(Ascenso Simões, in Expresso Diário, 11/10/2021)

Senhor Professor,
Deve haver, nos tempos que correm, poucos portugueses que, como eu, estudem, de forma cuidada, todos os seus escritos. Faço-o por lhe reconhecer um papel determinante na construção do país que somos, em tudo o que temos de bom e no muito que temos de mau.
Uma das coisas que os portugueses ainda estão distantes de outros povos europeus é no seu permanente lamento, na visão liliputiana da vida, uma amargura permanente que lhes impõe uma certa negatividade na leitura do hoje e na perspetiva do amanhã.
O texto que publicou na última edição do Expresso é, para mim, um exemplo de tudo o que de mau os portugueses têm, uma vocação para identificarem os erros passados, por vezes autojustificando-se, sem uma ideia, uma proposta que seja válida e que não resulte de modelos gastos.
V. Exa. esteve no governo no início da década de 1980. Voltou, como primeiro-ministro, entre 1985 e 1995, e exerceu a magistratura cimeira entre 1996 e 2006. Nenhum português poderá negar-lhe a responsabilidade de muitos dos nossos insucessos, a paternidade do nosso atraso.
No texto do passado sábado dá-se como vitorioso no facto de, na década de 1990, termos suplantado a Grécia e termos deixado de ser a lanterna vermelha. Saberá que ainda hoje não somos a lanterna vermelha, mesmo que, pelo seu recalcitramento, pareça ter saudades desse posto que poderia servir, como uma luva, para comprovar a sua teoria do caos.
Indica que Portugal estacionou a partir do início deste século. Não desconhecerá o impacto que a Moeda Única teve na nossa competitividade, mas deveria saber que foi mais danoso para o nosso crescimento o facto de, com os seus governos, termos estacionado nas exportações, termos perdido competências e capital em muitos setores e não nos termos preparado convenientemente para o mercado global que se anunciava. Nem a AutoEuropa o salvará.
Pode criticar o facto de, com os governos do PS termos assumido um crescimento com base no gasto público, mas não nega que os seus governos foram os campeões do gasto público e da desorçamentação.
O impacto dos alargamentos da União Europeia aparece no seu texto como sendo responsabilidade dos governos socialistas. Delirante, Senhor Professor. E diz que alguns dos países de Leste têm hoje crescimentos que ameaçam a posição relativa de Portugal no contexto europeu.
V. Exa. esteve no governo no início da década de 1980. Voltou, como primeiro-ministro, entre 1985 e 1995, e exerceu a magistratura cimeira entre 1996 e 2006. Nenhum português poderá negar-lhe a responsabilidade de muitos dos nossos insucessos, a paternidade do nosso atraso.
Regresso aos seus governos. O que fizeram pelo retorno e afirmação do ensino profissional desmantelado nos anos seguintes ao 25 de Abril? O que fizeram pela qualificação das empresas ao nível da gestão? O que fizeram ao nível das políticas de concentração das pequenas unidades sem capacidade de se afirmarem nos mercados internacionais? E, já agora, o que fizeram os seus governos das recomendações de Porter, sabendo-se que as medidas estruturais só se podem confirmar nos médio e longo prazos?
A apreciação de V. Exa. é atravessada por erros históricos graves que não podem ser permitidos a uma personalidade da sua dimensão. Diz: “Deixando de lado Grécia, cujo governo caiu, em janeiro de 2015, nas mãos de um partido de extrema-esquerda semelhante ao Bloco de Esquerda, que arruinou a economia do país…”.
Recomendava-se uma melhor sustentação para classificar o Syriza como partido da extrema-esquerda no exercício da sua governação, mas não pode V. Exa. negar que a crise económica foi provocada pelo Nova Democracia, partido que deverá conhecer bem por ser irmão do PSD, caiu nos braços do PASOK que não teve engenho para martirizar quem havida criado essa mesma crise e, depois da intervenção externa, é ao Syriza que cumpre fazer a política de austeridade e de normalização.
Passa depois para a extraordinária observação de que o empobrecimento do país implica salário baixos. V. Exa. alinha pelo critério dos que negam, partindo de uma base 100 em 2000, que houve, com exceção de 2020, um profundo afastamento da produtividade, para melhor, quando comparamos com o aumento dos salários. E também nega a realidade do SNS, difícil, com os seus problemas de rede e os ataques que os privados lhe fazem todos os dias, que esteve à altura do melhor que tivemos na Europa perante a pandemia que nos assola.
Refazer a história é arte de artífices menores. Sabe V. Exa. as circunstâncias em que Portugal pediu ajuda em 2011, os impactos da crise de 2008. Mas, nessa altura, ficou pela calada com medo da reeleição, elogiou até o líder do governo da altura. E também sabe que a redução de salários, o aumento do tempo de trabalho, as medidas de restrição nos apoios sociais, o congelamento das pensões, não só não levaram ao resultado previsto como aprofundaram a crise. Não há, nos nossos dias, economista criterioso que não indique os erros da UE na resolução da crise de 2008 e nos planos de austeridade que determinou.
V. Exa. não confirma a “chegada do diabo” que se anunciava em 2016. Mas mostra-se pesaroso pelo seu não aparecimento. Até à pandemia Portugal minorava o desemprego, criava emprego, reduzia o défice e a dívida, melhorava no peso da dívida, melhorava salários e pensões. Uma chatice, afinal tudo devia ter dado para o torto.
Para antecipar o insucesso das políticas do atual governo, e dos seguintes, porque não acredito que sejam os socialistas a gerir todos os dinheiros de Bruxelas até ao final da década, vai V. Exa. proclamando urbi et orbi que será uma desgraça, afirma até que a maioria dos economistas tem asseverado que Portugal continuará a decair par a cauda da zona euro.
Não sabendo eu com que economistas V. Exa. fala, talvez os que desgraçaram a banca, as commodities, o mercado de valores ou o imobiliário, sempre direi que se impunha a apresentação de cinco, pelo menos cinco, medidas concretas para a reforma do Estado que sempre reivindica. Não podemos esquecer que o Estado que temos é, na sua grandeza, fruto dos seus governos, que os impactos da segurança social que ainda vamos ter resulta das reformas antecipadas e das valorizações de carreiras que os seus governos concederam para atingirem as duas maiorias absolutas.
Por último, V. Exa. entra pela qualidade da nossa democracia. É aqui que o Senhor Professor não consegue convencer um só português. As exigências da democracia nunca foram prioridade na sua visão do mundo nem na sua ação política.
Portugal está hoje no top five da qualidade da democracia, da liberdade e imprensa e na segurança pública. É uma chatice que estas posições se tenham consagrado com os governos do PS.
Não esqueço, porém, o nascimento, em Belém, de uma intentona contra o PS e contra o Governo do PS. Urdida pelos seus mais próximos, com a ajuda de um órgão de comunicação relevante, preenche o que de mais negro se viu na relação institucional. E é também com espanto que olho as considerações de V. Exa. quando me lembro de uma comunicação ao país absorta a propósito de uma pequena questão que resultava do aprofundamento da autonomia regional dos Açores.
Para se falar em democracia importa que façamos o nosso mea culpa. Vejo que em todos os pontos do artigo que nos fez chegar se negou a um ato de contrição.
Com o maior respeito institucional,
Ascenso Simões
Deputado do Partido Socialista.
o pide nunca dará o bra ço a torcer o incompetente que faltava às aulas na Universidade pública pa ra ir dar no privado entre outras como as ações do BPN que os contribuintes andam a pagar, a permuta da vivenda ,enfim não ser ve de exemplo para nada nem para ninguem,
A “Mumia” de quando em vez ,acorda extremunhada e lamurienta agora sempre a desgraça…..vade rectro…..
Respeito institucional por este pindérico?! Francamente, Ascenso.