A escolha que sobrava para a TAP

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 02/07/2020)

Daniel Oliveira

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Já o escrevi demasiadas vezes para ter de desenvolver muito mais: a renacionalização da TAP, depois da estranhíssima privatização na 25ª hora organizada por Passos (quando já sabia que não seria primeiro-ministro), foi uma fraude política. Uma fraude política dirigida por António Costa, executada pelo seu amigo Lacerda Machado – que depois foi nomeado para o Conselho de Administração da companhia aérea – e pelo qual deu a cara o agora eurodeputado Pedro Marques. O seu sucessor no Ministério limita-se a ter de resolver o que todos recebemos. A cláusula do contrato, que permite aos privados recuperarem os cerca de 200 milhões que emprestaram à TAP através de prestações acessórias no caso do Estado reforçar a sua posição acionista, é a confissão da própria fraude.

Escrevi, há uns dias, que havia três escolhas possíveis: meter mais dinheiro na TAP e manter esta situação pantanosa e insustentável, nacionalizar a TAP por via de aumento de capital ou de outra forma, ou permitir que TAP fosse à falência– deixando de ter uma companhia de bandeira ou criando uma nova, mais pequena, ao lado. À hora a que escrevo ainda não é claro se o controlo público se fará a bem ou a mal. Espero que seja a bem. A boa notícia é que foi posta de lado a possibilidade da injeção de dinheiro público sem controlo público. Não repetiremos Novo Banco, porque não entregamos o dinheiro do Estado para que outros tomem todas as decisões. O chumbo do acordo de empréstimo, por parte do Conselho de Administração da TAP, fechou essa parte de toda esta triste novela, que vai da privatização pela calada da noite à renacionalização que nunca o foi.

Quem julga que com a solução de Passos Coelho não estaríamos na mesmíssima situação, está desatento: teríamos de salvar a TAP, porque precisaríamos dela na mesma. Aliás, a principal conclusão do que se passou há cinco anos é que, no essencial, não mudou nada. Por isso mesmo foi uma fraude.

Sobravam as outras duas possibilidades. Há muito que defendo que Portugal não deve depender do turismo para viver. Mas dizer isso não é achar que podemos deixar a casa arder. 90% dos nossos turistas chegam pelo ar (os opositores do TGV estarão seguramente orgulhosos desta dependência) e uma parte não negligenciável vem pela TAP. Os responsáveis do turismo explicam o efeito que teria o desaparecimento da TAP para a nossa principal atividade exportadora. Seria estranho que o Estado gastasse milhares de milhões para tentar salvar a economia e deixasse falir uma das que mais ajuda a exportar. E não se julgue que esta escolha é a mais confortável para o Governo. Terá de ser ele a reestruturar a empresa, com custos políticos. E não sabe ao certo o que o espera. Só pode haver um plano para a TAP quando o Estado souber ao certo o que lá se passa, o que não tenho a certeza que acontecesse na atual solução.

Falar dos custos da nacionalização ignorando os efeitos da falência para a economia, para o Estado e para o emprego é fazer demagogia. E se é para meter dinheiro do Estado, que o Estado controle o dinheiro que lá põe – e os privados não queriam pôr nenhum.

David Neeleman não queria ficar. Mas queria ir-se embora com algum. Esse algum seria garantido pela tal cláusula que nunca deveria ter existido. Perante isto, a nacionalização à bruta foi a arma negocial do Estado. Na realidade, o litígio é mau para todos. Ao Estado, porque pagará mais do que Neeleman lhe pede, através da decisão de um tribunal arbitral. A Neeleman, porque terá de esperar pela resolução judicial. Mas o controlo público ou a falência eram as únicas alternativas. Acionistas privados que não querem pôr um cêntimo na TAP não lhe garantiam qualquer futuro. O resto é barganha negocial em torno de uma meta de 50 milhões, que tinha um valor um simbólico para o Governo. Humberto Pedrosa, que quer continuar na empresa – suponho que por razões de prestígio social –, chegou a ser uma possibilidade para desbloquear o impasse. Não sei se no fim ainda o será.

No momento em que escrevo, o Estado cedeu pagar 55 milhões, cerca de um quarto do que teria pagar segundo a cláusula. Mas quer que a Azul, de Neeleman, renuncie à conversão em ações do empréstimo de 90 milhões (a taxas de juro de assalto) que fez à TAP. É por isto que tudo está pendurado e é por isto que o Governo pode ter de optar por uma nacionalização, no Conselho de Ministros de hoje. É para aí que as coisas apontam no momento em que escrevo. Mas o controlo público (70% para o Estado, 25% para Humberto Pedrosa e os restantes 5% continuam com os trabalhadores) é certo. Não havia outra saída para quem não concorde com a falência.

Nenhuma novela acaba sem um bom dramalhão. E o amigo de Costa e dos negócios, primeiro responsável pela desastrosa fraude política da “nacionalização”, com respetiva cláusula que agora torna tudo mais difícil, já começou a vender a sua narrativa, tentando passar para quem chegou há uns meses a responsabilidade deste desfecho. Todas as personagens se podem tentar reinventar. Sempre no registo opaco que caracteriza alguém que tem como cargo ser amigo de alguém, Lacerda Machado não foge à regra. E a Costa, dá-lhe jeito enjeitar as suas próprias responsabilidades. Lacerda ainda tentará passar pelo homem que tentou salvar a TAP. Tudo se consegue, basta querer muito.


15 pensamentos sobre “A escolha que sobrava para a TAP

  1. Nota. Concordo com a tese, que conheço. Por momentos, no caso da EFACEC mas também no da TAP, durante longas horas pairou um cheiro a napalm gonçalvista ali para os lados da Gomes Teixeia (capaz de confundir os socialistas mais sensíveis: abriu-se a caixa de pandora para os negócios na dinâmica EFACEC, o Zé e o Armando estão presos na Ericeira e em Évora, mas o negócio parece estar feito…). EFACEC = Siza Vieira um dos homens dos negócios do Costismo sem oposição, enquanto a abananada sucessora do ministro Vieira da Silva agendou uma entrevista para aquele dia para falar de não sei o quê, por seu turno, a filha do Vieira da Silva ela própria anuncia ao povinho as novidades da pesada; TAP = Lacerda Machado, outro dos homens de negócios do Costismo, que andou durante meses em confronto directo com o ministro Pedro Nuno Santos (e ainda entrou na jogada o gajo do CDS, genro do Lacerda…). O António Costa po ir hablar com nuestros hermanos y el rey que está em todas, portanto.

    ______

    Off.

    R A C I S M O

    Bélgica pede
    desculpa

    O 60.º aniversário da
    independência da República Democrática do Congo
    (RDC) foi aproveitado pelo
    atual rei da Bélgica, Filipe
    para apresentar os “mais
    profundos arrependimentos
    pelas feridas” infligidas
    durante o período colonial
    belga naquele território
    africano. Esta posição ofcial
    foi expressa através de uma
    carta enviada ao presidente
    da RDC, Félix Tshisekedi,
    e surge poucas semanas
    depois dos protestos que
    levaram à retirada da está-
    tua do rei Leopoldo II – de
    uma praça de Antuérpia –
    acusado de matar milhões
    de congoleses e que foi um
    alvo dos protestos antirracistas na sequência do
    homicídio do afro-americano George Floyd. Na carta, o
    rei da Bélgica afrma que, na
    época de Leopoldo II, foram
    cometidos “atos de violência e crueldade, que ainda
    pesam na memória coletiva” dos belgas, e prometeu,
    por isso, “combater todas
    as formas de racismo”.

    Fonte: Sábado, 2.7.2020, p. 17.

    #OBurroPedroÉRacista

    • Adenda. E este espectáculo multiplica-se por todo o nosso Querido Portugal, atenção: não por acaso surge o apatetado Fernando Medina a disparar contra a Marta Temido, a Graça Freitas, o seu número 2 antigo que é o Duarte Cordeiro e é apoiante do Pedro Nuno Santos. No parlamento discursa o paquidérmico não sei quantos Leão que é o amante, como antes se dizia, da moça da JS a falar sobre a TAP… e ambos fazem parte da quota do Nunismo, o Lacerda Machado faz-se ouvir através do Gonçalves Pereira do CDS. Com a época dos incêndios à porta, e com as eleições internas do PS a decorrerem em simultâneo, há guerras de quem serão os generais amigos do partido que deverão ser nomeados pelo MAI… E em plena pandemia, entretanto, a lógica da dona Constança Urbano de Sousa segundo a qual o melhor do possível é o deixa arder mostra novamente a sua raça. Outrossim, a filha do Vieira da Silva prepara-se para empregar e pagar reforçadamente aos camaradas, amigos e outros fazedores de favores sexuais contra o discurso de ódio nas redes sociais, SIC, e assim a proliferação de nicks falsos de gajos/as do PS contratados pelo gangue da CML, pelos gabinetes ministeriais, empresas públicas, avençados, chupistas das agências de publicidade, escritórios de advogados com os clientes mais mafiosos, etc., andam omnipresentemente na m. do FB 24 sobre 24, no Twitter e na blogosfera a fazerem propaganda e a bater palminhas a quem dá mais e a controlarem as massas atingirá um patamar de pura paranóia durante o Costismo. Preparem-se pois, passarinhos. E prepara-te tu, menino.

      Enfim, em minha opinião é a tudo isto que apropriadamente se deve passar a chamar a União Nacional Socialista.

    • Obrigado pelo insulto ó RFC.

      Vindo de um atrasado mental clubista como tu, é porque eu terei dito alguma coisa inteligente.

      Entretanto concordo com o pedido de desculpas da Bélgica, cujo comportamento no Congo não foi diferente do que os nazis fizeram na Europa no século seguinte.

      Resta agora aos árabes, a quem nessa época a Bélgica acabou com o tráfico de escravos na região, apresentarem também o seu pedido de desculpas.

      E já agora as elites locais congolesas, que durante mil anos venderam a sua própria população como escrava aos árabes e também praticaram escravatura em proveito próprio. E mais tarde também para venda aos ocidentais em concorrência comercial com os árabes, também devem apresentar o seu pedido de desculpas.

      • #OBurroPedroÉBurro, again.

        Ora, se #OBurroPedroÉRacista e gosta de ser burro e racista só mesmo tempo para quê gastar latim?

        🙂 , xô melga!

        • Obrigado pelos insultos.

          É uma honra para mim ser insultado por uma besta.

          É sinal que estou a acertar.

          Nomeadamente de onde vem o verdadeiro racismo.

          Ora eu já concordei com o pedido de desculpas da Bélgica aos congoleses, é óbvio que a Bélgica escravizou aquele povo.

          Agora explica lá tu porque não devem fazer o mesmo os árabes que praticaram o tráfico de escravos no Congo durante mil anos, e as elites congolesas que praticaram a escravatura e andaram a vender o seu povo durante mil anos em troca de objectos de luxo ?

          O não serem brancos dá-lhes o direito de estarem acima dos valores morais impostos aos brancos ?

          A escravatura só é má quando é praticada por um branco ?

          Para vocês é evidente que sim.

          E isso é racismo…

          Mas explica lá isso se fores capaz.

          Agora a sério, estou a brincar, sei que tu não consegues explicar nada, apenas insular e repetir propaganda como um papagaio amestrado.

          Tu és como todos os racistas.

          Broncos até ao fim.

          • A questão das elites é decisiva, na minha modesta opinião. Tanto em África como na América Latina, assim que tomaram o poder limitaram-se a viver “à europeia” e a jogar a cartada da herança colonial sempre que lhes convinha.

            • Mesmo antes da colonização as elites negras já viviam á grande sem precisarem de exemplos europeus.

              Se fosse preciso até vendiam parte da própria população aos traficantes de escravos árabes em troca de gujigangas.

              • Eheheh, Guê, guê, guê, gu-ji-gangas de bu-bu-bugigangas?! Bê e Guê, será isso?…

                #escolinha

                #OBurroPedroDasGujigangasÉRacista

                🙂 , tem pai qu’é cego!

        • #OBurroPedroÉRacista

          Epá, tens de arranjar umas apólices de seguro ó d’A Estátua: Este #OBurroPedroÉBurro, e é de facto. Este gajinho, ao pé dos jumentos a sério, ganha tudo desde os 100 metros até à matarona…

          Despacho do Director Geral: xô, mimosa!

          🙂

  2. … «apenas insular», INSULARES?!

    Nota. Ó d’A Estátua: então, pá, ides na carroça do Pedrinho e já chegámos à Madêra (ô terá xido aos Axoures)?

    🙂 , não te zangues pázinho.

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