O 69 das reformas

(Por José Gabriel, 12/04/2019)

José Gomes Ferreira

(Até o Gomes Ferreira arrasa este estudo, dizendo que mais parece uma encomenda para beneficiar a banca e as seguradoras e abrir caminho à privatização da Segurança Social. Ver vídeo aqui)


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A notícia aparece com declinações diversas. De facto, a encomenda do estudo sobre a sustentabilidade da Segurança Social que propõe que a reformas passem a ser aos 69 anos é da prestimosa Fundação Francisco Manuel dos Santos e não do Instituto de Ciências Sociais, como rezam algumas notícias. O coordenador do estudo pertence, de facto, àquela instituição, mas isso é tudo. De resto, faz aquilo para que lhe pagam, servindo os interesses do encomendante do estudo: criar insegurança e as condições subjectivas que sirvam a gula de bancos e companhias de seguros.

Reconhecemos este tom; era o que dominava o discurso do poder durante o governo anterior. Um espécie de terrorismo social em versão português suave que leve as pessoas a comportar-se como os mandantes querem, canalizando as suas parcas poupanças para produtos de aforro privados – para não falar na sonhada via de privatização da própria Segurança Social. A estratégia das alcateias ao atacar rebanhos.

Como me atrevo a ir tão longe nestas considerações sem ser especialista? Não é difícil. É estar atento ao que o estudo diz – as receitas do costume – e, sobretudo, ao que omite – como seja uma mudança estratégica ao nível fiscal, uma abordagem séria do financiamento da Segurança Social. Até lá, ficamos sujeitos à pressão dos estudos que, no nosso país, tantas vezes substituem a razão ou um simples fundamento de legitimidade democrática.

Assim, os famosos estudos sempre aparecem do mesmo modo que as estratégias de publicidade: se é necessário vender produtos, não se lhes demonstra o valor objectivamente mostrando-se as suas qualidades; cria-se nos consumidores a necessidade subjectiva de os possuírem, mesmo que isso não lhes sirva para nada. Se se querem obter certos comportamentos sociais e políticos, um das vias é muito semelhante; mas chama-se-lhes estudos. Sempre é outro nível.


3 pensamentos sobre “O 69 das reformas

  1. Eu recomendo que os gajos que fizeram este estudo têm que viver com o ordenado mínimo, e também devem aceitar trabalhar até aos 69 anos, então aí o estudo tinha credibilidade.

  2. AS IMBECILIDADES SAÍDAS DA UNIVERSIDADE

    1 – Os descontos para a SS não devem estar misturados com as contas do Estado. Os descontos têm finalidades bem específicas, a canalização para um fundo comum dos trabalhadores portugueses; como fosse um fundo de pensões privado. Mas, convém aos governos, com a conivência dos sindicatos misturar isso tudo. No tempo de Cavaco, foram desviados milhões da SS para o Estado; o que se chama um roubo, obviamente impune numa terra sem lei.
    2 – Os bravos universitários ainda não terão descoberto os aumentos da produtividade que devem também beneficiar os trabalhadores, num cenário que não seja de capitalismo de predação
    3 – Se cada trabalhador beneficiar dos aumentos da produtividade (hoje quase todos canalizados para o empresariato) não há problemas pois os descontos são calculados na base de um salário que refletirá os ganhos da produtividade
    4 – Os valentes investigadores parece terem considerado aumentos da longevidade a beneficiar os patrões – com mais tempo de vida ativa – e salários a refletir apenas (… e são benevolentes…) os efeitos da inflação. Ou são toscos ou são pagos para se mostrarem como tal

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