Votar por um país mais decente

(Alexandre Abreu, in Expresso Diário, 03/10/2019)

Alexandre Abreu

Os quatro anos desta legislatura ensinaram-nos muitas coisas. Que as eleições legislativas elegem deputados à Assembleia da República e só determinam indirectamente quem governa. Que a existência de um arco da governação reunindo a direita e o Partido Socialista era um mito. Que é possível partidos com visões e propostas políticas muito diferentes trabalharem em conjunto com base em entendimentos mínimos e na relação de forças saída das urnas para benefício do país e das pessoas, sem com isso abdicarem da sua identidade e do seu projecto.

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Mas também que a reposição de rendimentos faz realmente bem à economia, ao emprego e às contas públicas. Que a valorização do trabalho é mesmo um factor de progresso e desenvolvimento. E que soluções colectivas estruturantes, como a redução do preço dos passes dos transportes públicos, contribuem de forma inteligente para responder a vários problemas ao mesmo tempo, da desigualdade territorial e de rendimentos à emergência climática.

Nestes diferentes domínios, os últimos quatro anos mostraram à exaustão a falência do projecto da direita, por esta reconhecida ao ponto de agora reivindicar para si a intenção de ter feito mais ou menos a mesma coisa se tivesse sido ela a formar governo. Percebemos bem a trapaça: recordamos os seus planos de continuar a cortar as pensões se tivesse conseguido governar, lembramo-nos das intenções de aprofundar a pilhagem das privatizações, não estávamos a dormir quando nos últimos anos votaram tantas vezes contra a reposição de direitos e rendimentos.

E percebemos bem que quando fazem da redução de impostos a pedra de toque das suas propostas políticas, o que estão a atacar é o principal mecanismo de promoção da justiça social no nosso país, que permite financiar serviços públicos para todos através de impostos que são mais pagos por quem mais pode.

Mas os últimos quatro anos mostraram também os limites da governação do Partido Socialista nas áreas em que os partidos à sua esquerda não souberam ou não puderam estabelecer condições mais exigentes nos acordos de governação. O investimento público em mínimos históricos como via para alcançar metas orçamentais para além das já de si irrazoáveis exigências de Bruxelas. A submissão do direito à habitação às lógicas do mercado e da financeirização. A indisponibilidade para corrigir o caminho de fragilização dos trabalhadores na legislação laboral e assim reverter o recuo relativo dos rendimentos do trabalho.

É à luz de todos estes ensinamentos que votamos no próximo Domingo. Pela minha parte, espero que os portugueses votem por um país que não deixe ninguém para trás, que coloque a erradicação da pobreza como primeira prioridade, que apoie a autonomia das pessoas com deficiência, que valorize mais as pensões de quem trabalhou ou cuidou uma vida inteira. Um país que responda à emergência climática de forma colectiva, sistémica e empenhada. Um país em que os direitos fundamentais à saúde, educação e habitação sejam tratados como questões de democracia e não de mercado. Um país em que o trabalho com direitos fortes seja o caminho para mais justiça social. Um país que combata sem tréguas todas as discriminações. Um país com mais igualdade, mais solidariedade e menos preconceito.

Haverá várias formas de fazê-lo, umas melhores que outras. No Domingo, vote bem, vote por um país mais decente.


9 pensamentos sobre “Votar por um país mais decente

  1. O voto na esquerda consequente. Nem a folclorica e social democrata e menos ainda a que historica e ilusoriamente melhor vem representando os interesses da grande burguesia.

  2. Nota. Epá, tal como em Tancos quando estala o verniz ao PS cuidado… -não me provoquem: PORTUGAL É TODO NOSSO, PORRA!! Isto também é sobre a decência ou a falta que ela faz, pás.

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    António Costa exalta-se e chama “provocador” a homem que o interpela sobre incêndios

    Às 24 horas desta sexta-feira, acaba o período oficial de campanha. Seguem-se 24 horas de reflexão e, depois, as urnas.

    Liliana Borges, Luciano Alvarez, Leonete Botelho, Maria Lopes, Sofia Rodrigues, Liliana Valente, Rui Gaudêncio, Pedro Fazeres e Francisco Rosto é tudo mão Pereira

    4 de Outubro de 2019, 9:12

    https://www.publico.pt/2019/10/04/politica/noticia/0310-campanha-acaba-aqui-partido-balanco-1888841?utm_source=notifications&utm_medium=web&utm_campaign=1888841

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