Cuidado que vem aí o Sr. Putin

(Por Estátua de Sal, 26/09/2022)

Estive ontem a ver o Marques Mendes, na homilia dominical. Estava muito preocupado com o resultado da sondagem do Expresso – ver aqui -, que evidencia que há um número cada vez maior de portugueses a quererem que acabe a guerra através de negociações entre as partes, tendo em conta as dificuldades cada vez maiores que estão a sentir devido à galopante escalada de preços e à redução do seu, já diminuto, poder de compra.

E vai daí a luminária achou por bem exortar os portugueses a sofrerem e a penarem sacrifícios para defenderem esse farol da liberdade que é o sr. Zelensky. Sim, ó portugas, sofram baba e ranho e mandem mais uns milhões de euros para o Zelensky depositar num qualquer offshore porque o Marques Mendes anda preocupado com a vossa mudança de opinião.

Ora, como sabem, o MM só dá bons conselhos ao domingo. Se numa próxima homilia vos aconselhar a não tomar banho para poupar uns euros no gás e mandá-los para a Ucrânia, acreditem que é em nome de uma boa causa. Se vos pedir para andarem só a pé, e para fazerem só uma refeição diária de pão e laranjas é porque é mesmo preciso para salvar o Zelensky. E se, lá mais para frente, vos pedir para ficarem orgulhosos com o alistamento dos vossos filhos e netos no exército da NATO, carne para canhão para combater pelo Zelensky, fiquem felizes, ó cidadãos, porque o MM é que sabe como nos devemos defender dos ingentes perigos que nos ameaçam.

Então qual é a grande ameaça, à qual nos devemos opor com todas as nossas forças e vitalidade? O Marques é um sábio. Dos grandes. Ele ontem fez-nos a grande revelação. A grande ameaça satânica, é – só podia mesmo ser -, o sr. PUTIN!

Este exercício de diabolização é a manipulação mais absurda e grosseira que alguma vez vi, mas que faz parte da cartilha dos comentadores encartados da nossa comunicação social. Primeiro dizem que a Rússia está a perder a guerra. O Zelensky diz que até a Crimeia vai recuperar. O Ocidente aplaude e diz que sim. Depois temos as sanções que eles dizem que estão a destruir a economia russa. Depois temos que os tais 300 000 soldados adicionais que o Putin está a tentar mobilizar não serão mais que umas dúzias porque o povo russo se recusa a ir para a guerra. Em síntese, o sr. Putin é um tigre de papel, e não mete medo a ninguém.

Mas, no momento seguinte, vem o MM e os outros comentadores apelarem ao sacrifício e ao sofrimento para conter o sr. Putin. Dizem eles que estamos a defender a nossa liberdade. Se conquistarem a Ucrânia os tanques russos a seguir papam a Polónia e a Alemanha e daí a uns dias estarão em Paris à sombra da Torre Eiffel. Conversa da treta, esta cartilha. Se nem força tem para submeter a Ucrânia como teria a Rússia força militar e desiderato para submeter toda a Europa?!

Tal não passa, pois, de um cenário para arregimentar totós e justificar o quadro de austeridade, sofrimento, fome, miséria e morte que está a ser preparado para os portugueses nas suas costas pelos responsáveis europeus e com a conivência do nosso governo.

Sim, como diz o MM o governo de António Costa tem culpa das desgraças que estão a abater-se sobre os portugueses, nomeadamente sobre os mais desprotegidos e vulneráveis. Mas a culpa não está onde MM a coloca. A culpa está no quadro de inflação que a União Europeia decidiu abraçar quando cortou as relações com a Rússia e decidiu prescindir de energia barata. Mas isso MM não diz pois, quanto a essa opção, quer ele quer Costa estão no mesmo barco da subserviência europeia aos ditames que vem dos EUA: apoiar o Zelensky até ao último ucraniano, destruir a indústria europeia, criar o caos e o desemprego massivo na Europa e promover o descontentamento dos europeus que abrirão os braços ao fascismo e à extrema-direita como se está a ver em Itália.

Não, Marques Mendes. Ninguém nos invadiu e a invasão de Paris não passa de uma versão rasca da história do “vem aí o Lobo Mau”. Os portugueses não têm que morrer à míngua nem sacrificar a vida dos seus filhos para defender um regime corrupto, nazi e autor das maiores barbaridades das últimas décadas. E haverão de acordar e rejeitar o papel do cordeiro a ser imolado no altar de uma Europa de servos. É isso que temes. Porque o acordar do povo pode ser aterrador para todos os que, como tu, não passam de capatazes dóceis e úteis nas mãos dos senhores da guerra.


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18 pensamentos sobre “Cuidado que vem aí o Sr. Putin

  1. Bora pedir ao Marques Mendes para organizar as Brigadas de Defesa do Cabo da Roca. Que a Moscóvia abocanhe Lisboa, Porto, Montijo e Alcochete ainda vá, mas a ponta mais ocidental da Oropa? Nunca! Jamais! Jamé! Portugal sem ponta seria o Sistema Solar sem Sol, e já nos bastam o MM e suas elucubrações, sem ponta por onde se lhe pegue.

    • Só os atrasados mentais seguem os bitaites básicos e mentirosos desta figurinha ridícula.
      É verdade que os mérdia nos querem forçar a engolir este imbecil mas, no entanto, não conseguirão repetir as façanhas que atingiram com o Cavaco e Marcelo. Cada vez mais portugueses começam a abrir os olhos e a detetar a manipulaçao.
      Obrigado ao estátua por manter a chama acesa.

  2. É engraçado como a História se vai repetindo.

    Esta é só a segunda vez em toda a sua existência de 843 anos (a bula papal “Manifestus Probatum” de 1179 marca o momento oficial da separação entre os reinos de Portugal e Castela) que Portugal se encontra subjugado a um poder externo. E em ambas as vezes tal se deveu à vontade de traidores.

    No ano de 1540, no auge da crise monárquica em que o reino se viu no seguimento de uma criancice de um garoto imbecil que o acaso tornou Rei, a nobreza em peso apoiou a integração na Coroa Espanhola dado que isso lhes garantia o acesso a atraentes cargos na Corte de Espanha. Algumas centenas de anos depois, políticos portugueses decidiram mais ou menos o mesmo, e por motivos semelhantes, relativamente a um novo Império em formação centrado na Alemanha.

    Em ambos os casos não foi concedida ao Povo a possibilidade de se expressar.

    Em 1640 deu-se o golpe que fez terminar o domínio espanhol e ele deveu-se basicamente ao facto de que a Dinastia Filipina se meteu em guerras que não devia e achou que Portugal, fazendo parte do Reino, tinha também a obrigação de pagar o preço devido. Exatamente como sucede agora.

    Ficou na memória dos portugueses a forma original como os patriotas de 1640 se despediram do representante a Coroa de Espanha em Portugal, Miguel de Vasconcelos, em voo picado a partir da janela do seu gabinete.

    Era capaz de ser interessante continuar a seguir o guião.

    Parabéns pelo belo texto, Estátua de Sal.

    • “Cliquei” no seu “link” para o Youtube e na mesma página estava um filminho sobre os 5 filmes de Ficção Científica muito criativos que foram desconsiderados pelo público. Depois de ver o divertido vídeo com o MM acho que deviam ser seis…

      Grato pela contribuição. Fiz o “download” e guardei para memória futura, porque as pessoas têm tendência a esquecer demasiado depressa. Vou publicar o “link” na minha página do Facebook.

    • Aguarda-se que o pai natal, apesar das evidentes limitações cognitivas e de trato, estacione as renas e esclareça a “cambada” com os seus supostamente vastos conhecimentos Históricos.

    • É importante não confundir estórias da carocinha com história; o nome é parecido, eu sei, mas não é por passarmos a acreditar no pai natal que ele passa a ter existido.

  3. Uma pergunta inofensiva: quanto pagará Putin a estes estouvados que passam o tempo a tentar defendê-lo e com isso atacar e insultar tudo e todos ?

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