Aventuras e desventuras do R

(Amadeu Homem, 14/04/2021)

A Oposição virou-se, toda fula e colérica, para o governo e para o PR e disse: – Outro estado de emergência? Mas que pouca vergonha é esta? Atrevem-se a propor outro estado de emergência?

O governo meteu os olhos no chão; o PR tossicou e prometeu beijos. Foi o Costa que quebrou o enleio, declarando, muito tímido: – É o R, é a subida do R.

A Oposição franziu a testa e replicou:

– E quem criou o R senão vocês?

– Nós? – Interrogaram-se em uníssono o PR e o governo.

– Eu uso sempre máscara e até já deixei de beijocar – advertiu o PR.

– Eu deixei de ir à Índia e renunciei aos restaurantes – obtemperou o governo.

– Não queremos saber nada disso. Isso do R, e dos casos novos da pandemia, e dos internamentos, e dos cuidados intensivos, não é connosco. É tudo com os Senhores, que são incompetentes e não tomam as medidas mais corretas.

– Mas eu já não beijoco – obstou o PR.

– E eu já só como sandes trazidas pela Uber Eats – lamentou-se o Costa.

– Não queremos tomar conhecimento de nada disso. Ficam a saber que esta nossa permissividade acabará! Este é o último estado de emergência, ouviram bem? – Ganiram, em uníssono, o PCP e o BE e a Iniciativa Libérrima, e o Ventura Auschwitz e, mais baixo, o Canto-que-eu-Rio!

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– Mas… mas… mas… – disse o Costa, muito à rasca. Não fomos nós que fizemos festas clandestinas, e que nos juntámos na praia, e que fomos em magote fazer surf à Caparica, e que andámos a saltar de concelho em concelho, e que juntámos a família de quarenta pessoas nas almoçaradas de Páscoa, e que…

– Cale-se, tenha vergonha, incompetente, dissoluto – gritou o Canto-que eu-Rio.

– Monhé ! – ganiu o Auschwitz.

– Comunista, estalinista, amigo dos cubanos – uivou o Libérrimo.

– Eu juro que não voltei a oscular velhinhas e putos ranhosos – assegurou o PR.

– Calem-se ambos. E já! – Acrescentou a Catarina Deseufémia, muito hirta e nervosa.

Todos repetiram em coiro, digo, em coro:

– Este será último estado de emergência. Os portugueses têm o direito democrático de se infetarem em liberdade e com todas as garantias cívicas!

– Vou regressar a Goa – disse baixinho o Costa.

– Vou disputar o lugar do Marques Minorca – declarou quase inaudivelmente o nadador do Tejo.

Fez-se depois um denso silêncio, só quebrado pelo R, a subir pela escada, digo, pela escala acima.


2 pensamentos sobre “Aventuras e desventuras do R

  1. Parece que o R(t) já terá começado a descer pela escada abaixo, de acordo com o último relatório do INSA (http://www.insa.min-saude.pt/wp-content/uploads/2021/04/Report_covid19_16_04_2021.pdf).

    Tal como aconteceu desde 4 de Janeiro até 10 de Fevereiro. Mas, é claro, só aquilo que sobe é notícia, com os cumprimentos da gerência que confessa fidelidade à narrativa imposta pela “mão invisível” que nada tem a ver com os lobbies das vacinas, que fique bem claro. Aliás, todo este parágrafo é negacionista e fruto de teorias da conspiração. What else?

  2. Outras coisas que a dupla marcelo & costa não fizeram foi:
    1. Testar massivamente
    2. Contratar (atempadamente) pessoal suficiente para detetar, rastrear e quebrar as cadeias de contágio
    3. Contratar atempadamente profissionais de saúde suficientes para cobrir as perdss do sns ao longo dos últimos vinte anos.
    4. Adquirir (atempadamente) vacinas suficientes para vacinar massivamente a população
    E mais se poderia dizer sobre os latidos do autor do post.

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