto, deduzo que da desestabilização e do desequilíbrio virá o caos (que estas elites desejam estabelecer o seu domínio).

    É incrível como os nossos tempos (e a democracia ocidental) estão próximos da realidade Orwell descrita.
    Pessoalmente, aprendi muitas palavras, termos que teria preferido não conhecer nos últimos anos.

    A guerra é paz, a ignorância é força e a liberdade é escravidão, é disso que me lembro pessoalmente, porque quando estas 3 frases são compreendidas, a luz sai. Bem do que nos rodeia e que faz o nosso pensamento, e depois Orwell teve Aldous Huxley como professor, o círculo está completo.

    Em 1984, a servidão é essencialmente assegurada pela força.

    Na nossa actual sociedade , eu diria que estamos globalmente num modelo do tipo “Admirável Mundo Novo”, pão e jogos, por assim dizer. As massas poderiam gozar de liberdade, conhecimento, mas não estão interessadas. Querem apenas satisfazer os seus desejos primordiais; junk food, novelas, pornografia, consumismo e entretenimento em geral.

    Para as mentes mais atentas, por outro lado, que não podem ser mantidas nos grilhões do consumo e do entretenimento, que pensam e se interessam pelo mundo e como ele funciona, é um tratamento mais orwelliano que lhes é reservado. A fim de não perturbar a ordem existente, são utilizados métodos muito mais coercivos: censura, calúnia, demonização, chantagem, e por vezes até violência física.

    Temos um modelo de dois passos, com primeiro o método suave, pondo as massas a dormir, depois o método duro, para os mais dissidentes, que tiveram a sorte de nascer com um bom capital intelectual. Receio que o sistema procure fazer com que a população fique muda, a fim de melhor a controlar e evitar estas mentes dissidentes animadas.

    A desconstrução do modelo de educação portugués nos últimos 25 anos significa que as escolas já não existem para ensinar a ler, escrever, contar e pensar, como costumavam fazer. Um povo instruído é perfeitamente capaz de tomar as decisões certas e de eleger as pessoas certas de acordo com os seus interesses nacionais e civilizacionais. Uma população degradada, educada por “estrelas e reality shows”, só pode reagir emocionalmente, sem qualquer inteligência ou reflexão. Esta população já não merece o nome de pessoas mas sim de um grupo heterogéneo de indivíduos mal orientados que não têm ideia do que significa o interesse comum.

    De facto há muitas semelhanças com o nosso tempo. Por exemplo, o sistema educativo Portugués não ensina correctamente.Acho que o objectivo é de os “puxar” para baixo, de modo a poderem manipulá-los melhor. Acrescenta-se a isso história mal aprendida, cultura menos geral, ortografia simplificada … Ect, para acreditar que tudo é feito para burlar as novas gerações. Depois, é claro, temos vários meios de comunicação com opiniões diferentes, e demasiada informação. Mas muitas vezes nestes meios de comunicação a burla é grande, sob pena de sermos chamados de fachos, conspirativos, sexistas… Com a crise do Covid por exemplo, se um médico ou cientista se atreve a falar de tratamentos, são amordaçados, são processados, desde o início da crise. É importante não ter qualquer outro discurso para além do discurso oficial do governo e da associação médica. Tudo isto é semelhante à “polícia do pensamento”. Não nos é permitido fazer perguntas sobre a covid e ouvir as opiniões de outros médicos e cientistas, temos de ouvir apenas um lado da história. Todos os meios de comunicação social estão envolvidos nisto. Depois querem assustar-nos, para melhor nos privar das nossas liberdades. Penso que o vírus do covid está exagerado. Tem uma taxa de mortalidade de 0,05% e, além disso, todos os tratamentos foram proibidos desde o início, pelo que poderíamos certamente ter evitado casos graves. Ultimamente, temos sido privados de todas as nossas liberdades fundamentais: confinamento, recolher obrigatório, sem vida social, desporto colectivo… E assim por diante. Discriminamos os não vacinados .Ainda não estamos no mesmo mundo que George Orwel, mas estamos a aproximar-nos perigosamente. Sim, Portugal ainda não é a Coreia do Norte, mas só porque há coisas piores noutros lugares não significa que devamos aceitar cegamente tudo aqui. Nenhum país livre está a salvo de uma ditadura, o que pode acontecer lenta mas seguramente.

    • Extremamente pertinentes as referências que a Huxley e Orwell, assim como a divisão que faz dos diferentes tipos de tratamentos e formas de sancionar os que não se coadunam com a opinião vigente.

      Discordo quando diz que há opiniões diferentes nos meios de comunicação, embora concorde com o exagero e a profusão de informação que nós é bombardeada nos crânios todos os santos dias.

      O problema é que, apesar de uma miríade indescritível de diversidade de empresas de comunicação social (jornais, rádios, redes sociais, sites, tudo o que se possa imaginar), muitos destes meios são propriedade de um conjunto reduzido de indivíduos que partilham o mesmo tipo de interesses, e as opiniões difundidas são exatamente as mesmas a todo o momento, não permitindo a divergência das pessoas de dois lados ou visões que estão sempre em conflito um com o outro: pro vacina/anti vacina, pro ciência/ anti ciência, pro Ucrânia/ anti Ucrânia, e por aí fora em todos os assuntos mediáticos e políticos da atualidade.

      É futebol político!

      E é tudo derivado do sistema partidário (que na verdade é o sistema do partido único – o partido dos negócios) dos EUA e os seus Republicanos contra Democratas… Quem quer ser bom alinha-se com os Democratas, e quem é retrógrado e mau é Republicano.

      E é assim que vamos avaliando a vida!

      Portanto, todas as discussões que têm lugar no fórum público de informação estão inequivocamente baseadas e fundadas numa falácia (propositadamente, diga-se de passagem), de maneira a que as pessoas continuem distraídas e entretidas para além dos seus filmes e séries (estes em muitas ocasiões já criam e formatam o pensamento das pessoas de maneira a alinhar por um dos lados das controvérsias políticas) e ainda de forma a não prestar atenção ao que é verdadeiramente importante e é a toda a hora escamoteado.

    • É a história de focar a atenção entre a expansão da NATO para leste e a ilegitimidade da “invasão” Russa, focando apenas numa parte dos factos e ignorando (não acuso Chomsky, mas até mesmo Miguel Sousa Tavares só fala da expansão da NATO, assim como outros) a questão dos nacionalismos emergentes e que resultaram num conflito armado ao longo dos últimos 8 anos contra Russófonos do Donbass.

      Ignorando Acordos de Paz, ignorando que os Ucranianos já tinham invadido o Donbass a 16 de Fevereiro, e ainda uma série de outras coisas, que, sendo ignoradas, lançam as pessoas numa discussão inútil da legitimidade ou ilegitimidade da “invasão” quando não foi a expansão da NATO (apenas e somente a expansão, há que referir ainda a questão do memorando de Budapeste e a ameaça de plantar ogivas nucleares na Ucrânia – o que é uma linha vermelha para qualquer ser pensante) que causou todo este conflito em primeiro lugar.

      É a tal coisa: pão e circo.

      Enquanto se digladiam entre eles, estão distraídos, e nós fazemos o que nos apetece!

  2. Excelente entrevista.
    Aqui deixo o original, é sempre mais saboroso:
    “Welcome to a Science-Fiction Planet
    How George Orwell’s Doublethink Became the Way of the World
    BY DAVID BARSAMIAN AND NOAM CHOMSKY
    David Barsamian: Let’s head into the most obvious nightmare of this moment, the war in Ukraine and its effects globally. But first a little background. Let’s start with President George H.W. Bush’s assurance to then-Soviet leader Mikhail Gorbachev that NATO would not move “one inch to the east” — and that pledge has been verified. My question to you is, why didn’t Gorbachev get that in writing?

    Noam Chomsky: He accepted a gentleman’s agreement, which is not that uncommon in diplomacy. Shake-of-the-hand. Furthermore, having it on paper would have made no difference whatsoever. Treaties that are on paper are torn up all the time. What matters is good faith. And in fact, H.W. Bush, the first Bush, did honor the agreement explicitly. He even moved toward instituting a partnership in peace, which would accommodate the countries of Eurasia. NATO wouldn’t be disbanded but would be marginalized. Countries like Tajikistan, for example, could join without formally being part of NATO. And Gorbachev approved of that. It would have been a step toward creating what he called a common European home with no military alliances.

    Clinton in his first couple of years also adhered to it. What the specialists say is that by about 1994, Clinton started to, as they put it, talk from both sides of his mouth. To the Russians he was saying: Yes, we’re going to adhere to the agreement. To the Polish community in the United States and other ethnic minorities, he was saying: Don’t worry, we’ll incorporate you within NATO. By about 1996-97, Clinton said this pretty explicitly to his friend Russian President Boris Yeltsin, whom he had helped win the 1996 election. He told Yeltsin: Don’t push too hard on this NATO business. We’re going to expand but I need it because of the ethnic vote in the United States.

    In 1997, Clinton invited the so-called Visegrad countries — Hungary, Czechoslovakia, Romania — to join NATO. The Russians didn’t like it but didn’t make much of a fuss. Then the Baltic nations joined, again the same thing. In 2008, the second Bush, who was quite different from the first, invited Georgia and Ukraine into NATO. Every U.S. diplomat understood very well that Georgia and Ukraine were red lines for Russia. They’ll tolerate the expansion elsewhere, but these are in their geostrategic heartland and they’re not going to tolerate expansion there. To continue with the story, the Maidan uprising took place in 2014, expelling the pro-Russian president and Ukraine moved toward the West.

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    From 2014, the U.S. and NATO began to pour arms into Ukraine — advanced weapons, military training, joint military exercises, moves to integrate Ukraine into the NATO military command. There’s no secret about this. It was quite open. Recently, the Secretary General of NATO, Jens Stoltenberg, bragged about it. He said: This is what we were doing since 2014. Well, of course, this is very consciously, highly provocative. They knew that they were encroaching on what every Russian leader regarded as an intolerable move. France and Germany vetoed it in 2008, but under U.S. pressure, it was kept on the agenda. And NATO, meaning the United States, moved to accelerate the de facto integration of Ukraine into the NATO military command.

    In 2019, Volodymyr Zelensky was elected with an overwhelming majority — I think about 70% of the vote — on a peace platform, a plan to implement peace with Eastern Ukraine and Russia, to settle the problem. He began to move forward on it and, in fact, tried to go to the Donbas, the Russian-oriented eastern region, to implement what’s called the Minsk II agreement. It would have meant a kind of federalization of Ukraine with a degree of autonomy for the Donbas, which is what they wanted. Something like Switzerland or Belgium. He was blocked by right-wing militias which threatened to murder him if he persisted with his effort.

    Well, he’s a courageous man. He could have gone forward if he had had any backing from the United States. The U.S. refused. No backing, nothing, which meant he was left to hang out to dry and had to back off. The U.S. was intent on this policy of integrating Ukraine step by step into the NATO military command. That accelerated further when President Biden was elected. In September 2021, you could read it on the White House website. It wasn’t reported but, of course, the Russians knew it. Biden announced a program, a joint statement to accelerate the process of military training, military exercises, more weapons as part of what his administration called an “enhanced program” of preparation for NATO membership.

    It accelerated further in November. This was all before the invasion. Secretary of State Antony Blinken signed what was called a charter, which essentially formalized and extended this arrangement. A spokesman for the State Department conceded that before the invasion, the U.S. refused to discuss any Russian security concerns. All of this is part of the background.

    On February 24th, Putin invaded, a criminal invasion. These serious provocations provide no justification for it. If Putin had been a statesman, what he would have done is something quite different. He would have gone back to French President Emmanuel Macron, grasped his tentative proposals, and moved to try to reach an accommodation with Europe, to take steps toward a European common home.

    The U.S., of course, has always been opposed to that. This goes way back in Cold War history to French President de Gaulle’s initiatives to establish an independent Europe. In his phrase “from the Atlantic to the Urals,” integrating Russia with the West, which was a very natural accommodation for trade reasons and, obviously, security reasons as well. So, had there been any statesmen within Putin’s narrow circle, they would have grasped Macron’s initiatives and experimented to see whether, in fact, they could integrate with Europe and avert the crisis. Instead, what he chose was a policy which, from the Russian point of view, was total imbecility. Apart from the criminality of the invasion, he chose a policy that drove Europe deep into the pocket of the United States. In fact, it is even inducing Sweden and Finland to join NATO — the worst possible outcome from the Russian point of view, quite apart from the criminality of the invasion, and the very serious losses that Russia is suffering because of that.

    So, criminality and stupidity on the Kremlin side, severe provocation on the U.S. side. That’s the background that has led to this. Can we try to bring this horror to an end? Or should we try to perpetuate it? Those are the choices.

    There’s only one way to bring it to an end. That’s diplomacy. Now, diplomacy, by definition, means both sides accept it. They don’t like it, but they accept it as the least bad option. It would offer Putin some kind of escape hatch. That’s one possibility. The other is just to drag it out and see how much everybody will suffer, how many Ukrainians will die, how much Russia will suffer, how many millions of people will starve to death in Asia and Africa, how much we’ll proceed toward heating the environment to the point where there will be no possibility for a livable human existence. Those are the options. Well, with near 100% unanimity, the United States and most of Europe want to pick the no-diplomacy option. It’s explicit. We have to keep going to hurt Russia.

    You can read columns in the New York Times, the London Financial Times, all over Europe. A common refrain is: we’ve got to make sure that Russia suffers. It doesn’t matter what happens to Ukraine or anyone else. Of course, this gamble assumes that if Putin is pushed to the limit, with no escape, forced to admit defeat, he’ll accept that and not use the weapons he has to devastate Ukraine.

    There are a lot of things that Russia hasn’t done. Western analysts are rather surprised by it. Namely, they’ve not attacked the supply lines from Poland that are pouring weapons into Ukraine. They certainly could do it. That would very soon bring them into direct confrontation with NATO, meaning the U.S. Where it goes from there, you can guess. Anyone who’s ever looked at war games knows where it’ll go — up the escalatory ladder toward terminal nuclear war.

    So, those are the games we’re playing with the lives of Ukrainians, Asians, and Africans, the future of civilization, in order to weaken Russia, to make sure that they suffer enough. Well, if you want to play that game, be honest about it. There’s no moral basis for it. In fact, it’s morally horrendous. And the people who are standing on a high horse about how we’re upholding principle are moral imbeciles when you think about what’s involved.

    Barsamian: In the media, and among the political class in the United States, and probably in Europe, there’s much moral outrage about Russian barbarity, war crimes, and atrocities. No doubt they are occurring as they do in every war. Don’t you find that moral outrage a bit selective though?

    Chomsky: The moral outrage is quite in place. There should be moral outrage. But you go to the Global South, they just can’t believe what they’re seeing. They condemn the war, of course. It’s a deplorable crime of aggression. Then they look at the West and say: What are you guys talking about? This is what you do to us all the time.

    It’s kind of astonishing to see the difference in commentary. So, you read the New York Times and their big thinker, Thomas Friedman. He wrote a column a couple of weeks ago in which he just threw up his hands in despair. He said: What can we do? How can we live in a world that has a war criminal? We’ve never experienced this since Hitler. There’s a war criminal in Russia. We’re at a loss as to how to act. We’ve never imagined the idea that there could be a war criminal anywhere.

    When people in the Global South hear this, they don’t know whether to crack up in laughter or ridicule. We have war criminals walking all over Washington. Actually, we know how to deal with our war criminals. In fact, it happened on the twentieth anniversary of the invasion of Afghanistan. Remember, this was an entirely unprovoked invasion, strongly opposed by world opinion. There was an interview with the perpetrator, George W. Bush, who then went on to invade Iraq, a major war criminal, in the style section of the Washington Post — an interview with, as they described it, this lovable goofy grandpa who was playing with his grandchildren, making jokes, showing off the portraits he painted of famous people he’d met. Just a beautiful, friendly environment.

    So, we know how to deal with war criminals. Thomas Friedman is wrong. We deal with them very well.

    Or take probably the major war criminal of the modern period, Henry Kissinger. We deal with him not only politely, but with great admiration. This is the man after all who transmitted the order to the Air Force, saying that there should be massive bombing of Cambodia — “anything that flies on anything that moves” was his phrase. I don’t know of a comparable example in the archival record of a call for mass genocide. And it was implemented with very intensive bombing of Cambodia. We don’t know much about it because we don’t investigate our own crimes. But Taylor Owen and Ben Kiernan, serious historians of Cambodia, have described it. Then there’s our role in overthrowing Salvador Allende’s government in Chile and instituting a vicious dictatorship there, and on and on. So, we do know how to deal with our war criminals.

    Still, Thomas Friedman can’t imagine that there’s anything like Ukraine. Nor was there any commentary on what he wrote, which means it was regarded as quite reasonable. You can hardly use the word selectivity. It’s beyond astonishing. So, yes, the moral outrage is perfectly in place. It’s good that Americans are finally beginning to show some outrage about major war crimes committed by someone else.

    Barsamian: I’ve got a little puzzle for you. It’s in two parts. Russia’s military is inept and incompetent. Its soldiers have very low morale and are poorly led. Its economy ranks with Italy’s and Spain’s. That’s one part. The other part is Russia is a military colossus that threatens to overwhelm us. So, we need more weapons. Let’s expand NATO. How do you reconcile those two contradictory thoughts?

    Chomsky: Those two thoughts are standard in the entire West. I just had a long interview in Sweden about their plans to join NATO. I pointed out that Swedish leaders have two contradictory ideas, the two you mentioned. One, gloating over the fact that Russia has proven itself to be a paper tiger that can’t conquer cities a couple of miles from its border defended by a mostly citizens’ army. So, they’re completely militarily incompetent. The other thought is: they’re poised to conquer the West and destroy us.

    George Orwell had a name for that. He called it doublethink, the capacity to have two contradictory ideas in your mind and believe both of them. Orwell mistakenly thought that was something you could only have in the ultra-totalitarian state he was satirizing in 1984. He was wrong. You can have it in free democratic societies. We’re seeing a dramatic example of it right now. Incidentally, this is not the first time.

    Such doublethink is, for instance, characteristic of Cold War thinking. You go way back to the major Cold War document of those years, NSC-68 in 1950. Look at it carefully and it showed that Europe alone, quite apart from the United States, was militarily on a par with Russia. But of course, we still had to have a huge rearmament program to counter the Kremlin design for world conquest.

    That’s one document and it was a conscious approach. Dean Acheson, one of the authors, later said that it’s necessary to be “clearer than truth,” his phrase, in order to bludgeon the mass mind of government. We want to drive through this huge military budget, so we have to be “clearer than truth” by concocting a slave state that’s about to conquer the world. Such thinking runs right through the Cold War. I could give you many other examples, but we’re seeing it again now quite dramatically. And the way you put it is exactly correct: these two ideas are consuming the West.

    Barsamian: It’s also interesting that diplomat George Kennan foresaw the danger of NATO moving its borders east in a very prescient op-ed he wrote that appeared in The New York Times in 1997.

    Chomsky: Kennan had also been opposed to NSC-68. In fact, he had been the director of the State Department Policy Planning Staff. He was kicked out and replaced by Paul Nitze. He was regarded as too soft for such a hard world. He was a hawk, radically anticommunist, pretty brutal himself with regard to U.S. positions, but he realized that military confrontation with Russia made no sense.

    Russia, he thought, would ultimately collapse from internal contradictions, which turned out to be correct. But he was considered a dove all the way through. In 1952, he was in favor of the unification of Germany outside the NATO military alliance. That was actually Soviet ruler Joseph Stalin’s proposal as well. Kennan was ambassador to the Soviet Union and a Russia specialist.

    Stalin’s initiative. Kennan’s proposal. Some Europeans supported it. It would have ended the Cold War. It would have meant a neutralized Germany, non-militarized and not part of any military bloc. It was almost totally ignored in Washington.

    There was one foreign policy specialist, a respected one, James Warburg, who wrote a book about it. It’s worth reading. It’s called Germany: Key to Peace. In it, he urged that this idea be taken seriously. He was disregarded, ignored, ridiculed. I mentioned it a couple of times and was ridiculed as a lunatic, too. How could you believe Stalin? Well, the archives came out. Turns out he was apparently serious. You now read the leading Cold War historians, people like Melvin Leffler, and they recognize that there was a real opportunity for a peaceful settlement at the time, which was dismissed in favor of militarization, of a huge expansion of the military budget.

    Now, let’s go to the Kennedy administration. When John Kennedy came into office, Nikita Khrushchev, leading Russia at the time, made a very important offer to carry out large-scale mutual reductions in offensive military weapons, which would have meant a sharp relaxation of tensions. The United States was far ahead militarily then. Khrushchev wanted to move toward economic development in Russia and understood that this was impossible in the context of a military confrontation with a far richer adversary. So, he first made that offer to President Dwight Eisenhower, who paid no attention. It was then offered to Kennedy and his administration responded with the largest peacetime buildup of military force in history — even though they knew that the United States was already far ahead.

    The U.S. concocted a “missile gap.” Russia was about to overwhelm us with its advantage in missiles. Well, when the missile gap was exposed, it turned out to be in favor of the U.S. Russia had maybe four missiles exposed on an airbase somewhere.

    You can go on and on like this. The security of the population is simply not a concern for policymakers. Security for the privileged, the rich, the corporate sector, arms manufacturers, yes, but not the rest of us. This doublethink is constant, sometimes conscious, sometimes not. It’s just what Orwell described, hyper-totalitarianism in a free society.

    Barsamian: In an article in Truthout, you quote Eisenhower’s 1953 “Cross of Iron” speech. What did you find of interest there?

    Chomsky: You should read it and you’ll see why it’s interesting. It’s the best speech he ever made. This was 1953 when he was just taking office. Basically, what he pointed out was that militarization was a tremendous attack on our own society. He — or whoever wrote the speech — put it pretty eloquently. One jet plane means this many fewer schools and hospitals. Every time we’re building up our military budget, we’re attacking ourselves.

    He spelled it out in some detail, calling for a decline in the military budget. He had a pretty awful record himself, but in this respect he was right on target. And those words should be emblazoned in everyone’s memory. Recently, in fact, Biden proposed a huge military budget. Congress expanded it even beyond his wishes, which represents a major attack on our society, exactly as Eisenhower explained so many years ago.

    The excuse: the claim that we have to defend ourselves from this paper tiger, so militarily incompetent it can’t move a couple of miles beyond its border without collapse. So, with a monstrous military budget, we have to severely harm ourselves and endanger the world, wasting enormous resources that will be necessary if we’re going to deal with the severe existential crises we face. Meanwhile, we pour taxpayer funds into the pockets of the fossil-fuel producers so that they can continue to destroy the world as quickly as possible. That’s what we’re witnessing with the vast expansion of both fossil-fuel production and military expenditures. There are people who are happy about this. Go to the executive offices of Lockheed Martin, ExxonMobil, they’re ecstatic. It’s a bonanza for them. They’re even being given credit for it. Now, they’re being lauded for saving civilization by destroying the possibility for life on Earth. Forget the Global South. If you imagine some extraterrestrials, if they existed, they’d think we were all totally insane. And they’d be right.

    Copyright 2022 Noam Chomsky and David Barsamian

    Featured image: George Orwell’s 1984 by Dandelion Salad is licensed under CC BY-NC-ND 2.0 / Flickr

    David Barsamian is the founder and host of the radio program Alternative Radio and has published books with Noam Chomsky, Arundhati Roy, Edward Said, and Howard Zinn, among others. His latest book with Noam Chomsky is Chronicles of Dissent (Haymarket Books, 2021) Alternative Radio, established in 1986, is a weekly one-hour public-affairs program offered free to all public radio stations in the United States, Canada, and Europe.

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    Noam Chomsky is institute professor (emeritus) in the Department of Linguistics and Philosophy at the Massachusetts Institute of Technology and laureate professor of linguistics and Agnese Nelms Haury chair in the program in environment and social justice at the University of Arizona. He is the author of numerous best-selling political books, which have been translated into scores of languages, including most recently Optimism Over Despair, The Precipice and, with Marv Waterstone, Consequences of Capitalism.

  3. «A 24 de Fevereiro, Putin invadiu, e isto é uma invasão criminosa. Estas sérias provocações não fornecem qualquer justificação para a invasão. Se Putin tivesse sido um estadista, o que ele teria feito teria sido algo bastante diferente. Teria voltado para o Presidente francês Emmanuel Macron, agarrado as suas propostas provisórias, e mudou-se para tentar chegar a um apoio com a Europa, para tomar medidas em direção a uma casa comum europeia.

    (…)

    Portanto, criminalidade e estupidez do lado do Kremlin, provocação severa do lado dos EUA. Foi esse o pano de fundo que levou a isto. Será que podemos tentar pôr fim a este horror? Ou devemos tentar perpetuá-lo? Essas são as escolhas.

    (…)

    Entrevistador: há muita indignação moral sobre a barbaridade russa, crimes de guerra, e atrocidades.

    O escândalo moral está no seu devido lugar. Deveria haver uma indignação moral.

    »

    Esta é uma boa síntese. Note-se que, neste caso concreto, Chomsky não atribui as responsabilidades de forma simétrica: os EUA são irresponsáveis, Putin é um criminoso de guerra. Tudo isto sem deixar de condenar outros crimes de guerra cometidos pelos responsáveis norte-americanos noutros contextos.

    O que Chomsky curiosamente não faz, porque é honesto, concordemos ou não com ele, é desculpar ou minimizar os crimes de Putin na invasão da Ucrânia com o pretexto de que os outros também cometeram muitos crimes.

    • O que Chomsky faz, e muito inteligentemente bem, é adaptar-se aos tempos e à propaganda para fazer valer a sua sardinha que assa na brasa provocada por outros.

      Infelizmente, já não estamos nos bons velhos tempos – não me acredito que se possa dizer uma coisa destas – do Vietname, da Guatemala nos anos 50, ou da Nicarágua no tempo de Reagan (tem de ser uma lista abreviada, senão nunca mais saímos daqui), nos quais ainda havia a possibilidade de se reconhecer que os EUA recorriam a golpes de estado, mudanças de regime e apoio a ditadores e grupos fascistas para se apropriarem de territórios que viravam a sua atenção para o que saía das alianças com partidos e políticas de esquerda – o que, naturalmente, impediria os EUA de se apropriarem dos seus recursos (é a velha história da República das Bananas).

      Chomsky já não pode reconhecer abertamente que os EUA são maus e os outros só procedem da maneira a que os EUA os forçaram.

      Refiro o seguinte vídeo, a propósito de uma entrevista acerca do Vietnam, no qual Chomsky traz à colação (ou talvez seja o entrevistador, não me recordo) muito ao de leve o que aconteceu na Grécia após a Segunda Guerra Mundial.

      https://m.youtube.com/watch?v=9DvmLMUfGss&t=2002s

      Acontece que a Grécia era assolada por fascistas plantados pelos EUA – tudo isto dito por Chomsky -, sendo que os comunistas, na época, andavam a lutar contra e a matar esses mesmos fascistas, e os EUA acabaram por intervir no país (ilegitimamente) e a coisa teve um desfecho desagradável – para os comunistas, claro (para além de serem mortos, até foram acusados de genocídio ou algo assim).

      Nem tão pouco ele já pode apoiar alguém como o terrível “ditador” da Nicarágua dos anos 80, líder da FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional), que se tornou Presidente do país após o derrube duma ditadura de 40 anos imposta pelos EUA, resultando numa guerra civil entre a FSLN e os Contras (apoiados pelos EUA através da venda de crack nos próprios EUA e da venda ilegal de armas ao Irão – o mesmo Irão que agora é um problema, bem dizia o outro “um dia é branco, outro dia é negro, e amanhã já não é nada”) e que resultou, ao cabo de quase 10 anos de conflito, na instauração como Presidente do País duma senhora chamada Violeta Barrios Chamorro (que implantou novamente a ditadura), filha dum rancheiro, que tinha sido educada nos estados da Virgínia e do Texas.

      Se quiser saber o que os EUA fazem, recomendo este vídeo da jornalista Abby Martin e este canal em si.

      https://m.youtube.com/watch?v=dCAllpgJeR4&t=125s

      Resumindo, se Chomsky disser uma palavra de apoio aos “ditadores” que, pelos vistos, aumentaram avonde desde o tempo de Hitler – já perdi a conta em quantos Hitlers é que já vamos desde o fim da Segunda Guerra (sem contar com aquele Hitler, assim nomeado por Tony Blair em 1999, que foi exonerado em 2016 pelo Tribunal Penal Internacional depois de morrer na prisão sem cuidados médicos para tratar um enfarte porque os EUA assim o quiseram – falo de Milosevic, o suposto “genocida” da Albânia) -, acontece-lhe o que aconteceu a outros: fica sem plataforma e é censurado no seu país.

      Se achar que não, pergunto-lhe o seguinte: conhece o nome de Michael Parenti ?

      Portanto, tendo tudo isto em conta, será suficiente para o convencer de que talvez não haja assim tantos ditadores quanto isso, e que as “atrocidades” cometidas pelo outro lado são cometidas precisamente contra aqueles que já andavam a cometer atrocidades há muito tempo ? Neste caso, Nazis.

      O histórico que comprova este tipo de situações, no fim de contas, é bem longo.

      Ainda existe uma coisa chamada agir em defesa própria.

    • No fundo, acaba por ser a velha história do Pedro e o Lobo.

      Passam a vida a gritar “ditador”, “genocídio”, “violação de direitos humanos”, assim como democracia e liberdade.

      O problema é que quando vier lobo, ninguém vai acreditar… Talvez porque já ninguém saiba o que isso é com tanto pretenso lobo que anda por aí fora!

    • Quanto a Macron e às suas “propostas provisórias”, elas já existiam há oito anos e chamavam-se Acordos de Paz de Minsk, assinados em 2015 pela Rússia, Ucrânia, Alemanha e França.

      Não, o problema de Putin não foi não aceitar as medidas provisórias – que, no fundo, só serviam para adiar uma resposta de Putin à invasão que já estava a decorrer desde o dia de 16 de Fevereiro às Repúblicas do Donbass pelos Nazis do Batalhão Azov, Setor Direito e outros que tais (ver relatório da OSCE que comprova os 2000 bombardeamentos diários nos quatro dias precedentes à “invasão” Russa, resultado de um incremento nas hostilidades por parte dos Ucranianos desde o dia 16 de Fevereiro) que era para a BlitzkKrieg dos heróis Patrióticos, adoradores do Stepan Bandera, ser coroada de glória por matar civis indefesos, mas, ainda assim, “pretos da neve” -, o problema de Putin sempre foi a sua paciência bonacheirona para com os irreverentes líderes Ocidentais que a cada momento acusavam as propostas de cooperação como sendo fatuidades despiciendas.

      O problema do “delfim dos Campos Elísios”, daquele Pulcro Serafim caído das alturas dos paraísos dos bancos financeiros e das evasões fiscais, e daquele Palácio que já há algum tempo anda a deitar excrementos fétidos pela França fora, é achar que é um Charles de Gaulle do século XXI – o problema aqui é que lhe falta o nariz, o boné, a inteligência, a honradez, a humanidade, a vontade política, a honestidade intelectual para com os seus cidadãos e os Europeus e uma retirada do seu país da NATO.

      E falta-lhe também não ser um lacaio, um truão dos Rothschilds.

      Para concluir outro assunto, o problema de Chomsky é que ele nem se pode atrever a mencionar Nazis na Ucrânia – comprovados por agências noticiosas desse mundo e Organizações como a Amnistia Internacional, Human Rights Watch – e só se pode cingir à expansão a leste da NATO, como se tivesse sido APENAS isso a provocar este conflito.

      Não vamos falar da ideia de colocar ogivas nucleares na Ucrânia, em violação do Memorando de Budapeste de 1994, sendo que isso seria o equivalente a colocar navios da Marinha Espanhola a bloquear o Tejo com os seus canhões apontados para a Assembleia da República e ainda prontos a largar bombas no Rossio…

    • Para finalizar, ninguém deste Blog alguma vez pretendeu sequer de forma alguma desculpar ou minimizar crimes de guerra de Putin sob o pretexto de outros terem cometido crimes de guerra.

      O que se tem feito neste blog é demonstrar a hipocrisia de se afirmar que Putin é um criminoso de guerra por índole própria, quando tanto ele como a Federação Russa foram provocados ao longo de oito anos seguidos (para não dizer 30) por apoios militares a milícias nazis que andavam a matar populações étnicas indiscriminadamente.

      Ora, focar os “crimes de guerra de Putin” (e já explico porquê é que ponho isto entre aspas) e, por outro lado, escamotear estes factos gritantes é ser-se hipócrita na melhor das hipóteses.

      Segundo lugar, que crimes de guerra ? Antes de avançar mais, concordamos numa coisa: todas as mortes civis são trágicas e qualquer guerra é um atentado ao coletivo da Humanidade.

      Por outro lado, não vamos fingir, tal como Chomsky não finge, que nós somos aqui uns purinhos que condenam a guerra, mas que, no entretanto, vão inundado um palco de guerra com armas em vez de o inundarem com diplomatas.

      O próprio Chomsky reconhece que a Europa e os EUA não querem saber dos Ucranianos para nada, patente no facto da palavra “diplomacia” não entrar sequer no seu vocabulário bélico de cimeiras de NATO, em que aceitam países nórdicos através do declarar como “terroristas” outros povos étnicos perseguidos (boa).

      Algo que os russos estavam mais do que dispostos a fazer desde há oito anos – negociar, portanto.

      Agora pergunta-se: acha que a paciência é infinita mediante o apoio flagrante e abjeto a organizações e aparelhos de estado nazis que tinham o intuito de desestabilizar a zona fronteiriça da Rússia ? Não, essa paciência esgota-se, da mesma forma que a paciência da Resistência Francesa não estava preocupada em “condenar os crimes de guerra” dos seus militantes na Segunda Guerra Mundial.

      Em seguida, quantos civis morreram nesta guerra ? A última vez que verifiquei os números Oficiais da ONU andava nos 4000, e agora ? Andará nos 5000 ? (Nem vou falar dos milhões de mortos em guerras da NATO/EUA nos últimos 20/30 anos…)

      Já agora, porque é que nós achamos que estamos numa posição moral, qualquer que ela seja, para condenar seja o que for quando, neste preciso momento, bloqueamos reservas de ouro do Afeganistão, o que resulta na morte de crianças à fome, quando fomos nós que bombardeámos casamentos e repórteres da Reuters, quando temos preso, ILEGALMENTE E SEM JULGAMENTO NUMA PRISÃO BRITÂNICA, o mesmo repórter que relatou e denunciou estas práticas e crimes de guerra, indo esse repórter de reboque para os EUA para servir uma sentença de prisão de até 175 anos, sendo que, muito provavelmente, vai morrer ao fim de duas semanas, quando sancionamos o bloqueio a portos Iemenitas e o genocídio desse mesmo povo, quando impômos sanções a Cuba (considerado como ilegal e um mecanismo de guerra económica pela ONU), Venezuela (para não falar do roubo de reservas de ouro) e tantas outras nações com o intuito de as enfraquecer porque não gostamos da forma como conduzem a sua política interna ?

      Enquanto isso, pense que na Comunicação Social Ocidental só há referência a bombardeamentos de instalações militares Ucranianas, cujos fogos depois alastram a Centros Comerciais (aqui eu questionar-me-ia sobre o porquê de uma fábrica de mísseis estar ao lado dum Centro Comercial, mas tudo bem), todavia não há referências aos inúmeros bombardeamentos dos Ucranianos com Howitzers e mísseis fornecidos pelo Ocidente a zonas residenciais, escolas, hospitais e edifícios administrativos de territórios libertados das Repúblicas Autónomas, assim como a aldeias no interior da fronteira Russa (matando camponesas grávidas), onde não existia sequer por quilómetros a presença de tropas russas.

      Pois é, e olhe que não morrem poucas pessoas nesses bombardeamentos. Crianças, até.

      Agora pergunto: a diplomacia é só para os Ucranianos ? Olhe que foi o que aconteceu nos últimos 8 anos, e veja só onde chegámos!

      Quer condenar uma guerra ? Muito bem. Então condene tudo acerca da guerra e não apenas aquilo que dá jeito.

      Eu sou completamente a favor da PAZ, porque o prolongar deste conflito vai doer na pele de muita gente, já para não mencionar que os conflitos armados afetam sempre os mesmos: o Zé povinho.

      Mas não vamos fingir que Putin é um malvado imperialista, apenas porque está a combater nazis na fronteira do seu país e a defender populações indefesas, enquanto uma aliança militar encabeçada por uma potência atlântica instigou e acirrou divisões internas a um país ao longo de anos e anda a fomentar esse conflito agora mesmo com o envio de armas, enquanto “condena a guerra”, a milhares de KM das suas fronteiras…

      Mais uma vez: condenar a guerra ? Bravo! Então não vamos só falar em Putin.

      Porque senão também somos obrigados a condenar a intervenção Russa na Segunda Guerra Mundial contra os nazis, assim como a dos Franceses, Belgas, Ingleses, Americanos, Indianos (sim, sim! Eles combateram na Segunda Guerra, viram o seu país explorado por recursos durante a mesma pelo herói racista do Churchill e ainda tiveram que levar com a conta em cima!!!) e outros que tais, porque combateram numa guerra e mataram pessoas.

      https://m.youtube.com/watch?v=f7CW7S0zxv4&t=761s

      Por último, achar que se pode fazer uma guerra sem baixas civis ou destruição de alguma infraestrutura é simplesmente ingénuo.

      Diga isso aos Americanos e a Al-Raqqa em 2017: bombardearam a cidade com o intuito de matar terroristas. Encurralaram a população lá dentro (250.000 pessoas ao todo). Ao cabo de quatro meses restavam 45.000 pessoas na cidade, sendo que esta ficou completamente dizimada. No final, os Americanos deixaram os terroristas escapar por um corredor humanitário aberto pelos mesmos americanos que os queriam mortos.

      Bravo.

      E é esta a gente que anda a condenar guerras ?

      E se o objetivo era não matar pessoas, porque é ao longo dos últimos oito anos apoiámos nazis que faziam precisamente isso ?

      E onde esteve e está esta preocupação pelos Russófonos do Donbass ao longo de oito anos e agora mesmo que ainda continuam a levar com mísseis nos seus prédios ?

      (Pelos vistos ainda não acabei.)

      Quanto a crimes de guerra, digamos o seguinte: depois das torpes acusações e encarceramento sancionado e exigido pela NATO contra Slobodan Milosevic, não volto a confiar em absolutamente ninguém que seja ocidental para me dizer que X ou Y anda a cometer crimes de guerra.

      Nunca mais.

      Daqui em diante, aguardo as deliberações do Tribunal Penal Internacional, nem que demorem 17 anos, como foi o caso de Slobodan Milosevic.

      Neste momento estão abertas investigações a propósito da Líbia, Geórgia (2008, imagine) e Ucrânia.

      Quando saírem todas essas deliberações, podemos falar em crimes de guerra.

      Até lá, não quero ouvir falar disso, porque isso é propaganda que não ajuda de forma alguma ao término do conflito que foi iniciado e instigado – porque factualmente comprovado (ao contrário de alegações de crimes de guerra, seja por Russos ou Ucranianos) – por EUA, NATO, Nazis do Batalhão Azov e UE, com a subserviência e complacência destes últimos enquanto assistiam plácidos ao não cumprimento com Acordos de Paz de Minsk (assinados pelas suas duas maiores nações – Alemanha e França).

      Se daqui a 30 anos disserem: “os Russos cometeram crimes de guerra. Devem pagar reparações de guerra.”

      Muito bem, vamos embora a responsabilizá-los!

      Agora, adianta alguma coisa andar a atirar acusações infundadas ao invés de se estar focado no processo diplomático ?

      Não.

      O que é factual é factual. O contexto que levou a este conflito é factual.

      O resto é acessório e é domínio das organizações idóneas e independentes que vão determinar e averiguar o que aconteceu ou não.

      Cumprimentos.

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