(Daniel Oliveira in Expresso, 11/04/2015)
Por boas e más razões, há cada vez menos gente a confiar nos partidos políticos. É isso que explica, aqui e por essa Europa fora, o nascimento de muitas candidaturas que, mesmo que legalmente obrigadas a ser partidos, optaram por formas mais difusas de organização.
Umas são para levar a sério, outras são projetos unipessoais mais ou menos risíveis. Umas constroem programas credíveis e mobilizam cidadãos, outras alimentam vaidades e têm no terreno mediático o seu único campo de ação política. Sejam muitas ou poucas, excelentes ou péssimas, algumas poderão marcar a política nacional nos próximos anos e têm muito espaço de crescimento. Só que a maioria dos jornalistas é, por natureza, conservadora. Raramente se apercebe de uma novidade antes dela lhe cair em cima. Foi assim com o Podemos e o Ciudadanos, que começaram por ser pequenos e pulverizar ainda mais a política espanhola. E com o Movimento 5 Estrelas, que era apenas mais um entre inúmeros fenómenos eleitorais em Itália. E com o JPP, que nasceu para disputar votos com oito partidos com representação parlamentar na Madeira. Todos acabaram por baralhar as contas eleitorais.
O que está a acontecer é um sinal de vitalidade democrática. Em vez de desistirem, há muitos cidadãos a tentar mudar a democracia. No meio disto há coisas absurdas? Muitas. Há casos em que o único objetivo é alimentar o ego de viciados em palco? Sim, mas isso também acontece nos partidos tradicionais. A novidade é outra: como os partidos que existem no Parlamento não conseguem representar o sentimento popular, há quem esteja, pior ou melhor, a tentar responder a isso. Fosse diferente a lei e muitos destes movimentos apresentar-se-iam como listas de cidadãos. Mas esse problema não se põe nas presidenciais. E, por isso, elas deviam ser o terreno da sociedade civil e não um prolongamento da vida partidária. Na realidade, estou convencido que o apoio de partidos é, em 2015, mau para os candidatos à Presidência. O que lhes dá em visibilidade e meios tira-lhes em simpatia e apoio. Os sinais já foram dados pela primeira candidatura de Alegre, que quase foi à segunda volta sem o apoio de ninguém, e a de Fernando Nobre. No meio desta crise, o melhor candidato será aquele que conseguir mobilizar os cidadãos sem apoios partidários. O calendário eleitoral até ajuda: os partidos andam ocupados com as legislativas.
É por isso que o apoio precoce do PS a Sampaio da Nóvoa foi um erro. Além de ser um bom orador e ter um percurso respeitável, a vantagem do antigo reitor era vir da sociedade civil. Contra ele, um “pormaior”: a esmagadora maioria dos portugueses não faz a mais pálida ideia de quem seja. Muitos ficaram a conhecê-lo agora. Por via de um apoio coxo do PS e pelo coro de contestação interna que esse apoio mereceu. Para a maioria, Nóvoa já perdeu, ainda antes de lhe decorar o nome, o seu maior argumento eleitoral: estar longe da vida partidária. A sua candidatura nasce no meio dela, entre ataques de Lello e farpas de Vitorino. Má publicidade em troca de um apoio pífio e polémico. Melhor teria feito o candidato em avançar sozinho e fazer o seu caminho sem estar amarrado à campanha legislativa de ninguém. Como fizeram Henrique Neto e Paulo Morais, com menos ambição da que poderia ter Nóvoa. Uma lição para Rui Rio, Carvalho da Silva e Marcelo Rebelo de Sousa.