Ucrânia: Preparar o saque

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 12/12/2022)

“Botín de guerra” — um termo antigo para um procedimento sempre atual — é a designação dos bens de uma nação ou exército que devem constituir um troféu e recompensar os vencedores. A palavra parece ser de origem alemã e significava “presa”. A divisão do botín de guerra é geralmente acordada antes do início do assaltos.

Os senhores da guerra vão realizando análises de custos e benefícios ao longo das campanhas até chegar ao momento em que decidem terem mais a perder do que a ganhar com a manutenção das hostilidades, que chegou o tempo de negociar o saque. No caso da Ucrânia, estão em jogo os milhares de milhões de euros de “ajuda à reconstrução”! Os franceses deram sinal de vida e já estão em campo, de dente afiado, informa do Le Monde: “Guerre en Ukraine, en direct : 500 entreprises françaises réunies mardi à Paris pour reconstruire l’Ukraine.” Estas sociedades participarão na segunda gonferência que terá lugar em 13 de Dezembro e leiam-se os bondosos propósitos: “ responder às necessidades criticas da Ucrânia, contribuir para a reconstrução do país e investir a longo prazo no potencial da economia ucraniana” — segundo o Eliseu. (Do jornal da União Europeia).

Após a reunião do Conselho Europeu de 20 e 21 de outubro de 2022, a Comissão propôs hoje (9/Dec) um pacote de apoio sem precedentes para a Ucrânia de até 18 mil milhões de euros para 2023. Isso será feito na forma de empréstimos altamente concessionais, desembolsados ​​em parcelas regulares a partir de 2023. Esta assistência financeira estável, regular e previsível — com uma média de € 1,5 mil milhões por mês — ajudará a cobrir uma parte significativa das necessidades de financiamento de curto prazo da Ucrânia para 2023, que as autoridades ucranianas e o Fundo Monetário Internacional estimam em € 3 a € 4 mil milhões por mês. O apoio apresentado pela UE necessita de ser acompanhado por esforços semelhantes de outros grandes doadores, a fim de cobrir todas as necessidades de financiamento da Ucrânia para 2023. Graças a este pacote, a Ucrânia poderá continuar a pagar salários e pensões e manter em funcionamento serviços públicos essenciais. Também permitirá à Ucrânia garantir a estabilidade macroeconómica e restaurar as infraestruturas críticas destruídas pela Rússia. O apoio europeu será acompanhado de reformas para “reforçar ainda mais o Estado de direito”, a boa governação e as medidas antifraude e anticorrupção na Ucrânia.

O aprofundamento do Estado de Direito na Ucrânia está mesmo no comunicado da Comissão Europeia, não é piada. (https://ec.europa.eu/commission/presscorner).

Da parte dos Estados Unidos, Joe Biden propôs um reforço de 275 milhões de dólares para a defesa aérea da Ucrânia. Mais 53 milhões para a recuperação de infraestruturas e felicitou o discurso de Zelenski de abertura para uma paz justa baseada nos princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas. (The Guardian 12/12/2022). Vários líderes europeus e o secretário-geral da NATO introduziram os riscos da escalada da guerra nos seus discursos.

Em resumo, o “Ocidente” está a preparar o futuro e a anunciar o fim das ações militares na Ucrânia. O plano parece claro: estabilizar a situação no terreno, não permitindo mais avanços da Rússia, através do reforço da defesa aérea que limita novas conquistas e tratar dos negócios da reconstrução. Os Estados Unidos atingiram o seu objetivo principal: subordinar a União Europeia e bloqueá-la na sua órbita, separando-a da Rússia e destruindo a sua coesão e veleidades de autonomia.

Contudo os estados ocidentais irão para o saque do futuro da Ucrânia em ordem dispersa, cada um por si e contra os outros para abocanhar o que puderem dos fundos atribuídos à “reconstrução” da Ucrânia: os franceses estão a preparar-se, assim como os alemães. A Polónia deverá ser recompensada do seu apoio como base logística com uma parcela da Ucrânia, o Reino Unido servirá de sócio principal dos EUA, e a Turquia venderá caro os seus bons ofícios de intermediação e na manutenção de pontes entre as partes, que deverão ser pagos pelo Ocidente e pelos curdos. Os Estados Unidos através das suas empresas serão os grandes “reconstrutores”, como já foram no Iraque!

A dúvida é o comportamento da Rússia. O que consideram os russos “atingir os seus objetivos”? O fornecimento pelo Ocidente de grandes quantidades de armamento à Ucrânia tem por finalidade limitar as suas pretensões.

À Ucrânia de Zelenski resta o papel de carne para canhão e de tesouro de guerra.

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14 pensamentos sobre “Ucrânia: Preparar o saque

  1. Carlos Matos Gomes
    Consegue ver com muita clareza um dos lados. E o outro lado para si é absolutamente opaco ?
    Esperava que uma intervenção sua fosse mais objetiva e isenta. Creio que de “guerra psicológica” aprendeu muito ao longo da sua carreira militar, mas não a utilize agora em relação ao grave momento que estamos a viver na Europa em “particular” e no mundo em geral. Uma intervenção neste tema merece mais cuidado a não ser que se dirija deliberadamente aqueles que só veem “Braga por um canudo” …
    Faço-lhe ainda uma pergunta. Alguma vez esteve na antiga URSS como cidadão isolado ? Ou na actual FR de Putin ? Ao menos está informado sobre a História das relações entre a Rússia e a Ucrânia ?

    • Comentário tendencioso, não acha ?

      Se eu lhe apresentasse cidadãos da URSS ou da Federação Russa que estivessem contentes com a sua vida, com as oportunidades providenciadas pelos seus governos e que tivessem amplo acesso a todo o tipo de serviços (tendo em conta as diferenças inerentes a ambos os sistemas políticos), o senhor aceitaria isso ou acusaria logo essas pessoas de estarem coagidas ou de serem fantoches do regime ?

      Estou mesmo a ver a resposta…

      E, no entanto, nada disto impede que as pessoas não possam ter preocupações ou estar insatisfeitas com isto ou aquilo que aconteça nos seus respetivos países. Ou vai dizer-me que está satisfeito com tudo o que acontece em Portugal ou na Europa ?

      Bem sei que está aqui a falar de ditaduras, mas então deixe-me dar-lhe um exemplo muito claro de como os regimes ocidentais gostam muito de espalhar a sua própria propaganda:

      https://m.youtube.com/watch?v=20DgWZtImUk&t=198s

      Veja lá que para ver isto nem precisa de pensar muito.

      Não passam a vida a dizer-lhe que Cuba é uma ditadura que oprime as pessoas ? Onde é que já viu eleger o seu vizinho canalizador como delegado municipal em Portugal ?

      A única razão por que lhe dizem que os outros estão “mal” é para o senhor não questionar nada acerca das decisões políticas que são tomadas no seu próprio país e para não reivindicar os direitos mais básicos que lhe assistem a si e a todos os seus concidadãos.

      Passe bem.

      • Um cidadão sem nome não merece resposta .
        Contudo…Para além desse facto acresce essa salada russa dos seus comentários típicos de quem quer viver de olhos fechados e se precipita a “assaltar” um tiroteio de comentários inconsequentes e desarticulados. Se me tivesse lido com atenção teria compreendido melhor a intenção do meu comentário ao texto de C. Matos Gomes..
        E espero que o seu “Passe bem” signifique que vai continuar escondido no seu armário e não me volta a fazer perder tempo com o seu discurso de uma nota só.

      • Primeiro lugar: o meu “passe bem” procurou ser uma coisa educada – aliás, como o resto do meu comentário, onde procurei, nada mais nem menos, do que providenciar a informação de que tanto gosta do lado oposto – para contrariar a opacidade que tanto o agasta e vexa.

        Segundo lugar: se eu bem compreendo o seu comentário, queixa-se da incapacidade do Coronel apresentar seja o que for do lado oposto, por esse ser opaco. Ora então o que é que o senhor quer mais do que todos os discursos feitos pelo lado oposto desde Munique em 2008, assim como todas as propostas diplomáticas avançadas por esse lado (o mecanismo correto para se fazer política) e nas quais estão delineadas todas as ideias, propósitos e objetivos da política externa russa ?

        É que essa é uma das vantagens dos russos: eles têm uma desagradável tendência em dizer aquilo que pensam sem quaisquer artifícios de linguagem.

        Aliás, até chateia.

        Ainda hei-de perceber como é que o Vladimir consegue dizer a mesma coisa há 14 anos, mas o Milhazes, de 10 em 10, tem que arranjar um passatempo novo para dar vida à barba.

        Em terceiro lugar, o que é que interessa se o Coronel sabe alguma coisa da história das relações entre os povos daquela parte em particular do planeta ?

        O senhor sabe alguma coisa da China ? E no entanto, deve ter andado todo ufano a mandar impropérios contra os mesmos por causa dos lockdowns e as “violações de direitos humanos” em Xinjiang, ou engano-me ?

        Se faz uma análise errada de acontecimentos contemporâneos, não é SÓ problema de falta de cultura histórica – é mesmo porque está propagandeado para odiar o lado oposto e dizer que ele é opaco.

        Quer um exemplo ? Vá ver o vídeo “Comentadores” de sexta feira passada no canal de YouTube do jornal AbrilAbril e veja o que Pedro Tadeu diz acerca da China.

        Eu sei que não é a Rússia, mas às vezes é difícil agradar os padrões elevados dalgumas luminárias que por aqui decidem surdir.

        Aliás, eu não preciso de saber nada de história de capitalismo, ou de economia ou ter um curso em Direito para saber que os professores portugueses andam em greves a reclamar a questão da progressão de carreira congelada, não é ?

        Não preciso de ser doutorado em história da Ucrânia para me pronunciar acerca dela: basta ler aquilo que as pessoas certas escrevem sobre esse país e sobre relações étnicas.

        Vai pedir as referências bibliográficas ao Coronel, é isso ?

        Por último: assalto a comentários desarticulados ? Então o que é o senhor fez ao Coronel ? Não foi um assalto a um comentário desarticulado ?

        Que eu saiba, ainda vivemos num país livre e onde a livre expressão de opinião é permitida, de modo que, se o senhor se digna a comentar e a reclamar com o Coronel Matos Gomes, eu acho que posso bem consigo e com as suas torneadas retóricas!

        Se eu discordo com aquilo que diz, porque é que não hei-de me exprimir acerca desse desacordo, tal como fez com o Coronel ?

        E o anonimato, ficou resolvido ?

  2. Eu por acaso também nunca estive na antiga URSS ou na Rússia de Putin como cidadão isolado. Mas sei de fonte segura (disse-me um passarinho e confirmou o Milhazes) que tanto numa como na outra comiam (e comem) criancinhas ao pequeno-almoço. Com uma diferença: dantes comiam-nas cozidas, agora preferem fritá-las.

    • Se a questão não fosse tão grave eu até seria capaz de me rir com o humor dessa referência à “fonte segura (disse-me um passarinho e confirmou o Milhazes)” na qual fundamenta o seu saber relativo à forma como antes e depois se comiam criancinhas por aquelas bandas que não são do seu conhecimento. O seu saber, pelo que escreveu, limita-se a esse blá-blá das criancinhas ao pequeno almoço. Esse facto deve levá-lo a sentir-se “tranquilo e despreocupado”, recomendo-lhe, por isso, que se mantenha nesse estado .
      PS – recomendo-lhe continue a ouvir as informações sapientes do cidadão Milhazes para se manter atualizado em relação às criancinhas servidas ao pequeno almoço dos cidadãos tranquilos…

      • E você por acaso sabe dos bombardeamentos diários sobre os ucranianos das províncias separatistas de Donetsk e Luhansk, levados a cabo desde 2014 por outros ucranianos, nomeadamente os “escuteiros” dos batalhões Azov, Aidar e afins, sem que as “democracias” ocidentais, hoje indignadíssimas, tugissem nem mugissem? Por acaso ouviu falar dos 15 mil mortos dos dois lados, dos quais mais de três mil civis, 70% do lado separatista? Ouviu falar dos cortes de energia (com os quais agora todos os dorminhocos se indignam) feitos desde 2014 pelos ucranianos “bons” aos compatriotas das regiões que queriam apenas ter uma palavra a dizer sobre o seu futuro, sem serem perseguidas e impedidas de usar à sua vontade a língua que toda a vida foi a sua? “Se querem falar russo, vão fazê-lo para a cozinha”, disse pouco depois do golpe de Estado de Maidan o primeiro-ministro nomeado pelos americanos Arseniy Yatsenyuk? Simpático, não acha? E por acaso sabe que a primeira medida aprovada pelo parlamento ucraniano pós-Maidan foi a proibição do uso da língua russa a nível oficial? E que nessa altura nem sequer havia ainda separatismo no Donbass ou na Crimeia? E chegou-lhe por acaso aos ouvidos que a antiga primeira-ministra ucraniana Yulia Tymoshenko foi apanhada numa gravação telefónica (não são só os americanos que fazem dessas maldades) a sugerir que a melhor maneira de tratar com os russófonos e russófilos do Donbass era à bomba… nuclear? E você, certamente indignadíssimo com os bombardeamentos russos às infra-estruturas de energia e abastecimento de água, sabia que, quando a Crimeia declarou a independência, primeiro, e depois pediu a adesão à Rússia, a Ucrânia lhe cortou completamente o abastecimento de água, que era feito através de um canal a partir da região de Kherson? Sabe quantos habitantes tem a Crimeia, que a Ucrânia considera serem cidadãos seus ocupados e oprimidos pela Rússia? 2,4 milhões! A Ucrânia bué da democrática e humanitária, bastião de defesa da liberdade e da democracia ocidental, cortou de um dia para o outro o abastecimento de água a 2,4 milhões dos seus concidadãos, dizimando completamente a sua agricultura e deixando-os, para beber, tomar banho e cozinhar, reduzidos a poços, furos e ao abastecimento vindo da Rússia, que, obviamente, nunca poderia suprir as necessidades satisfeitas pelo canal que até então garantia o abastecimento.

        E nazis na Ucrânia, acha que é mito? Propaganda putinista? Sugiro que perca uns minutinhos a ouvir este magnífico “escuteiro” humanista ucraniano, de sua graça Yevhen Karas, em 5 de Fevereiro. Eles não se chamam a si próprios “nazis”, preferem “nacionalistas”, mas ouça-o com atenção e tire conclusões. Se quiser, claro! Se não quiser, garanto-lhe que é o lado para onde durmo melhor.

        https://youtu.be/DOBntnuYCMA (5-2-2022, Yevhen Karas, chefe do grupo nazi ucraniano C14, sobre Javelins, Maidan como “gay parede”, Rússia dividida em cinco, etc.)

        https://youtu.be/03AqKuCg96I (mais completo, nomeadamente sobre como toda esta democrática Europa se vai ver à rasca com a nova Ucrânia)

        E quando ele diz: “We have fun killing and we have fun fighting”, não acha uma ternura? E o que diz desta: “We are the flagman here, because we started a war that has not been seen for 60 years.” Pôcera, eu, na minha parvidez, a pensar que a guerra tinha começado em 24 de Fevereiro e vem este desmancha-prazeres dizer que ele e os amigos dele já a tinham começado muito antes! Já não há respeito pelo doce ripanço dos borregos? E o PAN, onde está o PAN quando os borregos precisam dele?

        E sabia que, aquando do golpe de Estado de 2014, a Rússia tinha com a Ucrânia um contrato de arrendamento a longo prazo (40 anos) da base naval de Sebastopol, na Crimeia, automaticamente renovável, e que a mesma Tymoshenko, entusiasmadíssima, no calor do golpe de Estado, disse que a Ucrânia tinha de mandar quanto antes o contrato às urtigas e chutar os russos dali para fora? Para lá meter os americanos, claro! E acaso consegue perceber que sem a base de Sebastopol a Rússia teria praticamente vedado o acesso ao Mediterrâneo e ao Atlântico, os chamados “mares quentes”, ficando reduzida aos portos do Norte (gelados grande parte do ano e por isso inoperacionais), do Pacífico e do Báltico, este um autêntico mar NATO, fechado, facilmente bloqueável em caso de problemas. O que acha que pensaria se estivesse à cabeça dos destinos da Rússia? Que não havia nada de mal em ter uma base naval americana ali mesmo ao virar da esquina? E por acaso ouviu falar do célebre massacre (cem mortos por snipers) na praça de Maidan, em 2014, do qual foram acusados polícias ucranianos alegadamente a mando do presidente legitimamente eleito Viktor Yanukovitch? Sabia que, afinal, o dito massacre, que facilitou a denúncia do acordo para eleições antecipadas assinado pelo presidente eleito e pela oposição, foi afinal obra de snipers a mando de alguém da oposição e não do Yanukovitch? Não foi o Putin que o disse, foi o então ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia, Urmas Paet, em conversa telefónica com a então representante europeia para os Negócios Estrangeiros Catherine Ashton, provavelmente gravada pela secreta russa. Pode confirmar aqui:

        https://youtu.be/FSxMaU8oUeo (em inglês)

        https://youtu.be/fXslPCrN_9E (em espanhol)

        E o que acha da reacção de Catherine Ashton, então responsável pela “diplomacia” europeia (seja lá isso o que for), às informações que lhe são dadas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia, país da NATO conhecido pela sua russofobia paranóica: “Hum… Hã… Hã… Hum…” A reacção normal seria a de uma enorme espantação e indignação, não lhe parece? Perceber subitamente que andamos de braço dado com gente capaz de assassinar a sangue-frio os próprios amigos e correligionários para incriminar o adversário e facilitar uma agenda política de conquista do poder a curto prazo? É de gelar o sangue a qualquer um, não acha? Pois é, mas isso é para quem tem sangue com hemoglobina. Os gatos gordos de Bruxelas e Estrasburgo levaram todos transfusão de sangue de gafanhoto. Quase conseguimos ouvir a cabeçorra… perdão, a bela cabecinha da baronesa com cara de cavalo em modo desesperado de controlo de danos e à beira de gripar: “Porra! Este cab*** não se cala? O idiota não sabe que as nossas conversas são todas escutadas e gravadas? E que, se isto chegar ao conhecimento público, nós, gatos gordos da Europa democrática e civilizada, vassalos sem espinha do império do bem, não podemos continuar a fingir que acreditamos estar a apoiar as puríssimas almas dos heróicos democratas ucranianos? Fod**se para o cab*** do estónio, que é mesmo estúpido!” (pardon my French, querida Estátua, mas às vezes não há substituto para o vernáculo). Preocupação injustificada a da madama, aliás, já que a coisa chegou mesmo ao conhecimento público, mas, como sempre, de um público restrito, já que os borregos foram, também como sempre, carinhosa e diligentemente protegidos da perniciosa actividade que se chama pensar (vade retro!). E mesmo quando a informação passa, uma vez por outra, inadvertidamente, os doces, ternos e tenros borreguinhos têm tendência a ignorá-la. Só os entusiasma a erva verdinha, pastá-la bem fresquinha. Pensar torna a lã encardida e depois, no matadouro, a carninha deixa de ser tenrinha. O dono não gosta. Que ternura, os borreguinhos! Adoro-os!

        E se por acaso não sabia nada disto, ou a maior parte, pergunto-lhe: ainda não percebeu que, entre outras razões, talvez seja porque o jornalismo é coisa do passado? Pois fique sabendo (o saber não ocupa lugar, disse um maluco qualquer) que apenas meia dúzia de t-rex, brontossáurios e triceratops se lembram do que isso é. Está visto que não pescam nada de modernidade! Percebe agora porque é que, para aí uma semana depois do início da invasão russa (sim, é este o termo certo) da Ucrânia, uma das primeiras medidas da Ursula von der Lata und Pfizer e restantes gatos gordos de Bruxelas foi calar a RT? Bué da democrático, não acha?

        E por acaso sabia que, antes de 2014, o presidente legitimamente eleito Viktor Yanukovitch tentou fazer uma parceria com a União Europeia, com vista a uma possível integração, mas queria que essa parceria não impedisse a Ucrânia de continuar a ter relações económicas (e não só) estreitas com a Rússia? E sabia que a Rússia estava perfeitamente de acordo com isso, ou seja, não se opunha à integração europeia da Ucrânia mas queria continuar a ter relações próximas com um vizinho com o qual, por razões demográficas, culturais e até familiares, tinha enormes afinidades? Não lhe parece que isso seria bom para toda a gente, países e povos? E sabia que a resposta dos gatos gordos de Bruxelas e Estrasburgo foi um rotundo não? Ou seja, a condição para a Ucrânia ser aceite pelos gatos gordos era cortar completamente relações com os vizinhos e “primos” da Moscóvia. O que acha você da valentíssima esperteza dos gatos gordos de Bruxelas de recusarem um possível futuro de paz e cooperação, só porque os patrões da América mandaram? Não lhe ocorre que uma Europa com a Ucrânia, mas sem excluir a Rússia, com os seus enormes recursos naturais, desde petróleo e gás a ouro, diamantes, todo o tipo de metais de que a Europa precisa para a sua indústria, cereais, etc., seria uma Europa fortíssima, que a indústria europeia, nomeadamente alemã, só chegou aonde está hoje graças à energia barata russa, nomeadamente gás? E por acaso não percebeu ainda que a economia europeia, sem a energia barata russa, não terá capacidade concorrencial nos mercados mundiais e está condenada, a prazo, ao definhamento? Você, como europeu, está satisfeito com isso? Está à espera que o “amigo americano”, depois de o (nos) condenar a prazo à irrelevância, venha, do alto do seu nobre coração, ajudá-lo a manter o nível de vida de que a Europa beneficia hoje? Não percebeu ainda que, para lá da guerra visível, a guerra principal é a dos Estados Unidos da América contra a Europa? E que a América já ganhou essa guerra? E que os principais derrotados são a Ucrânia destruída e a Europa em vias de destruição? Não percebeu ainda que, para o “império do bem”, você não passa de um índio? Sabe o que aconteceu aos índios?

        E nesta abençoada época em que tanto sofremos com o bloqueio da Moscóvia à exportação de cereais ucranianos que iam matar a fome aos deserdados do planeta, sabia que, afinal de contas, o maior exportador mundial de trigo é a Rússia? E que o acordo a que ucranianos e russos chegaram há alguns meses, com mediação turca e da ONU, previa também o desbloqueio da exportação de cereais e fertilizantes russos? Ou acha que as exportações russas de trigo, por exemplo, em quantidade três vezes superior às da Ucrânia, não matam a fome aos pobrezinhos de África? Será o trigo ucraniano mais nutritivo? E sabia que a parte do acordo referente aos russos não foi cumprida? E que os gatos gordos de Bruxelas e seus patrões de além-mar vieram logo ganir, como vigaristas que são, que as sanções à Rússia isentavam expressamente as exportações de cereais e portanto as queixas russas de incumprimento do acordo eram infundadas? Mas, azar dos Távoras, sabia que os cereais e fertilizantes são transportados por mar e que os navios russos que os transportariam estão proibidos pelas sanções de aportar em portos europeus e de muitos outros países? E que, como se isso não bastasse, as seguradoras (principalmente europeias e americanas), estão proibidas de segurar navios russos, mesmo os que se dirigem a portos de África ou qualquer outra parte do mundo?

        Pois é, as suas insinuadas deambulações pela antiga Moscóvia comunista e pela contemporânea Moscóvia putinista parecem, afinal, não lhe ter permitido ficar a saber grande coisa, algo que lhe desse para um pouco mais do que umas inanidades inconsequentes e uns bitaites taxistas bué da mainstream. Eh pá, mas deve ter sido uma aventura, sempre a fugir do KGB! Mas olhe, se não sabia fica a saber (wishful thinking da minha parte, claro). E fica a saber outra coisa: basta ter olhos para ver, ouvidos para ouvir e não gostar de ser tosquiado nem comido por parvo.

        Passe bem. Se quiser claro! Se não quiser, já sabe, continua a ser o lado para onde durmo melhor.

  3. Sr. Álvaro S. Silvestre se continuar a responder à propaganda neo-nazi e totalitária dos “habitantes e sponsors” do estátua vai receber um comentário a informar que os seus comentários são “desordenados” e o seu IP vai ser bloqueado (chama-se a isto liberdade de expressão por aqui) ou vai começar a ser insultado.
    Quanto aos lençóis propagandísticos do camacho et all é o normal por aqui (o designado comentário ordenado): a central envia e eles colam. Se observar bem o domínio da língua portuguesa é muito deficiente. A tradução do russo para português é um problema e quem faz essa tradução…

    • Até publico o teu comentário. Os métodos que referes devem ser os que os teus “amigos” usam e que conheces ao pormenor, ao que parece. Só que aqui não são usados. Por isso, tiveste direito a zurrar sem cabresto. Go on.

    • As saudades que tens da António Maria Cardoso são comoventes. Lembras-te daquela vez em que acusaste de comunista um “caramelo” qualquer (seria teu primo, o coitado?) por causa de um livro sobre cubismo que o desgraçado tinha em casa, o que provava, na tua douta opinião, a proximidade ao comunista Fidel Castro? Tempos gloriosos esses, de raciocínio rápido e eficaz, caraças! Quanto à tradução, é de Sua Excremência o ilustre taxista “Milhazov von Alzheimer”, esse magnífico agente duplo da Moscóvia. Protesta com ele, que ainda ficas com o KGB à perna. Tás frito!

  4. A EXTREMA DIREITA UCRÂNIANA ATOLADA NA SUA ESTUPIDEZ: está ao nível de Saddam Usein: idiotas úteis descartáveis.
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    A extrema direita ucrâniana repudiava sovietes… pois, mas… a extrema direita ucrâniana tinha um problema:
    – as regiões orientais da Ucrânia eram regiões russófonas cedidas pelos sovietes à Ucrânia em 1917.
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    O que é que a extrema direita ucrâniana decidiu fazer?
    -> decidiu expulsar os russófonos das regiões russófonas que os repudiados sovietes haviam cedido à Ucrânia, nomeadamente:
    – decidiram proibir a língua russa… milhares de russófonos foram perseguidos/massacrados.
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    Aonde é que os estúpidos da extrema direita ucrâniana foi buscar financiamento?
    -> foram buscar apoio aos europeus-do-sistema!!!
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    UMA OPORTUNIDADE DE PILHAGEM!
    Os europeus-do-sistema são paladinos no combate à extrema direita e no combate a nacionalismos… no entanto… viram nos estúpidos da extrema direita ucrâniana uma oportunidade de pilhagem.
    —>>> Era previsível que a Russia fosse socorrer os russófonos das regiões orientais da Ucrânia, logo: fornecendo armas da NATO à Ucrânia…. a Ucrânia iria ser conduzida a um caos ao nível do Iraque … leia-se: uma oportunidade para as riquezas da Ucrânia (não petróleo, mas outras) passarem a ser controladas por interesses económicos ocidentais.
    Nota: só em França já existem cerca de quinhentas empresas preparadas para investir na reconstrução da Ucrânia.
    [uma obs: tal como em muitas outras regiões do planeta… investidores, para melhor rentabilizar os seus investimentos, vão exigir a substituição populacional da população autóctone;… sim: os ucrânianos mandam cada vez menos no exército “ucrâniano”, quem cada vez mais manda no exército ”ucraniano” são mercenários ao seviço de interesses económicos ocidentais]
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    E MAIS:
    -> nove, em cada dez, dos mais variados analistas argumentavam: armas da NATO na Ucrânia… juntamente com… sanções económicas à Russia, e… a Russia seria conduzida ao caos: tal seria uma oportunidade de ‘ouro’ para os interesses económicos ocidentais!…
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    HÁ 500 ANOS A INVESTIR EM PILHAGEM
    —>>> O europeu-do-sistema anda há 500 anos a investir em pilhagem:
    – América do Norte, América do Sul, Austrália,… Iraque, Síria, Líbia,… Ucrânia… Russia…
    O europeu-do-sistema considera-se um mestre Sun Tsu.
    [ex: a senhora Merkel (paladina no combate à extrema direita e a nacionalismos… e… financiadora de Azov’s) vangloria-se de ser uma mestre Sun Tsu: andou a enganar os russos durante vários anos: «os acordos de paz de Minsk não eram para cumprir, eram para ganhar tempo aos russos»]

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