Marques Mendes e as suas homilias semanais

(Carlos Esperança, 31/10/2019)

Nunca sabemos se o bruxo de Fafe é ele próprio, o militante de uma das fações do PSD, o conselheiro de Estado ou o alcoviteiro de Belém, mas qualquer um dos avatares é suficiente para que os jornais, emissoras de rádio, televisões e redes sociais façam eco das homilias do comentador avençado do “Jornal da Noite”, da SIC.

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Há anos, quando tinha acesso à agenda do Conselho de Ministros, nos tempos lúgubres de Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís, era certeiro a predizer o futuro e a acertar no que se discutia em S. Bento, incluindo as reuniões que se faziam por telemóvel, onde os SMS podiam ser a ata para a resolução do grupo GES/BES e outras decisões graves.

A fama de pitonisa privilegiada do regime vem desses tempos. No início da legislatura do anterior governo, que o PS, BE, PCP e PEV sustentaram, já se enganava mais vezes do que quem nunca teve dúvidas, seu antecessor na liderança do PSD.

Na última homilia, no domingo, como convém aos pregadores, no dia seguinte à tomada de posse do atual Governo, dedicou-se a divagações sobre o “estado de espírito” do PM e saiu-se com este sombrio diagnóstico: “António Costa está com medo da sombra e psicologicamente frágil”.

Logo ecoaram as palavras em todos os megafones ao serviço da direita, agora da direita que aguarda de Belém um sinal de que não lhe faltará quando a casa do PSD e o táxi do CDS saírem a brilhar da lavandaria dos congressos.

O homem devia lembrar-se da sintonia com as capas dos jornais no início da legislatura anterior, quando o Professor Cavaco ululava imprecações e, já laureado com o Grande Colar da Ordem da Liberdade, devorava frascos de sais de fruto a debelar a azia de um Governo, apoiado por toda a esquerda, que o velho salazarista foi obrigado a empossar.

Num país onde minguam notícias e sobram opiniões é um regalo recordar as capas dos jornais de há quatro anos, já que as profecias do bruxo se perderam no ruído da intoxicação da opinião pública.


5 pensamentos sobre “Marques Mendes e as suas homilias semanais

  1. Completamente de acordo com o articulista. Esta é de gritos: “António Costa está com medo da sombra e psicologicamente frágil”. O homem pitonísico revela agora artes de mediunidade até agora desconhecidas. É inacreditável como o homem pitonísico não desconfia da sombra que paira sobre as suas próprias meninges. E como não se dá conta do ridículo.

  2. Vamos lá a saber
    4 NOVEMBRO 2019 ÀS 11:06 POR VALUPI 4 COMENTÁRIOS

    Nos anos 80, quem é que recebeu uma herança de um milhão de contos e gastou tudinho nas férias grandes até ficar depenadinho/a?

    Artur Alves Reis
    4 DE NOVEMBRO DE 2019 ÀS 11:26
    Nos anos 20, eu também recebi uma herança assim mas com notas de 500 escudos, novinhas em folha, que a conceituada firma Waterlow & Sons Limited, de Londres, me fez chegar e que eu depositei no Banco de Portugal. Estive em Angola, e por fim comprei uma casa no alto do parque Eduardo VII e fartei-me de curtir.

    Miguel Relvas
    4 DE NOVEMBRO DE 2019 ÀS 11:32
    “A Estátua de Sal tem vindo a publicar, sempre com a assinatura do mesmo marmanjo, tangas e mais tangas tendentes a construir uma narrativa que os factos não confirmam em pormenores decisivos.” Não tenho mais nada a acrescentar, portanto.

    José Neves
    4 DE NOVEMBRO DE 2019 ÀS 5:12
    Caro Valupi: quanto é que é um milhão, desculpe-me?

    Carlos Esperança
    4 DE NOVEMBRO DE 2019 ÀS 17:52
    Os padrecas, Valupi? Ou o RFC?

    • Nota. Ó Arthur, pá: sempre é verdade, então, que o Grande José Sócrates disse perante o juiz Ivo Rosa que as despesas das férias (em grande, grandes) passadas com a-a eram à custa da velha? Que diacho, antes não tinham sido à pala do Carlos Santos Silva? Não ficou pedra sobre pedra, mesmo!, não há cu.

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