A Ucrânia após 90 dias de guerra

(M.K. Bhadrakumar, in Velho General, 26/05/2022)

Militares da Rússia em blindado marcado com a letra “Z” em Armyansk, na Crimeia (Stringer/Reuters).

A queda de Mariupol é um ponto de virada. O bloqueio de água e energia da Crimeia foi encerrado e a rede elétrica no sudeste da Ucrânia agora pode ser conectada à Rússia. Esses são ganhos estratégicos para Moscovo.


A narrativa ocidental de que a Rússia está enfrentando uma derrota nas mãos dos militares ucranianos está desmoronando. A descrição artificial de que a Ucrânia estava “vencendo” tornou Kiev delirante, o que, por sua vez, criou condições para Washington e Londres estenderem a guerra e gradualmente entrarem nela lateralmente e transformá-la em uma guerra de atrito contra a Rússia.

Mas a realidade convincente é que as forças russas estão consistentemente obtendo vantagens na batalha de Donbass. O porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano disse na terça-feira que “a fase mais ativa” da operação especial russa começou em Donbass. Em termos militares, as forças russas enfrentam a difícil tarefa de assumir as áreas mais fortificadas da Ucrânia, que se preparam cuidadosamente para esta batalha há sete anos. Mas, por outro lado, depois de sua vitória triunfante em Mariupol, as forças russas têm um impulso a seu favor.

Olhando para os últimos três meses, a principal prioridade da Rússia foi estabelecer um corredor terrestre para a Crimeia e as bases econômicas para o desenvolvimento da região. Esse objetivo está cumprido. É desse ponto de vista que a operação atual no Donbass precisa ser entendida. A Ucrânia e seus aliados ocidentais estão depositando esperanças de que as sanções acabarão por esgotar o potencial militar e econômico da Rússia.

Mas a vida é real. Pelas estimativas do Banco Mundial, a economia da Ucrânia pode encolher 45% até o final de 2022. A conversa sobre uma grande contraofensiva ucraniana no final deste ano, reforçada pelo armamento pesado dos aliados ocidentais, continuará sendo um sonho. Kiev pode nem ter mão de obra suficiente para travar uma guerra até o final do ano. A Rússia é um inimigo formidável e Kiev pode estar arriscando uma rendição abjeta em termos humilhantes quando a maré baixar na Batalha de Donbass.

As forças russas estão agora perto de estabelecer controle total da região de Donbass em Luhansk. O governador ucraniano da região leste admitiu na terça-feira que “os russos estão avançando em todas as direções ao mesmo tempo; eles trouxeram um número insano de combatentes e equipamentos.” A situação parece cada vez mais precária para as forças ucranianas (ouça o podcast The Battlefields of the Donbass and Beyond, no War on the Rocks)

Os principais sinais são Popasnaya e Severodonetsk em Donbass e a cidade de Izyum, ao norte, na região de Kharkiv. Popasnaya e Izyum já estão sob controle russo, enquanto as tropas russas entraram em Severodonetsk anteontem.

As forças russas estão atualmente expandindo sua zona de controle ao redor de Popasnaya ao norte, oeste e sul; eles se aproximaram dos arredores da cidade de Severodonetsk; e retomaram seu avanço para o oeste e sul de Izyum.

Os últimos relatórios são de que grupos de assalto de Popasnaya estão seguindo para o oeste em direção a Bakhmut, que é um centro estratégico para Kiev para reabastecer suas forças na região leste. A estrada entre Bakhmut e Lysychansk está ao alcance das forças russas e suprimentos militares para o agrupamento ucraniano em Severodonetsk e Lysychansk se tornaram problemáticos.

Quanto a Izyum, na área de Liman ao sul (oeste de Severodonetsk), as forças russas cercaram as forças ucranianas. As forças russas entraram na cidade de Severodonetsk ontem e há combates nas ruas.

Severodonetsk é um ativo altamente estratégico para ambos os lados. Estima-se que 15 a 16 mil militares ucranianos estejam implantados lá, e estão sendo reforçados. Se as forças russas conseguirem segurar e destruir as forças ucranianas entre Severodonetsk e Lysychansk, a capacidade de Kiev de contestar a região oriental de Donbass será seriamente enfraquecida.

Na segunda-feira, as forças russas conseguiram destruir todas, exceto uma ponte em Severodonetsk, ameaçando cortar a cidade de suprimentos e reforços. Parece tarde demais para uma retirada e reagrupamento das forças ucranianas. O quadro geral é bastante sombrio. A revista National Interest avaliou a situação em desenvolvimento da seguinte forma:

“A próxima batalha pode ser decisiva para o curso da campanha Donbass do Kremlin. O controle russo sobre a região leste de Donbass cortaria a Ucrânia das áreas que compõem seu coração industrial e cumpriria o objetivo estratégico chave do Kremlin de estabelecer uma ponte terrestre segura para a Crimeia.”

“Se os militares da Rússia prenderem e destruírem com sucesso as forças ucranianas entre Severodonetsk e Lysychansk, eles degradarão significativamente a capacidade da Ucrânia de contestar a região leste de Donbass. Não está claro se as unidades militares ucranianas no saliente de Severodonetsk estão considerando planos de recuar mais para o oeste, a fim de evitar um possível envolvimento russo.”

O próximo grande alvo na mira russa é Slavyansk. Controlá-la permitiria que as forças russas se dirigissem para o oeste e se unissem às forças que avançam a sudeste de Izyum. O objetivo é controlar as linhas de abastecimento por estrada e bloquear o acesso ucraniano às rotas ferroviárias do oeste. Dez brigadas ucranianas foram destacadas no leste quando a guerra começou em fevereiro, que eram consideradas as tropas mais bem equipadas e treinadas de Kiev.

De fato, a queda de Mariupol para os militares russos representa um ponto de virada. A Rússia agora tem um corredor terrestre para a Crimeia e encerrou o bloqueio de água e energia da Crimeia. O canal de água doce que liga o rio Dnieper à árida península da Crimeia está agora nas mãos da Rússia. Assim como uma usina nuclear ao norte da península, para não mencionar a rede elétrica no sudeste da Ucrânia, que agora pode ser conectada à Rússia. Esses são ganhos estratégicos para a Rússia.

Além do Donbass e da Crimeia, a Rússia pode ter outros objetivos também na região sul. Houve demandas – em nível local até agora – para a fusão das regiões do sul de Zaporizhzhya, Kherson e Mykolayiv com a Crimeia (Rússia), que tem uma grande população russa. Algum grau de integração desta região com a Rússia parece ter começado.

Na região de Kherson, o rublo foi introduzido; O russo, junto com o ucraniano, se tornará uma língua oficial e se tornará a principal língua para o trabalho de escritório, comunicação e todas as questões de importância nacional; o ensino nas escolas e universidades será realizado em russo. As autoridades da região de Kherson manifestaram uma demanda pelo estabelecimento de uma base militar russa na região.

O secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, disse em entrevista publicada na terça-feira que o governo russo “não está perseguindo prazos”. De fato, as estimativas ocidentais também parecem antecipar futuras operações russas nas regiões do sul. Existem indicadores. Em 23 de maio, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, anunciou que a Dinamarca fornecerá à Ucrânia um moderno lançador antinavio Harpoon e mísseis para proteger suas costas. Em 24 de maio, a Hungria anunciou emergência nacional para tomar medidas imediatas para poder projetar o país contra as ameaças emanadas da guerra na Ucrânia. No último fim de semana, Moscou expressou publicamente sua inquietação a respeito de uma declaração britânica sobre a possibilidade de fornecimento de armas da OTAN para a Moldávia.


Publicado no Indian Punchline.


*O autor, M.K. Bhadrakumar foi diplomata de carreira por 30 anos no Serviço de Relações Exteriores da Índia. Serviu na embaixada da Índia em Moscou em diversas funções e atuou na Divisão Irã- Paquistão-Afeganistão e na Unidade da Caxemira do Ministério das Relações Exteriores da Índia. Ocupou cargos nas missões indianas em Bonn, Colombo, Seul, Kuwait e Cabul; foi alto comissário interino adjunto em Islamabad e embaixador na Turquia e no Uzbequistão.


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6 pensamentos sobre “A Ucrânia após 90 dias de guerra

  1. Por que acham normal a Rússia invadir um país soberano ??????
    Quando a civilização parece ter atingido níveis incríveis de desenvolvimento, continuamos a ter matadores de humanos , animais, de toda a natureza, violadores de toda a espécie.
    Se olharmos paramos povos em si mesmos eles são pacíficos, mas dirigidos por criminosos, sejam russos, chineses, americanos, africanos que fazem parte de uma canalhada facínora que sempre quer enriquecer à custa dos desprotegidos, homens, mulheres, crianças e idosos indefesos, pqp !!

    • Acham normal a Russia invadir um país soberano porque o ódio ao Imperialismo (americano os outros não existem para eles) é tão grande que não veem mais nada!
      Eu deixo a pergunta: E se não existisse Nato?! Quanto tempo demoraria a que a Ucrânia se tornasse na nova Bielorrússia? Não muito! Com certeza já estariam o Putin e Ca. a pensar no próximo país a desnazificar …

      • Na verdade, não demoraria tempo nenhum, porque nem passaria tal coisa pela cabeça dos russos… Após o desmantelamento da União Soviética, Gorbachev firmou um acordo tácito com os então líderes Ocidentais de que ao desintegrar-se a União Soviética, a Alemanha, após a sua reunificação, poderia aderir à NATO, dado que (!) a NATO não expandisse as suas bases e fronteiras para Leste em direção às fronteiras russas e aos seus países vizinhos.

        De facto, a não-existência – ou por outra, a dissolução – da NATO após a queda da União Soviética teria sido mais benéfico para o mundo inteiro, já que a NATO, apesar de a pintarem como uma aliança “defensiva” é, de facto, uma aliança militar ofensiva, patente na observação de que teve essa função durante o decorrer da Guerra Fria (como opositora direta da União Soviética e das suas ambições de se afirmar como uma potência mundial), assim como no facto de, ao longo dos últimos 20-30 anos, ter integrado cada vez mais países na sua aliança, incluindo países que fazem fronteira direta com a Rússia (como a Lituânia, Letónia, Estónia – os ditos países bálticos).

        Para além disto, convém considerar o seguinte: a URSS foi desmantelada após a queda do muro de Berlim em ’89, e o acordo tácito com Gorbachev foi firmado por volta desta altura. A NATO teria cerca de 10 anos antes de Ieltsin ter escolhido Putin como seu sucessor (e mais tarde eleito pelo povo russo em 2000 ou 2001) para, gradualmente, diminuir a sua esfera de influência, dado que já não tinham opositores ao sistema capitalista. De facto, a Guerra Fria não se tratou de mais do que isso: um confronto entre dois sistemas políticos, Capitalismo e Socialismo.

        Assim, os Estados Unidos (dos quais a NATO nada é mais do que um instrumento de política externa), desde os tempos do Presidente Mccarthy, adotaram uma visão anti-comunista do mundo, como se verifica, por um lado, pela ingente perseguição aos mencionados, que teve lugar nesta presidência, e, por outro lado, pelas várias ingerências ilegítimas, inicialmente nos países da América Latina (logo nos anos 40/50 deu-se o caso de Guatemala e da instauração dum regime ditatorial por intervenção direta da CIA e pelo treino das forças militares do regime despótico deste país na chamada “Escola das Américas”, uma organização onde militares treinavam sob a égide das Forças Armadas dos EUA) para erradicar o Socialismo e diminuir a preponderância da URSS e seus “satélites” em torno do globo.

        O caso mais evidente de oposição dos EUA contra o Socialismo na América Latina (Caraíbas, na verdade) é o de Cuba, que sofre um embargo económico há 60 anos seguidos e que, apesar disso, tem o melhor sistema de saúde do mundo inteiro e um muito bom sistema de educação.

        A NATO é uma aliança militar que deveria ter sido desmantelada após a Guerra Fria, porque não restava ninguém para combater. Quem é que ia dar luta ? Os russos que, após a queda URSS, viram o seu país desfeito pelas corporações americanas que entraram pelo país dentro e permitiram a imposição de um sistema neo-liberal que arruinou desde saúde, educação, Segurança Social, pensões, desestabilizou a economia e empurrou país inteiro para uma situação de pobreza inédita que nunca ninguém conheceu no tempo da URSS ? Eram esses que iam lutar contra a NATO ?

        Ou era o George Soros que, depois da queda da URSS, embolsou, nas suas palavras, 300 milhões de dólares através das suas empresas de investimento financeiro, apostando contra as economias dos países socialistas que caíram em ruína e para o qual ele contribuiu largamente ?

        Isto tudo lembra o caso de Atenas e do momento em que a cidade-estado não decidiu desmantelar a Liga de Delos após a derrota dos Persas e das suas tentativas de conquista de território grego, sendo que, após a derrota dos seus adversários, Atenas impôs tributos pesadíssimos, em substituição das contribuições dedicadas ao combate contra os invasores, ás cidades-estado gregas e não permitiu que elas saíssem da Liga “defensiva” de Delos… Lembra-lhe alguma coisa ou não ?

        Isto é tudo verídico… O mais curioso é que Péricles (famoso general grego e líder de Atenas na altura) acabou por transferir todo o dinheiro destes tributos para os cofres de Atenas e usou esse dinheiro para aumentar a sumptuosidade da cidade e para cobrir os custos que o funcionamento da democracia (uma democracia que, por muito de inovador que pudesse ter, tinha várias falhas, mas que não vou enumerar aqui).

        Do mesmo modo, era bom recordar que um caso semelhante a este foi o de Montagu Norman, Governador do Banco de Inglaterra antes do começo da Segunda Guerra Mundial, que roubou 27 toneladas de reservas de ouro da Checoslováquia para financiar os exércitos nazis… Ou o de Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico, que elaborou os Acordos de Munique de 1938, que resultaram na conquista da Checoslováquia pelo Terceiro Reich…

        Agora pergunto-lhe: quem é que tem algo como 700 bases militares espalhadas pelo mundo inteiro e anda a roubar o dinheiro e bens de estrangeiros para financiar os seus próprios interesses, nomeadamente o envio de armas para perpetuar um conflito desnecessário ?

        Considere isso tudo.

        Cumprimentos!

  2. Pois eu compreendo perfeitamente a incompreensão do distinto comentador António, porque eu próprio não entendo uma série de coisas.

    Não consigo compreender, por exemplo, que alguns achem perfeitamente normal que a Rússia tivesse que aceitar a instalação de mísseis nucleares junto à sua fronteira e apontados para o seu território, capazes de atingir Moscovo em escassos minutos e vaporizar toda a sua população. Também não entendo lá muito bem a lógica de quererem convencer as pessoas de que os países que fazem fronteira com a Rússia têm “todo o direito” de aderir à NATO e instalar as suas ogivas nucleares apontadas para a Rússia, como se isso fosse uma coisa perfeitamente inocente e natural, que só a eles dissesse respeito e não prejudicasse ninguém.

    Também tenho dificuldade em entender que os Antónios deste mundo achem perfeitamente normal e até digno de incentivo que o regime ukronazi tenha nos últimos oito anos bombardeado diariamente as ruas e as casas das cidades do Donbass, causando cerca de 15 000 mortes civis, números oficiais, desde o golpe de estado da Praça Maidan, reconhecidamente preparado pelos Estados Unidos em conjunto com os partidos nazis autóctones, que derrubou o governo legítimo em funções..

    É bem conhecido o cadastro dos americanos na cena internacional, que conta com ataques devastadores a mais de 40 “países soberanos”, para usar o palavreado do António, com destaque para a invasão do Iraque para se apoderarem da sua produção petrolífera, do bombardeamento massivo da Sérvia para lhe retirarem parte do território e da destruição da Líbia, o país que tinha talvez a melhor qualidade de vida de todo o Médio Oriente e que a NATO transformou num regime medieval onde se compram e vendem mulheres nos mercados e serve hoje como entreposto de droga e covil central do terrorismo no mundo. E tudo isto à revelia das Leis Internacionais.

    Ainda hoje, os mesmos americanos ocupam teimosamente parte de um “país soberano”, a Síria, com o único propósito de roubar Petróleo. Os americanos não tiveram nenhum problema em se apoderar dos cerca de nove mil milhões de dólares afegãos que os seus governantes fantoches tinham colocado fora do país. Roubar um país cuja maior parte da população morre de fome precisamente devido às suas ações naquela região nos últimos 20 anos. Realmente, dizer ao mundo que se tem o exército mais poderoso de todos e depois ser derrotado por uma horda de pastores de cabras, deve custar um bocado a engolir.

    E todas estas ações decorreram e decorrem a milhares de quilómetros do território americano.

    Existe na Lei Internacional o conceito de “Segurança Indivisível”, que postula basicamente que um país pode aderir a qualquer organização internacional a menos que isso ponha em causa a segurança de terceiros. Os russos parecem ter achado que instalar um regime nazi equipado com armas nucleares junto das suas fronteiras era capaz de ser um pouco demais.

    Se tivermos em conta que no mesmo período os russos não invadiram nenhum “país soberano”, pelo menos se deixarmos passar aquela entrada-por-saída na Geórgia para evitar o genocídio da população russa do país, é realmente difícil entender o raciocínio do sujeito com o nome engraçado de “Juntaletras”, bem como a apreensão que lhe causaria “um mundo sem NATO”. Meu caro, seria certamente um mundo muito melhor.

  3. Último comentário do dia!

    Quanto ao Imperialismo de Putin: convém considerar quais os locais em que a Rússia interviu ao longo dos últimos 20 anos em termos militares:

    – Chechénia, logo após a subida de Putin ao poder e de modo a controlar um desvario terrorista que ameaçava espalhar-se pela Rússia no final dos anos ’90/início do milénio, algo que não podia ser aceite, pois o país estava mais do que arruinado após a queda da URSS;

    – Geórgia, após atitudes indecorosas do presidente Saakashvili, acusando os russos de estarem a proceder a um genocídio dos Georgianos, quando foi este mesmo presidente que deu a ordem a militares para dispararem contra o povo;

    – Afeganistão, em conjunto com tropas americanas, como consequência de um acordo de cooperação entre Putin e os americanos na luta contra o terrorismo (esta interessava particularmente a Putin, de modo a prevenir que o terrorismo alastrasse para o mundo e, consequentemente, para a Rússia);

    – Síria, a pedido Expresso (!) de Bashar-Al-Assad, onde, num único dia, ordenou o lançamento de um série de mísseis que sobrevoaram a Turquia e dizimaram cerca de 10.000 terroristas amontoados em território Sírio.

    Interviu legitimamente nos últimos anos nessa guerra, pois fê-lo a pedido do Chefe de Governo Sírio, já que tal é o que dita o Direito Internacional, ao contrário das variadíssimas coligações ou Forças Armadas estrangeiras, nas quais se incluem os Franceses, Britânicos e, principalmente, os Americanos!

    Estes últimos, então, intervieram em território Sírio de tal forma ilegalmente que, neste momento, ocupam o nordeste do país, roubam cerca de 70 mil barris de petróleo por dia e são os responsáveis pela diminuição da produção agrícola do país a níveis escandalosos, sendo que dantes produziam cerca de 2,5 milhões de toneladas de trigo por ano e agora importam 1,5 milhões de toneladas do estrangeiro devido à ocupação ilegal estrangeira.

    Este mesmo país produzia 9000 megawatts de energia em 2011 e agora produz 2600 megawatts, tudo resultado do roubo de petróleo e gás natural pelos americanos, que nunca estiveram lá para combater o ISIS, antes apoiaram-no ao ponto de, a seguir ao bombardeamento da cidade de Al-Raqqa (que durou 3 meses, de 6 de junho a 17 de outubro de 2017) pelas forças dos EUA, que dizimou completamente aquela cidade, deixando-a em ruínas autênticas, e reduziu a sua população de 250.000 pessoas para 45.000 no final da intervenção, sob o pretexto de combaterem o Estado Islâmico, permitirem que este mesmo grupo terrorista escapasse por um corredor humanitário aberto pelos americanos e que se dirigissem a Deiz-ez Zor, local onde existem campos de petróleo e onde, na altura, combatia o Exército do Governo Sírio para libertar a cidade do domínio de terroristas que massacravam as populações!

    Ainda quer falar do Imperialismo de Putin, que reage ao fim de 8 anos de massacre de populações étnicas que assinalavam uma vibrante diversidade humana naquele país, e após ter tentado tudo para que Acordos de Paz fossem devidamente instaurados e aplicados pelas nações envolvidas (mas que nunca impediu a NATO de fornecer armamento aos ucranianos durante estes últimos 8 anos para matar os seus compatriotas) nas Instâncias Superiores de Organizações como a ONU, e tentar prevenir uma guerra que até agora deve ter atingido um máximo de 3000/4000 mortes civis (são trágicas ? São!! Mas os Ocidentais tiveram todas as oportunidades para as impedir e não o fizeram jamais!) e comparar esta com o bombardeamento de Bagdad e a guerra Criminosa do Iraque, uma guerra iniciada sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, e que matou 1.500.000 pessoas ?

    Leia bem este número!!! Onde é que estão os crimes de guerra de Bush e de Blair ?

    Queria que Putin aguardasse mais 50 anos e contribuísse para o desenrolar dum conflito semelhante ao Palestiniano, do qual ninguém fala e todos achamos que é normal ?

    Não me venha falar de judeus e anti-semitismo, porque uma coisa é ser crítico de governos e autoridades que conduzem populações a destinos irremediáveis, e outra coisa bem diferente é ser-se pura e simplesmente racista e xenófobo e dizer que a culpa dos colonatos de Israel deve-se ao facto de Hitler não ter acabado o seu trabalho, o que é uma enormíssima e indescritível BARBARIDADE!!!!

    E uma coisa é o facto de governantes de Israel pertencerem a círculos Sionistas e criticar esses governantes pelas suas ações políticas…

    Outra coisa é o querer aniquilar judeus e os seus grupos da face da terra, que não é nada o que eu quero!!!

    Que se tratassem, antes, decentemente os Palestinianos e se reconhecesse que, se para os Judeus um genocídio é mau, então aquilo que acontece desde que se iniciaram os colonatos de Israel é simplesmente… Nem há palavras.

    Mas se não quiser compreender nada disto, não há problema…

    Nós somos todos humanos. Não há uns de primeira nem de segunda classe, nem de terceira e muito menos de quarta… Já deveríamos ter reconhecido que basta destas disputas absolutamente inúteis.

    E, enquanto perdemos tempo a discutir quem são os bons ou os maus, os conflitos arrastam-se e o planeta cai no declínio total sem que ninguém pareça ter verdadeira vontade de resolver seja o que for para impedir que este tipo de situações continue a existir…

    Acha que gosto de criticar os Americanos simplesmente porque sim ? Acha que gostava de estar a esta hora a escrever estes textos e a falar de coisas absolutamente desumanas ?

    Como disse Noam Chomsky em tempos: “o simples facto de se falar em Auschwitz é simples causa para se perder a nossa humanidade”.

    Pois agora digo-lhe para que fique a saber (não o Chomsky, mas o senhor) que mais valia que nos guiássemos todos pelos factos e perder um pouco que fosse da nossa humanidade – embora eu compreenda perfeitamente o que Chomsky diz e isto não seja de todo uma crítica às suas palavras – e impedir que novas situações destas acontecessem pelo nosso descuido, do que não discutir as questões e permitir um Imperialismo desenfreado como o é, factualmente, o dos EUA, se continuasse a alastrar irremitente por este mundo e Universo fora!!

    E se fala de Imperialismo, veja onde é que os EUA intervêm e intervieram nos últimos 70 anos. Foi perto das fronteiras deles ? Tiveram civis americanos mortos no México ou no Canadá ? Ou foram para a outra ponta do planeta armar confusões onde nunca foram chamados, e sempre por interesses ignóbeis ?

    Explique como é que as grandes empresas petrolíferas americanas (Chevron, Exxonn Mobil, Shell, Halliburton) tiveram todas acesso aos campos de petróleo do Iraque depois da instauração de um regime de transição dos EUA ?

    Sabe o que aconteceu àquele país, em que tudo ficou privatizado depois da guerra, a infraestrutura civil ficou devastada e a população foi-se afundando numa pobreza indescritível ao ponto de ainda hoje não terem recuperado totalmente a sua soberania e de terem agitações internas ?

    Quer falar do Vietname, uma guerra na qual os Estados Unidos largaram 7 milhões de toneladas de explosivos, enquanto durante a Segunda Guerra Mundial tinham largado cerca de 2 milhões, ou das outras quase 70 guerras ao longo dos últimos 75 anos nos quais o Imperialismo Norte-Americano arranjou forma de se introduzir direta ou indiretamente das maneiras as mais variadas ?

    Ou quer falar do ano de 2015, no qual a presidência Obama, detentor do Nobel da Paz, largou 30.000 bombas em território Sírio, ilegalmente ?

    Então o senhor não se manifesta quando Navios da Marinha Britânica e dos EUA impedem que um
    Petroleiro, neste ano de 2022, possuidor das devidas autorizações e pertencente à Yemen Petroleum Company, seja desviado em águas internacionais para, num claríssimo e desavergonhado ato de Pirataria, ser impedido de se dirigir a um porto Iemenita, obstando o país que sofre um genocídio de que ninguém fala há quase dez anos, por parte de um dos grandes aliados dos EUA (os grandes oligarcas do ouro negro da Arábia Saudita, destes não se falam, não é? Nem dos americanos, vêem-se os filmes de Hollywood e joga-se o Call of Duty e agora aparecem Igores e Ivans por todo o lado), de receber uma ajuda indispensável para aquela população que tem tido crianças e mulheres mortas em massa, indiscriminadamente.

    Este bloqueio aos portos Iemenitas custou seis milhões de dólares no último ano, seis milhões de dólares que poderiam ter sido utilizados para alimentar e desenvolver um país que bem precisava disso.

    Ah, mas nós só reclamamos quando os refugiados destas guerras nos vêm bater à porta e pedir ajuda pelas guerras que nós iniciámos pela nossa incontrolável ganância.

    Eu sou contra todas as formas de Imperialismo, mas nem vamos comparar o que Putin fez, numa clara ameaça junto à fronteira do seu país, e legalmente, obedecendo ao artigo 51 da Carta das Nações Unidas, uma vez que foi em defesa de populações inermes e abandonadas por todos os Ocidentais nos últimos 8 anos, que só querem saber das coisas quando estas lhes vêm bater à porta.

    Vai dizer-me que, tendo oportunidade para tal, não teria impedido a conquista da Checoslováquia ou da Polónia por Hitler, prevenindo assim uma guerra de proporções horrendas ?

    Olhe que Putin não entrou por ali dentro sem mais nem menos, mas os Ucranianos estavam a preparar-se para fazer isso mesmo. Explique o porquê de nos dias anteriores à invasão se terem registado 2000 mil explosões por dia nas Repúblicas do Donbass.

    Diga-me, se os russos são assim tão brutais, o porquê de, numa foto da visita de António Costa a Kiev, vermos um prédio carbonizado, sim, mas, atrás dele, no fundo da foto, três prédios alinhados sem qualquer dano e a ver-se a pintura cor de rosa.

    Lembre-se que os líderes ocidentais foram todos coniventes com Hitler, chegando Georges Bonnett, ministro dos Negócios Estrangeiros Francês, a propor a Hitler que este enviasse os judeus alemães e polacos para a ilha de Madagáscar…

    Acha que o Putin está a mandar os Ucranianos para algum lado ? Vai falar dos refugiados…

    Pois, a mesma tática mediática (colocar nas televisões as mulheres e crianças em comboios) que foi usada na Jugoslávia para justificar o bombardeamento ilegal dessa mesma nação pela famigerada NATO sob o pretexto de um genocídio inexistente, sendo que a falsidade foi comprovada, mais tarde, pelo próprio FBI e o dito Homicida em Massa foi exonerado, depois de morrer na prisão, pelo próprio Tribunal Internacional de Haia.

    A mesma tática que é usada para desviar a atenção do facto de os homens e rapazes dos 18 aos 60 anos terem sido proibidos de fugir do país e terem sido usados, por comprovados nazis, como escudos humanos e carne para canhão dos russos.

    Acha que os russos estão contentes pela posição em que estão? Pense bem nisso.
    O senhor estaria contente a lutar em terras de galegos contra nazis ou em Olivença ? E em Braga ? Não ?

    Então não presuma que russos e ucranianos são cães e gatos por natureza e compreenda que, se chegaram a este ponto, é somente devido a um conjunto (!) de indivíduos adoradores de um senhor chamado Stepan Bandera, colaborador de Hitler que ajudou ao massacre de polacos, judeus e russos durante a Segunda Guerra Mundial.

    Acha que os russos também são nazis ? Da próxima vez que pensar isso, considere que morreram 25 milhões de russos durante a Segunda Guerra Mundial.

    Agora venha dizer que a generalidade dos judeus são nazis. Os judeus não podem ser nazis e racistas? Porquê? Porque foram vítimas de um genocídio?

    Então os russos têm ainda mais razão para não o serem e para os odiarem ainda mais, tendo em conta que morreram 5 vezes mais russos do que judeus nesse evento infamante.

    Há umas semanas, saiu uma foto em que se mostravam dois alegados russos junto a uma camião e a elogiar em Hitler, o seu líder…

    O mais curioso é que ninguém tenha reparado que esses soldados “russos” usavam a farda militar ucraniana, usavam a arma de serviço dos militares ucranianos, um deles tinha a cara tapada (porque provavelmente seria reconhecido como sendo um nazi ucraniano) e a única coisa que os identificava como russos era o emoji de uma bandeirinha russa na mensagem.

    Ah, fale-me do Z pintado no camião atrás deles, sim… Veja as fotografias dos veículos russos com um Z e diga-me quais as diferenças…

    Já agora.

    Se acha que o Z é um elogio qualquer a nazis ou seja o que for: o Z é indicativo de “Za Podeba”, ou “Para a Vitória”, em honra do Exército Vermelho – e do dia da Vitória (9 de Maio de 1945) – o principal responsável pela libertação Europeia na Segunda Guerra Mundial, pela sua resistência heróica na Frente Leste…

    Não os Aliados, que só chegaram quando os nazis já tinham tido enormes derrotas na mencionada frente e viram-se incapazes de reabastecer e fabricar novo equipamento para suprir aquele que perdiam na Frente Russa.

    Será que compreende que os Ucranianos têm uma longa ligação histórica e étnica com os russos ?

    Acha que o prolongar deste conflito vai resolver alguma coisa ?

    Onde andam as Rosas Luxembourg deste mundo senão aqui a manifestarem-se contra uma guerra que há muito devia ter sido prevenida pelas potências Ocidentais, e principalmente pela União Europeia, em face dum Imperialismo mais do que comprovadamente aberrante há décadas ?

    Se, daqui a 50 anos, a China, a Rússia e outras nações do Mundo começarem a assumir posições e atitudes Imperialistas neste mundo, pode ter a certeza: irei ser dos primeiros a criticá-los, porque o mundo é de todos por igual!

    Todavia, desviar, neste momento, a atenção da prepotência do Imperialismo Norte Americano ATUAL E FACTUAL, assim como a forma ignominiosa como se aproveitam de povos inocentes para salvarem o seu país, com todas as suas lutas internas de racismo a tiroteios em escolas, o seu sistema social inexistente (devem ser o país mais atrasado do mundo, sinceramente) e o seu sistema económico decadente, e vir falar do Imperialismo (que nem existe de momento) de Putin ou da China (ah, os protestos de Hong Kong que surgiram na sequência da vontade do governo chinês de extradição de um jovem chinês que tinha morto a namorada grávida, mas que os EUA transformaram numa campanha anti-China, pois querem ser os únicos a poder extraditar os jornalistas, Assange, que denunciam os seus crimes de guerra) – a não ser na vontade de desenvolverem os seus países e de beneficiarem as suas populações através de acordos mútuos justos com todos os habitantes e nações deste planeta, mas que uns ianques néscios não compreendem – como forma de justificar ou ignorar as atrocidades cometidas nos últimos 70 anos – e neste preciso momento (!!) – contra a humanidade, em nome de algo tão básico como o dinheiro…

    Bem…

    Isso é mesquinho.

    Muito boa noite,
    Um Cidadão.

    P.S. Fica a saber, a propósito de Hong Kong, que os Ingleses só saíram da sua colónia inebriante do Ópio já bem entrados no séc. XX, e esta pequena cidade só viu as suas primeiras eleições verdadeiramente democráticas sob a égide e apoio do governo Chinês no final dos anos ’80.

    Mas continue a apoiar o país que, para manter o seu sistema prisional privado a funcionar, inventa crimes e ilegalidades desproporcionais para as minorias étnicas (posse de marijuana para um branco resulta talvez numa multa e um ano de prisão e um negro apanha vários de uma vez e, como não tem dinheiro por ser considerado abaixo de animal naquela sociedade, nem tem possibilidade de pagar uma multa).

    Fique também a saber que a China, com uma população de mil e quatrocentos milhões de pessoas tem um milhão de pessoas na prisão.

    Os EUA têm uma população de 300 e alguns milhões e têm 2 milhões de pessoas na prisão.

    Isto, segundo um vídeo que vi acerca do assunto no canal de YouTube “Hakim”. Um jovem médico Iraquiano que sobreviveu à guerra do Iraque.

    Venha dizer qual é o país opressivo e que prende mais gente e opositores do regime.

    Haverá maior opositor ao regime repressivo e racista que são os EUA do que aquele que, em pleno século XXI, é sujeito a penas altíssimas de prisão simplesmente pela cor da pele com a qual nasceu ?

    Deixo à sua consideração a resposta para tal pergunta.

    Cumprimentos.

  4. Bom dia,
    No comentário anterior, menciono “mas que não impediu a NATO de fornecer armamento aos Ucranianos nestes últimos 8 anos para matar os seus compatriotas”.
    No contexto em que se encontra, fica a impressão de que foi Putin a permitir que a NATO fornecesse armamento aos Ucranianos.

    Nada mais enganador e falacioso.

    O que se quer dizer é que os Acordos de Paz de Minsk não impediram a NATO de fornecer esse armamento para que os Ucranianos matassem os seus compatriotas.

    É tudo.

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