Um grande negócio num país de merda – a Fertagus

(Vítor Lima, in Blog Grazia Tanta, 18/07/2019)

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A Fertagus é uma mini-empresa ferroviária pertencente ao grupo Barraqueiro que iniciou atividade em 1999, ligando Lisboa ao Fogueteiro, e de seguida estendida até Coina antes de, em 2005, chegar a Setúbal. A Fertagus foi a beneficiária da subtração de um novo e suculento tráfego que deveria ter cabido à CP, como empresa única (e pública) de transporte ferroviário, até então; dessa subtração resultaram evidentes benefícios para o grupo Barraqueiro, com não menos evidentes e nefastos efeitos nas contas da CP cujo sub-investimento é crónico e com acrescidos custos para o erário público, que vai arcando com os seus deficits, fruto da desastrosa gestão dos sucessivos gangs governamentais. 

Trata-se de mais um caso do tipo parceria público-privada que o Tribunal de Contas considerou …um caso de sucesso único na Europa; portanto, com menos mediatismo do que as parcerias que alimentam parasitas como as pestilências que empestam as área da saúde ou das autoestradas, as escolas privadas com contratos com o Estado, etc. 

 Desde o início se tornou escandalosa a diferença nas tarifas autorizadas à Fertagus, quando comparadas com as cobradas pela CP em tráfego urbano/suburbano para distâncias equiparadas. Essa diferenciação deverá ter correspondido a políticas emanadas dos gangs governamentais de… desarmonização regional, pois resultaram na oneração das populações da Margem Sul.

O favorecimento é tal que um comboio da CP vindo do Sul para Lisboa, por exemplo, não pode parar e transportar pessoas para as estações intermédias entre o Pinhal Novo e o Pragal; os passageiros terão de sair no Pinhal Novo e comprar um bilhete da Fertagus, porque naquele troço da linha não pode haver concorrência; o funcionamento do sacrossanto “mercado” foi esquecido.

No entanto a adjudicação é dada como tendo resultado na “proposta mais vantajosa para o interesse público, definido pelos menores preços para os clientes e menores encargos e riscos para o estado, desde que garantido um serviço de transporte seguro e de qualidade”. O desaforo das mafias governamentais é tanto quanto a mansidão das populações.

Todos os gangs das duas últimas décadas são responsáveis pela situação. Primeiro, Guterres com os seus ministros Cravinho, Jorge Coelho e Ferro Rodrigues; seguiu-se uma dupla de luxo, Santana/Mexia e, mais recentemente, a intervenção do governo Sócrates onde brilharam Teixeira dos Santos e Mário Lino. Os gangs seguintes garantiram a continuidade da situação.

O momento mais delicioso surgiu, em 2005, com o alargamento da circulação até Setúbal. Sabendo-se que a Fertagus não tinha composições que permitissem a continuidade das frequências nesse percurso expandido, a CP aprestou-se a alugar carruagens para que o serviço se mantivesse, proposta recusada pela referida dupla de luxo Santana/Mexia, que preferiu alargar os tempos de passagem de comboios.

Presentemente, fruto de um cuidado planeamento (?), António Costa e Pedro Marques – o criminoso introdutor do fator de sustentabilidade – lançaram um novo regime de passes sociais – cujo lançamento peca por muito tardio – e com um tempo de funcionamento delimitado. Como é óbvio, daí surgiu um aumento da utilização do transporte público e a Fertagus, sempre muito pouco dada ao investimento decidiu reduzir o número de lugares sentados, num contexto em que, hoje, nas horas de ponta, as viagens se fazem com grande número de passageiros de pé. 
Não se ficam por aqui os favores do regime ao grupo Barraqueiro.

Certamente, por intervenção divina, alguém deve ter descoberto uma vocação do grupo para o transporte aéreo, dando-lhe uma participação qualificada na TAP; e, antes disso, com a atribuição da linha de metro de superfície, na Margem sul do Tejo. Decididamente, o grupo Barraqueiro é recebido com passadeira vermelha nos antros da corrupção que enformam o regime pós-fascista.



Fonte aqui

13 pensamentos sobre “Um grande negócio num país de merda – a Fertagus

  1. «Os gangs seguintes»
    Os que se seguiram aos gangs anteriores,
    e que serão seguidos pelos gangs futuros.
    That is the economy…gentlemen.

    • That’s not economy, gentleman
      Economia é a utilização óptima dos recursos para a obtenção de um dado resultado. E essa utilização deve ser feita com muita competência ou, não derive o termo do grego, onde significava a administração do lar
      Claro que a administração do lar, hoje é um pandemónio porque as pessoas, embebidas em consumismo, atascam-se em dívida; provavelmente porque pensam que alguém quererá que saiam da situação de devedores
      A grande questão é precisamente sairmos desse conformismo quanto aos gangs e construirmos algo a que se possa chamar democracia ; que não é certamente o povinho votar de quatro em quatro anos em gangs que, para mais é sempre o mesmo a ganhar – o PS/PSD ou o PSD/PS, com toda a irrelevância para a ordem dos fatores

  2. Gostei e não me detenho em grandes elaborações. Apenas uma negociata esperta, com lucros “mínimos” garantidos que no caso de não serem cumpridos, o Estado (nós) entra para repor o que falta. Coisas maravilhosas dos mentecaptos dos governantes que nos têm gerido, para não dizer, dos criminosamente oportunistas que nos têm feito pagar a parafernália de EP’s e PPP’s que se limitam a engordar as próprias, e as contas de quem assina. A obesidade é um grave problema das sociedades modernas, em todas as suas vertentes…

  3. Uma coisa sei: moro na margem Sul vai para 70 anos, e o Fertagus é , de longe, o melhor transporte a operar entre as duas margens: frequência, horário ,fiabilidade de horário , limpeza , conforto. Aqui há meses tive conhecimento que uma denominada “comissão de utentes”, tinha entregue na AR um abaixo assinado sobre o Fertagus, e a defender a CP ( ?) o que estranhei. . Depois fiquei esclarecido. Os cerca de 200 que assinavam a tal petição eram todos virados para uma lado.( os nomes que eu conhecia…) e provavelmente alguns deles nem nunca viajaram no Fertagus. Assinam de cruz e a pedido. Até fazem lembrar a … Cristas !
    Mas isto digo eu que sou só um utilizador… Não penso macro!

    • Conheço bem o serviço da Fertagus, desde que iniciou a sua atividade. Nada tenho a criticar quanto a cumprimento de horários e conforto (excepto nas horas de ponta e no percurso Pragal/Lisboa e vice-versa). A adjudicação inicial daquele troço de uns 50km a uma empresa privada, à qual foram dadas todas as garantias de rendabilidade, não corresponde ao funcionamento do sacrossanto… mercado. Para os poderes públicos competiria oferecer qualidade, pontualidade, com tarifários adequados a essas garantias ou com tarifários de caráter social (como está a acontecer agora com os passes) cobertos pelo OE/UE. Provavelmente os crânios nacionais devem ter copiado Thatcher quando desmantelou a British Railways privatizou troços, provocando o caos e a desarticulação no sistema. O que, em terras lusas fizeram para as auto-estradas, cada qual entregue a um gang diferente
      A propósito da rede de transportes, imaginem a RENDA que constitui o pagamento de um cartão (0.5€) tantos quantos os modos de transporte (para quem não tem passe) e com uma validade de um ano; o que nada tem a ver com questões técnicas. Se fizerem as contas ao número de cartões vendidos a residentes e a turistas, aquilo é uma boa fonte de rendimento. Recentemente, em Viena, vi que se compram n viagens num papel comum (sem chip) no metro da cidade; os austríacos ainda não devem ter desenvolvida a técnica da extorsão, comum am países de… merda… para fazer jus ao nome do artigo

      • Realmente , é lamentável, mas nas horas de ponta , a Fertagus ainda não tem um lugar sentado para cada passageiro…. e pagar 0,5 €/ano é de fato um esbulho ! E quanto custará o cartão na origem, já que não é só papel ? Deve dar um lucro , (perdão RENDA) do caraças ! Já agora, deveria aprofundar a questão da corrupção na … Austria, .

    • É deveras ignorante e de certo não sabe que para além das linhas/estações serem novas e praticamente oferecidas, dos comboios serem novos e literalmente oferecidos ainda lhes injectam dinheiro que é de todos, têm os preços mais altos do país e ainda têm perioridade sobre todo e qualquer comboio..
      Qualquer mongoloide gere e enriquece com uma prenda destas! A cp com condições IGUAIS fazia melhor e mais barato! O povo é ignorante e gosta de ser roubado por isso tem o país que merece!

  4. A fertagus anda na caça à multa !
    O meu filho foi no passado dia 10 a Setúbal de comboio pela primeira vez, validou o passe na máquina mas pelos vistos foi a errada apesar de ter dado verde .
    O Pierrot (para não chamar palhaço) do revisor , toca de multar apesar de na maquineta dele , também ter dado válido!
    Enfim , paguei e não tive outra opção.
    Parabéns à porcaria de formação que dão e às pessoas que contratam !

  5. Fantástica opinião e fantástico artigo. Aoenas ressalvo o lapso da alusão ao ze portuga que sempre abençoou este negócio e inclusive os preços praticados com a justificação de que cumprem horários. Faz lembrar a máxiMá rouba mas faz……

  6. Curiosa a comparação do serviço com o da CP; a FERTAGUS não é conhecida pelas paralisações sucessivas nem por apresentar aos utentes um nível de serviço equiparável a uma outra solução para travessia do rio Tejo, os “barcos do barreiro”.
    Será que o autor do texto vai para Lisboa todos os dias de carro, ou será que nem sequer reside na margem sul?

  7. Não há paralisações ali, como não há em geral nas empresas privadas onde o direito à greve é muito limitado. Nas que não são privadas, trata-se duma rotina; para mais quando surgem por aí sindicatos/ordens corporativas como cogumelos no inverno com os “velhos sindicatos” a fundirem-se por falta de gente e de pagantes de quotas.
    Quanto à utilização, moro na Margem Sul, NUNCA levo carro para Lisboa, odeio carros e, se tenho um é porque só tenho transporte público a uns 4 km de casa e preciso de me deslocar até onde ele existe. Está esclarecido, Paulo?

  8. Ui?

    Nota. Ó camarada Viktor, pázinho, pensas que estás a discorrer sobre as tuas tangas lunático-revolucionárias na Acampada de Lisboa? Merda de país, então?! Merda foi o que tu, a Raquel e o Renato fizeram naquela espécie de feira da Ladra, sem lei nem roque, à sombra do imperador Maximiliano, em plena praça do Rossio. Lembro-me bem, teve de ir lá a bófia acabar com o recreio dos meninos rabinos.

    http://2.bp.blogspot.com/-Aa0zRYaPCdU/Td-K_WmnDWI/AAAAAAAAC34/sw9fYIQiJcY/s1600/Rossio_1.jpg

    Tem juízo, deixa-te de parvarias queques e de andares armado ao pingarelho, ou ainda não te disseram que já não tens idade para?

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