Crónica desde o Donbass: Adesão à Rússia abre portas a uma nova fase da guerra

(Bruno Amaral de Carvalho, in Nòs Diário da Galiza, 29/09/2022)

No mesmo lugar onde há uma semana e meia um massacre vitimou 13 civis em Donetsk, centenas de ramos de flores e alguns peluches simbolizam a homenagem da população aos seus mártires, entre os quais havia duas crianças. São tantos anos de bombardeamentos, agravados desde Fevereiro, que as autoridades pró-russas não precisaram de fazer campanha para o referendo.


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3 pensamentos sobre “Crónica desde o Donbass: Adesão à Rússia abre portas a uma nova fase da guerra

  1. Palavras simples e sensatas de Caitlin Johnstone

    «Correndo o risco de perturbar toda a internet, a anexação destes quatro territórios ucranianos parece-me um ótimo momento para acabar com esta guerra. Alguém acredita honestamente que uma percentagem significativa das pessoas que lá moram quer uma contra-ofensiva massiva à sua porta? Eu não.

    O ocidente conscientemente provocou esta guerra, aquilo que os especialistas avisaram durante anos que aconteceria aconteceu, e agora a Ucrânia perdeu algum território. Em vez de arriscar a vida de milhões aumentando este conflito, parece sensato pôr-lhe um fim. Podemos gritar “Putin é mau!” e “Direito Internacional!” e tudo o que quisermos, mas é um facto inegável que após a anexação o grupo EUA/NATO/Ucrânia será colocado perante a escolha de terminar o derramamento de sangue ou aumentá-lo massivamente. Escolha bem fácil, na minha opinião.

    Há dois tipos de pessoas que querem a paz na Ucrânia: aqueles que querem que ela aconteça agora, via diplomacia, negociação e compromisso, e aqueles que querem que ela aconteça daqui a alguns anos, depois de desperdiçar milhões de vidas para expulsar a Rússia de cada centímetro das fronteiras ucranianas pré-2014. Ou apoiamos um acordo negociado agora ou apoiamos uma guerra por procuração extremamente longa e prolongada, correndo o risco de aniquilação nuclear e custando milhões de vidas e triliões de dólares e sem garantia de sucesso. E esta última posição é a que está a ser planeada.

    É claro que não acredito que a luta terminará desta maneira neste momento; há muito interesse em manter o derramamento de sangue. Estou apenas a destacar o facto bastante óbvio de que isto podia terminar agora e devia terminar agora.»

    https://caitlinjohnstone.com/2022/09/30/this-would-be-a-wise-stopping-point-for-this-war-notes-from-the-edge-of-the-narrative-matrix/

    • Mais um bom artigo do Bruno Amaral de Carvalho, obviamente publicado na imprensa que ainda vai existindo FORA de Portugal. Na parvónia à beira-mar plantada, já só há Fake News e propaganda de regime.

      Esse artigo da Caitlin Johnstone abre uma discussão muito interessante. Mas eu vou mais longe que ela: a paz devia ser agora, e devia vir como a paz na Arménia-Azerbaijão: Ucrânia a ceder ainda mais território do que aquele que a Rússia já conquistou/libertou. Com referendos em Nikolaev, Odessa, Dnipropetrovsk, e Kharkov.

      Obviamente que é uma utopia, afinal de contas temos esta guerra exatamente porque a junta militar de Kiev violou os acordos de PAZ de Minsk, que tinham condições muito melhores do que o que quer que venha a acontecer daqui em diante. E porque no Ocidente está um regime imperialista que acha que o golpe de 2014 feito pela Extrema-Direita com apoio externo dos EUA é “democracia”, mas a auto-determinação daqueles (toda a Novorussia) que ficaram sem o seu Presidente (e sem os seus partidos) não interessa para nada.

      Aproveito também para actualizar sobre a 1ª grande derrota da Rússia já dentro do território da República de Donetsk. Após 20 dias de intensos combates, a Rússia teve de fugir de Lyman, naquele que é mais um desastre comparável à derrota em Balakleya e Izium, e a continuação super-preocupante da contra-ofensiva UkraNazi/NATO, com certeza com muitos mortes, mas até agora cheia de sucessos territoriais.
      Onde está agora o propagandista aldrabão chamado Thierry Meyssan, e o seu defensor que me veio aqui insultar só porque referi os factos?

      A humilhação da Rússia é ainda maior porque se trata de um território da República de Donetsk que já tinha sido conquistado/libertado, e como tal já estava reconhecido pela Rússia como sendo território Russo. Ou seja, pela primeira vez desde o início do conflito em 2014 (ou 2013 se considerarmos o início do golpe Maidan), a Ucrânia conquista território Russo.
      E esta, hein?
      E tal como na contra-ofensiva de Kharkov, também aqui há muitas baixas dos confrontos intensos de ambos os lados, e dado o cerco a Lyman, primeiro operacional, depois de facto, é também provável que haja mais prisioneiros de guerra Russos, que o Kremlin terá de negociar em troca de Nazis de Azov (pois é só desses que a junta de Kiev quer saber). Mais um passo atrás na desnazificação, como a pouca-vergonha que o Kremlin aceitou fazer há dias atrás, sim recuperando alguns seus soldados, mas a troco de mercenários “condenados à morte” e de Nazis de Azov. Inaceitável.

      Agora, das duas uma, ou a Rússia está por alguma razão a preparar uma ofensiva maior só para mais tarde (há quem fale em 5 de Outubro), ou de facto está sem força para retomar a iniciativa ou sequer defender aquilo que já tinha conquistado/libertado.
      A primeira opção parece-me propaganda pró-Russa demasiado positiva, a 2ª opção parece-me propaganda pró-UkraNazi/NATO. A verdade, como costuma dizer o Erwan Castel nestes casos, anda lá pelo meio…
      Só nas próximas semanas e meses teremos resposta a esta pergunta, mas que a imagem do exército Russo fica manchada, ai isso fica. E muito. Do exército Russo, suas reservas, grupo Wagner, e grupos da DNR e LPR. E há ainda quem fale noutro problema: falta de cooperação/organização entre estas forças tão diferentes.

      O que me chateia ainda mais é mesmo o povo que ali reside. Foi-lhes dito que com os referendos ficariam mais protegidos, mas afinal de contas o exército Russo fugiu do seu próprio território…
      Diria que é a maior humilhação da Rússia desde que o Grand Armée de Napoléon Bonaparte conquistou Moscovo.
      Será que, tal como nessa história, também aqui se trata de defesa móvel Russa, abdicando dos locais de modo a salvar vidas (em vez de as perder em trincheiras), e seguir-se-á a derrota, por exaustão, das forças UkroNazi/NATO?
      Outra equivalência poderia ser a Battle of the Bulge, o último suspiro da Alemanha Nazi em direção a Oeste.

      Muitas dúvidas. Mas as poucas certezas que tenho são graças aos repórteres mais factuais sobre a situação militar no terreno: Rybar e Erwan Castel. Sobre a situação civil, temos o Bruno Amaral de Carvalho. Quem quiser saber o que se passa na Ucrânia-Rússia, é desligar os canais da propaganda (de ambos os lados) e seguir estes três. E para uma visão da big-picture económica e geo-política, é seguir os diferentes textos que a EstátuaDeSal vai muito bem pescando a diferentes fontes e colocando aqui para nos facilitar o trabalho.

      Neste autêntico serviço público, o site Geopol também tem análises muito interessantes de autores internacionais, e o blog português Contrário tem-me surpreendido pela positiva com pequenos mas pertinentes textos do seu autor.
      E claro, uma palavra de admiração pela coragem dos vários militares portugueses que se atrevem a ir às TV nacionais contrariar o “pensamento” único. Sempre que me dizem que eles lá foram, faço questão de ir ver. É a única exceção que abro em relação aos canais da propaganda do regime em Portugal: RTP, SIC, TVI/CNN.

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