A preparar as nossas cabecinhas para a guerra nuclear

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 01/07/2022)

Miguel Sousa Tavares

Reunido em mangas de camisa num castelo alemão, o G7 actualizou as sanções à Rússia e as novas verdades sobre a guerra. De facto, foi o G7+1, pois, como sempre, Zelensky esteve presente por vídeo para pedir mais e mais sofisticadas armas, a tempo de poder decidir a guerra antes do Inverno. Ficou-se a saber que, só dos americanos, ele recebe todos os meses armamento no valor de 7,5 mil milhões de dólares — um festim para as Lockheed Martin dos Estados Unidos. No final e sobre um horizonte de ruínas, alguém há-de ter de pagar isto e suponho que não sejam só os contribuintes americanos, mas todos os da NATO.

2 Na sua intervenção, Zelensky informou os outros de que na véspera os russos tinham atacado com mísseis um centro comercial onde se encontravam mil civis: dez tinham morrido nesse dia, 18 até hoje. Os russos argumentaram que não tinham atacado nenhum centro comercial mas sim um depósito de armas que ficava ao lado e que, ao incendiar-se, atingira com destroços o centro comercial. Como é óbvio, essa versão foi imediatamente descartada, em favor do “crime de guerra”.

3 Ao mesmo tempo que acrescentava o ouro à lista de bens russos cuja exportação passa a ficar proibida, o G7 insurgiu-se contra “o roubo e impedimento das exportações de cereais” ucranianos por parte da Rússia. E depois de algum imbecil ter dito que pela primeira vez na História a Rússia utilizava a fome como arma de guerra (nunca terá ouvido falar de cercos nem de bloqueios de portos durante as guerras), desta vez o G7 “apelou” à Rússia para levantar o bloqueio aos portos ucranianos do Mar Negro, com Odessa à cabeça. Mas há aqui o típico problema da pescadinha: os russos nunca disseram que impediriam os navios-mercantes de irem buscar os cereais aos portos ucranianos, mas que o que impede isso é eles estarem minados pelos ucranianos. E estes, por sua vez, dizem que se retirarem as minas ficam indefesos perante a frota russa ao largo, pelo que a única saída seria a retirada desta. Mas para onde iria a frota russa? A resposta lógica era para ali ao lado, para a Crimeia e para o abrigo da sua base naval de Sebastopol. Mas isso não tranquilizaria os ucranianos, pois os russos poderiam regressar rapidamente a Odessa. A única coisa que os tranquilizaria era que a frota russa do Mar Negro se retirasse toda dali, atravessasse o Estreito e entrasse no Mediterrâneo — onde, não dispondo de nenhuma base, lhe restaria navegar meio mundo e ir acolher-se à outra costa marítima russa, no Báltico. Ou seja, abandonar o Mar Negro, onde está desde Catarina, a Grande, e deixar a sua costa sul e a Crimeia exposta a ataques navais dos seus inimigos — coisa que Moscovo, obviamente, jamais aceitará. A única solução é, pois, negociar com Putin, coisa que ninguém do lado “justo” quis ou quer fazer, seja qual for a razão. Fazê-lo passar sempre, não apenas pelo responsável pelo desencadear da guerra, que é, mas também pelo criminoso de guerra sempre à mão, é muito mais eficaz tendo em vista o objectivo final.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

4 Por iniciativa dos Estados Unidos, os membros do G7 e não só mantêm congelados 300.000 milhões de dólares de reservas russas em bancos ocidentais. Putin respondeu parcialmente decretando que o serviço da dívida externa russa passaria então a ser pago em rublos. Assim fez esta semana, pagando em rublos uma tranche de 100 milhões de dólares à empresa privada que, por sua vez, deveria pagar aos detentores da dívida. Seguindo ordens de Washington, a empresa não o fez e a Rússia foi declarada em default — a primeira vez desde a Revolução de 1917. Mas o mesmo G7 que acusou a Rússia de ter “roubado” a Ucrânia por ter vendido uma pequena parte de cereais que estavam na Mariupol conquistada aprovou uma ajuda económica de €27 mil milhões à Ucrânia até ao final deste ano, que será em parte financiada com o dinheiro das reservas russas “congeladas”. Congeladas, apropriadas e distribuídas, por ordem de nenhum tribunal, ao abrigo de nenhuma lei internacional e por resolução de nenhum organismo com competência para tal.

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5 Por sugestão da secretária do Tesouro norte-americana, Janet Yellen, o G7 decidiu também começar a trabalhar num plano para estabelecer um tecto máximo ao petróleo e gás natural importado da Rússia. Convém recordar que antes de 24 de Fevereiro, a Europa importava 27% do petróleo e 75% do gás natural da Rússia, através do Nordstream I, a preços baratos e com poluição zero no transporte, e preparava-se para abrir o Nordstream II, uma parceria russo-alemã, que Joe Biden, na cara do chanceler Olaf Scholz, declarou imediatamente cancelada. E convém recordar também que os Estados Unidos, desde que adquiriram a tecnologia para explorar o shale gas (gás de xisto), se tornaram auto-suficientes em petróleo e gás, que agora irão exportar para a Europa substituindo-se aos russos, vendendo mais caro, com custos de transporte acrescidos e sendo que o gás deles, o GNL (gás natural liquefeito), envolve a construção de terminais próprios de armazenamento e é o combustível com maior impacto no aquecimento da atmosfera. Mas, como disse Ursula von der Leyen, “a nossa reflexão estratégica, enquanto democracias, é a de construir o mundo de amanhã com parceiros que partilham das mesmas ideias”, exemplificando, no campo da energia, com os Estados Unidos, o Azerbaijão e o Catar (“Le Monde Diplomatique”, Junho). E poderíamos acrescentar a ‘democracia’ venezuelana, com quem a Administração Biden já abriu negociações com vista a levantar o embargo às exportações de petróleo.

A História está cheia de episódios destes, em que depois da tragédia acontecer, todos se perguntaram “porque é que não vimos o que ia acontecer, porque é que ninguém fez nada para o evitar”. A diferença é que nas tragédias anteriores não havia o factor nuclear

Obviamente, a proposta de limitar o preço da energia não se aplica a todos os produtores, mas apenas aos russos. Para os outros, nomeadamente os nossos amigos americanos, grandes ganhadores económicos desta guerra, bem podem os europeus, os grandes sacrificados, juntamente com os africanos esperar em vão qualquer sinal de solidariedade: ela vai toda para a Ucrânia e para a NATO. Resta saber o que têm os russos a dizer a esta extraordinária proposta dos sete senhores em mangas de camisa que deveriam representarem as sete democracias liberais mais prósperas do mundo. Porque tudo isto é de uma imensa hipocrisia: a Europa continua a precisar desesperadamente da energia e dos cereais russos, mas, a reboque da NATO e dos Estados Unidos, embarca em bravatas que não apenas contrariam todos os princípios do seu credo liberal, como põem em risco a sua sobrevivência económica por décadas e todas as belas promessas de combate às alterações climáticas, agora substituídas pela reactivação em força das centrais a carvão (defendida até pelos Verdes alemães). E se Putin se põe a fazer contas ao dinheiro que tem em caixa e ao tempo de guerra que ainda tem pela frente e decide, pura e simplesmente, cortar a energia à Europa?

6 Quem é que manda hoje na Europa? É Boris Johnson? Não, graças a Deus, é inglês. Macron? Não, capitulou em Kiev, juntamente com Draghi. Scholz? Não, é um homem perdido em tudo: ideias, estratégia, parceiros. Von der Leyen? Não, é um peão dos americanos, em cujas mãos pôs o destino da Europa, daqui para a frente condenando a UE e ela própria à irrelevância. Quem manda na Europa é o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. Diferentemente de Ursula von der Leyen, ele não é peão dos americanos, é parceiro estratégico deles. E se também subjugou a Europa aos interesses americanos, não foi por falta de visão ou de cautela, foi por convicção, porque esse era o seu objectivo. Stoltenberg é o governador americano da Europa. Ele é quem aparece em todo o lado, anuncia, manda e decide tudo: que a Força de Intervenção Rápida da NATO se vai multiplicar por oito e encostar-se às fronteiras russas, numa típica manobra ‘defensiva’, igual à que conduziu à invasão da Ucrânia; quanto é que isso, mais o reapetrechamento militar, vai custar a cada membro da organização; como é que serão de futuro as relações de cada um com a China (de desconfiança e pré-confronto, já o disse); que leis é que a Suécia tem de alterar para passar a declarar os refugiados curdos como ‘terroristas’, como impõe o sultão Erdogan — esse paladino da paz e dos direitos humanos e que, ao contrário de Putin, não alimenta qualquer desejo de reconstruir um império passado.

Tudo isto, todo este imenso poder, Stoltenberg conquistou-o em breves quatro meses que tudo mudaram, tirando partido da reforma de Merkel na Alemanha, da escabrosa leviandade de Boris Johnson e da senilidade galopante de Joe Biden. E, sobretudo, do trágico e imperdoável erro de cálculo de Vladimir Putin. E tudo isto, todo este poder, todas estas decisões, todas estas mudanças nas nossas vidas, ele impôs aos europeus sem nunca nos consultar, sem nunca nos perguntar nada, apenas manobrando entre os grandes e explorando as suas fraquezas disfarçadas de forças.

Se ninguém o travar, este norueguês que se tornou dono da Europa sem que nenhum europeu tivesse votado nele vai-nos levar até à guerra nuclear com a Rússia. A História está cheia de episódios destes, em que depois da tragédia acontecer todos se perguntaram “porque é que não vimos o que ia acontecer, porque é que ninguém fez nada para o evitar”. A diferença é que nas tragédias anteriores não havia o factor nuclear.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia


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16 pensamentos sobre “A preparar as nossas cabecinhas para a guerra nuclear

  1. Parece que hoje o Miguel abusou um bocadinho da dose anti “valores comuns que partilhamos” e pendeu demasiado para o “putinismo”…

    Não tarda muito e aquele montinho Alentejano em que se refugia acaba por se tornar inóspito e extremamente frequentado por luNATOcos!

    Por outro lado, quando ele fala das várias situações recorrentes ao longo da história que ninguém teve a inteligência de prever ou prevenir, é simples: das duas uma, ou isto são manobras táticas altamente complexas e baseadas nalgum trunfo ou cartada derreadora que está a ser preparada pelos nossos líderes, ou então estamos perante o caso mais estrondoso e alarmante de estupidez na História da Humanidade inteira.

    Então aquela de ler que os Verdes apoiam a reativação de fábricas a carvão é delirante!

    Ainda assim compreende-se que só vamos comprar gás e petróleo aos Americanos porque é a nossa forma de nos mostrarmos solidários para com os Ucranianos: eles estão metidos numa guerra por causa da burrice dos seus líderes, e nós vamos arruinar economias e o ambiente por causa da burrice dos nossos!

    E a controlar isto tudo, surpresa, surpresa: um homem que precisa de ter escrito num cartão o que é que tem de fazer em cada momento de uma dada aparição pública.

    Não sei porquê, mas isto recorda-me quilo que se faz com aquelas pessoas que, sofrendo de Alzheimer e de forma a encontrarem o caminho para casa, ou apenas de modo a terem alguém que os ajude, andam com um cartão ao pescoço!

    Assim, estamos totalmente quites e sintonizados com a situação dos Ucranianos: sofremos todos com a estupidez!

    Mas, como são os Americanos que vão extrair o gás de xisto e vendê-lo a estes palermas continentais plantados à beira-mar, pode ser que a Democracia e a Liberdade de que tanto gostam nos retirem da encrenca em que nos metem quanto ao ambiente.

    E nós ainda vamos pagar a reconstrução da Ucrânia, não esqueçam…

    • Muito bem. Essa dos Verdes alemães (Die Grünen) apoiarem o fim do gás relativamente limpo e barato da Rússia (que não só não ameaça a Alemanha, como pelo contrário era o seu maior aliado económico que permite à Alemanha ser o que é hoje: o motor da Europa), e em vez disso apoiarem as compras de gás de fracking (prática de terrorismo ambiental, fora o seu transporte por cargueiro) a um regime genocida (EUA, recordistas em guerras, mataram ou provocaram a morte a milhões de pessoas, e no entanto ninguém os cancela da mesma maneira que faz à União Soviética…) não é anedótico. Está para lá disso. É sinal da total falência moral e morte cerebral do Ocidente, e aqui incluo estes líderes lunáticos e os seus eleitores de cérebro lavado pela propaganda do regime.

      Fui ver ao electricitymap .org e a Alemanha tem estado a usar em média valores perto de 38% de electricidade produzida a partir da queima de carvão, a forma mais poluente de todas (+800 gCO2/KWh vs ~500 do gás vs apenas ~10 do nuclear). E isto é agora, no Verão. Quando o Inverno trouxer o frio, será um desastre ambiental. E se a Rússia cortar o gás restante, será um desastre económico.

      Quanto à última frase, nós não vamos pagar a reconstrução da Ucrânia, da mesma maneira que não pagámos a da Sérvia, Iraque, Líbia, Afeganistão, etc. O que JÁ ESTAMOS A PAGAR é o aumento do lucro garantido da oligarquia do Complexo Militar Industrial. E é a inflação auto-imposta pelos idiotas das sanções ILEGAIS.
      Além disso, a destruição no território da ditadura Ucraniana ainda com um aparelho dominado por Banderistas/Nazis, é extremamente baixa. É um prédio aqui, outro ali, nada de mais. Fora uns efeitos colaterais aqui e acolá, a Rússia tem sido cirúrgica. Aliás, no IntelSlava vi esta semana o resultado de um dos bombardeamentos à linha de ferro (que servia para transportar veículos blindados) numa ponte. A exactidão do míssil foi tal, que a linha de ferro foi destruída, mas a estrada para automóveis, um metro ao lado, está em perfeitas condições. Se fosse um típico bombardeamento à lá NATO, já nem havia ponte, nem localidades de um lado e do outro…

      A parte da Ucrânia com que a Rússia vai ficar (acima de tudo nas zonas em redor de Lugansk e Donetsk onde estavam posicionadas as trincheiras e se dão os combates mais destrutivos), será re-construída pela Rússia. Aliás, os trabalhos de limpeza de destroços, reconstrução de vias e outras infraestruturas, relançamento económico, etc, já estão a ser levadas a cabo desde há meses!
      A Ucrânia sabe isto, e estando claramente a perder (até 1000 homens por dia, e cada vez menos território nas suas mãos), parece-me que um dos objetivos de quem se senta nos palácios de Kiev em total paz, é garantir que a Rússia conquiste o mínimo número de vilas/cidades inteiras. A chamada política de terra queimada.

      É por isso que estou curioso para ver como será em Kharkov, Zaporijia, Dnipropetrovsk, Mikolaev, Odessa, e Kramatorsk (na República Popular de Donetsk). Tendo em conta que o “Parlamento” da junta de Kiev acabou perder o momentum de contra-ataque em Kharkov devido à necessidade de usar essas tropas para reforçar no Donbass, que já alguns analistas falaram que isso acontece também em Odessa, que a esmagadora maioria dos que são hoje mandados para a linha da frente eram da Guarda Territorial (basicamente civis com um colete, capacete, e que aprenderem a usar uma armas só este ano), que aprovou há umas semanas a possibilidade de recrutar mulheres, e que acabou de aprovar o recrutamento de deficientes, isto significa que em breve podemos assistir a um colapso do exército ucraniano.

      Será que então a Rússia passará a uma fase 3, em que volta a fazer movimentos rápidos e a cercar as grandes cidades do que lhe falta libertar na Novorrússia, ou vai continuar lentamente, com poucas baixas, enquanto se escreve o acordo de rendição da Ucrânia e, à semelhança do que o Azerbaijão fez contra a Arménia em 2020, a Rússia exige não só os territórios já libertados, como ainda uma boa parte dos que iria inevitavelmente conquistar a seguir? E depois, se a NATO não largar o osso, a Rússia faz o quê com o resto? Conquista tudo a leste do rio Dniepre, ou exige um governo em Kiev à imagem do de Lukashenko na Bielorrússia, completamente amestrado, e com uma política de perseguição e repressão para acabar de vez com o Banderistão (Lviv e arredores)? E vai prender esses glorificadores do nazi Stepan Bandera de forma perpétua, ou vai permitir que fujam e se juntem aos fascistas polacos, de forma a que o lixo fique todo no mesmo contentor?

      Por fim, quero só mais uma vez usar FACTOS para corrigir mentiras do autor (que sim senhor, fez aqui um grande texto, mas cometeu 2 erros inadmissíveis):

      Putin «responsável pelo desencadear da guerra, que é».

      NÃO. O desencadear da guerra foi em 2014, pelos Nazis ucranianos contra os “sub-humanos” e “negros da neve” do Donbass. E o desencadear da batalha de 2022, parte (espero eu final) dessa guerra, foi desencadeada mais uma vez por esses Nazis em 16-Fevereiro-2022, em violação dos acordos de paz de Minsk, tal como provado no relatório da OSCE. É inadmissível que isto continue a ser omitido ou do desconhecimento de pessoas com direito a influenciar tantos leitores/ouvintes. Nesse relatório da OSCE, estão contabilizados milhares de explosões que são violações diárias do cessar-fogo, e a maioria delas em território separatista do Donbass. Ou seja, durante uma semana ANTES da Rússia intervir, a concentração de tropas ucranianas/nazis, a mando de Zelensky, desencadearam a guerra. O silêncio do Ocidente perante a limpeza étnica que se seguiria, foi interrompido, e muito bem, pela intervenção Russa, que é aquela que vai garantir a paz, derrotando quem a violou e nunca teve intenção de cumprir (como já confessou Poroshenko)!

      «trágico e imperdoável erro de cálculo de Vladimir Putin»

      Trágico é, como é qualquer conflito militar. Imperdoável não é, eu já perdoei e se for preciso digo mesmo: apoio. Ou era isto, ou era assistir (com silêncio ensurdecedor da “imprensa livre” ocidental) a mais uma matança do povo do Donbass (a juntar aos +13 mil dos últimos 8 anos) às mãos de assassinos nacionalistas e nazis às ordens do ditador Zelensky, e com armas da NATO.
      Se é erro ou não, isso é algo que só a médio/longo prazo se poderá verificar. Para já, tendo em conta a derrota de tanto Nazi, a libertação e e salvamento da vida dos povos do Donbass e Crimeia (que Zelensky ameaçou invadir, ou seja, alargar a guerra a mais uma zona), e a forma como os 85% do povo Mundial Não-Ocidental já estão a acelerar a transição para um Mundo Multipolar (sem domínio dos EUA) e a desdolarização (já para não falar do possível fim do €uro, que bom que seria para Portugal), então o cálculo está a sair bastante certo. E pelas contas que se vão fazendo, o cálculo dos ganhos com as exportações Russas está também a atingir records.

      E finalmente, a decisão não foi de Vladimir Putin, foi de muito mais gente: Kremlin, militares, etc – e tem hoje em dia o apoio de partidos da oposição e da esmagadora maioria da população Russa. É que por lá, todos percebem que eles, enquanto povo e nação, eram o alvo final da NATO, e ou se defendiam, ou acabavam como a Sérvia. Portanto, se a Rússia ainda está inteira, e com cada vez menos nazis à sua porta, então a operação Z foi a decisão certa.

      E repito outra coisa que já tenho dito: as decisões dos países Ocidentais não são “por causa de Putin”. São as decisões que eles quiseram tomar. Aliás, decisões que alguns deles já queriam tomar antes, mas faltava-lhes o pretexto e os 4 meses de lavagem cerebral aos seus eleitores. Espero só que a estupidez não vá longe demais, e que não obriguem a Rússia, e China, e seus aliados, a passarem da defesa para o contra-ataque.
      É que o plano de fazer da Rússia a próxima Sérvia/Líbia, pode bem passar dentro de algum tempo a ser a necessidade existencial da Rússia/China/etc fazerem do território da NATO (parcial ou totalmente) o próximo Iraque/Afeganistão. E depois um chéché, que cai da bicicleta, se esquece do que ia dizer a meio das frases, e precisa de instruções num papel, carrega no botão vermelho (a conselho de um NeoCon qualquer, tipo Victoria Nuland) e é o fim da história: KABOOM!!!

      • Nada a dizer quanto à questão da “reconstrução da Ucrânia” e dos lucros do Complexo Militar Industrial/Inflação causada pelas Sanções idióticas.

        Contudo, a propósito da precisão dos mísseis russos, e de, no caso de ser a NATO, não sobrar nas imediações, conto uma história caricata, no mínimo: ora, estamos nós em 2001 (invasão do Iraque), e, no início da “intervenção”, os iluminados da coligação internacional contra o terrorismo/o eixo do mal/e armas do Saddam/e mais não sei quantos slogans é que esta gente consegue inventar decidem acabar com a guerra indo atrás daquele que não a tinha provocado, ou seja, Saddam.

        Para esse efeito, tinham dados de “inteligência” que lhes garantiam que Saddam estava num complexo perto de Baghdad chamado Dora Farms.

        Pois que então os Americanos e a sua usual impetuosidade impeliu-os a bombardear o sítio.

        Como ? Largaram quatro bombas de 2.000 toneladas cada uma e ainda uns quantos Tomahawk dum navio qualquer que estava no golfo. O que é que aconteceu ?

        Três bombas falharam estrondosamente o alvo e ninguém sabe onde é que elas pararam.

        Uma delas acertou o alvo. Ou seja, um mercado ao lado do complexo em que Saddam estava, resultando na morte de civis que por lá andavam.

        Valeu a pena ?

        Capturaram Saddam ?

        Acho que já tudo percebeu que não.

        Porquê ?

        Porque Saddam não punha os pés naquele complexo desde 1995.

        Andavam lá alguns militares, generais e coisas afins… (Viveram todos)

        Bem, tal inépcia é inaudita na História da Humanidade.

        E ainda dizem que usam as Smart Bombs ou lá o que é!

        Não duvido! Mas a inteligência das bombas não substitui a dos homens que as largam!

        Enfim, se isto não fosse trágico pela “pequenina” questão das pessoas que morreram neste atentado, uma pessoa ria-se.

        E depois vêm falar de “atrocidades”, ou “crimes de guerra” da Rússia quando a única tática que esta gente conhece é: bombardeia primeiro, faz perguntas aos escombros e esconde tudo o que fizeste o mais rápido possível!!!

        Ah e lembrei-me duma hilariante! Boris Johnson (isto começa bem) vem dizer que a guerra da Ucrânia é culpa da masculinidade tóxica de Putin, e que, se este fosse mulher, não havia guerra!!

        Putin, numa visita diplomática de há dois dias ao Tajiquistão (creio), foi interpelado por jornalistas quanto a isto e respondeu da seguinte forma: pois é e tal, mas o escova que não se penteia esquece-se da Margaret Thatcher e da sua intervenção militar na Argentina por causa de algo tão trivial como as Ilhas Falkland. E isto até é bom exemplo, porque, por um lado, é mulher, e, por outro, é uma ex-primeira ministra Britânica!

        Uma pessoa podia acrescentar à lista, sei lá, uma Madeleine Albright e as 500000 crianças iraquianas que ela disse que compensava morrerem para que os americanos fizessem qualquer coisa.

        Ou ainda a Hillary Clinton, a arquiteta da Líbia (ou devo antes dizer a carniceira ?) e da transformação do país com maior qualidade de vida em África num entreposto de tráfico de humanos.

        Enfim, quando se usa o wokismo para se discutir uma guerra, sabemos perfeitamente que alguém anda desesperado para ver se apanha a reeleição, porque já não vai lá doutra forma.

        • Disse duas mil toneladas ahah!

          Two thousand pounds!

          Foi de ter escrito depois de ter lido o comentário abaixo das capacidades do Avangard!

        • Novamente uma boa leitura. Não conhecia essa história no Iraque. Mas li sobre a ideia completamente estúpida do BoJo, e realmente, a resposta do Putin foi à altura.

          “Two thousand pounds” = 907 Kg de explosivos

          Sobre o Iraque, outra coisa: os mercenários americanos, “veteranos” do Iraque, e que agora a Rússia está a destruir ou a prender (para depois condenar à morte). Estas sentenças são sempre coisas feias, mas antes assim do que justiça nenhuma, como aconteceu até 2022.

          Mas aqui lembro as palavras da Raquel Varela, qualquer coisa como: os soldados são carne para canhão, morrem em nome dos interesses de outros, e só os generais e reis, etc, é que ficam para a história e com estátuas.

          Pego nestes dois últimos parágrafos, e concluo assim: se tivesse poderes mágicos, salvava a vida dos soldados todos (incluindo os americanos mercenários), e condenava antes à morte TODOS os generais, políticos, e oligarcas NeoCon. A Madeleine Albright a viver até à morte natural, é das injustiças mais repugnantes da história moderna. Coloque-se na lista da injeção letal a H.Clinton, o J.Bolton, a V.Nuland, a família Kagan, etc. Era um preço baixíssimo a pagar pela paz.

          Foi a este ponto que esta gentalha reduziu a minha tolerância para com os donos disto tudo: ZERO. Que venha a revolução, que eu, pelo menos mentalmente, já estou pronto!
          Ah, não, espera, estamos no Ocidente, aqui já não há revoluções, pois a distopia Orwelliana já está 100% instalada no poder (económico, político, militar, e “jornalístico”). Aqui no Ocidente a única “revolução” que podemos fazer é escrever “#LGBT+” numa rede social quando as bombas na NATO forem lançadas por uma general americana negra e lésbica. Para que os escurinhos (e russos, e amarelinhos) morram de forma mais “Progressista”…

  2. MST vê o que qualquer um pode ver. SE QUISER VER. O resto é lógica de algibeira. Muito boa gente precisou da intervenção russa na Ucrânia para tomar consciência do papel da NATO na Europa. Mas desde a sua fundação que a NATO existe como força de ocupação americana da Europa. A Europa é uma colónia americana onde a NATO põe e dispõe a seu bel-prazer. Os governos nacionais não têm poder para se opôr à NATO, tudo o que podem fazer é dizer como vão cumprir as ordens do sr. Stoltenberg, governador do complexo militar-industrial americano na Europa. Pode um país europeu sair desta agressiva e sinistra organização de guerra? Duvido. A NATO está acima de todas as instituições políticas de cada um dos seus países membros.
    Uma guerra nuclear na Europa? Os EUA só têm uma dúvida: Terão mesmo os russos uma arma que possa destruir Washington ou Nova Iorque? É muito provável que devamos a nossa existência ao “sr. Sarmat”.

    • O facto dos EUA terem testado ontem, no Hawaii, um míssil balístico intercontinental, e ainda o facto deste ter (literalmente) rebentando na cara deles, é provável indicador de que talvez eles estejam com um bocado de receio dessa situação e andem às aranhas para ver se acompanham os engenheiros russos…

    • O míssil intercontinental Sarmat, que com 10 mil Km de alcance (da Crimeia até ao Texas!) vai ao espaço e:
      – ou lança 10 mísseis nucleares autónomos cada um com 750 Kilo Toneladas (50x as 15 de Hiroshima). O semelhante nos EUA é o UGM-133 Trident II, tecnologia de 1990 da Lockeed Martin. Ou seja, é o cenário MAD da destruição mutuamente assegurada;
      – ou lança o veículo hiper-sónico (mach 20 a 27) Avangard que se PODE desviar do sistema de defesa americano THAAD, é de facto um game-changer. Até porque este Avangard (tecnologia de 2019 da Federação Russa) pode levar uma carga explosiva convencional em vez de uma carga nuclear (que pode ir até 2 MEGA Toneladas).

      Assim sendo, e ouvindo as declarações dos luNATOcos (como alguém aqui escreveu de forma engraçada) a dizer que a Rússia tem de ser derrotada de forma a deixar de poder continuar a usar a MAD como “desculpa” para não poder ser atacada, estou inclinado a dar-te razão. O “Sr. Sarmat” é provavelmente a razão pela qual ainda há vida na terra. Não sei o que vai na tola dos NeoCon (Nulands, Kagans, Boltons, Blinkens, etc) para andarem tão activamente a promover a escalada que leve ao cenário MAD. Será que pensam que o Musk e o Bezos os levam a passear para um hotel noutro planeta habitado aqui ao lado? Ou será que a única coisa que se passa na sua tola é a contagem dos milhõe$ do saco azul (aka “lobby legal” nos EUA e agora também na UE) do Complexo Militar Industrial, de tal forma que ficam cegos em relação a tudo o resto?

      O que eu digo, em nome da paz e da vida, é o seguinte: faça-se a revolução para derrubar a ditadura NeoLiberal (se não fosse ditadura, era possível os eleitores estarem maioritariamente informados (em vez de serem manipulados por aldrabões auto-denominados “jornalistas”), e com alta taxa de participação terem a possibilidade de escolher caminhos (sistemas económicos) diferentes em eleições, mas não, isso NÃO existe na “democracia liberal”), follow de money de forma a ter provas para prender esta gente para o resto da vida (em vez de vergonhosos perdões de fascistas como aconteceu depois da revolução portuguesa e da transição espanhola), nacionalize-se toda a indústria militar industrial (pois se a guerra for um negócio privado, a única forma de garantir lucro, é ter a certeza de que há sempre uma guerra algures), e use-se o dinheiro público para apoiar e re-converter profissionalmente esses trabalhadores à medida que se for desmantelando essa indústria.

      Depois, que se faça uma ONU onde o direito de veto é eliminado para países individuais, e passa a só ser possível para votos com 90% dos países de cada continente. E uma Assembleia Geral mais democrática, onde não seja possível mais de mil milhões de pessoas (China ou Índia) terem tantos votos (só um) como coisas ridículas tipo Ilhas Virgens Americanas, ou Mónaco.
      E já agora um novo artigo na Carta da ONU: países que invadam outros, ou que tenham armas nucleares, devem ser completamente bloqueados de toda a diplomacia e comércio Mundial até haver fim das hostilidades, ou prova de que eliminaram a última arma/ogiva nuclear, respectivamente.

      Imaginar utopias é um dos meus hobbies, porque sonhar não custa, e sempre dá por um momento para abstrair da m*rda que temos na realidade.

  3. As armas nucleares podem ser utilizadas por várias razões, a primeira é que os falcões do lobby militarista dos EUA mudaram a sua doutrina e acreditam numa vitória que não é possível mas certa, a segunda é que são Frankistas Estraussianos e que esta tem sido a sua doutrina há mais de 200 anos, e são eles que estão no comando (Nuland entre outros), A terceira é que os russos começam a perder a paciência e compreenderam o que já não querem acreditar, nomeadamente que os EUA são um bando de bandidos que os querem matar e que, por outro lado, têm as armas para colocar os EUA no caixote do lixo da história para sempre, mas o tempo está a esgotar-se antes que os russos recuperem a sua tecnologia militar, pelo que a janela de oportunidade para o fazer não ficará aberta por muito tempo; Putin disse-o, não haverá planeta sem a Rússia, é claro; os únicos que poderiam sobreviver ao fogo nuclear são os russos.

    1 Teremos guerra, 3º de nome.

    2 As armas nucleares tácticas e não estratégicas serão utilizadas.

    3 Não será o apocalipse nuclear , mas mais provavelmente o apocalipse bíblico. Não são necessariamente os exércitos que irão devastar tudo, mas os efeitos colaterais da fome, da guerra civil …
    A Europa voltará ao mesmo estado que em 1945/1947, mas sem o Plano Marshal.
    Por outro lado, o despovoamento será muito pior, grosso modo… -50%.

    Além disso, este é o verdadeiro objectivo do plano globalista!

    Durante séculos as guerras – mesmo as últimas não tiveram qualquer influência sobre a população do planeta, isto pode mudar com a próxima.…

    Toda esta agitação, permite a alguns avançar as suas ideias de despovoamento do planeta…e não concordo que ninguém utilize a energia nuclear…os americanos fazem-no regularmente com munições sujas:
    As munições de urânio empobrecido dão uma série de cancros a longo prazo…Kosovo, Iraque e Afeganistão são mal pagos e mal tratados para saber isto…então, financeiramente falando, explodir um míssil que encolhe uma capital custa muito menos…não esqueçamos que fazer uma guerra torna possível mascarar uma enorme falência geral americana e ocidental…e então o sistema pode fazer o que quiser através de uma paralisia geral e estupor do resto da população…Certo?

    Para sair desta situação sem grandes danos, eles podem voltar atrás, mas correm grandes riscos para o seu futuro.
    A solução é ir mais longe, e aqui temos de pensar nas doutrinas “atómicas” envolvidas: para o Ocidente, é o princípio da dissuasão: respondemos massivamente a um carregamento de misseis com ogivas nucleares, para os russos também, claro, mas para restaurar uma situação , eles poderiam usar misseis nucleares tácticos. Se for menor do que uma bomba, os danos para o “alvo” são consideráveis. E, neste caso????

    Já se usa bombas nucleares como em 1945, mas “mini-bombas” que podem destruir apenas uma parte de uma cidade, muito menos “volumosas”, mas terrivelmente mais eficazes.

    Por mais que não acredite numa “guerra nuclear”, não creio que seja impossível para a Rússia,ou EUA puxar o gatilho uma vez para acalmar toda a gente.

    Neste momento, todos dizem “se alguém atirar uma bomba, nós também responderemos atirando uma”, excepto que na prática seria suicídio. Por mais que os líderes não hesitem em enviar pequenas pessoas para morrer na frente, se é uma questão de arriscar as suas próprias vidas, tenho algumas dúvidas sobre a sua temeridade.

    Apesar de não estar à espera de uma guerra nuclear. As pessoas na sua imaginação pensam que isso é inconcebível porque tudo seria irradiado.
    Mas não é verdade. As ilhas de Nagasaki e Hiroshima ainda são habitadas e se temos medo da energia nuclear os Estados jogam com ela, mas sabem muito bem que não é impossível.
    Especialmente porque seriam utilizadas bombas tácticas em seu lugar. Que só atingem pequenas áreas.
    E não esqueçamos que as guerras da relva acabaram.
    Hoje em dia, se há interesse na guerra, é preferível reduzir a população dos países não produtores de petróleo e de matérias-primas que estão a desviar o petróleo e a matéria-prima dos países produtores. Nestas condições, não importa se o país não produtor é ou não irradiado.
    Faz e não sei. Mas se um país se sente capaz de deter os mísseis nucleares do inimigo, porque não destruiria a capital ou o centro de decisão dos seus inimigos com um míssil nuclear táctico?
    Creio que no ponto de ruptura em que chegámos tudo é possível, porque em qualquer caso os EUA não vão querer perder este conflito contra os russos e vice-versa.

  4. Stoltenberg não é governador de porra nenhuma. Ele simplesmente é leitor (nem sequer porta-voz), dos textos que o mandam ler e nada mais.

  5. Concordando com o sr. Rogério de Souza, o texto só peca por subestimar o “Americanismo” de Stoltenberg. Devemos lembrar-nos que foi durante a vigência do seu governo que o ataque terrorista/massacre de Utoya aconteceu. E o que fizeram a um primeiro ministro que não soube proteger um dos países mais pacíficos do mundo de semelhante barbaridade? Recompensa-se com a chefia da NATO. Isto faz algum sentido? Só se a lógica usada é similar ao caso Durão Barroso: uma pessoa sem coluna vertebral é o que nos faz falta, para que faça exactamente o que pretendemos.

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