Tempo de agir: por uma recuperação justa, verde e digital

(António Costa, in Expresso, 31/12/2020)

A 1 de janeiro inicia-se a presidência portuguesa da União Europeia.

A pandemia da covid-19 é o maior desafio às sociedades europeias desde a Segunda Guerra Mundial. Tornou-se também um momento definidor para o projeto europeu. Resultou claro desde o início da crise que só com uma resposta comum europeia poderíamos ultrapassar, em primeiro lugar, a emergência sanitária, e, depois, as suas dramáticas consequências económicas e sociais.

O desafio era gigantesco, mas a Europa soube estar à altura e responder “presente” aos apelos à ação, desde logo no plano sanitário.

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Com efeito, pela primeira vez na história da União Europeia assistimos a uma coordenação estreita e informada em matéria sanitária, sob a liderança da Comissão Europeia, que culminou com a aquisição conjunta das vacinas que permitirão imunizar todos os cidadãos europeus e uma participação europeia ativa no esforço internacional de garantir o acesso à vacina pelos cidadãos dos países em desenvolvimento, em especial de África, através da plataforma Covax.

Também a nível económico e social a resposta não tardou: o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia, o Eurogrupo e o Banco Europeu de Investimento tomaram medidas para responder à emergência.

Se o lema da Presidência alemã foi “Juntos para a recuperação da Europa”, o lema da Presidência portuguesa marca a passagem à etapa seguinte

Mas ficou também claro desde o início que esta era uma crise sem precedentes, provocada por um choque externo simétrico, e que exigiria por isso uma resposta também ela sem precedentes, que não se poderia limitar a mobilizar instrumentos existentes. Era necessário ir mais longe, apoiar de forma conjunta e robusta a recuperação das economias de todos os Estados-membros, sob pena de se esboroarem o mercado interno e o projeto europeu no seu conjunto.

A Comissão Europeia apresentou um pacote ambicioso no total de €1,8 biliões, repartido entre um Quadro Financeiro Plurianual para sete anos de €1,074 biliões e um Fundo de Recuperação no valor de €750 mil milhões, financiado através de uma emissão comum de dívida garantida pelo aumento do teto dos recursos próprios do orçamento da União. Esta proposta inovadora foi aprovada, em julho, no primeiro Conselho Europeu da presidência alemã e, após intensas negociações com o Parlamento Europeu, teve aprovação final no último Conselho Europeu desta presidência, em 10 de dezembro.

Nunca antes a União Europeia se revelou tão necessária. Nunca, como agora, esteve tão próxima dos cidadãos, respondendo aos seus maiores receios e às suas legítimas expectativas.

Com o acordo alcançado pela presidência alemã sobre o Quadro Financeiro Plurianual e o Programa “Próxima Geração UE”, dispomos do quadro jurídico e dos meios financeiros para uma resposta europeia conjunta e robusta que vai permitir a todos os Estados-membros assegurar a recuperação das suas economias. Com o início simultâneo da vacinação em todos os Estados-membros, conseguiremos, aos poucos, retomar a normalidade das nossas vidas.

A Alemanha fecha assim com chave de ouro a sua presidência e passa o testemunho à presidência portuguesa.

A etapa que se segue não será menos exigente. Agora é tempo de ação, de colocar no terreno os novos instrumentos de que nos dotámos: o plano de vacinação à escala europeia e os planos nacionais de recuperação e resiliência.

São três as principais prioridades da presidência. A primeira é a recuperação económica e social, que terá como motores as transições climática e digital, fatores de crescimento e de criação de mais e melhor emprego. A segunda é o desenvolvimento do pilar social da UE, criando uma base sólida de confiança de que esta dupla transição será uma oportunidade para todos e que ninguém ficará para trás. Em terceiro lugar, temos de reforçar a autonomia estratégica de uma União Europeia aberta ao mundo.

Agora é tempo de ação, de colocar no terreno os novos instrumentos de que nos dotámos: o plano de vacinação à escala europeia e os Planos Nacionais de Recuperação

Três marcos darão expressão a estas três prioridades: a aprovação dos planos nacionais de recuperação, em conjunto com a lei do clima e o pacote para os serviços digitais; a realização da cimeira social, juntando parceiros sociais, sociedade civil e instituições num compromisso comum em torno do pilar social; a cimeira UE-Índia.

Se o lema da presidência alemã foi “Juntos para a recuperação da Europa”, o lema da presidência portuguesa marca a passagem à etapa seguinte, qualificando e concretizando essa recuperação: “Tempo de agir: por uma recuperação justa, verde e digital”.

É alcançando resultados que reforçamos a confiança dos cidadãos no projeto europeu, demonstrando que só um mercado interno dinâmico reforça as nossas PME e cria mais e melhores empregos, garantindo com um sólido pilar social que investimos nas qualificações, na inovação, na proteção social, que nos permitem liderar as transições climática e digital sem deixar ninguém para trás, reforçando a nossa autonomia estratégica sem medo de nos abrirmos ao mundo em que queremos ser atores globais.

É por isso tempo de agir, em conjunto, como comunidade de valores e de prosperidade partilhada.

9 pensamentos sobre “Tempo de agir: por uma recuperação justa, verde e digital

  1. Como qualquer governante que se preze, o homem prega bem.
    Esquece-se é de 𝙁𝘼𝙕𝙀𝙍 alguma coisa que não nos leve no caminho (uma vez mais) de últimos do grupo geográfico onde nos inserimos.
    E, ao ouvi-lo nas TVs, achei que o homem merece um prémio de interpretação tipo Óscar:
    – conseguiu dizer que agora é “tempo de agir” sem se rir e com cara de poker… muito bom actor mesmo.

  2. Tudo isto é muito bonito mas já não confio nem um bocadinho nos “europeus”.

    Depois do que estes nos porcos fizeram a nós e principalmente à Grécia na crise de 2007-2015 não sei se será acertado estarem-nos a pôr na dependência destes animais.

    É certo que a alemanha parece ter mudado muito, mas só o fez porque FINALMENTE percebeu que estava a destruir a galinha dos ovos de ouro que para eles é a UE e a entregar o peru aos chineses, com recheio e tudo.

    Os chineses fartaram-se de rir com a estupidez assassina dos nórdicos “frugais” a dar cabo economicamente dos países do sul. E aproveitaram a destruição para meter o pé na porta da UE e tomar posições estratégicas a nível de tecnologia, infraestruturas, transportes e comunicações nos países devastados pela “amizade” dos nossos amigos nortistas. A belt and road initiative teve um avanço notável com a estupidez nórdica.

    Os gajos são loiros, por isso posso falar sem receio de a esquerda me chamar de racista, embora chamem à mesma, porque a esquerda chama isso a tudo o que mexe.

    Os alemães são umas BESTAS.

    Basta ver o buraco em que se meteram com a segunda guerra mundial logo a seguir a terem levado uma tareia na primeira guerra.

    E não só eles, mas os nórdicos em geral.

    Uma coisa me apercebi pelas conversas na net. Como para os gajos somos um destino de férias, eles pensam MESMO que por cá toda a gente vive em férias permanentes.

    Não estou a brincar, na essência é mesmo isso que eles pensam dos sulistas que trabalham nas obras deles e lhes lavam as cuecas e fazem as camas. Eles pensam que para os sulistas isso são actividades lúdicas a que os sulistas se entregam por estarem cansados de não fazer nada.

    Eles pensam que não fazemos nada e que vivemos à custa deles.

    Um UE assim… O melhor era darmos de fuga.

    Já existimos há oitocentos anos, não precisamos das esmolas deles para nada. Até porque são “esmolas” que pagamos muito caro.

    • Racismo é pontapear quem está em baixo, não quem está sempre por cima…
      Mas, sim, quem tem um império normalmente tem essa atitude, seja Alemão, Americano, Britânico, …, e depois nunca percebe porque é que a coisa cai.

      • Perdão mas eu não tenho essa vossa noçâo eticamente flexivel de que racismo é o que vocês querem que seja.

        Racismo é um conceito concreto – discriminação com base na raça.

        Se eu disser que a Merkel é inferior a mim por ser mais loira estou a ser tão racista como se achasse que era incerior por ser menos loira, não tem nada a ver se ela tem poder ou não.

        Vocês usarem o conceito como insulto e provocação gratuita só retira sentido ao conceito e credibilidads a vocês.

  3. Está bem, abelha!

    Off.

    Da série “Grandes títulos da imprensa de hoje”

    Diretor-geral da Política de Justiça assume erros [glup!] no currículo enviado para #Bruxelas e demite-se

    Nota. Trata-se do gordinho Miguel Romão da FDUL a quem o Público* deu antena nuns panegíricos em honra do José Sócrates. É o suicídio de uma certa maneira de estar na política: a que considera o Estado como um botequim (modernaço) típico de um certo #PS, não será assunto no #Twitter onde medra toda uma geração da mesma espécie. O António Costa tem o escalpe, alguém sabe?

    Asterisco. E o Valulupi no Aspirina B, claro, e A Estátua de Sal no seu período que os estudiosos consagraram como “Parvoíce Artística”.

    https://expresso.pt/politica/2021-01-04-Caso-do-procurador-europeu-diretor-geral-da-Politica-de-Justica-assume-erros-no-curriculo-enviado-para-Bruxelas-e-demite-se

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