A religião, a carne de vaca e o Reitor da Universidade de Coimbra

(Carlos Esperança, 18/09/2019)

Imagem de António Neto Brandão, in Facebook

Preservar o ambiente e tornar sustentável o Planeta é assunto demasiado sério, que não se compadece com ironias fáceis ou adiamentos em período de emergência, mas há um mínimo de bom senso aparentemente alheio ao Reitor da Universidade de Coimbra.

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Todos sabemos que o modo de vida das sociedades atuais não é sustentável e que a sua perpetuação só abreviará o prazo de validade do Planeta para a vida humana. É urgente um novo paradigma que me leva a refletir sobre o aquecimento global e as tragédias que nos aguardam, mas há diferenças entre a ponderação exigida e o exibicionismo fácil.

Desconhecia a competência do Magnífico Reitor nas ementas das cantinas e a função de nutricionista-mor para proibir um alimento não proscrito pelas autoridades sanitárias.

A abolição inopinada da carne de vaca parece-me uma prepotência própria de um crente cujo proselitismo não aceita o contraditório. O atual reitor da UC, uma instituição laica, já surpreendeu na tomada de posse ‘antecedida de Missa Solene na Capela de S. Miguel, pelas 9 horas’, em 18 de fevereiro deste Ano da Graça.

Foi uma atitude pioneira de indignidade, de que pode não ter sido o responsável, mas a sua posse integrou uma missa para abrilhantar a cerimónia, missa cujo anúncio inédito mereceu a indignação de vários docentes. Foi a primeira vez que um reitor tomou posse com missa anunciada.

Se em 1 de março foi o primeiro reitor a manifestar publicamente a preocupação com a salvação da alma, em 17 de setembro, meio ano depois, é pioneiro a salvar o Planeta. Espero que não pense que o pão ázimo, que alimenta a alma, transubstanciado em corpo e sangue, após os sinais cabalísticos, seja a fonte de proteínas para substituir a carne de vaca.

Para já, parece-me abuso de funções, à semelhança da Missa Solene, impor aos outros o direito individual que lhe assiste.

Como na missinha, volto agora a repudiar a prepotência do Magnífico Reitor, por não lhe reconhecer autoridade para a decisão que tomou.

20 pensamentos sobre “A religião, a carne de vaca e o Reitor da Universidade de Coimbra

  1. Tchekov disse há mais de 100 anos que “A Universidade desenvolve todas as capacidades, inclusive a estupidez”.

    Parece que estava a prever o surgimento deste Magnífico que gosta mais de missas do que dos pecados da carne… de vaca, entenda-se. Quanto aos que não são de vaca, porventura o Magnífico pensará como o saudoso Morgado, que mereceu a excelente réplica da Natália Correia e depois… desapareceu

    Qualquer nutricionista a sério explica aos pacientes que a carne vermelha tem nutrientes que as outras não têm (e os vegetais ainda menos); por exemplo a vitamina B12. O que não significa que se coma uma costoleta de vaca todos os dias ganhando uma indigestão da tal vitamina. Mas reconheço que grande parte dos nutricionistas são defensores do veganismo, não se detendo mesmo em colocar os mortais a ingerir soja transgénica, de manhã, à tarde e à noite, sob forma sólida líquida e não sei se gasosa

    Adiante. Não sei se o Magnífico sabe que a soja que por aí anda é transgénica na sua maioria e principalmente usada na alimentação animal. E, pelos vistos, não baniu o frango, cujo tempo entre o ovo e a panela é curtíssimo e bem ataviado de porcarias transformadas em carne

    Também não sei se o Magnífico tem no gabinete o retrato de um seu Magnífico ancestral que ao receber um livro onde Newton afirmava a existência da gravidade – depois de uma maçã lhe ter caído na cabeça – afirmou a gravidade ser uma aldrabice porque… NÂO ERA REFERIDA NA BÍBLIA ! Maça, só há uma: a que a Eva deu ao Adão, porque essa constará da Bíblia

    No século XVII os ancestrais colegas do Magnífico, em Salamanca, andaram à pancada para ver quem ganhava a contenda que perturbava tão altos espíritos. Se o trabalho de Deus ao criar Eva era imperfeito porque o varão ficara sem uma costela OU, diziam outros, Deus era perfeito e teria preenchido o buraco resultante da cirurgia com um pedaço de carne.

    Há uns anos mandaram-me um video com a cerimónia do honoris causa ao Guterres e que contou com a presença do Leitor de Contracapas (um tal Marcelo) como lhe chama um amigo meu. diverti-me bastante a ver o desfile da intelligentsia coimbrã (e não só); parecia a feira do abat-jour

    http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/08/a-proposito-do-doutoramento-honoris.html

    Coimbra tem ainda outra particularidade. Paira por lá uma concentração de lepenistas, defensores da saída da UE, do euro, quiçá do sistema solar

    Divirtam-se
    VL

  2. Este pessoal é todo pela ecologia e contra o aquecimento global e tal.

    Até aparecer o primeiro partido ecologista e serem adoptadas medidas concretas contra o aquecimento global.

    Aí começam a insultar quem coma couves e goste de animais ou quem tente baixar a nossa pegada ecológica.

    Esta do Esperança chamar crentes a toda a gente que não pense como ele é outra de fanaticuzinho de trazer por casa.

    Ó Esperança, como ateu fanático e esquerdista pio, você também é crente.

    Os únicos que se podem gabar de não ser crentes são os agnósticos e os politicamente independentes.

  3. “O maior custo é o custo de não fazer nada”, disse António Guterres, a respeito da alterações climáticas.
    O senhor reitor da UC não foi feliz da maneira como deu o seu contributo, admitimos.
    Falar, falar e não apresentar uma única medida concreta, que produza resultados no imediato, é bem pior.
    Ao menos o senhor reitor da UC alertou almas que ainda não tinham dado conta que o problema é grave.

  4. Julio, a propósito das alterações climáticas

    1 – É transparente que todos os dramas ambientais, sociais e económicos que se vivem hoje – e que tendem a agravar-se, no seu conjunto – não surgiram porque sim, por acidente ou capricho dos factores naturais
    2 – É da História que esses e outros problemas são sequelas do modelo político, económico e social vigente (que captura os entes e lhes introduz o virus da aceitação) – o capitalismo com a sua democracia de mercado
    3 – Portanto, atacar as consequências branqueando as causas é garantia para que as coisas se venham a agravar ainda mais
    4 – As altas esferas, no atual contexto de despolitização e de ausência de esquerda, irão certamente cooptar os mais entusiastas dos manifestantes e dos grupos ecológicos

  5. Vitor Lima, a propósito das alterações climáticas
    Não se trata de branquear as causas. É preciso denunciar as causas, mas, cada um de nós, fazer alguma coisa, rapidamente, pouco que seja, para reverter o muito de mau que foi, e continua a ser, feito.
    Por mim, faço pouco, reconheço, mas faço alguma coisa.

    • Julio, certamente que nos compete minar onde e sempre onde seja possível. Mas ir atrás da moda das alterações é outra coisa. Há um misto de ecologistas à espera de cooptação pelos poderes e há poderes interessados em proceder a uma reconversão da base energética.
      Por ex. a questão dos carros elétricos cai bem no âmbito da concorrência no seio da industria automóvel mas não altera nada quanto a emissões (a nível global) para além dos desmandos da mineraão em torno do lítio, por ex. Mais, à pala do ambiente, aceita-se que os governos financiem a industria automóvel. Curiosamente, os autarcas pouco ou nada fazem para substituir o carro individual por transportes públicos (ganham muito com o estacionamento pago); como nada fazem em termos de ordenamento
      Por mim, estou à vontade pois raras vezes como carne. De origem animal como sobretudo peixe e laticínios. E não como de todo nada de soja, em geral transgénica
      Cpts

  6. Excelente decisão. Agora é aplicar o mesmo à carne de aves, ovelhas, cabritos e porcos.
    Os lobbystas da carne consideram a decisão extremista???
    Então o sofrimento e exploração dos animais é o quê?
    EXTREMISMO INSTITUÍDO, onde os vegans e sabedores dos males do consumo de animais, saíram fora para uma vida e alimentação mais saudável, amiga dos animais e do planeta.

  7. NÃO É PRECISO COMER ANIMAIS PARA SUBSISTIR. ESSA É MAIOR FALÁCIA DAS EMPRESAS DO LOBBY CARNISTA.
    E SIM, VEGETAIS E LEGUMES TÊM SÓ COISAS BOAS, QUE NÃO É PRECISO IR BUSCAR AOS ANIMAIS, POIS ESSES TAMBÉM AS TÊM.
    E B12 ESTÁ NA MAIORIA DOS CEREAIS.

  8. Vitor Lima.

    Só o capitalismo “captura os entes” e destrói a natureza ?

    Os campos de concentração estalinistas ou maoístas deviam ser buéda libertários e as campanhas de industrialização pesada do comunismo verdadeiramente amigas das florzinhas…

    Vimos isso em Chernobyl e na mina de carvão que arde há 40 anos na Sibéria…

    • Caro Sr. Carlos Esperança, o Sr. Reitor de Coimbra pertence á maçonaria, apesar de ter respeito pela Igreja Católica, pois em Coimbra são os negócios podres entre a maçonaria e a Igreja que pagam as contas tanto da diocese. Veja bem as listas dos candidatos á eleição de reitor no ano passado para perceber que o único assumidamente católico era o professor da faculdade de Letras, sendo o professor Ernesto do departamento de Eng. Informática o único que fez frente ao actual reitor pois se poderá dizer que este pertencia á Opus Gay. Antes de escrever convém analisar os factos, se me disser que existe promiscuidade entre instituições de solidariedade católicas e a faculdade, então tem toda a razão, pois a título de exemplo o fundo solidário do Instituto Justiça e Paz de cariz católico paga de forma indescriminada as propinas a alunos carenciadas, sendo que a maioria dos donativos para essa mesma Instituição advém da própria faculdade, ou seja, tal e qual como as pombas da Catrina o dinheiro aqui passa de mão em mão sem sair do mesmo dono. Os alunos em dificuldades económicas podem ser ajudados em material escolar, em comida e outras situações que não necessitam de uma relação assim tão promíscua com os dirigentes da faculdade.
      Coimbra é terra de tradição e manda a tradição que o bom negócio seja feito com todos (diabo e Deus ao mesmos tempo) e através do dinheiro estrangeiro que vem às paletes do Brasil.

    • Pedro, essa visão tem algumas décadas de desatualização

      O comunismo só existiu e, por pouco tempo na Comuna de Paris
      As experiências russas e chinesa rapidamente degeneraram e, na realidade constituem exemplos de capitalismo de estado; e nada têm a ver com comunismo
      O capitalismo de estado evidenciou-se em países onde, havendo fracos capitalistas típicos, o crescimento económico exigia e exige uma planificação e um controlo brutal dos trabalhadores, dirigido por um Estado autocrático como corpo que incorpora os “eleitos”, a casta partidária que, naturalmente se aproveita da situação
      Claro que no âmbito dos gangs trostko-estalinistas se diz que não existe nem existiu um capitalismo de estado…
      E daí que tem todo o cabimento o que disse atrás
      Cumprimentos
      VL

      • As pessoas não devem confundir sistema político com desenvolvimento, todas as nações independentemente de terem governos comunistas ou não, pretendem realizar o seu desenvolvimento com base nos seus recursos naturais. Por cima dessa situação nasce o poder político, ou seja, a capacidade de saber com que princípios e a que velocidade a população se deve desenvolver, a necessidade de viver no ocidente com níveis de vida superiores ao necessário tem impulsionado num mundo globalizado a subsistência de regimes comunistas noutras paragens do Globo (China). Neste momento já começamos a fechar os olhos às atrocidades do comunismo (ver o caso de Hong Kong) só para não ofender esses países. A sustentabilidade passa muito por aí, ou seja, desligar as necessidades obsessivas do ocidente em possuir acima das suas possibilidades, algo que vai muito além de uma ideia provinciana de que cortar no consumo de carne de vaca em Portugal irá solucionar todos os problemas do ambiente. É Falcão com cabeça de Pombo.

  9. Tanta estupidez! Isto é um assunto que diz respeito apenas á universidade e aos estudantes. Se alguém tem que pronunciar é esta gente, os estudantes. Todos os outros deviam era estar calados. Mas parece que este não assunto se transformou no futebol, isto é, da mesma forma que há milhões de treinadores em Portugal também há milhões de estudantes da universidade de Coimbra. Já agora, estes que aqui comentam sabem, por acaso, quantas vezes por semana entra a carne de vaca nas cantinas universitárias???

    • Sendo estudante universitário até lhe posso responder que o número de vezes que carne vaca é servida nas cantinas não é assim tão grande que se permita afirmar com clareza que a redução no consumo de carne de vaca na Universidade é um grande passo para atingir a neutralidade carbónica. Populismo há muito, e o Sr. Reitor deu numa de populista, a neutralidade carbónica da Universidade se calhar passa por apoiar o transporte público decente entre os diferentes Pólos da Universidade de Coimbra (para um estudante se movimentar entre os três diferentes Pólos acaba sempre por ter de apanhar pelo menos três autocarros diferentes, logo incentivo ao estudante a ter carro próprio). Essa tal redução sustentável do consumo de carne não se faz por decreto seja na faculdade ou a nível Nacional, pois o problema não está nos hábitos de consumo, mas muitas vezes em perceber a proveniência dos alimentos: Será que um prato de soja do Brasil consumido em Portugal emite tanto carbono que um bife da vasilha de uma vaca produzida numa localidade próxima da Faculdade?

    • A educação, a qualidade da alimentação e o impacto ambiental são do interesse do estado, e portanto de todos os cidadãos. Ainda por cima falando duma instituição pública.

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