Para tipo de esquerda sou bastante conservador

(Ricardo Paes Mamede, 08/12/2021)

Não sinto grande fascínio por revoluções, nem por proclamações ideológicas vazias de conteúdo prático. Gosto mais de boas políticas do que de grandes reformas. Acredito na democracia representativa, no equilíbrio de poderes e no Estado de Direito. O respeito pelas instituições e pelas regras formais é para mim mais importante do que a eficácia imediata da acção política. Reconheço as virtudes alocativas dos mecanismos de mercado e a importância dos incentivos individuais para o progresso económico. Na vida colectiva, como na pessoal, valorizo a prudência financeira e o princípio da precaução em geral. Em muitos casos, admiro a iniciativa empresarial tanto quanto a generosidade de quem se move por causas que são de todos.

Nada disto é posto em causa quando defendo a provisão pública e universal de serviços colectivos, o reforço dos direitos dos trabalhadores e da democracia participativa, impostos mais progressivos ou o papel central do Estado nos processos de desenvolvimento económico, social, cultural e ambiental.

Em tempos, tudo isto era defendido por uma esquerda bastante moderada e até por parte da direita. Que hoje muitos me considerem esquerdista diz menos sobre o que defendo e mais sobre a deriva ideológica dos tempos que correm.


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Um pensamento sobre “Para tipo de esquerda sou bastante conservador

  1. O que não faz sentido (em meu entender) é pretender-se que quem “serviu”, quem determinou políticas de privilégios para uns e restritivas de direitos para a grande maioria, continue a “servir”, comandar num novo conceito de democracia em que o “sujeito principal” tem que deixar de ser a classe ou “casta” de privilegiados! E o que aconteceu “naquilo” a que se chamou de Revolução foi pôr quem serviu o Estado Novo, quem dos bastidores comandou a situação a “dar as cartas” no que se pretendi que fosse a criação de um novo conceito de democracia. Pessoas com o mesmo quadro ideológico de classe ou casta de privilégios do passado a comandar o que se pretenderia que fosse a nova democracia.

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