O novo disparate do Sr. Scholz

(Jorge Figueiredo, in Resistir, 12/08/2022)

Os deuses enlouquecem aqueles que querem fazer perder.


O desespero dos dirigentes alemães conduz a disparates sem conta, uns a seguir aos outros. Primeiro adotam a política suicida de se absterem deliberadamente de utilizar o gasoduto Nord Stream 2, que já se encontra pronto. Trata-se de uma verdadeira política de auto-flagelação energética, corroborada pela indivídua não eleita que preside a Comissão Europeia bem como por todos os seus pares. A seguir, com a aproximação do Inverno 2022-2023, desesperam-se e procuram alternativas – que a curto prazo não existem. E para fingir que tem alguma coisa a dizer, o chanceler alemão acaba de rematar os disparates anteriores com outro ainda maior: a proposta de construir um gasoduto entre o porto metaneiro de Sines (Portugal) e a Europa Central.

Aqui está a notícia que descreve esta pérola do sr. Scholz:

O chanceler alemão, Olaf Scholz insistiu esta quinta-feira na construção de um gasoduto em Portugal e Espanha, para ligar a Península Ibérica à Europa central, através de França, a fim de libertar a Europa da dependência energética da Rússia.

“Este gasoduto iria aliviar massivamente a situação atual do abastecimento”, assinalou o chefe do Governo alemão durante uma conferência de imprensa em Berlim, segundo declarações citadas pela Reuters.

Esta questão terá sido abordada em conversações com os líderes de Espanha, Portugal, França e a Comissão Europeia em Bruxelas. Na mesma ocasião, Olaf Scholz fez também um forte apelo para que se crie um projeto desta dimensão.

Sobre estas declarações, o Governo português recordou que “as interligações são uma grande prioridade estratégica nacional. É uma questão que tem sido colocada no centro das prioridades do Governo”, referiu o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, André Moz Caldas, após a reunião desta quinta-feira.

In eco.sapo.pt/2022/08/11/chanceler-da-alemanha-apela-a-construcao-de-gasoduto-de-portugal-para-europa-central/

Por que se afirma que a proposta do Sr. Scholz é disparatada? A resposta a essa pergunta repousa tanto em razões técnicas como como em razões económicas. Convém analisar umas e outras.

Razões técnicas

O gasoduto proposto seria de transporte, ou seja, uma conduta em aço com capacidade para aguentar altas pressões (iguais ou maiores do que 70 bar) com uma extensão da ordem dos 3500 km.

Em primeiro lugar, a elaboração de um projeto desta natureza levaria no mínimo um ano ou dois, senão mais. A sua execução levaria um período de tempo que agora não se pode prever, mesmo admitindo que se possam ultrapassar todos os obstáculos técnicos (atravessamentos de rios, atravessamento marítimo para contornar os Pirineus, etc) e legais (direitos de propriedade sobre terrenos, etc).

Em segundo lugar, entra o fator da perda de carga. Os 3500 km de extensão de um gasoduto com início em Sines obrigaria necessariamente a instalar numerosas estações de compressão ao longo do seu trajeto. O Nord Stream, com apenas 1224 km, tem oito estações de compressão. Fazendo uma proporção grosseira, o gasoduto proposto por Scholz exigiria a enormidade de 23 estações (mas a Siemens agradeceria, com certeza).

Em terceiro lugar está a matéria de facto de Portugal não ser um país produtor de gás natural. Mesmo propostas muito mais modestas, como o transhipment de grandes navios metaneiros que aportam Sines para metaneiros mais pequenos são técnica e economicamente muito discutíveis (pensou-se nisso a fim de abastecer países do norte da Europa). Sines recebe gás natural liquefeito (GNL) de países terceiros e este combustível tem de ser ali armazenado até que possa ser regaseificado e injetado nas redes de gás existentes ou no novo gasoduto sonhado pelo político alemão. É claro que a capacidade de armazenagem e regaseificação de GNL em Sines também teria de ser aumentada a fim de atender ao novo gasoduto.

Em quarto lugar estão as leis da termodinâmica. O GNL é um combustível excelente porque tem uma alta densidade energética. Ao ser regaseificado, a fim de poder ser injetado num gasoduto de transporte, está-se a diluir o seu conteúdo energético. Tudo indica que o balanço energético final nunca poderá ser favorável. Gasta-se energia para regaseificá-lo, gasta-se energia para injetá-lo num gasoduto de transporte e gasta-se energia nas numerosas estações de compressão que terá de haver pelo caminho até a Europa Central. Às tantas, será preciso verificar se o valor energético intrínseco do gás natural é maior ou menor do que o valor energético gasto com todo o seu processamento até ao centro da Europa. Caso seja menor, o gasoduto do Sr. Scholz não seria uma fonte de energia e sim um sumidouro da mesma.

Razões económicas

Custos de gasodutos na UE a partir de 2021.

Antes de apontar as razões económicas convém recordar um facto interessante e muito mais simples que um gasoduto Sines-Europa Central. A Espanha e a França discutem há mais de 20 anos uma famosa ligação dos dois países através de um gasoduto de grande capacidade. Ambos os países dizem que querem a referida ligação, mas nenhum dos dois quer pagá-la. Como este gasoduto seria para transporte, além de atravessar ou contornar os Pirineus ele deveria também estender-se no território francês pois a atual rede gaulesa de distribuição foi dimensionada apenas para as suas necessidades nacionais. Essa extensão, naturalmente, aumenta os custos do projeto. Assim, as autoridades francesas argumentavam (antes da crise gasista de 2022) não estarem dispostas a pagar este acréscimo de custo porque não atenderia às suas necessidades nacionais e sim a de outros membros da UE. Com toda essa discussão, que se arrasta há anos, a Península Ibérica acabou por se tornar uma “ilha” gasista na Europa Ocidental.

Do ponto de vista económico, a ideia de abastecer a Europa Central a partir de um gasoduto de 3500 km com início em Sines só poderia ocorrer na mente de um lunático ou de um político vulgar. O facto de ter sido lançada por um primeiro-ministro alemão mostra quão baixo chegou o nível da governação daquele país.

Depois de encerrarem centrais nucleares (no governo Merkel), centrais termoelétricas a carvão, de apostarem tudo nas energias intermitentes (eólica e fotovoltaica), de rejeitarem o Nord Stream 2 que já está pronto e fora proposto pela própria Alemanha, só faltava mesmo essa ideia peregrina de um gasoduto Portugal-Europa Central.

Adotando-se um preço da ordem dos 4 milhões de euros/km, o investimento no gasoduto poderia montar a algo como 14 mil milhões de euros. No entanto, a UE é generosa e há uma velha máxima irónica a dizer que todo projeto é rentável desde que alguém pague por ele. Contudo, um projeto não é só investimento – há também os custos de exploração.

Em termos físicos, viu-se acima, tal projeto ameaça tornar-se um sumidouro de energia e não uma fonte dela. Mas quando se traduz isto para símbolos de euro, parece que as coisas ficam mais sombrias. Os custos somados da reintegração do investimento + os custos do GNL importado + os custos de regaseificação e de injeção no gasoduto + os custos da compressão e da operação geral do sistema teriam de ser inferiores ao valor do gás entregue aos consumidores centro-europeus. Seriam realmente? Há sérias dúvidas.

Por outro lado, ninguém parece estar preocupado com o problema a montante. Como Portugal não é produtor de gás natural, o país é um tomador de preços (price taker) em matéria de gás natural, ou seja, depende fundamentalmente dos preços do GNL que consegue obter no mercado spot ou em contratos a longo prazo. Mesmo que tais compras fossem feitas diretamente pela Europa ou pela futura empresa responsável pelo gasoduto Sines-Europa Central, o problema seria o mesmo: o comprador será sempre um price taker. E nem vale a pena recordar que o GNL proveniente dos EUA costuma ser mais caro do que aquele de outras origens.

É frustrante ter de responder seriamente a uma proposta que não é séria. O Sr. Scholz não sabe nada do assunto, está mal assessorado e diz alarvidades. Tão pouco é de admirar que o Sr. António Costa, pressuroso, corra a apoiar a ideia peregrina do seu colega Scholz. Alguns dizem que os políticos (vulgares) são todos iguais e há um grão de verdade nisso. Mas não estávamos habituados a que a República Federal Alemã fosse dirigida por políticos tão ignorantes.


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23 pensamentos sobre “O novo disparate do Sr. Scholz

  1. Gás Russo
    1- Por quanto é que a Rússia vendia o seu gás na Europa?
    2- A substituição do gás russo por GNL de outros locais custará mais ou menos do que o gás russo?
    3- As Eólicas e os painéis solares serão feitos onde, de quê e quanto custará?
    4- E quanto ao custo dos transportadores de GNL e dos novos gasodutos?
    5- O G7 está a falar sobre a limitação do preço do gás russo. Não irá isto aumentar o preço do gás no mercado?
    O único custo de que se fala é o custo ambiental das centrais de carvão. Quem deve pagar pelas infra-estruturas nucleares?
    Tenham coragem!

    Sim, o fim do gás russo para a União Europeia, excepto para a Hungria, mas muitos sofrerão com esta ruptura e as economias domésticas sofrerão um golpe e sentir-se-ão em carteiras.

    “Sobriedade energética”…é um termo muito bonito para mascarar “racionamento”…claro que se Putin parar o fornecimento de gás esta bela retórica se tornará ainda mais ridícula do que já é…

    Todas as opções são agora viáveis, por isso a resposta é que a Europa não sabe fazer nada com um Euro que ficará abaixo do dólar, a política da globalização de produzir no estrangeiro para poluir e explorar mão-de-obra barata sob ditadura, empurrará a inflação que destruirá o poder de compra e depois as pensões, sociais, somadas às taxas de juro das dívidas, para não mencionar que a confiscação de bens russos, para remover toda a confiança no Euro que será diluída em USD e outras moedas.

    Vivemos as consequências do grande inveja e ganância dos ocidentais que não suportam a emergência económica de outras nações, eles estão ferozmente invejosos da emergência da Rússia
    Os ocidentais contam todos os dias o que a Rússia ganha com o seu gás, petróleo e carvão. É realmente terrível.

    Fala-se em reduzir o consumo de gás, utilizando bombas de calor, que no entanto utilizam electricidade que em muitos países da UE é produzida com gás ….

    Saliento também a infame decisão dos políticos europeus de parar a produção de carros com motor de combustão, preferindo carros eléctricos. Bem, estes automóveis consomem uma média de 17,7 kWh/100km que, dado o número de automóveis na Europa e o número de quilómetros percorridos anualmente, criará um enorme consumo de energia eléctrica; eis a necessidade adicional de electricidade criada pela decisão dos políticos europeus que, para se mostrarem “verdes”, decidiram de facto um blackout continental, dado que as energias renováveis poderão compensar até um nível de 10-15%:
    Itália: 85,76 TWh/ano
    França: 88,92 TWh/ano
    Alemanha: 267,3 TWh/ano
    Suíça: 10,19 TWh/ano
    Total para estes países: 452,2 TWh/ano, equivalente a cerca de dez centrais nucleares.
    Vamos acender velas!

    A Rússia não está totalmente dependente dos seus hidrocarbonetos! Há muito tempo que tem vindo a diversificar a sua economia! Para o gás do mar, a lista de novos clientes asiáticos é longa! A Índia e a China estão a comprar o gaz russo para compensar as suas perdas europeias! A Rússia é rica em recursos mineiros e agrícolas. Os europeus estão simplesmente errados..

  2. Tenho seguido com atenção a proposta e eventual acordo dos países que serão beneficiários desta proposta
    Mas como é hábito e este poste é um exemplo da mentalidade que varre Portugal que se resume a banalidades e de dizer sempre mal por dizer mal
    Lamentável

    • É preciso ter o cérebro do tamanho de um amendoim para se ler o artigo e chegar-se à conclusão mirabolante de que é apenas mais um exemplo da mentalidade de Portugal onde só se sabe “dizer sempre mal por dizer mal”.

      Nem vale a pena perguntar o que é foi dito apenas para dizer mal. Muito menos vale a pena tentar argumentar ou explicar aquilo que foi exposto, uma vez que o recurso a argumentos baratos e indigentes seria a ementa do dia, de modo que fique lá com as suas ideias de que um “investimento” de 14 mil milhões ao longo de 2 anos para se receber gás sabe-se de lá onde e enviá-lo para a Europa a custos altíssimos é a solução para dinamizar seja lá o que for.

      Santa paciência.

    • Meu caro CAC, depois de ler o seu interessante comentário, tenho de concluir que o seu cérebro devia ser objecto de estudo científico. Se ele fosse transplantado numa galinha, ela provavelmente não saberia como pôr ovos.

    • O artigo do Jorge Figueiredo é muito bom. Eu já tinha esta sensação sobre esta loucura Alemã (e subserviência tola de Portugal), e este artigo faz uma excelente análise.

      O CAC é o oposto. Gosta de criticar sem sustentar a crítica. O José Neto e o Um Cidadão já disseram o que eu também diria.

      A Europa que ganhe vergonha na cara, mude de líderes se for preciso, e peça desculpa à Rússia (e ao povo do Donbass) o quanto antes, deixe de apoiar Nazis Ucranianos e genocidas USAmericanos, e salve a Europa do frio e da recessão. Mandem o imperialismo da NATO à m*rda e abram o NS2. Paguem em rublos, e calem-se!

      Ainda é Verão, e a Alemanha já tem +33% do seu consumo, em média, vindo das centrais a carvão. Varia entre os 21% durante o dia, e os 40% durante a noite, segundo o ElectricityMaps. Na Rep.Checa são quase 39%. Na Polónia são 76%. Isto é terrorismo ambiental. Esta gente devia ser presa!

  3. Um bom texto de análise, na linha dos vários que o Professor Jorge Vilches tem vindo a desenvolver e que eu tenho acompanhado no Blog de Saker.

    Com efeito, o “projecto” de Scholz não faz qualquer sentido. A ideia de importar gás liquefeito para o gaseificar novamente, e depois o fazer circular por um gasoduto ainda inexistente a partir de Sines até à Alemanha, é completamente irracional e até hilariante. Uma empreitada desta envergadura levaria no mínimo perto de dez anos a concretizar, apenas para se verificar, muitos milhares de milhões de euros depois, que afinal não era economicamente viável. Nunca será levada à prática, evidentemente, porque não resistirá ao primeiro estudo de viabilidade que vier a ser realizado.

    Sabemos que um afogado é capaz até mesmo de se agarrar a uma lâmina, e a União Europeia está literalmente a afogar-se na sua própria insanidade, mas isto também é um pouco demais. Nem sequer existem neste momento navios cargueiros livres, capacitados para este tipo de transporte, em todo o planeta, em número suficiente para assegurar o volume de tráfego necessário para substituir o gasoduto siberiano. Os que existem, já estão sob contratos de longo prazo associados a outras rotas.

    E não podemos esquecer o “pequeno pormenor” de que a Europa precisa desse gás para “ontem”…

    Claro que, no seguimento da sua decisão suicida de rejeitar os combustíveis russos, a Europa terá de continuar a comprar gás natural, e também petróleo, oriundos da Rússia, porque não existem no planeta outras fontes destes combustíveis que estejam livres e possam ser canalizadas para as indústrias europeias. A única diferença é que terá de fazê-lo através de intermediários, que irão comprar o produto directamente à Rússia e cobrar a sua própria taxa de lucro, como a Arábia Saudita já está a fazer com o petróleo.

    Então, a verdadeira questão aqui é como evitar uma redução dos fluxos de gás no curto prazo para que as fábricas possam continuar a laborar e as pessoas se possam aquecer no Inverno, e ainda como manter os preços de aquisição desse valioso produto a níveis que permitam assegurar alguma competitividade dos produtos manufacturados europeus nos mercados mundiais. Se o primeiro objectivo é muito pouco provável, o segundo é impossível.

    O aumento dos custos de produção associados ao preço da energia assim importada fará implodir a economia alemã e consequentemente também a europeia, da qual a Alemanha é o verdadeiro motor, e isso vai muito provavelmente desagregar a própria União Europeia e o seu megalómano projecto de formar um Estado Federal Europeu com Capital em Berlim.

    Depois de ter tentado por duas vezes sem grande sucesso conquistar toda a Europa pelas armas, a Alemanha à terceira pensou que se calhar era melhor comprá-la. E durante algum tempo parecia que tinha sido uma boa ideia, ainda que substanciada na impressão de quantidades obscenas de “dinheiro falso” que agora está a ter também as suas consequências.

    Talvez resultasse, pelo menos durante algum tempo, que nada dura para sempre na História, se eles tivessem sido capazes de construir progressivamente uma real autonomia do Império Americano. E uma concomitante aproximação à Eurásia que lhes fornecia a preços módicos todas as matérias-primas necessárias que a Europa simplesmente não tem. A mesma Eurásia onde, desde há vários anos se desenham os novos centros de desenvolvimento mundial impulsionados pela China. Mas não, parece terem concluído que seria muito mais interessante transformar a própria Europa numa colónia americana.

    O óbito da União Europeia será por suicídio.

    A estupidez é capaz de matar com mais precisão do que uma bala.

    • Muito bom.

      A Europa era o motor da economia Europeia. A energia Russia era o combustível desse motor. As moedas nacionais eram as restantes peças necessárias para o carro andar bem, cada uma adaptada à sua função. E a soberania democrática era o lubrificante que impedia o desgaste.

      Há 20 anos que andamos a querer andar ao mesmo tempo que removemos peças e deixámos de usar lubrificante, com o motor a ficar empanado. Agora já estamos a pé, do lado de fora a empurrar o carro sem combustível. E em breve o motor fica sem reparação.

      Sabem o que acontece a seguir? Os passageiros revoltam-se contra o motorista.
      Mas como as coisas estão, se calhar a maioria dos passageiros ainda vai dar parabéns ao motorista ao mesmo tempo que reclama, à distância, contra o dono da gasolineira, o senhor Vladimir.

      Entretanto, do lado de lá do oceano, há um carro que funciona mal, mas ainda vai à frente. O seu motorista é traficante de armas. Mas metade dos passageiros quer ir numa direção, e a outra metade quer ir na direção oposta. Pode ser que dê lambada…

      Entretanto o senhor Vladimir continua preocupado mas de bolsos cheios. Preocupado porque mandou o filho para a tropa. Com os bolsos cheios porque há camionetas e camionetas cheias de turistas chineses, indianos, e de outras paragens, à espera de abastecer.

      Já na empresa de cereais do senhor Volodomyr, a coisa anda esquisita. Nem tem motor, nem combustível, nem restantes peças, nem lubrificante, nada. E anda chateado com o vizinho, mas em vez de resolver as coisas a bem, foi a chorar telefonar a uns conhecidos para lhe emprestarem uma pistola, e ainda não percebeu bem porque é que os filhos andam todos a fazer tatuagens com umas cruzes esquisitas…

  4. Estátua de Sal, reparei que, na caixa de comentários do Facebook, tem um Artur Beltrão que não sabe ler o que publica e afirma que o NordStream2 tem apenas uma estação de compressão.

    Ora, o NS2 tem OITO estações de compressão (consultar este link: https://web.archive.org/web/20180221161735/http://www.envir.ee/sites/default/files/ns2_aruanne_en.pdf) e o Sr. Artur esquece-se que o gasoduto NS2 vem de algum lado e esse lado chama-se Rússia: um país que, por acaso, tem uma extensão terrestre, digamos, enorme e que vê território atravessado pelo tal gasoduto.

    Depois, o Sr. Artur Beltrão afirma que os custos de combustível correspondem a 30% dos custos de operação.

    «The breakdown of OPEX cost components can show a high degree of variation depending on technical features and general state of the pipeline system. For instance, an ageing pipeline system running through a challenging environment will naturally have higher maintenance and repair costs. Fuel costs will vary depending on the fuel procurement process, that is, inhouse, “gas in kind” or open tendering process.»

    Citação retirada do estudo partilhado pelo senhor Beltrão no final da secção dedicada às diferentes categorias de custos de produção.

    A seguir é preciso mencionar que o custo por MW de várias estações de compressão menores em comparação com o custo por MW de uma única estação compressão será muito superior.

    E não é de acreditar que este gasoduto “idealizado” pelo Sr. Scholz vá ter apenas uma estação compressora a cada 1.000 km…

    Problema: mais abaixo desta secção, após uma exposição acerca das estações de compressão em si, é mencionado que 95% do combustível utilizado em estações de compressão é gás natural, sendo os restantes 5% electricidade.

    É dito ainda que a eficiência de consumo de combustível varia de acordo com cada gasoduto, mas que, na generalidade dos casos, a mesma se resume a 0.5% do volume de gás transportado por cada 100km, ou seja: por cada 1 milhão de metro cúbico de gás natural, gastar-se-ia 5.000 metros cúbicos para transportar esse milhão de metros cúbicos.

    Ora, o NordStream (1) tem uma capacidade anual de 55 mil milhões de metros cúbicos.

    Servindo-me dos números acima indicados, a capacidade do NordStream é 55.000 vezes superior a 1 milhão de metros cúbicos de gás, o que equivale a afirmar que 5.000 metros cúbicos de gás usados no transporte desse milhão vezes 55.000 (ou seja, adaptado à realidade de um gasoduto em funcionamento neste momento e que é o fornecedor de gás à Alemanha) equivale a 275 milhões de metros cúbicos.

    Portugal consumiu 568 milhões de metros cúbicos de gás em julho.

    Primeiro: onde é que a Europa vai buscar o equivalente a esta quantidade de gás, ou seja, 55 mil milhões de metros cúbicos (a) para consumo interno (fora da Rússia) na forma de importações e (b) para transporte desse mesmo gás importado ?

    Parece pouco, mas é preciso recordar que, não havendo gás russo no mercado, os preços vão disparar – porque não há fontes de gás natural nesse mundo fora para serem exploradas a nosso bel-prazer (os Americanos e a Argélia em conjunto mais do que certamente não são capazes de colmatar a falha de 55 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano – vamos buscá-lo à China, é ?) -, e, para além do gás para consumo que vai ser extremamente procurado, ainda vai ser preciso investir em gás para transportá-lo…

    É que dizer que o transporte de gás nas estações compressoras necessita de um consumo de 0.5% do mesmo gás que se transporta é bom e tranquilo QUANDO HÁ GÁS EM ABUNDÂNCIA.

    Então e quando essa taxa aumentar, por via dos recursos limitados a que temos acesso, por não haver exploradores suficientes do mesmo, no planeta inteiro, à escala da Rússia, para 10% ? Ou para 15% e com preços cada vez mais elevados por causa do incremento na procura e a não satisfação da mesma pelos mercados ?

    É pouco ? Não sei se é. Ainda por cima aos preços que, muito provavelmente, vão subir acima de qualquer coisa que já se tenha conhecido.

    Por último, o estudo menciona que o custo de construção da linha equivale a +- entre 30.000$ e 200.000$ por cada km.

    No entanto, avisa que há situações de construção da linha em áreas urbanas, terrenos montanhosos, terrenos pantanosos e ainda construção da linha em zonas costeiras ou em alto mar que resultam num acréscimo de até 120% do custo original!!

    120%!!

    No caso de zonas urbanas são 80%, no caso de florestas 60%, terrenos montanhosos 120%, zonas costeiras 80% e construção em alto mar 120%.

    Acrescentam ainda que estes aumentos por factores dificultosos são meramente indicativos. O que tanto pode significar que pode custar menos, como implicar custos ainda mais elevados.

    E a isto acresce ainda, no caso da construção da linha em alto-mar, de navios contratados ao dia (a cobrarem várias centenas de milhares de dólares por dia), para auxílio na colocação da linha.

    Ainda acima disto tudo é a questão de falarmos dum gasoduto internacional, que tem de passar por várias nações diferentes, e isso acarreta os custos miscelâneos administrativos e as respetivas taxas reguladoras.

    Para além disto tudo: inflação.

    Portanto, isto não é pêra doce.

    • No link que partilhei relativamente ao NS2, se se fizer uma procura por palavras a “compressor station”, encontrar-se-á a referência às estações na página 523.

      Menciona-se que existiam 5 estações e que foram construídas 3.

      É tudo.

    • Apercebi-me de um erro que cometi.

      Ou melhor, faltou-me acrescentar uma coisa.

      No relatório partilhado pelo Sr. Beltrão, é indicado que a perda de gás natural, como consequência da sua utilização enquanto “feed gas” (ou seja, combustível que permite o funcionamento das estações compressoras ao longo do gasoduto), é variável mediante os diferentes tipos de gasoduto, mas tem uma eficiência de 0,5%.

      Pois, mas eu esqueci-me disto:

      «Whilst the fuel efficiency of pipeline systems varies depending on their design and external environment, typically, fuel gas usage equates to less than 0.5% of the volume transported per 100 km, that is, less than 5000 cubic metre per 1 million cubic metre transported over 100 km. Pipelines with larger diameters tend to have a lower fuel requirement for the transportation of the same quantity of gas due to lower friction loss.»

      Trocando isto por feijões: o meu cálculo de 275 milhões de metros cúbicos, retirado do total anual de 55 mil milhões de metros cúbicos de gás natural que circula pelo NordStream 1 para a Alemanha, está incompleto.

      Porquê ?

      Porque o cálculo da citação é referente à utilização de gás ao longo de 100 km do gasoduto. Logo, 275 milhões de metros cúbicos de gás não são o total anual que se perde.

      Mas apenas o total para 100 km de gasoduto ao longo de um ano inteiro.

      Ora, um gasoduto Sines-Europa Central teria 3500 km.

      Então só é preciso multiplicar 275 milhões de metros cúbicos de gás por 35 e temos o total anual de gás utilizado por 3500 km para permitir o funcionamento das estações compressoras de um gasoduto desse comprimento – segundo as estimativas do estudo partilhado pelo Sr. Beltrão.

      Quanto é ? 9.625.000.000.

      9 mil milhões de metros cúbicos de gás natural para fazer funcionar um gasoduto de 3500 km de comprimento.

      9 mil milhões! Isto representa 5,7% do total dos 55 mil milhões de metros cúbicos.

      E ainda não é tudo!! Porque eu apercebi-me mais abaixo do que é necessário para o funcionamento dos Terminais de Liquefação de Gás Natural.

      «Depending on the liquefaction process used, plant design and ambient temperatures, between 8 and 12% of the feedgas entering the liquefaction terminal is used to meet the energy requirements of the liquefaction plant (primarily to run the steam or gas turbine drivers powering refrigerant compressors). As such, fuel gas expenses can alone account for over half of the OPEX of a plant.»

      Ora, o total de gás utilizado, a partir do gás extraído, para permitir o funcionamento de um terminal de LNG é de 8 a 12% daquele que entra no terminal para ser liquefeito.

      E a utilização de gás como combustível representa, usualmente, 58% dos custos de operação dum terminal de liquefação!

      Se calcularmos o que são 8% de 55 mil milhões de metros cúbicos (a capacidade padrão anual do NordStream1) vemos que 8% correspondem a 4 mil e quatrocentos milhões de metros cúbicos por ano.

      Juntando esta perda de gás como combustível para o funcionamento de um terminal de liquefação ao valor que já se perdeu num ano a transportá-lo em gasoduto para a Europa Central, temos um total de 14 mil e 25 milhões de metros cúbicos (num total de 55) de gás natural utilizados para o funcionamento tanto de uma estação de liquefação, como do gasoduto em si.

      14.025.000.000 de metros cúbicos.

      Para além disto, ainda é preciso pensar nas estações de regaseificação e no transporte do gás em navios devidamente preparados para o efeito.

      Portanto, para se trazer GNL para Sines e transportá-lo para a Alemanha, gastam-se 14 mil milhões de metros cúbicos por ano de gás de um total de 55 mil milhões – o que representa 25,5% desse total.

      Trocado por ainda mais feijões: um quarto do gás extraído para ser liquefeito, transportado para Sines, e daí para a Europa num gasoduto é utilizado como combustível para esse mesmo gás conseguir chegar ao destino final.

      Grandes investimentos que fazem estes políticos.

      Isto era tudo bom e bonito se os EUA tivessem a capacidade para extrair um total adicional de 55 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano para vender à Europa – mas nem nessa situação se justificava o investimento todo para fazer esta complicação e evitar a compra de gás russo.

      Enquanto isso, no NordStream2 apodrece no fundo do mar e não diz nada acerca do que se pouparia em dinheiro se alguém se limitasse a ligar a torneira.

      Somos governados por idiotas – é a única explicação possível.

  5. O verdadeiro risco é a ausência de electricidade este Inverno sem energia disponível, sem água nas barragens, sem centrais eléctricas a carvão de reserva fechadas mais cedo por razões eleitorais e, obviamente, ainda uma escassez de gás na Alemanha, pelo que não são possíveis importações….
    Sabendo também que, no urânio, os russos com 40 cêntimos do enriquecimento, seremos muito privados na Europa como nos EUA em 2024…. Por isso, mais vale armazenarmos em velas e cobertores. Não há aquecimento a gás se não houver electricidade…
    Não há teletrabalho ou trabalho sem electricidade.

  6. Construir um gasoduto Sines-Europa Central é o mesmo que construir um hipódromo e não ter cavalos.

    Esta gente não pensa que, mesmo que o projeto fosse rentável ou justificável – o que não é -, este gasoduto levaria o triplo do tempo de construção do Nord Stream 2, já para não mencionar a coisa mais do que óbvia deste mundo, que é: um gasoduto precisa que haja gás para o transportar.

    Um gasoduto não cria gás natural do ar. Um gasoduto não produz gás.

    Um gasoduto transporta o gás de um ponto para outro.

    Onde é que se vai buscar o gás ? A resposta adequada ou em tom de brincadeira já nem pode ser “à China”.

    Vamos invadir a Venezuela e o Irão ?

    Pá, esta gente precisa é de ter vergonha na cara, assumir a quantidade de asneiras que fez, restaurar todas as relações diplomáticas com a Rússia/China/restante mundo que exploram há décadas sem quererem saber das populações para nada e começarem a meter o dinheiro onde têm a boca e investirem/trabalhar para construir um mundo multipolar onde aí sim respeitem as pessoas a quem deviam proteger os interesses e os respetivos direito humanos.

  7. E o Antônio Costa ainda alimenta está ideia , no DN de hoje 13 na página 9 AC diz “trajeto de gasoduto está definido e trabalhos em curso”

  8. Tem sido dito à saciedade, e é bem verdade, que há uma guerra dos Estados Unidos, donos da NATO, contra a Rússia, em que a tropa de choque é fornecida pela Ucrânia. Mas, se usarmos a imagem do ovo e da galinha, temos que a guerra principal, a guerra galinha, é outra: é a guerra dos Estados Unidos contra a Europa, não menos guerra por não usar bombas, mísseis, tanques ou aviões. O objectivo principal dessa guerra, há décadas implacável e meticulosamente levada a cabo, era separar a Rússia da Europa, destruir qualquer hipótese de uma Europa que incluísse a Rússia, e obviamente também uma Ucrânia livre de azoves e “escuteiros” afins. Uma Europa do Atlântico aos Urales, ou de Lisboa a Vladivostok, ou a também chamada Casa Comum Europeia, uma aliança de países e povos com um gigantesco potencial em termos económicos, geopolíticos, culturais, ambientais e sei lá que mais. Esse objectivo, com o prestimoso auxílio da criadagem europeia, da burrocracia europeia, exímia no novo desporto olímpico de dar tiros nos pés, está mais do que conseguido, desgraçada e irremediavelmente conseguido.

    Uma Europa que incluísse a Rússia, uma economia europeia alimentada pela energia barata russa, o gás e petróleo russos, com abastecimento regular garantido e fiável, significaria, como significou até agora, mercadorias europeias com a capacidade concorrencial, nos mercados mundiais, que agora perderão irremediavelmente. A Rússia é também riquíssima em inúmeras outras matérias-primas de interesse para a economia europeia, além de país científica e tecnicamente avançado. Disse um dia o Nobel da Paz Barack Obama, com a arrogância dos cretinos donos disto tudo, que “a Rússia não produz nada de que alguém precise, não fabrica nada que alguém queira comprar”. Ignorava certamente, o saudoso “droner-in-chief”, que na época em que largou a bojarda os astronautas americanos só conseguiam chegar à Estação Espacial Internacional em foguetões russos e cápsulas russas, ou teriam de ficar em casa a passear o cão. E ignorava também que a maior parte dos satélites americanos, incluindo militares, eram colocados em órbita por foguetões americanos… com motores russos, o que hoje ainda acontece parcialmente, mesmo que em menor grau.

    Tudo isso foi implacável e eficazmente destruído, “bombardeado”, reduzido a escombros. Essa Europa sonhada foi à vida, vitória total do tio Sam! Com “amigos” destes, quem precisa de inimigos? Vamos entrar numa nova era, e para nós, europeus, de bom não tem ela nada.

    • O seu excelente comentário, Joaquim Camacho, leva-me a acrescentar uma informação adicional que talvez ajude a compreender a razão porque os Estados Unidos se esforçam afincadamente por levar as suas armas nucleares para junto das fronteiras da Rússia. A razão dessa necessidade estratégica é que os mísseis intercontinentais americanos estão na verdade inoperacionais.

      Não sendo esta uma informação passível de ser divulgada nos media, como é óbvio, é no entanto fácil de deduzir.

      Desde o desastre do “vaivém” espacial Colúmbia em 2 de Fevereiro de 2003, o qual era um subproduto do projecto falhado da Administração Reagan lançado em 1981 conhecido com o nome de “Guerra das Estrelas” e depois reactivado no mandato de Bush em 2001, que os americanos não conseguem produzir um motor espacial que não expluda na subida a maior parte das vezes, tendo por isso de recorrer aos motores russos de tecnologia soviética. Este tipo de equipamentos tem prazo de validade de cerca de 15 anos.

      Um míssil intercontinental tem de ultrapassar a estratosfera. Então, se aquela sucata fosse lançada nos dias de hoje, a maior parte cairia provavelmente em território americano ou na Europa ocidental. Acho que eles chamariam a isso “fogo amigo”.

      Na verdade a tecnologia militar americana está muito atrás da Russa, e também da chinesa face à realidade da guerra actual, excepto talvez no caso da China, em termos meramente numéricos e apenas em algumas áreas. Ainda nem sequer têm mísseis hipersónicos, que os russos e os chineses já possuem, e não estão sequer perto de os ter.

      A maior parte do armamento dos EUA está ultrapassado. Os lentos e pesados e caríssimos porta-aviões, por exemplo, símbolo arrogante do poderio americano, e que eles possuem salvo erro em número treze, são na verdade um tipo de equipamento próprio do tempo da II Guerra Mundial. Hoje servem sobretudo para transportar aviões de combate de curto raio de acção para junto das costas de países mais fracos que se pretende submeter, são um meio de dominação imperialista. Não podem ser usados contra nações militarmente desenvolvidas.

      Um único míssil de precisão hipersónico, impossível de interceptar e com margem de erro face ao alvo de cerca de três metros, equipado com ogiva perfurante não-nuclear mas levando uma energia cinética de 25 vezes a velocidade do som, destrói um porta-aviões e respectiva carga mais a sua tripulação de 5 000 homens e todas as ilusões de superioridade ianques numa explosão infernal.

      A Rússia, não tendo nenhuma ambição imperialista, possui apenas um porta-aviões, provavelmente por questão de prestígio, e investe essencialmente em fragatas rápidas e manobráveis com poder de fogo equivalente, submarinos atómicos furtivos e mísseis de grande capacidade destrutiva, capazes de alcançar os seus inimigos em qualquer ponto do planeta. Tem vindo a fazer um esforço significativo para elevar a sua aviação aos níveis de excelência comparáveis, se não mesmo superiores, à aviação americana. Possui incontestavelmente o melhor sistema antiaéreo, os S-400 e a sua última actualização com capacidade de actuar no espaço sideral, os S-500. E por último, mas talvez o mais importante, desenvolve intensivamente tecnologia de interferência electromagnética capaz de ser usada em ambiente espacial e que poderá realmente fazer a diferença em caso de guerra nuclear, tornando inoperacionais os mísseis e demais equipamentos do inimigo.

      Tal como a União Soviética de Estaline direccionou toda a sua indústria pesada nacional para a guerra antes da esperada invasão alemã na II Guerra Mundial, também a Rússia de Putin e a China de XI se têm vindo a armar intensivamente o longo dos últimos dez anos em antecipação do que se aproxima. A História tem a irritante característica de se repetir, pelo menos na visão de quem sabe separar “o Real” das suas várias manifestações aparentes, como defendiam os filósofos da Antiguidade.

      Os gastos imensos dos Estados Unidos com a componente militar, uma das razões da sua dívida externa monstruosa e que eles nunca poderiam suportar se o dólar não fosse moeda de referência, têm muito mais a ver com as despesas associadas às cerca de 800 bases militares espalhadas pelo mundo, e que são um subproduto da sua política imperialista, do que com um verdadeiro esforço de modernização do próprio arsenal. Acresce que praticamente todo o armamento americano é produzido por empresas privadas que visam essencialmente a maximização do lucro em detrimento do interesse nacional.

      A guerra na Ucrânia, e a facilidade com que uma força operacional equivalente a 10% do poderio militar russo está a desmantelar todo o arsenal da NATO que para lá foi enviado, ao ponto de deixar os europeus em sérias dificuldades para assegurar a própria defesa, e os próprios americanos muito preocupados com a sua capacidade actual para cumprir os seus compromissos assumidos com Taiwan face à China, está a mostrar isso mesmo.

      Uf! E pensar que a minha ideia era apenas escrever meia dúzia de linhas em aditamento ao texto do Joaquim Camacho. Tenho de me controlar melhor, está um dia luminoso lá fora. É preciso aproveitar os dias bonitos porque o mundo como o conhecemos pode muito bem durar menos do que se pensa.

      Mais uma coisa: se um destes dias verificarem no vosso telemóvel que não há GPS, e que as outras pessoas também não têm esse serviço disponível, é melhor passarem pelo supermercado para açambarcar víveres (não esqueçam o papel higiénico!) e depois irem a correr procurar abrigo numa cave.

      Não é por nada…

      • Consola-me verificar, José Neto, que há muito mais gente acordada, e informada, do que a chinfrineira do pensamento único, em permanente bombardeamento de saturação, poderia fazer crer. Ainda a propósito dos motores russos (RD-180) em foguetões americanos, nomeadamente para colocar satélites em órbita, ouvi uma única referência ao facto, há alguns anos, nos mainstream merdia portugueses. E porquê? Porque o bendito motor explodiu no lançamento, destruindo foguetão e satélites e provocando um enorme prejuízo à América, caraças! Daí o chinfrim: o motor era russo, senhoras e senhores, os russos só fabricam merda e prejudicam quem faz negócio com eles! É como esta mania que também têm (ou tinham) de vender gás barato à Europa. Onde é que já se viu? O que não disseram foi que o motor russo explodiu porque as luminárias americanas, armadas ao pingarelho, decidiram fazer-lhe umas alteraçõezinhas… americanas, umas “melhorias”, topas? Os russos forneceram aos americanos, nos últimos 20 anos, 122 motores RD-180, mas parece que isso agora vai acabar e, à falta de um novo nazi importado, reciclado e recauchutado, à la Wernher von Braun, não sei se o Bezos e o Musk dão conta do recado sozinhos.

        A dependência dos motores russos é amplamente discutida nos EUA, inclusivamente no Congresso, mas os sipaios merdiáticos do lado de cá só falam do assunto em situações excepcionais, susceptíveis de um belo spinning subserviente, como a descrita acima. Alguns dados aqui:

        https://spacenews.com/nelson-shepherds-senate-compromise-on-rd-180-issue/

        https://spacenews.com/amendment-to-senate-bill-allows-continued-imports-of-russian-rocket-engines/

        https://tass.com/science/1279033

        https://www.republicworld.com/science/space/we-have-all-the-engines-we-need-us-after-russia-decides-to-halt-rocket-engine-supply-articleshow.html

        https://www.nationaldefensemagazine.org/articles/2022/8/5/us-kicking-russian-rocket-engines-to-the-curb

        https://spacenews.com/tag/rd-180/

        Já quanto ao armamento, os russos parecem ter aprendido com os efeitos nefastos que a corrida armamentista da Guerra Fria teve na economia da URSS. Agora, em vez de uma resposta simétrica, mas extremamente cara para uma economia muito mais fraca do que a do adversário, optaram por respostas parciais assimétricas, integradas, visando anular ou reduzir cada ameaça concreta do outro lado com gastos muito inferiores. Daí, por exemplo, os S-400 e S-500 de que falas, bem como a aposta nos supositórios hipersónicos. Sai muito mais barato abater os caríssimos aviões inimigos a partir de terra do que tentar fazer o mesmo com aviões quase tão caros em números equivalentes. A Rússia tem, como dizes, apenas um porta-aviões, e tanto quanto sei desactualizado, tem avarias frequentes e passa a maior parte do tempo no estaleiro. A China julgo que tem dois, mais um em construção. Os Estados Unidos têm dez, com outros dez programados, quatro deles já em construção. Teoricamente, irão substituir os agora ao serviço, mas não me admiraria que alguns destes vissem a reforma adiada, o que elevaria o total, daqui por alguns anos, para 15 ou 20. A estes acrescem ainda julgo que nove porta-helicópteros. O que fazem russos e chineses? Elementar, meu caro José Neto: apostam principalmente em submarinos, muito mais baratos, mas ameaças significativas para qualquer paquidérmico porta-aviões.

        Julgo que foi o ministro da Defesa russo que disse, há uns dois ou três anos: “Nós não precisamos de porta-aviões, precisamos é de armas para os afundar.” Em caso de guerra total, obviamente nuclear, o destino dos porta-aviões, tanto os americanos como o russo ou os chineses, será provavelmente, nas primeiras horas (ou hora) do conflito, o fundo do oceano. E o mesmo acontecerá certamente aos dois britânicos e ao francês, que, por “solidariedade”, não quererão certamente ficar sozinhos cá em cima. Imagino que a localização, ao segundo, de qualquer dessas humildes “chalupas” deve ser prioritária para qualquer dos lados e, por mais sofisticada que seja a defesa antiaérea, não acredito que algum deles possa fazer alguma coisa contra uma vaga de supositórios voadores em ataque de saturação.

        A revista britânica de aeronáutica ‘Flight International’ (anteriormente semanal, agora julgo que mensal) publica todos os anos, em meados de Dezembro, um suplemento intitulado “World Air Forces”, com o efectivo real das forças aéreas do mundo inteiro, desde os EUA até à Rússia, passando por Portugal e Burkina Faso. Discriminam não só os aparelhos existentes e suas funções como também os encomendados ou em processo de aquisição. Pode ser consultado aqui:

        https://www.flightglobal.com/reports/world-air-forces-directory-2022/146695.article

        O último número, de Dezembro passado, diz-nos o seguinte:

        ________________________

        Aviões de combate:

        América do Norte (EUA + Canadá): 2803
        Europa: 2113

        América + Europa: 4916

        Rússia e CIS: 1859

        ________________________

        Helicópteros de combate:

        América do Norte (EUA + Canadá): 5581
        Europa: 3323

        América + Europa: 8904

        Rússia e CIS: 1927

        (CIS: sigla em inglês para Comunidade de Estados Independentes, Rússia e aliados)
        ________________________

        Donde se conclui que a Europa sozinha tem mais aviões de combate do que Rússia e aliados (2113 contra 1859) e o mesmo se verifica nos helicópteros de combate (Europa 3323, Rússia 1927, quase o dobro). Ainda nos helicópteros de combate, se juntarmos à Europa os EUA e o Canadá (grosso modo a NATO), a desproporção é absolutamente obscena: 8904 natistas contra os mesmíssimos, e raquíticos, 1927 russos, quase cinco anjos do bem para cada demónio alado da Moscóvia!

        Nada disto, claro, impede a criadagem de ecoar a voz do dono e berrar que a Europa, coitadinha, só sobrevive à conta do guarda-chuva protector americano, e que, para não ser engolida pelo urso moscovita, é preciso gastar muito mais em armamento… na sua maior parte americano, claro! Benditas comissões! Razão tinha o ex-presidente Dwight Eisenhower no seu discurso de despedida:

        https://youtu.be/cyZoUfNsUl8

        O Nostradamus não diria melhor.

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