“De uma vez por todas e sem demoras”. Carlos César apela à esquerda que diga se quer acordo com PS

(Liliana Valente, in Expresso Diário, 17/08/2020)

O presidente do PS lança pressão aos antigos parceiros da “geringonça”. Ou decidem agora ou “preferem assobiar para o ar à espera de percalços”?


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A colagem fotográfica é quase nostálgica. Nela aparecem os quatro líderes, Heloísa Apolónia (PEV), Catarina Martins (BE), Jerónimo de Sousa (PCP) e António Costa (PS) e num canto, Carlos César, a olhar para a assinatura das posições conjuntas que há cinco anos selavam o compromisso de um apoio que duraria os quatro anos da legislatura passada. O presidente do PS pôs esta colagem (os acordos foram assinados separadamente) no seu Facebook, pensada ao pormenor para o recado que tinha para dar: É hora de “PS, BE, PCP e PEV assumirem essa necessidade e definirem-se de uma vez por todas e sem mais demoras e calculismos. O país precisa dessa tranquilidade e de uma governação estável e responsável, com o apoio activo da esquerda portuguesa”, escreveu Carlos César.O tempo em que o faz não é de somenos. Carlos César veio a terreiro na semana em que Governo e partidos à sua esquerda se preparam para se sentarem à mesa das negociações: esquerda com olhos postos no Orçamento do Estado para 2021; Governo com a intenção anunciada de um acordo para a legislatura, uma “geringonça” 2.0, com o PAN como plus e a pandemia como cola.

António Costa tem repetido que quer governar com os antigos parceiros e desde o debate do Estado da Nação, a meio de Julho, que fez saber que quer levar esta intenção de novo para o plano dos acordos, com um entendimento duradouro, que lhe dê garantias na legislatura. Aos apelos de Costa, junta-se o pragmatismo de César que diz à esquerda que “é tempo” de dizerem se “são ou não capazes de reunir esses consensos num enunciado programático com o PS, suficiente mas claro, para a legislatura…ou se preferem assobiar para o ar à espera dos percalços”.

A expressão “enunciado programático” leva o tal entendimento a um conjunto de princípios mais do que medidas. E a expressão “suficiente, mas claro” remete para um acordo pelos mínimos, ou seja, um acordo de princípios em que estejam de acordo, não entrando nos pormenores em que se dividem. No seio do Governo há quem recorde que foi exactamente o que aconteceu nas posições conjuntas de 2016, em que os partidos deixaram de fora os temas sobre os quais não se entendem, as linhas vermelhas.

Contudo, em cima da mesa podem estar alguns dossiês em que não há grande confluência de pontos de vista, como é o caso da reforma da legislação laboral. BE, PCP e PAN querem aprofundar a legislação laboral no seu todo, o Governo só em pequenas doses, no que diz respeito ao teletrabalho e às novas formas de trabalho (como as plataformas colaborativas). O Bloco de Esquerda fez das alterações ao Código do Trabalho o seu cavalo de batalha nas negociações depois das eleições legislativas e não quer deixá-las cair. Aliás, o primeiro-ministro e Catarina Martins trocaram acusações durante meses sobre a “culpa” de não terem chegado a bom porto: Catarina Martins dizia que o Governo não quis negociar as alterações ao Código do Trabalho e Costa sempre disse que não aceitava as pré-condições para o diálogo.

No post que escreveu no Facebook, Carlos César fez arqueologia política para explicar o porquê de não haver entendimento desde o início, deixando de fora essa habitual troca de galhardetes com o Bloco de Esquerda e remetendo a responsabilidade da falta de acordo para o PCP. “A recusa do PCP, logo após as últimas eleições, em subscrever um acordo para esta Legislatura, tal como havia sido conseguido na anterior, prejudicou a coerência e a utilidade de um acordo com um único parceiro – o BE -, do qual resultaria, certamente, uma tendência de exclusão do PCP e em pouco reduziria a ameaça da instabilidade”.

Mas o mundo mudou e agora a pandemia, acrescenta César, tornou imperativa a necessidade de mais estabilidade: “Entretanto, a crise pandémica do Covid 19, trouxe, ou assim devia ter acontecido, outra consciência sobre a absoluta necessidade de uma confluência formal e segura, que assegure um governo com uma orientação estável e um programa de recuperação com o fôlego e o sentido de médio prazo indispensáveis”, escreveu.

De forma subtil, mas não deixando de referir, César deixa de fora o PSD. Nas últimas semanas, depois de Rui Rio ter admitido que não pode colocar de fora de cogitação no futuro conversas com o Chega, se este se moderar, o assunto tem estado na ordem do dia e não se tem ouvido muitos socialistas sobre o tema. Mas num dia em que sai uma sondagem que dá um aumento das intenções de voto em André Ventura, César diz do PSD: “O PSD está a ser claro quando se chega ao resto da direita”. Frase que escreveu para concluir que não há outro caminho, que não seja pela esquerda.


8 pensamentos sobre ““De uma vez por todas e sem demoras”. Carlos César apela à esquerda que diga se quer acordo com PS

  1. Rever o código do trabalho é uma necessidade mas duvido que o PS vá nisso. Muito do que há de lesivo contra os trabalhadores neste código é obra do PS ou foi confirmado pelo PS.

    De qualquer forma a crise que aí vem vai ser um bloqueio mesmo aos melhor intencionados.

    Penso que o curto período de sol ☀️ que tivemos com a geringonça acabou.

    Mas ainda assim podemos dar graças aos céus por serem estes que lá estão a gerir a crise.

    O Passos já nos estava a mandar emigrar.

  2. … depois dos Açores, que conte muitos e bons, o camarada Carlos César ainda vai a tempo de ver Portugal transformado n m enorme roseiral… É ver a teia partidária que se está a desvendar em Estremoz, deixai vir a mim os velhinhos que nós tratamos-lhe da saúde (ou não, qu’a quinta das tabuletas local tenha espaço livre).

    • Adenda. Porra, o António Costa acastanhado pelos raios de sol está gordo que nem um porco! Se o gajo não fizer aquela boquinha de bebé-chorão (em que come metade das palavras), cuidado qu’ainda cospe para cima dos desgraçados dos/as jornalistas que estiverem de plantão….

      Fujam, meninos/as!

      • Ele sempre foi acastanhado, é indiano ó idiota de merda.

        Tens alguma coisa contra ?

        Mil vezes este indiano do que o branquinho de merda do Passos.

        Graças a deus o povo português está-se nas tintas para as cores de pele dos politicos.

        Isso só interessa aos racistas de merda como a Fernanda Câncio e o Daniel Oliveira, que têm de vir sempre com a mesma lavagem ao cérebro dos “brancos maus” sempre a chamarem nazi ao povo português.

        Graças a deus o povo “nazi” votou neste castanho que te incomoda tanto.

        • UI?!

          Nota. Idiota é o cabrão do senhor teu pai, se tu souberes quem é. O de merda, por seu turno, é o que tens na cabeça… Portanto, atina que não te conheço de lado nenhum nem andei na Casa Pia.

        • O Daniel Oliveira então só conhece e entrevista ciganos fantásticos – eu e as pessoas que conheço nunca tivemos essa “sorte”, sempre conhecemos lixo humano…

  3. Não foi este Senhor que nas Jornada parlamentares do PS realizadas em Junho de 2019 em Viseu ( a uns escassos meses das Legislativas) disse que se o PS fizesse o que o BE queria, que entraríamos “de novo” na bancarrota, depois do deputado Carlos Pereira em Setembro de 2019 ( a um mês das Legislativas) ter atacado de forma violenta os seus parceiros parlamentares nos quatro anos de executivo e afirmou que o PS quer “mesmo” poder “governar sem empecilhos” ???

    Qualquer PS “bem”, rejeita este tipo de comportamentos, de “traição ” aos valores da Ética.. Como diz o Povo: “cuspiram na sopa”… e agora “… `não querem que lhes deem sopa” !!!!

    Este PS ( o PS destes senhores) não é o PS dos que lutaram pela Democracia !!!

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