A morte de Israel

(Chris Hedges, in Resistir, 05/01/2024)

Israel parecerá triunfar depois de encerrar a sua campanha genocida em Gaza e na Cisjordânia. Apoiado pelos Estados Unidos, alcançará o seu objetivo insano. A ofensiva assassina e violência genocida exterminarão os palestinos ou os limparão etnicamente. O sonho de um Estado exclusivamente judeu, no qual os palestinos sobreviventes seriam despojados de seus direitos básicos, será realizado. Israel poderá deleitar-se com a sua sangrenta vitória. Celebrará seus criminosos de guerra. O seu genocídio será apagado da consciência pública e atirado no enorme buraco negro da amnésia histórica de Israel. Os israelenses com consciência serão silenciados e perseguidos.

Mas quando Israel conseguir dizimar Gaza – Israel fala em meses de guerra – terá assinado a sua própria sentença de morte. A fachada de civilidade, suposto respeito ao Estado de Direito e à democracia, a história mítica de um corajoso exército israelense e a génese milagrosa da nação judaica, serão reduzidos a cinzas.

O capital social de Israel será consumido. Será revelado como um regime de apartheid repressivo e carregado de ódio, alienando as gerações mais jovens de judeus americanos. O seu protetor, os Estados Unidos, à medida que novas gerações chegarem ao poder, irá distanciar-se de Israel, como atualmente se distanciam da Ucrânia. O apoio popular, já corroído nos Estados Unidos, virá de fascistas cristianizados que veem o domínio de Israel sobre antigas terras bíblicas como um prenúncio da Segunda Vinda e veem a escravização dos árabes como uma forma de racismo e supremacia branca.

O sangue e o sofrimento dos palestinos – dez vezes mais crianças foram mortas em Gaza do que em dois anos de guerra na Ucrânia – abrirão caminho para que Israel seja esquecido. As dezenas, senão centenas de milhares, de fantasmas se vingarão. Israel se tornará sinónimo de suas vítimas como os turcos com os arménios, os alemães com os namibianos e mais tarde com os judeus, os sérvios com os bósnios. A vida cultural, artística, jornalística e intelectual de Israel será aniquilada. Israel será uma nação estagnada onde fanáticos religiosos, sectários e extremistas judeus dominarão o discurso público. Encontrará aliados entre outros regimes despóticos. A repugnante supremacia racial e religiosa de Israel será a sua principal característica, explicando por que os supremacistas brancos mais retrógrados dos Estados Unidos e da Europa, incluindo filosemitas como John HageePaul Gosar e Marjorie Taylor Greene, apoiam fervorosamente Israel. A chamada luta contra o antissemitismo é uma celebração mal disfarçada do poder branco.

Os despotismos podem sobreviver por muito tempo ao seu declínio. Mas são doentes terminais. Não é preciso ser um estudioso bíblico para ver que a sede de sangue de Israel é contrária aos valores fundamentais do judaísmo. A instrumentalização cínica do Holocausto, inclusive fazendo os palestinos parecerem nazistas, é de pouca utilidade quando se trata de perpetrar genocídio contra 2,3 milhões de pessoas presas num campo de concentração.

As nações precisam de mais do que força para sobreviver. Precisam de uma dimensão mística. Esta última dá um propósito, um senso de responsabilidade cívica e até mesmo uma nobreza que inspira os cidadãos a se sacrificarem pela nação. A dimensão mística é um farol de esperança para o futuro. Dá sentido e é fonte de identidade nacional.

Quando as místicas implodem, quando suas mentiras são reveladas, o próprio fundamento do poder estatal entra em colapso. Relatei a morte de místicas comunistas em 1989 durante as revoluções [NR] na Alemanha Oriental, Checoslováquia e Roménia. A polícia e o exército decidiram que não havia mais nada a defender. A decadência de Israel gerará a mesma sensação de cansaço e apatia. Não será capaz de recrutar cúmplices locais, como Mahmoud Abbas e a Autoridade Palestina – desprezada pela maioria dos palestinos – para fazer o trabalho dos colonizadores. O historiador Ronald Robinson menciona o fracasso do Império Britânico em recrutar aliados indígenas para reverter a não-cooperação, um momento decisivo para o início da descolonização. Uma vez que a não cooperação das elites nativas se transformou em oposição ativa, explicou Robinson, o “recuo acelerado” do Império estava assegurado.

Resta a Israel uma escalada de violência, incluindo a tortura, para acelerar o seu declínio. Essa violência generalizada funciona no curto prazo, como foi o caso da guerra da França na Argélia, a “guerra suja” da ditadura militar argentina e o conflito britânico na Irlanda do Norte. Mas, a longo prazo, ela é suicida.

“Pode-se dizer que a batalha de Argel foi vencida com o uso da tortura”, observou o historiador britânico Alistair Horne, “mas a guerra, a guerra da Argélia, foi perdida”.

O genocídio em Gaza tornou os combatentes do Hamas heróis no mundo muçulmano e no Sul Global. Israel pode eliminar a liderança do Hamas. Mas assassinatos passados e atuais de um grande número de líderes palestinos pouco fizeram para diminuir a resistência. O bloqueio e o genocídio de Gaza geraram uma nova geração de jovens profundamente traumatizados e enfurecidos, cujas famílias foram mortas e comunidades destruídas. Eles estão prontos para tomar o lugar dos líderes caídos. Israel empurrou as ações de seus adversários para a estratosfera.

Israel já estava em guerra consigo mesmo antes de 7 de outubro. Os israelenses manifestavam-se para impedir que o primeiro-ministro Netanyahu abolisse a independência do Sistema Judiciário. Os fanáticos religiosos e extremistas, atualmente no poder, haviam lançado um ataque determinado ao laicismo israelense. A unidade de Israel tem sido precária desde o ataque. É negativa. Baseia-se apenas no ódio. E nem mesmo esse ódio é suficiente para impedir que os manifestantes denunciem o abandono pelo governo dos reféns israelenses em Gaza.

O ódio é uma mercadoria política perigosa. Uma vez terminado um inimigo, aqueles que atiçam o ódio partem em busca do próximo. Os “animais” palestinos, uma vez erradicados ou subjugados, serão substituídos por apóstatas e traidores judeus. O grupo demonizado nunca pode ser redimido ou curado. Uma política de ódio cria instabilidade permanente que é explorada por aqueles que procuram destruir a sociedade civil.

Em 7 de outubro, Israel embarcou nesse caminho ao promulgar uma série de leis que discriminam os não-judeus semelhantes às Leis racistas de Nuremberg que privavam os judeus de direitos na Alemanha nazi. A Lei de Reconhecimento das Comunidades permite que povoações exclusivamente judaicas excluam outros requerentes de residência com base na “adequação com os princípios fundamentais da comunidade”.

Muitos jovens israelenses mais qualificados deixaram o país para países como Canadá, Austrália e Reino Unido, um milhão deles partiu para os Estados Unidos. A Alemanha viu um influxo de cerca de 20 mil israelenses nas duas primeiras décadas deste século. Cerca de 470 mil israelenses deixaram o país desde o 7 de outubro. Em Israel, defensores dos direitos humanos, intelectuais e jornalistas – tanto israelenses como palestinos – são taxados de traidores em campanhas de difamação patrocinadas pelo governo, colocados sob vigilância do Estado e submetidos a prisões arbitrárias. O sistema educacional de Israel é uma máquina de doutrinação para o exército.

O professor universitário israelense Yeshayahu Leibowitz alertou que, se Israel não separar Igreja e Estado e acabar com a ocupação dos palestinos, dará origem a um rabinato corrupto que transformará o judaísmo em num culto fascista. “Israel não merecerá mais existir e não fará sentido preservá-lo”, disse.

A mística global dos Estados Unidos, após duas décadas de guerras desastrosas no Médio Oriente e a invasão do Capitólio em 6 de janeiro, está tão contaminada quanto a de Israel. O governo Biden, no seu fervor em apoiar incondicionalmente Israel e apaziguar o poderoso lobby israelense, contornou o processo de verificação do Congresso com o Departamento de Estado para aprovar a transferência de 14 mil obuses para Israel. O secretário de Estado, Antony Blinken, argumentou que “circunstâncias de emergência exigem a transferência imediata dessas munições”. Ao mesmo tempo, cinicamente pediu a Israel que minimizasse as baixas civis.

Israel não tem intenção de minimizar as baixas civis. Já matou 18 800 palestinos, ou 0,82% [NT] da população de Gaza – o equivalente a cerca de 2,7 milhões de americanos. Outros 51 mil ficaram feridos. Metade da população de Gaza está passando fome, de acordo com as Nações Unidas. Todas as instituições e serviços palestinos essenciais à vida – hospitais (apenas 11 dos 36 hospitais de Gaza ainda estão “parcialmente” operacionais), estações de tratamento de esgoto, redes elétricas, sistemas de esgoto, habitação, escolas, edifícios governamentais, centros culturais, sistemas de telecomunicações, mesquitas, igrejas, pontos de distribuição de alimentos da ONU – foram destruídos. Israel assassinou pelo menos 80 jornalistas palestinos, bem como dezenas de seus familiares e mais de 130 trabalhadores humanitários da ONU com familiares. As vítimas civis são o principal. Esta não é uma guerra contra o Hamas. Esta é uma guerra contra os palestinos. O objetivo é matar ou expulsar 2,3 milhões de palestinos de Gaza.

morte de três reféns israelenses que aparentemente escaparam de seus captores e foram mortos a tiro depois de se aproximarem das forças israelenses de peito nu, agitando uma bandeira branca e pedindo ajuda em hebraico não é apenas trágica, fornece informações sobre as regras da intervenção de Israel em Gaza. Essas regras são: matar tudo o que se move.

Como escreveu o major-general aposentado israelense Giora Eiland, que chefiou o Conselho de Segurança Nacional de Israel, no Yedioth Ahronoth

“O Estado de Israel não tem escolha a não ser transformar Gaza num território temporária ou permanentemente impróprio para viver (…) Criar uma grave crise humanitária em Gaza é um meio necessário para alcançar esse objetivo”.
“Gaza irá tornar-se num lugar onde nenhum ser humano pode existir”.
“Não haverá eletricidade nem água, apenas destruição. Queriam o inferno, vão consegui-lo”, acrescentou.

A presidência Biden, que, ironicamente, pode ter assinado seu próprio atestado de óbito político, está enraizada no genocídio israelense. Tentará distanciar-se retoricamente, mas, ao mesmo tempo, fornece milhões de dólares em armas solicitados por Israel – incluindo 14,3 mil milhões de dólares em ajuda militar adicional para complementar os 3,8 mil milhões em ajuda anual – para “terminar o trabalho”. É um parceiro de pleno direito no projeto de genocídio israelense.

Israel é um Estado pária. Isso foi exibido publicamente em 12 de dezembro, quando 153 Estados-membros da Assembleia Geral da ONU votaram a favor de um cessar-fogo, com apenas 10 Estados – incluindo Estados Unidos e Israel – opondo-se e 23 abstenções. A política de “terra arrasada” de Israel em Gaza significa que a paz não será alcançada. Não haverá solução de dois Estados. O apartheid e o genocídio caracterizarão Israel. Isso prenuncia um longo conflito, que o Estado judeu não será capaz de vencer a longo prazo.


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11 pensamentos sobre “A morte de Israel

  1. Os fundamentalistas religiosos são uma minoria tão grande em Israel que os fundamentalistas religiosos estão no poder pelo voto do povo. Todo o judaísmo é fundamentalismo pois aquela religião diz que eles são o povo eleito de Deus e os outros todos são lhes inferiores. Um bem haja aos cada vez menos judeus que sabem deixar essa religiao no lugar certo e reconhecer humanidade aos outros. Mas esses não são a maioria, em Israel ou um traste como Netaniahu não tinha lá ganho tantas vezes eleições. Bate tu com a cabeça no muro das lamentações. Se não tens problemas com bandalhos que te chamam gentio e problema teu. Se não tens problemas com gente que bombardeia cristaos também é problema teu. Vai ver se o mar dá choco.

  2. A grunharia chafurda nas barbas do Hezbolah, agarra-se às fraldas dos ayatollahs e delira com as barbaridades do Hamas ao serviço do Allah…
    mas a minoria fundamentalista e religiosa de Israel é que os incomoda; e tudo isso porque muito provavelmente se acham muito ‘progresistas’!

  3. Pedi a um primo do ChatGPT com quem costumo jogar à bisca que dedicasse um poema ao menos. Saiu isto:

    Fui a Belas ver os burros
    E em Belas burros vi.
    O mais burro de todos eles
    Eras ti.

  4. Como se um povo dizer que são o povo eleito por Deus e tu e eu somos infiéis e gentios fosse um padrão aceitável. Se os judeus nos fizessem a nós o que andaram a fazer aos palestinianos espero que conseguíssemos dar lhes bem pior que 7 de Outubro. Israel é uma teocracia supremacista e cruel que lançamos sobre os palestinianos para desestabilizar mos zonas ricas em petróleo. Toda a gente sabe isso mas há quem insista em fazer de conta que não sabe. Vai ver se o mar dá choco.

    • Não te cansas de dizer asneiras!!!
      És gentío, es infiel ao credo judeu…e vai daí qual é o teu problema?
      Vira-te pra Meca e não chateies!

  5. Como se o massacre de 7 de Outubro nada significasse…
    Como se o Hamas, Hezbollah e a teocracia no Irão fossem padrões aceitáveis…

  6. Que esta gente não tem vergonha já todos sabemos. Israel esta, se nas tintas para os reféns, já bombardeou uns quantos e já matou pelo menos três a tiro porque a sanha assassina da soldadesca e tanta que destroi tudo o que mexe. E quanto mais reféns morrerem mais eles conseguem dar uma de coitadinhos. Com os nossos presstitutos Israel ganha sempre.
    E os presstitutos vao ajudando os trastes a dar uma de coitadinhos como se efectivamente o que quer que tenha acontecido aos reféns se possa comparar ao genocídio em curso sobre os milhões de reféns de Gaza. Genocídio que começou bem antes de 7 de Outubro. O traste Israelita limitou se a carregar a fundo no acelerador. Porque o que é a população palestiniana nos territórios ocupados e em Gaza se não reféns? Reféns de uma soldadesca racista, de uma crueldade extrema e que se sabe impune. Reféns de um governo assassino, de fundamentalistas religiosos cruéis e homicidas.
    Todos os dias morre gente nos territórios árabes ocupados. Todos os dias mais reféns são tomados, mulheres e crianças enfiadas em masmorras. Sendo que se ficarem nas ruas dos territórios ocupados também não estão seguras. A cruel soldadesca encarrega se disso é até as cisternas de água destroi.
    Os presstitutos falaram nas pessoas libertadas na, troca de reféns que se fez naqueles cinco dias de paragem no genocídio em curso. Mas que liberdade teem os desgraçados naqueles territórios? Até à água lhes querem tirar. São submetidos a condições desumanas, animais. Quantos dos trastes que apoiam Israel aguentariam aquela vida?
    Quanto a terrorismo, se tínhamos dúvidas que fomos nós que apoiamos terroristas como o Estado Islâmico o senador republicano Lindsay Graham tirou as todas prometendo a Netaniahu tornar real o maior pesadelo do Irão após o dito Estado Islâmico ter reivindicado um atentado contra um cemitério. Onde gente prestava homenagem ao mastermind da derrota do grupo na Siria e Iraque assassinado há quatro anos por ordem do Trampas.
    Uma vez um elemento da criadagem afirmou que a superioridade moral do Ocidente se media pelo nível de vida que dava aos que viviam sob a sua autoridade. Que para isso andassem a matar em terras alheias claro que não interessava nada. É típico de salazarentos dizer uma coisa dessas mas quando se apoia um grupo terrorista que matou centenas de pessoas na Europa estejam descansados que a nossa pretensa superioridade moral foi pelo cano abaixo. Aliás, nunca existiu porque sempre vivemos de massacrar em terra alheia para roubar. Pelo menos desde a saga viking.
    Mas nos últimos tempos nem a vida dos que vivem sob a pata ocidental interessa. Foi visível com a deriva austeritaria cruel com que se tentou resolver a crise de 2008 nascida na especulacao bancária do outro lado do Atlântico e que causou mortes e virou a vida do avesso a muita gente em especial no Sul da Europa. Também somos um bocadinho escuros, nós árabes ou judeus e os gregos um bocadinho turcos. Pelo que esses escuros podiam bem viver a alpiste.
    Por volta da Segunda Guerra Mundial um dirigente inglês disse que a ditadura salazarenta era a melhor opção para o povo português que eram um bando de preguiçosos que passavam a noite a beber vinho barato e a ouvir o fado. Em pleno Século XXI muita gente a Norte da Europa disse parecido sobre nós e os gregos.
    Noutros tempos essa deriva racista pos o MI5 a dar apoio à PIDE. No Século XXI estarmos no Imperio livrou nos pelo menos de uma ditadura em regra. A ver o que esta gente faz a 10 de Março.
    Seguiu se o tal apoio a um grupo terrorista medieval que se aqui matou centenas de pessoas na Síria crucificava cristaos. Aliás, não serve de nada as populacoes do Médio Oriente serem cristãs, muito menos aos palestinianos, pois que, a soldadesca homicida de Israel mata cristãos tal como mata muçulmanos. Com a mesma alegria.
    E, claro, cereja no topo do bolo pressões horrendas para irmos meter no bucho uma coisa experimental que matou mais gente do que a doença de que devia proteger nos. E os reforços continuam, as pessoas continuam algumas a cair na rede e os excessos de mortalidade aí andam. Os cangalheiros agradecem. Um médico que ainda tem a lata de endrominar um doente, muitas vezes fragilizado e idoso para ir dar uma vacina daquelas devia ir preso.
    Depois foi a nossa guerra por procuração na Ucrânia que continua de muito boa, saúde para gáudio de quem ainda sonha com a pilhagem dos recursos da Rússia, com o consequente efeito das sanções sobre a vida do gado.
    Sim, o Ocidente está muito interessado na vida dos seus cidadãos. É verdadeiramente enternecedor.
    Pelo menos não acredito em cogumelos cor de laranja não porque esta gente não seja capaz disso mas porque na Rússia ninguém é maluco, não tem interesses económicos na Ucrânia tal como o clã Biden nem tem avós nazis a vingar, como o Schauble e a Van der Leyen.
    Embora concorde que 2024 não vá ser nada bom. Que pelo menos possamos continuar a produzir umas heresias.

  7. https://youtu.be/O7BnmNZlPWw?si=YPrktFbpLuRJDlX6

    Neste filmezinho, dois ex-reféns israelitas, um rapaz e uma rapariga, relatam a sua experiência em Gaza, nas mãos do Hamas. Sempre em cenários calmos e confortáveis, apartamentos modernos e bem mobilados, praias ou jardins, num ambiente pacífico e seguro, a dramatização da sua sem dúvida sofredora, desagradável e assustadora experiência atinge graus estratosféricos de obscenidade, quando comparada com a experiência dos palestinianos em Gaza, encurralados, bombardeados, ensanguentados, soterrados, massacrados, sem um buraco que lhes sirva de abrigo ou um centímetro quadrado para onde fugir, constantemente à espera da bomba ou do míssil que os fará em bocados, com toda a família, vizinhos e amigos. Mas nem o menino ou a menina, ou os cretinos que encenaram e pariram o pornográfico filmezinho, se apercebem disso. O sofredora experiência dos ocidentalíssimos e civilizados meninos é o grau máximo do sofrimento humano, do absolutamente insuportável, da antecâmara do Holocausto, e quem duvidar é anti-semita. Quanto aos palestinianos, esses “human animals” sujos, ranhosos e malvestidos, toda a gente sabe (e eles sabem que toda a gente sabe) que nem humanos são, pelo que a comparação das experiências de uns e outros não passaria de mais uma manifestação de anti-semitismo e não deve sequer ser equacionada.

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