(António Guerreiro, in Público, 19/02/2021)

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Como Evitar um Desastre Climático é o título do último livro de Bill Gates, publicado simultaneamente em vários países (incluindo Portugal). A um “optimista global”, com projectos globais e riqueza global, deve corresponder um livro global com recepção global. Numa entrevista ao PÚBLICO (feita por Patrícia Carvalho e Pedro Rios) publicada na passada segunda-feira, o fundador da Microsoft reafirma que é preciso interromper o desastre climático iminente. Como bom optimista, Gates acredita que estamos a tempo de evitá-lo, eliminando as emissões de gases com efeito de estufa, conseguindo chegar ao nível zero das emissões de dióxido de carbono, sem no entanto “mudar o nível de vida dos países ricos”. Isso, diz ele, “não resolve as alterações climáticas”. E para encerrar o seu pensamento benemérito acrescenta que não se pode subtrair aos países pobres ou em vias de desenvolvimento o objectivo de chegar ao patamar dos países ricos. Como é que se consegue este resultado prodigioso? Através da inovação, diz este “optimista em relação à inovação”.
Para o cumprimento deste programa, o ecologista ecuménico Bill Gates evita qualquer palavra que evoque, nem que seja ao de leve, uma ecologia política. Sobretudo, nada de ecologia política, já que as mudanças necessárias reclamam outra coisa: as forças prometeicas da inovação tecnológica. Podem, pois, todos os poderes e decisores políticos estar descansados que pelo lado da mecenática Fundação Gates não há adversários nem inimigos a identificar e a combater, há apenas investimentos bilionários a fazer. E eles são, afinal, muitas vezes empresariais e lucrativos, embora cobertos pelo doce manto do Grande Mecenas.
Inovar, fazer, construir. Bill Gates é o exemplo extremo da categoria dos geo-construtivistas (sirvo-me de um conceito que o filósofo francês Frédéric Neyrat usa e desenvolve em La part incontructible de la Terra. Critique du géo-constructivisme). O seu optimismo emerge da convicção de que o que há a fazer para evitar um desastre ecológico é reciclar o projecto da modernidade científica, refazer o que foi mal feito com os instrumentos que a ciência e a ficção científica nos fornecem, reconstruir o que foi erradamente construído. Se os homens conquistaram o poder imenso de fazer mal à Terra, se esse superpoder até se tornou a força que determinou a entrada numa nova era geológica que dois cientistas, Paul Crutzer (falecido no mês passado) e Eugene Stoermer, baptizaram com o nome de Antropoceno, então também têm o poder de a reparar. Como? Através de projectos de geo-engenharia em grande escala.
Na sua última crónica no Diário de Notícias, intitulada Os Donos Disto Tudo, Viriato Soromenho-Marques, com o seu reconhecido saber nestas matérias (em que é também, entre nós, pioneiro), relatava uma experiência que terá lugar em Junho, na cidade sueca de Kiruna, dando início à realização de um projecto de geo-engenharia (ou, como prefere a Academia das Ciências dos Estados Unidos, de “intervenção climática”). Esse programa, informa-nos Viriato Soromenho-Marques, é financiado por Bill Gates, um dos “donos disto tudo”. Com esse projecto, “designado pelo acrónimo SCoPEx, que pode ser traduzido para português como ‘experiência de perturbação estratosférica controlada’ (…) o que se pretende é disseminar partículas não tóxicas de carbono de cálcio (CaCO3) para avaliar a sua capacidade de diminuir a radiação solar (…), tentando deste modo indirecto contrariar o processo do aquecimento global” (explica V. S.-M.;). Um mundo regido por este espírito da engenharia climática (que, de resto, já Paul Crutzer tinha inaugurado com um célebre artigo de 2006, onde propunha que se injectasse enxofre na estratosfera para aumentar o poder reflector) é um mundo de pesadelo, até no plano geo-político, porque não prevê os efeitos secundários e involuntários nem tem em conta as diversidades locais: é um projecto de globalização climática, em que a Terra seria dotada de um termostato globalmente regulado pelos geo-construtivistas que transformam o nosso planeta numa máquina que pode ser pilotada por quem tem um poder absoluto. Com o seu optimismo sinistro de feição filantrópica, Bill Gates cauciona um grito triunfante para ser ouvido em todos os cantos desta nossa nave posta nos eixos: Welcome to the climate engineering!

-Bem, se não for pela tecnologia como é que se vai resolver a questão climática num mundo com oito mil milhões de habitantes, dentro em pouco com uns dez mil milhões?
Pomos tudo a pão e água, a andar a pé e deitar-se ao anoitecer porque se proíbe a luz elétrica?
Que solução miraculosa a política pode apresentar sem se apoiar na tecnologia?
-O caso Caupers é bem elucidativo de que acusarem o Ventura de fascista por coisas que gente de todos os quadrantes politicos faz é leviano.
O Caupers é claramente homofóbico e é do PS.
Neste mesmo blogue temos um comunista que passa o tempo todo em constantes insultos homofóbicos com o entusiasta aplauso da estátua que também é comunista.
Depois só o Ventura é fascista…
Se ele for por causa de coisas deste género, então vocês todos são social-fascistas.
Cala-te e deixa-te de mariquices, fascista.
🙁
E que mais recursos científicos devemos rejeitar no nosso dia a dia? Deverão as igrejas retirar os pára-raios? Abandonar a energia atómica? Recusamos as vacinas?
Quando C. P. Snow ponderou a questão das duas culturas, não desvalorizou nenhuma delas. E não é por ser mais versado numa delas que deixo de respeitar a outra.