O futebol, o violino, o Hamlet e a invasão da Ucrânia

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 07/05/2022)

No romance “Bons Amigos” (The Good Companions, 1929) o autor, o escritor inglês J. B. Priestley, escreveu uma frase célebre (citada por Ricardo Araújo Pereira num texto sobre Eusébio): «Definir o futebol como 22 mercenários a correr atrás de uma bola equivale a dizer que um violino é madeira e corda de tripa, e que o Hamlet é papel e tinta».

Reduzir o que está a acontecer na Ucrânia a uma invasão, um invasor e um invadido, a um forte e um fraco, a um mau e a um bom é o mesmo que reduzir o futebol aos tais 22 mercenários atrás de uma bola, um violino a madeira e corda de tripa e o Hamlet a papel e tinta.

É uma opção muito respeitável que tenho visto ser defendida não só pelos grandes órgãos de manipulação, mas por respeitáveis cidadãos, que, se professores de História, ou de Filosofia, poderiam reduzir a história do Mundo às primeiras linhas Génesis. “Deus, aborrecido, acordou e decidiu: — Vou invadir o Universo com a minha gente e as minhas armas! — Demorou seis dias a invasão! E deixou este caos que substituiu o caos primordial.”

Os distintos professos desta explicação entendem que nem eles, nem o vulgo, tem nada que procurar saber as causas da má disposição de Deus, nem das consequências dela. Ámen.

J. B. Priestley, como se percebe, referia um outro célebre profeta, Jesus Cristo, que há dois mil anos já manifestava a sua compaixão por quem expressa e aceita explicações empíricas, do Deus mal disposto que invade universos livres: “abençoados os simples de espírito, porque deles será o reino dos céus.”

Os senhores que estão por detrás desta guerra confiam no desejo dos simples irem para o céu, nos que promovem e que insultam quem faça perguntas. Já houve tempo de os queimar, de os lapidar!


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5 pensamentos sobre “O futebol, o violino, o Hamlet e a invasão da Ucrânia

  1. De facto, para ir para o céu muito mais não é preciso. Bem, também tem de estar de bem com o seu dono. E como o céu não é brincadeira, o dono não aceita brincadeiras. Quem para lá quer ir basta que saiba que o violino é madeira e corda, o Hamlet papel e tinta, a Ucrânia lugar de forte e fraco e a cabeça…. para criar piolhos.
    E a pensar, como estamos? – Bem, para isso temos os cavalos com uma cabeça muito maior. O espírito?, queria eu dizer. – Bem, para isso temos os exorcistas – ou será que também os querem mandar para o desemprego? O mundo é o que é e quem quiser explicações, precisa de psiquiatra. E se as fogueiras não se aconselham, é só por causa das alterações climáticas.
    É isto, o que a gente anda para não sair do sítio ou… ficar a marcar passo. Parabéns CMG!

  2. Ouçam e não só confiem na comunicação social Europeia e Americana.
    SPETSNAZ DMITRI LOBKOV FALA SOBRE O CONFLITO ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA

  3. O que me deixa perplexa não é saber se os violinos são construídos de ébano ou de madeira de cobra … mas sim a razão subliminar que nos leva a dar o palco aos violinistas, independentemente de serem igualmente bons ou igualmente maus …

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