O direito — o nosso e o dos outros

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 24/03/2023)

Miguel Sousa Tavares

Se, de facto, a Rússia raptou 6000 crianças ucranianas e, à revelia dos seus pais, as levou para a Rússia, com o conhecimento ou o consentimento do Presidente russo, então Vladimir Putin pode ser indiciado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), órgão das Nações Unidas, sob a acusação de crime de “genocídio”, ao abrigo do artigo 5º, alínea e), dos seus estatutos, que reza o seguinte: “Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.” Porém, tal pressupõe previamente diligências de investigação, de prova, de notificação, de contraditório e de defesa que, nos termos do artigo 18, manifestamente não parecem ter sido feitas antes de, com todo o ribombar de canhões na imprensa internacional, o TPI ter declarado Putin “arguido” e contra ele ter emitido um mandado de captura que dizem ser válido em 142 países signatários dos seus estatutos, Portugal incluído — como pressurosamente informou ao país e ao mundo o ministro João Cravinho.

Mas, além dessa minudência processual, concorre ainda outra questão nada menor. Sucede que, não só a Rússia — para efeitos processuais definida como “outra parte” — não é signatária e membro do TPI como não o são também países como Israel, a Turquia, a Arábia Saudita ou os Estados Unidos. Et pour cause. Se o fossem, Israel cairia sob a alçada do artigo 7º, alínea j) — “Crimes contra a Humanidade”, por apartheid; a Arábia Saudita veria o seu príncipe regente, o que mandou cortar às postas o jornalista saudi-americano Khashoggi na embaixada saudita de Istambul, e a quem Biden foi visitar a Riade para lhe pedir em vão petróleo, acusado por “homicídio”, ao abrigo do artigo 7º, alínea a); Erdogan, a quem os outrora Estados de honra da Escandinávia agora mendigam um nihil obstat para que eles os deixe entrar na NATO, seria declarado cadastrado internacional nos termos do artigo 7º por todos os “crimes contra a Humanidade” que pratica à vista de todos contra a comunidade curda do seu país; a NATO, com os Estados Unidos à cabeça, e o ex-Presidente George W. Bush teriam de responder, de acordo com o artigo 8º, que reza sobre os “crimes de guerra”, sobre os 78 dias de bombardeamentos aéreos de Belgrado, onde morreram 2500 civis inocentes em troca de conseguir a rendição do criminoso de guerra Slobodan Milosevic, transportado em glória para ser julgado em Haia… pelo TPI, ou sobre a “Operação Choque e Pavor”, mais conhecida como a 2ª Guerra do Iraque, responsável por 100.000 mortos, quando um grupo de aliados dos americanos, incluindo Portugal, invadiu um país soberano para procurar armas que não existiam — ambas as operações sem mandato da ONU; e os Estados Unidos e três dos seus Presidentes, incluindo o actual, teriam de responder, nos termos do artigo 7º, alínea e), pelo crime de “prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais do direito internacional”. Porque Abu Ghraib (fechada em 2014) e Guantanamo são prisões ilegais, fora de quaisquer jurisdições reconhecidas, para onde os presos foram transportados clandestinamente (e com a cooperação portuguesa), depois de terem sido sequestrados nos seus países, e onde estão, alguns porventura inocentes, há dez ou doze anos, sem direito a advogados, a contactos com as famílias e a correspondência com o exterior, sem serem julgados ou condenados, a poderem ser torturados por ordem presidencial, e a poderem ficar ali até ao final da vida sem que nenhum tribunal se preocupe com eles.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

Sim, Putin não é flor que se cheire. É mesmo um assassino, como disse Biden. Tem aquele hábito desagradável de se livrar dos seus adversários envenenando-os no estrangeiro ou fazendo-os suicidar-se saltando do alto de prédios na Rússia. Nisso, como em outras coisas, embora mais brandamente, segue a tradição dos czares russos que empalavam os seus inimigos fora das muralhas do Kremlin e ali os deixavam a agonizar para servirem de exemplo. Na guerra da Ucrânia, seguramente que, em Bucha e não só, os russos cometeram barbaridades.

Mas só quem não conheça a história da selvajaria secular dos eslavos e da barbaridade das guerras civis, como esta é, só quem ainda se deixe embalar pela narrativa unilateral que aqui, no Ocidente, nos é servida, é que pode acreditar que esta é uma guerra única: bandidos de um lado, anjinhos do outro. Às tantas, a Amnistia Internacional ousou quebrar timidamente essa unanimidade informativa e opinativa estabelecida como verdade única e logo foi trucidada e silenciada na Ucrânia e nas “democracias liberais”.

Temos, pois, Putin, como fugitivo internacional, segundo um critério judicial que se aplica a ele mas não a outros. E o que ganhamos com isso? Segundo uns crânios domésticos de Relações Internacionais e Direito Internacional que tenho escutado, ganhamos muito: agora o homem está diminuído, desprestigiado, acossado. E foi esse pobre e irrelevante homem, esse desprestigiado fugitivo a quem o ministro Cravinho e mais 141 dos seus homólogos prometem deitar a mão, que eu vi esta semana receber em Moscovo o outro homem que vai decidir os destinos do mundo: Xi Jinping. Aquele sobre quem, numa perfeita definição da imensa estupidez aonde nós, o Ocidente, chegámos, um comentador político chinês resumiu a mensagem dos Estados Unidos: “Ó Xi, diga lá ao Putin que vai deixar de o apoiar para que a seguir nós nos ocupemos de si sem ter a Rússia a apoiá-lo.” Caramba, e andam aqui os nossos mestres, professores doutores de Relações e Política Internacional, os auditores dos cursos de Defesa Nacional, os autores (que são sempre os mesmos, dê o mundo as voltas que der) dos Conceitos Estratégicos de Defesa Nacional, a elaborar consumadas teses sobre geoestratégia mundial e, afinal, um modesto comentador da TV chinesa resume tudo numa simples frase que transforma tudo o resto em absoluto ridículo!

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Como disse Aleksandar Vucic, Presidente da Sérvia, a consequência mais óbvia da declaração do TPI é que a Ucrânia fica sem interlocutor com quem negociar a paz. Mas não será isso justamente o que se pretende? Todas as tentativas de mediação surgidas até agora, por mais tímidas que fossem, foram descartadas à partida pelo Ocidente, por inviáveis ou não credíveis: a do Brasil, a da Turquia, a da China, a do Papa. Eufórico, o secretário-geral da NATO, Stoltenberg, já avisou que na próxima cimeira da organização, em Vilnius, vai pedir que o patamar dos 2% do PIB que cada membro tem de gastar com a defesa seja aumentado, e não faz segredo que a área de influência e futura actuação da NATO deve estender-se para a Ásia-Pacífico, assim acompanhando a sua nova Carta, não escrita, que é a de ser a extensão do braço armado dos Estados Unidos, aonde quer que ele vá. Quanto à Ucrânia, e como explicou Teresa de Sousa em recente artigo no “Público”, permaneceremos amarrados em duas posições inconciliáveis: o “campo da paz” e o campo da guerra — perdão, o “campo da justiça”. Sendo que, segundo ela, o campo da paz é-o “da paz a qualquer preço”, e o da “justiça” será então o da guerra a qualquer preço, visto que a justiça não tem preço. Mas eis que agora andam muito incomodados porque, depois de terem passado um ano a tecer loas ao inacreditável fortalecimento do Ocidente que o aventureirismo de Putin tinha proporcionado, olham à roda e vêm uma Europa economicamente destroçada e a China a ocupar paulatina e sabiamente todo o resto do mundo deixado para trás e que estranhamente não vê vantagem em “ocidentalizar-se” — para usar a expressão escandalizada de uma ex-embaixadora americana na NATO. Tudo isto vai acabar espantosamente mal para o Ocidente.

2 Já toda a gente percebeu que este plano governamental para a habitação foi feito em cima do joe­lho e fruto do desespero e da desesperança. É verdade, porém, que não se conhece nenhum outro em alternativa nem tal seria possível. Porque a situação actual não reflecte, de facto, uma crise de habitação, mas uma crise anterior, a montante e muito mais profunda, que nenhum plano de urgência resolverá num par de anos. Numa das muitas discussões que ocorrem, ouvi dizer que o problema estoirou porque, enquanto que até à última década se construíam 800.000 casas a cada dez anos, na última década só se construíram 100.000. Mas não é esse o problema: basta percorrer o país para ver que não faltam casas vazias em Portugal, mas se o Governo quiser deitar-lhes a mão, não encontrará ninguém que queira ir viver nelas.

Não há um problema de falta de casas em Portugal: há, sim, em Lisboa e no Porto e suas periferias. E esse problema chama-se desertificação e abandono do interior e começou a sério há 30 anos.

E sabem quem foi o primeiro responsável político por ele? Um senhor que ainda há dias fez um sermão à pátria, como sempre culpando os outros pelos problemas que ele, na altura, jurou ter deixado resolvidos para sempre. Esse mesmo: Aníbal Cavaco Silva. Há 30 anos — e porque na sua imensa incultura política não percebeu que a agricultura era muito mais do que um negócio de deve e haver —, Cavaco Silva começou por vender a agricultura portuguesa a Bruxelas por tuta e meia. Aí se iniciou o processo de morte do mundo rural e consequente êxodo para as cidades, acentuado depois pelo abandono, sempre subsidiado, das pescas, das indústrias extractivas, dos têxteis, sem nenhuma contrapartida oferecida a quem se quisesse estabelecer no interior e no vazio deixado. Desprezando o modelo europeu das cidades de média dimensão, Cavaco Silva abandonou também os caminhos de ferro e dedicou-se a construir auto-estradas para, como disse então Ribeiro Telles, os espanhóis colocarem cá mais depressa os produtos deles. Foi quando, seguindo sempre um critério rentabilista, se começaram a fechar hospitais e centros de saúde na província, tribunais, correios, escolas, tudo o que representasse a presença do Estado junto dos portugueses, que viviam num círculo vicioso de despovoamento. Apostou tudo nos serviços e no turismo, convidando os portugueses a virem viver para o Porto e Lisboa ou para trabalharem no Algarve, no Verão. Quem veio a seguir a ele continuou o mesmo caminho sem retorno para um país que hoje parece sem salvação à vista. E não foi por falta de avisos ou falta de estatísticas e relatórios crescentes do que se estava a passar. Foi porque, como sempre, nunca há tempo de pensar o país além da próxima eleição ou da próxima greve.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia


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19 pensamentos sobre “O direito — o nosso e o dos outros

  1. Interessante: MST começa por assinalar, e bem, que o TPI precisaria de factos tangíveis para acusar Putin e constitui-lo arguido ; e mais abaixo acusa ele mesmo Putin de “assassino” sem carrear as necessárias provas. Para um jurista, é obra !

    MRocha

    • Ia comentar exatamente isso.
      Assim sendo, assino por baixo o teu comentário.

      Acrescento só duas notas, que fazem a esquizofrenia escrita do MST curta demais:

      – não listou os crimes todos do Ocidente, ou seja as guerras todas, as sanções ilegais para provocar FOME noutros países, os golpes contra Democracias, etc;

      – falou da “certeza” de Bucha, na realidade a farsa já desmascarada por tanta gente e de tanta maneira, mas esqueceu-se das imagens factuais das balas comuns que os Nazis Ucranianos encheram com civis aquando da contra-ofensiva de Kharkov (de Balakleya até Kupiansk, passando por Izium e Lyman).

      E depois, mais uma contradição: por um lado diz que o Ocidente é muito mau e faz mal a todos (e é, e faz) e que a Europa está a perder (e está), mas por outro continua a dizer que a Rússia cometeu um erro em intervir.
      Então queria o quê? Que a Rússia ficasse quieta a ver um genocídio no Donbass? A ver Nazis iniciarem Terceira Guerra Mundial ao invadirem Crimeia?
      A ver a Rússia atacada como a Venezuela sem se poder defender?
      Desmembrada como a Sérvia?
      Estes incoerentes ora críticos das barbaridades do império genocida ocidental, ora pró PAX Americana, estão a viver uma crise ideológica e quiçá existencial. Vai daí e parecem esquizóide frénicos a escrever textos que se contradizem a cada parágrafo.

      PS: recomendo à EstátuaDeSal e a outros leitores aqui que vejam também artigos no ConsortiumNews.
      Há lá um interessante do Scott Ritter que decidiu olhar para o PIB PPP na comparação G7 vs BRICS: já fomos ultrapassados, a tendência é para piorar (para o Ocidente), e isto quando o G7 é grupo fechado e cada vez mais isolado, enquanto os BRICS parecem estar a entrar na fase de alargamento à escala global: Argentina, Argélia, Egito, Turquia, Irão, etc.
      Já para não falar da acelerada desdolarização.

      Sendo que no caso da Turquia, há um aviso Russo a que deviam prestar atenção: não há adesão aos BRICS para quem AINDA estiver na NATO.
      Repararam no AINDA? É só fazer as contas, e por aqui se percebe porque é que a Rússia não sente necessidade de dobrar a aposta militar e libertar Odessa: será inevitável no médio/longo prazo que a entrada no Mar Negro esteja sob controlo de uma Turquia pró-Russa e fora da NATO. Assim sendo, para quê arriscar vidas de mobilizados em Odessa agora?

      E quando isso acontecer, veremos quanto tempo passa até Roménia e Bulgária saírem também, e quanto tempo a Hungria tem paciência para continuar quer na NATO quer na UE.
      E do outro lado do Atlântico o México já levanta a voz contra a ameaça dos EUA, o Presidente AMLO até falou de Assanhe e do terrorismo no Nordstream!
      Até países pequenos já criticam frontalmente EUA, e houve um que acabou de cortar relações com os independentistas belicistas (e fantoches de Washington) de Taiwan.
      Já estão bem a ver o mapa final desta Segunda Guerra Fria? É que em Bruxelas e arredores não conseguem sequer perceber o mapa actual…

  2. O Mundo entrou numa rota de colisão de tal forma, que a nossa única esperança de uma paz mundial, será um asteroide que ameace a Terra de tal modo, que os países nucleares juntem todas as bombas atómicas para o destruir antes que atinja a maçã, caso contrário quando o asteroide chegar (e há-de chegar), já não vai encontrar ninguém para contar.

  3. Os meus quase quatro anos de tropa, como alferes miliciano, não me permitem grandes voos no que a tácticas, estratégias e geostratégia diz respeito (nem grandes nem pequenos, diga-se), mas antes de 24 de Fevereiro o simples senso comum dizia-me que, ao reconhecer a independência das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, a Rússia pretenderia apenas transmitir a mensagem de que a operação ucraniana de recuperação daqueles territórios pela força (que se sabia programada para meados de Março), com a limpeza étnica das populações russófonas e russófilas, era linha vermelha que não seria tolerada e provocaria imediata reacção militar russa em defesa dessas populações. E ao que parece o senso comum não andava longe da racionalidade táctica e estratégica que ia na cabeça de quem disso faz profissão, como os três majores-generais com conhecimentos e experiência reconhecida em zonas de guerra (Carlos Branco, Raul Cunha e Agostinho Costa), depois de 24 de Fevereiro convidados assíduos das nossas televisões durante algumas semanas e depois, porque as suas análises contrariavam a narrativa do pensamento único e incomodavam as plácidas digestões atlânticas, progressiva e paulatinamente “desconvidados”, ao ponto de agora terem deixado quase completamente de “existir”, a não ser a horas em que há poucos para os ouvir. É no que dá esse execrado (que não execrável) pecado mortal que é mijar fora do penico. Antes de 24 de Fevereiro de 2022, todos esses majores-generais diziam que, ao contrário do que afirmavam os americanos, não haveria invasão da Ucrânia pela Rússia, mas que os russos interviriam se, ou quando, houvesse uma tentativa ucraniana de recuperar o Donbass pela força. Era o que eu pensava também. Quanto à Crimeia, não passava nessa altura pela cabeça de ninguém que os ucranianos sonhassem sequer com a possibilidade de a recuperar.

    O moral de quem combate é um factor importantíssimo, muitas vezes decisivo (mesmo que insuficiente se a desproporção de forças é inultrapassável), no resultado de guerras e batalhas, como os próprios russos provaram face a Napoleão e a Hitler. O conflito previsível (se se confirmasse a convicção dos nossos majores-generais) seria necessariamente uma guerra defensiva do lado russo, em que o moral dos defensores, com evidente repercussão na sua eficácia militar em igualmente previsível contra-ataque contra os agressores ucranianos, seria incomparavelmente superior ao daqueles milhares de desgraçados, em colunas de dezenas de quilómetros, que em 24 de Fevereiro invadiram a Ucrânia a partir da Bielorrússia, carne para canhão desmoralizada pela inevitável hostilidade das populações autóctones, cujos bens e propriedades se viram frequentemente obrigados a destruir, em resposta aos inevitáveis ataques de que eram alvo durante a sua progressão.

    Podem os diligentes fiscais da narrativa única massacrar-nos os ouvidos, minuto sim minuto não, com a treta de que aqueles cem mil homens em bicha de pirilau motorizada tinham como missão conquistar e ocupar Kiev, mas isso é papinha para borregos. Quaisquer três neurónios (em bicha de pirilau ou em linha) percebem que tal intenção só seria possível num concurso para a mãe de todas as burrices. Aquele quilométrico pirilau de desgraçados apenas fazia sentido se o seu objectivo fosse atrair para o Norte e Oeste da Ucrânia forças que, de outro modo, reforçariam o Sul e Leste, verdadeiro objectivo do exército russo e das forças independentistas. A bicha de pirilau “a caminho de Kiev” visava desguarnecer as forças ucranianas no Leste e Sul, nada mais faz sentido. Mas, se apenas isso faz sentido, deviam as luminárias que em Moscovo tal sentido tiveram na corneta percebido que as desvantagens ultrapassariam em muito as vantagens almejadas, além de que, ainda por cima, os ucranianos não caíram na esparrela, o que era igualmente previsível, dado o primarismo do “truque”, autêntica subtileza de elefante.

    Ao isolamento internacional quase instantâneo que a manobra significou para a Rússia teremos de acrescentar os milhões de ucranianos que a estupidez táctica e estratégica de tal manobra empurrou, como não podia deixar de ser, para o campo anti-russo. O importantíssimo factor “moral dos defensores”, que exponencia a sua motivação e combatividade, foi assim, com inacreditável estupidez, oferecido de bandeja ao campo ucraniano e é isso que está a tornar tão difícil aos russos a concretização dos objectivos, legítimos, que se propuseram. Que quem planeou a operação não o tenha previsto prova apenas que o vírus da estupidez também grassa em Moscovo e não é exclusivo dos “especialistas” em tudo e mais um par de botas que se atropelam em bicos dos pés no espaço merdiático ocidental. Com excepção da coluna que saiu da Bielorrússia, o contra-ataque de resposta à iniciativa ucraniana poderia até ser basicamente igual ao que vimos em 24 de Fevereiro, com destruição da maior parte da força aérea ucraniana e de outro material e infra-estruturas militares, mas o ónus da agressão ficaria colado aos ucranianos e não aos russos. A coluna que saiu da Bielorrússia, para ucraniano ver, poderia ter reforçado um contra-ataque noutro lugar qualquer, como por exemplo no Sul, no reforço da ligação terrestre entre o Donbass e a Crimeia e na consolidação das forças que avançaram depois para Kherson, dada a necessidade estratégica vital de restabelecer e posteriormente garantir o abastecimento de água à Crimeia, cortado pelos ucronazis logo em 2014.

    A manobra foi quanto a mim (insisto do alto da minha clawsevitzice de bancada) de uma inacreditável estupidez, não só devido aos enormes custos em material destruído e às perdas humanas, nas colunas invasoras, mas mais ainda devido aos custos resultantes da alienação dos chamados “hearts and minds” ucranianos (e, em certa medida, até russos), que o sofrimento e perda de vidas civis e inevitável destruição de propriedade privada e infra-estruturas públicas no território invadido provocaram, com a mais do que previsível rejeição e revolta das populações afectadas contra os causadores diretos de tais desgraças. E isto apesar de, como está mais que provado, os russos terem, pelo menos até agora, feito os possíveis e os impossíveis para minimizar perdas civis. Quando, apesar do cenário de destruição que as televisões mostram, os mortos civis, de acordo com a ONU, não atingiram ainda os nove mil, basta pensar (isto para quem pensa, claro) nas centenas de mortos civis no Iraque e Afeganistão, às mãos dos escuteiros do império bombista do lado de lá do Atlântico, para perceber as diferenças entre eles e os russos na escolha dos alvos e nos pruridos que uns têm e os outros não. Quando digo basta pensar refiro-me aos raros que ainda pensam e tentam perceber alguma coisa, porque, apesar de os números serem claros, quem se atrever a falar neles é imediatamente execrado e insultado como horrível demónio “putinista”. Isto por enquanto, porque, pelo caminho que as coisas levam, qualquer dia é acusado de traição à pátria, expropriado em benefício da reconstrução da Ucrânia e enfiado no chilindró.

    A inacreditável estupidez da táctica inicial russa não anula o facto de que os principais responsáveis pela desgraça a que assistimos são, apesar disso, as autoridades ucranianas, com o presidente palhaço à cabeça, porque, ao recusarem cumprir os Acordos de Minsk a que estavam vinculados, empurraram conscientemente os russos para uma ruptura. Pode criticar-se a forma como essa ruptura se concretizou, ou parte dela, que é o que faço, mas há que responsabilizar quem a tornou inevitável: o fantoche Herr Zelensky von Pandora Papers, borrado de medo dos compatriotas nazis que lhe prometeram uma bala na cabeça se cumprisse a promessa eleitoral que o levou ao lugar (a paz no Donbass, com o óbvio cumprimento dos Acordos de Minsk), e os gangsters titereiros do império do bem que o fazem dançar, sem esquecer o pessoal menor da criadagem europeia, seja ela a dos gatos gordos de Bruxelas e Estrasburgo ou a dos sipaios indígenas dos bantustões que compõem a UE, em que se destacam os untuosos, patéticos e desprezíveis Gomes Cravinho e Helena Carreiras, que de tanto se esticarem em bicos dos pés já devem ter as unhas das patas todas encravadas.

    Dito isto, é evidente que a Rússia não pode perder esta guerra e não vai perder esta guerra, como facilmente se percebe lendo o que o Hugo Dionísio escreveu há dias.

  4. Aos arianos do Hitler seguem-se os russófonos ou os historicamente russos ou um raio que os parte.

    Já para despachar os portugueses brancos que viviam em África foi o maior dos entusiasmos!

    • Olha que o teu querido fóssil fedorento de Santa Comba, esse sim amigo certificado dos arianos de Hitler, não volta mais, e o teu certamente não menos querido Ventrulhas anda demasiado ocupado com as vigarices, corrupilices e pedofilices de amigos e directores espirituais e não está à altura da situação. Deve faltar pouco para cair com o estrondo e a humidade de uma diarreia de elefante. E tu continuarás só. Só e mal acompanhado pela tua própria sombra ressabiada.

      • Reformulando ligeiramente um comentário que talvez tivesse alguma palavra proibida:

        Esse tipo de dizeres identificam o típico progressista luso, personagem que só acossado se diz democrático, acrescendo um qualquer adjectivo, que ficciona o presente, se sente capacitado para definir o futuro e, querendo ignorar o passado o reconstrói ao modo que julga alavancar o seu estatuto de visionário.
        Fácil de fazer e fácil de ser aceite entre a cambada.

        Por tão vulgar, desde há tantos anos, já nem me incomoda o género.

        • Há o típico progressista luso e há o reaccionariozeco sem pátria. E em vez de “desde há tantos anos”, bem podes referir os “49 anos” que te estão atravessados na garganta, que a malta já percebeu e não se importa. À falta de poderes bramar à vontade contra “os pretos”, que hoje em dia fica mal, também já percebemos que “os pretos das neves” da Moscóvia são uma alternativa conveniente. O fantasma do Rosa Coutinho continua a visitar-te todas as noites? Dá-lhe um abraço meu. Beijinhos para ti.

  5. Compreender o curso da “operação especial” da Rússia na Ucrânia…

    Não costumo ir por aqui,mas desta vez teve que ser!

    Pois esta informação não é do conhecimento do público em geral e não é transmitida nos nossos meios de comunicação, claro.

    Há muitas perguntas sobre a “operação especial” na Ucrânia, à qual a Rússia dá respostas evasivas. Por exemplo, como é que os ucranianos os surpreenderam na região de Kharkov com a contra-ofensiva da “carrinha” em Setembro? Ou porque é que o General Sergei Surovikin, um defensor de uma ação indirecta que priva as forças inimigas dos recursos necessários fornecidos pela OTAN para prosseguir a guerra, foi afastado do comando? Especialmente depois de ter conseguido estabilizar as frentes e ter iniciado ataques diários com mísseis contra infra-estruturas críticas, depósitos de equipamento de combate da NATO, comboios de equipamento e estações de descarga de guarnições? A resposta a estas perguntas é que nada disto teve a ver com os verdadeiros objectivos da “operação especial”.

    Podemos ver quais são os objectivos da operação especial analisando a densidade de baixas dos tipos de armas ucranianas em que os russos se têm concentrado ao longo dos últimos 4-5 meses. Verificamos que os radares de contra-bateria têm sido a prioridade, seguidos pela artilharia e MLRS, veículos de combate à infantaria e veículos de combate blindados, radares e sistemas de mísseis AA, quase todos produzidos pela NATO. Recentemente, as defesas AA russas concentraram-se em abater a GLSDB dos EUA (Ground-Launched Small Diameter Bomb), lançada pelo HIMRS, que combina uma bomba guiada GBU-39 de pequeno diâmetro com asas alimentadas pelo motor de mísseis M26.

    Vimos como, sobre o Mar Negro, os caças russos estão a testar métodos pouco ortodoxos para neutralizar o sensível equipamento de reconhecimento dos aviões não tripulados dos EUA, que fornecem informações directamente aos militares ucranianos. Ao mesmo tempo, as defesas antiaéreas russas não se estão a dar ao trabalho de abater os velhos drones soviéticos Tu-141 Strizh lançados pela Ucrânia, que se chocam aleatoriamente contra o território russo. Em vez disso, as armas russas são testadas diariamente numa variedade de alvos, alguns novos como os drones kamikaze Lancet e outros resultantes da modernização das armas existentes. Este é o caso das bombas de aviação FAB-100, 250, 500,1500 que foram equipadas com um kit de planar e GPS, aumentando a sua precisão e alcance até 40 km. Ou a instalação de antigos tanques T-62M modernizados em várias posições de tiro judiciosamente colocadas, em vez de peças de artilharia rebocadas, que não oferecem qualquer protecção aos militares.

    Ao contrário do Surovikin, o General Gerasimov não levantou um dedo para impedir o fluxo de equipamento de combate da Nato desde as fronteiras da Ucrânia até à linha da frente. Os tanques Leopard2, os veículos de combate Bradley, os mísseis HIMARS e Harpoon estão a atravessar o território ucraniano como se estivessem em desfile.

    Qualquer pessoa mentalmente retardada, com excepção dos generais que aparecem nos programas de televisão, pode compreender que o objectivo da operação especial russa não é ocupar a Ucrânia, mas testar as armas da NATO utilizadas pelos ucranianos. Quando a NATO entregar mesmo um pequeno número de aviões F-16, F-15, Eurofighter Typhoon, Gripen, Rafale ou Mirage aos ucranianos, Gherasimov ficará muito contente, porque os russos também poderão encontrar o antídoto para eles. Assim que a Rússia tiver adaptado a sua tecnologia de combate às vulnerabilidades das armas da Nato, Gherasimov receberá luz verde para ocupar a Ucrânia no prazo de um mês.

    A 17 de Dezembro de 2021, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo enviou aos EUA e à NATO um projecto de tratado para dar garantias de segurança à Rússia, ou seja, um regresso da Europa Central à situação anterior à Cimeira de Madrid de 1997, retirando bases e tropas estrangeiras de todos os antigos países socialistas. Os EUA e a NATO rejeitaram a proposta da Rússia. Assim, para aqueles que têm um mínimo de poder cerebral para compreender, a “operação especial” é apenas uma etapa intermédia, levada a cabo no terreno do desfile ucraniano, em equipamento de clientes, para repelir a iminente invasão da Rússia pela NATO. Para não deixar dúvidas de que a Rússia pretende atingir o objectivo que tinha proposto aos EUA e à NATO tomou a decisão de implantar armas nucleares tácticas na Bielorrússia.

    Isto explica porque o Imperador Xi Jinping foi a Moscovo. Os EUA não aceitam tornar-se a segunda maior economia do mundo e planearam uma guerra com a China através de Taiwan, tal como faz com a Rússia através da Ucrânia. A última guerra da China foi contra o Vietname em 1979, com ambos os exércitos a utilizarem armas soviéticas ou clones das mesmas. Entretanto, a China desenvolveu armas semelhantes às armas ocidentais, que ainda não foram testadas num conflito real. Se Taiwan tivesse sido armado pela Rússia, a China teria oferecido as suas novas armas à Ucrânia para serem testadas. Uma vez que Taiwan está armado pelos EUA, tirem as suas próprias conclusões!

    Parece-me que a principal característica da liderança em Washington (não a sua ideologia distorcida, bizarra e neoconservadora, deliberadamente irrealista e fantasiosa, divorciada da realidade) é a sua colossal e extraordinária incompetência. Alguma vez houve um governo pior e mais ineficiente em Washington? Passam de uma catástrofe para outra e nunca aprendem com ela. Simplesmente continuam, independentemente do próximo e maior fiasco. Iraque, Síria, Líbia, Afeganistão, e agora a Ucrânia, o maior desastre de todos! Como poderiam eles convencer-se de que a Rússia entraria em colapso devido a sanções económicas, que seria derrotada pela Ucrânia no campo de batalha e que isto levaria a uma mudança de regime na Rússia e outros disparates..

    Mas, não satisfeito, com a guerra por procuração na Ucrânia, Washington prepara-se agora para desafiar a China e entrar em guerra com eles dentro de alguns anos! Esta guerra será o último prego no caixão do Império de Washington, e eles estão a caminhar para a sua própria derrota esmagadora contra a China sem qualquer compreensão real de quão imprudentes e suicidas são as suas políticas. A estupidez, arrogância e vaidade da elite imperial em Washington são ilimitadas. A grande questão é se os Estados Unidos, o principal estado do Grande Império Ocidental, um império que durou cerca de quatro séculos, aceitarão a ascensão pacífica da China e o seu regresso, ou, em desespero louco, tentarão deter a China, amarrando-a militarmente?

    Um último lançamento dos dados, uma última rodada de roleta, enquanto ainda podem pagar a sua vasta máquina militar e a China é uma potência militar menor e Washington ainda acredita que pode ganhar uma guerra com a China. Mas poderão os americanos ganhar uma guerra com a Rússia e a China ao mesmo tempo? Ouvi novamente o discurso de John F. Kennedy na Universidade Americana em Junho de 1963.

    É verdadeiramente espantoso o quanto os valores da América declinaram. Até Reagan, no início dos anos 90, tratou os soviéticos com respeito. Hoje em dia, Biden, Blinken, Nuland, Sullivan e outros nesta administração têm um orgulho marcado. Pura arrogância! Avdiivka é a principal área que tem bombardeado território civil em Donetsk durante cerca de 9 anos, tornar-se-á um facto e um alívio sincero na medida em que, quando as forças russas tiverem um controlo topológico adequado, porão em grande parte fim às actividades terroristas dos militares ucranianos.

    Os militares ucranianos que cometeram estas atrocidades terão apenas um quarto à sua disposição ou a ser-lhes mostrado pelas forças russas, quando finalmente forem capazes de assumir o controlo militar total, contribuindo assim para a cessação dos bombardeamentos civis indiscriminados. Se, se verificar que algum militar ou civil ucraniano é parcialmente responsável por estas atrocidades, deverá ser detido e enfrentar uma forma adequada de justiça judicial. Todas estas atrocidades e os seus perpetradores devem enfrentar uma forma pública de reparação judicial, idealmente televisionada.

    O fascismo, que não tem lugar na nossa comunidade internacional. Infelizmente, a maioria do Ocidente colectivo tem sido frequentemente criticada pelos seus líderes políticos e, em alguns casos, abertamente celebrada pelas suas próprias elites políticas. O conflito fabricado na Ucrânia por Washington e pelos seus soldados subordinados tem agora sido compreendido principalmente por nações não ocidentais.

    A guerra ilegal no Iraque e os seus custos contínuos e enormes para os EUA fizeram parte da dinâmica que acabou por conduzir à crise de crédito de 2008-12 e à destruição maciça de empresas, pequenas empresas, etc., em muitos países; desemprego, perda de casas. O fluxo contínuo de armas também alimentou violentos movimentos jihadistas, incluindo o Estado islâmico, que lucrou com alguns deles .

    O apoio global da UE/NATO e dos EUA à Ucrânia, com enormes quantidades de armas e dinheiro, é uma parte importante do contexto da recessão e das perspectivas sombrias em muitos países ocidentais, incluindo os EUA. O dinheiro que deveria ter sido utilizado para investimentos produtivos, para a educação, está a ser apressado em equipamento militar, mísseis, tanques e munições para a Ucrânia, com pouco sucesso. Por isso, há uma nova recessão e uma nova “grande”crise bancária.

    As enormes quantidades de armas que foram injectadas frequentemente sem qualquer controlo apertado do local para onde foram depois de atravessarem a fronteira para a Ucrânia (fontes do Pentágono admitiram repetidamente este problema) também alimentou o mercado negro de armas e algumas destas armas acabarão em conflitos posteriores na Europa Oriental, ou no Médio Oriente. Testemunho realista de Steven Van Metre, 03/10/2023 “A dada altura, o Fed terá de voltar a zero, talvez até aceitar taxas negativas para salvar o sistema bancário. Porque nem sequer se apercebem… estão a causar este problema. Vão causar uma crise de liquidez sistémica nos bancos pequenos e médios. Vai causar um pânico total e agora estão apenas a ver o início”.

    • Isto sim, isto é análise sofisticada, sobre uma guerra planeada para preparar um futuro domínio planetário que se adivinha próximo; por acréscimo, atrevo-me a inferir, vão-se libertando de abundante material obsoleto e de uns milhares de soldados sem lugar num mundo novo a construir.
      Aguarda-se com ansiedade que tamanho poder cerebral revele a verdadeira estratégia subjacente àquele avanço e retirada sobre KIev,

      • Nós sabemos que ser estúpido não cansa, pá, mas a malta cansa-se de assistir à tua estupidez. Se a modalidade fosse contemplada nos Jogos Olímpicos, tinhas garantida a medalha de ouro. Para ti, aliás, a de ouro não chegava, teriam de criar a de platina.

        • Lapso imperdoável!
          Pois não tinha lido que já poderoso cérebro tinha desvendado a estratégia em Kiev: pôr uma coluna de veículos militares, devidamente tripulada e municiada, como galeria de tiro ao alvo para atrair tropas ucranianas para o norte!
          Bem sei que havia actividades paralelas para entretenimento das tropas como em Bucha e outras localidades.
          Mas para alcançar que tomar Kiev e colonizar a Ucrânia nunca foi objectivo, que tudo não passa de missão humanitária visando impedir um genocídio, não basta poder cerebral; estamos confrontados com verdadeiro génio!

  6. Força Joaquim Camacho e que os teus beijinhos sejam de «baton» vermelho, para serem bem notados!
    Caramba, neste mundo que parece cada vez mais ensandecido, em alternativa ao «xanax» só nos resta uma boa dose de humor de quando em vez! :)))))))))

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