Emergência e tal e coisa

(José Gabriel, 18/03/2020)

Não faltaram aqui piadas e caricaturas – e também debate sério – dirigidas aos que de nós apresentaram sérias reservas em relação à instauração de estado de emergência.

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Não, gente, não é o medo de regresso de Salazar, do fascismo, nem sequer medo de esse acto não ter cobertura democrática ou constitucional. É que a realidade, sendo o único lugar onde se pode comer um bife – como dizia o Woody – também é onde se concretizarão as interpretações mediáticas abusivas e manipuladoras – agora mesmo, na TVI24, um painel composto pelos ilustres virilogistas Paulo Portas, Lobo Xavier , Manuela Ferreira Leite, Garcia Pereira, um tal de Medina vagamente autarca, e outros figurões provam (em maior ou menor grau, quero ser justo) o porquê deste receio -, os ataques a direitos laborais, os abusos de poder dos labregos regionais, dos fardados de várias fardas, de todos os idiotas arvorados a executores de medidas estabelecidas e, pior, das que eles acham que foram estabelecidas.

A comunicação social, em estado de êxtase, adopta a linguagem bélica do presidente e outros políticos. Destes, não faltam os que, de queixo erguido e olhos no infinito, para parecerem iluminados, fazem tudo para vender aos seus concidadãos as suas capacidades de mando.

Do meio médico, preferirão ouvir o bastonário da Ordem e as suas desbragadas declarações a médicos a sério com preocupações a sério e sem outras agendas.

O discurso de Costa não dizia nada disto? Pois não, mas ele perderá mão de muitas situações, tanto mais quanto elas se afastem do grande quadro normativo, como já se está a ver; e ainda agora estamos no princípio.

Do ponto de vista formal e constitucional não há nada a dizer do estado de emergência? Concedo. Mas o princípio da realidade aí está para vos arrefecer o do prazer; e os gordorosos figurões que muito ganharam com a última crise perfilam-se para cevar na próxima. E se não estivermos vigilantes, poderemos pagar um alto preço.

Regresso do fascismo e outros fantasmas? Não. Os fantasmas não assustam mas, como dizia a canção, há homens que metem medo. Não teremos nenhum Salazar, calma. Teremos é – como diria o Pimenta – grandes e pequenos filhos da puta. E, como se sabe, e também nos ensina o poeta, nenhum filho da puta – grande, médio ou pequeno – prescindirá do poder a que puder deitar a mão.


7 pensamentos sobre “Emergência e tal e coisa

  1. Um tipo tem é que ter medo é da vinda do PCP, isso sim assusta cada vez mais! Estar ao lado dos toureiro e respectiva indústria e estarem.se a cagar para a saúde das pessoas. Tem que se lhe diga!

  2. Também leste o grande Pimenta e o seu monumental Discurso sobre o Filho da Puta ?
    Grande livro,essencial livro que devia ser obrigatório na Escola Primária !!!
    Cada hora a importância desse tratado cresce, e, quem não o leu pode considerar que está,desde sempre, NU !!!

  3. Quando ocorreram os grandes incêndios em que morreram dezenas/centenas de pessoas não se passou nada, agora morreram uma/duas pessoas decretam o estado de emergência e dizem que é uma calamidade.

    Estão a avançar para a destruição da República, do Estado de Direito, e das Liberdades Civis, com o pretexto de um vírus numa época em que é normal morrerem dezenas, centenas, milhares de pessoas por causa da gripe.

    Os cidadãos Portugueses têm de reflectir sobre tudo isto, o ataque cobarde que está a ser efectuado pelos saudosos da monarquia e da ditadura do Estado Novo bem como pelos herdeiros do 25 de Novembro de 1975, contra a República, a Democracia, e a Liberdade Individual dos cidadãos, não tem qualquer tipo de justificação.

    Uma coisa é certa, os cidadãos Portugueses podem dissipar qualquer dúvida que tivessem sobre o governo, a Presidência da República, os anteriores governos, e os partidos que estão ou estiveram na Assembleia da República (AR).

    A partir de hoje, a abstenção está legitimada.

    • E 1 a 2 milhões todos ao mesmo tempo, a serem enterrados em valas comuns como noutros países, também seria normal? É, de facto, apenas uma gripezinha, só que extremamente infecciosa e à qual ninguém tem imunidade ou remédio – isto diz mais do nosso desprezo da seriedade da gripe do que da resposta à Covid19.

  4. Para este assunto, chamar o Doutor Oliveira Salazar é de uma total estupidez, quando ele está relacionado com prevenções, com a cura de males. Com a liberdade e a paz!
    Este regime está nas antípodas, como bem comprovado pela matança de dezenas de pessoas nos incêndios de 2017.

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