A solução à espanhola que nos teria salvado da destruição insana

(In Blog Aspirina B, 10/09/2019)

«A Espanha não teve o chumbo do PEC 4, e, portanto, pôde evitar o resgate; e, por isso, nunca teve a sua credibilidade internacional tão afectada como Portugal teve.»

(António Costa em entrevista à SIC, 4 de Setembro 2019). Ver no link abaixo vídeo com a entrevista completa).

Primeiro-Ministro de Portugal, Setembro de 2019


Não é possível encontrar, em toda a Internet, uma referência que seja a esta declaração de Costa na sua última entrevista à SIC (se existe, rogo que me indiquem onde para corrigir). Suponho que também não existam referências indirectas no comentariado (mas sei lá). No entanto, contudo, todavia, esta é só a declaração política mais importante em Portugal desde [é favor preencher a gosto – ou seja, a desgosto].

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O momento que leva ao atrasadíssimo reconhecimento público por parte de Costa do que foi a defesa do interesse nacional e do bem comum por parte de Sócrates e de quem com ele estava nesse Governo – até aos limites do imaginável e até mesmo uma beca para além – começa no minuto 16 da entrevista. Bernardo Ferrão, uma infeliz e incompetente escolha para o jornalismo político que só se justifica pela sua disponibilidade para o sectarismo rasteiro, achou que ia entalar o entrevistado com a comparação entre Portugal e Espanha. Costa agradeceu a benesse e limpou o rabinho ao entrevistador. Como o Ferrão não parava de escavar o buraco onde se enfiou voluntariamente, o actual secretário-geral do PS e primeiro-ministro em funções ia ficando saturado e, na procura de ainda mais argumentos na categoria do “isto é óbvio, pá”, cometeu o deslize de ir parar aos idos de Março de 2011. Rapidamente o assunto ibérico na berlinda deixou de estimular a perseguição canina do “jornalista”.

Quem perder o seu rico tempo a ouvir esse trecho da entrevista fica autorizado a tirar umas ilações correspondentes sem qualquer risco de errar. Por exemplo, passa a ser inevitável ver em António Costa um alto responsável político que teria tentado, com o máximo das suas forças, evitar que o PEC 4 fosse chumbado usando exactamente o mesmo racional dos governantes ao tempo. E, num outro exemplo, é fatal ver em António Costa um cidadão que consegue calcular o valor da pérfida e estupidamente colossal destruição em capital financeiro, estrutura económica, tecido social, qualidade e segurança da vida pessoal – a que se soma o número de vidas que se desgraçaram e perderam em doenças e suicídios em consequência das decisões tomadas pelos partidos que chumbaram o PEC e impuseram o resgate de uma Troika fanática da “austeridade salvífica” que encontrou em Passos o carrasco guloso para cumprir as ordens e embriagado de desprezo para aumentar a devastação – num fenómeno de anos que, como também referiu na entrevista, só agora começa a permitir a recuperação dos instrumentos internacionais e estatuto do País para conseguir ter acesso a capitais necessários à boa gestão das contas públicas e à promoção dos investimentos estruturais por fazer há uma década.

Houve quem, para além de Sócrates e do PS ao tempo, tivesse antecipado o que iria acontecer se o PEC 4 fosse chumbado. Eram umas raríssimas e rarefeitas vozes, inaudíveis no berreiro furioso que queria sangue numa estratégia de terra queimada, vingança rancorosa contra aquele perante o qual se sentiam e sabiam inferiores e a captura do poder pelo poder. Infelizmente, tragicamente, em 2011 não pudemos ter uma solução à espanhola; confirmou Costa e confirma o silêncio cúmplice que abafou a sua extraordinária e fundamental recordação.


Fonte aqui

24 pensamentos sobre “A solução à espanhola que nos teria salvado da destruição insana

  1. Comparar a quinta economia europeia com uma economia que só serve para escoar produção alemã não lembra ao diabo, mas ainda cá andamos nisto.
    Mas pronto, um desemprego estrutural de 20%, o surgimento de ressabiados fascistas, corrupção a rodos e uma luta que vai acabar na desintegração do país são uma situação invejável para os socialistas modernos. Também houve quem previsse os efeitos do PEC4 e da permanência no Euro, mas temos que procurar um universo alternativo para comparar. Mas se os socialistas e sociais-democratas e democratas-cristãos (todos auto-intitulados) estão felizes com o país, que remédio, temos que estar todos.
    Eu ainda estou à espera de saber de quanto vale a total submissão económico-política à Alemanha, mas pelos vistos também o sr. Costa, por isso é que é incapaz de orçamentar o que quer que seja. Precisa de aprovação para governar primeiro.

  2. Muito ficou por esclarecer sobre o chumbo do PEC IV… Os “inocentes e mais humildes cidadãos” pagaram com língua de palmo, a irresponsabilidade dos partidos que, da direita à esquerda, o chumbaram. E a Comunicação Social continua a silenciar quantos tentam levantar um pouco o véu. Prova disso, é que dos muitos temas abordados na entrevista a António Costa , sobre o PEC nada se comentou.

    • Ui?

      Nota. Eheheh! Mariazinha: o que havia a explicar no pós-PEC 4 era o sentido da “narrativa da fuga” da pandilha socrática. Como a donzela não percebe e insiste em fazer publicamente essas estranhas figuras, apesar da minha paciência nomeadamente, tem duas hipóteses. Um: o BE e o PCP, que têm canais respeitáveis no campo da economia, são responsáveis e não poderiam fazer outra coisa (e as urnas vieram-lhes a dar razão, hello!). Duas: ainda por cima, essa razão ficou clarinha, para os portugueses que não são doidos da cabeça, pois eventuais dúvidas ficaram perfeitamente esclarecidas graças à acção da PGR e do DCIAP quando caçaram o José Sócrates, nas suas idas e vindas entre Paris e Lisboa em Excecutiva feitas à pala das correrias do João Perna com o dinheiro fresco, e que, durante algum tempo, o encaixotaram sossegadamente num T0 da prisão de Évora até o tipo acalmar os cavalos, deixar o MP investigar e ganhar juizo (?). É simples isto, é 1+1=2.

      RFC diz:
      Maio 31, 2019 às 12:23 pm

      Ri-te, Ri-te.

      Nota. O camarada Viktor com aquela tese desmiolada sobre “cumbo do PEC 4” a.k.a “a narrativa da fuga socratista” que antecedeu a ida do lindinho para viver à grande e à francesa, à conta!, em Paris enquanto os burros de carga ficaram por cá a levar porrada dos tipos do PSD/CDS para aprenderem com quantos paus é que se fazuma canoa, deve estar em pulgas para que chegue rapidamente o Grande Dia.

      […]

      • Adenda. Mariazinha, como é dura de ouvido digamos!, aqui tem a mesmíssima tese mas mais colorida (o Vitinho é um tal “vitor”: não sei se é o camarada Viktor, nem me interessa sinceramente, mas talvez seja da mesma turma).

        _______

        RFC diz:
        Janeiro 16, 2019 às 4:45 pm

        «Se alguém fica a dever muito a pensar a política a prazo é mesmo o Louçã. Como se viu em 2011.», qu’inteligente mais uma vez!

        Nota, 4U. Ó Vitinho, é como se viu em 2011, de facto, mas, ao contrário do que a tua cabecinha supõe, não foi depois do chumbo da narrativa-de-fuga-socratista do PEC4 na AR. Foi, sim, perante os resultados das legislativas de 2011 qundo os portugueses atiraram o José “dark side” Sócrates borda fora aproveitando então, o tipo, para descansar e filosofar na SciencesPo, viver à larga num bairro chique, em Paris, e regressar à Pátria em classe VIP nos aviões da TAP para a sua homília na RTP… pro bono. Enquanto isso, escreve aí para leres ao serão, duas coisas aconteceram: o Francisco Loucã, o BE, e o Jerónimo de Sousa, o PCP, acabaram por ter razão nas urnas; e os burros de carga [dos] portugueses passaram as passinhas do Algarve com o governo PSD/CDS enquanto o queridinho deixou Portugal e o PS num descampado algures na noite escura.

        Partido Socialista
        Votos: 1 568 168 (trajectória gloriosa do PS do tipo, um desenho: 2 588 312 votos contra o Santana Lopes, em 2005, 2 077 695 votos contra a Manuela Ferreira Leite, em 2009).
        28.06%, um recorde em 2011 ex-aequo (menos dez pontos que o PSD passista, alone).

        https://cdn0.iconfinder.com/data/icons/flat-round-arrow-arrow-head/512/Red_Arrow_Down-512.png

        Red Arrow Down duas vezes; percebes o que isto quer dizer, pázinho?

        • O ai jesus que não fora o pec lV e todos seríamos muito felizes já está cagasto,pá. Nunca se interrogaram porque foi preciso o pec l, ll, lll (todos aprovados pelo ps,psd e cds). Não fora a mudança de voto do psd e do cds e a legislatura acabaria quando chegassem ao PEC X ou quando acabasse o carcanhol

          • Correcção, até o BCE decidir cumprir (ou Berlim o fizesse fazer, lol) o seu papel eventualmente (como aconteceu), ou até percebermos que estamos pela nessa conta também na UE (coisa que há de vir).

  3. Lá isso é verdade.

    O sócas andava a roubar e espero que vá dentro, mas PCP-bloco-PSD-CDS deram muito mais cabo do país quando chumbaram o pec para obrigar o PS a chamar a troika.

    • Sócas ? Também tu pedrócas! Esperas que vá dentro se andava a roubar,. tu sabes não é ? O processo ainda não acabou ( não sabemos se acaba !) , mas vai ao processo e apresenta as provas . És outro que enprenhas pelos ouvidos !!!!!!

      • Nota, que o statement ali em baixo explica aos . Mourisco, custa-me um bocado voltar a falar com analfabetos como tu, mas lê primeiro a acusação do MP em vez de andares a fazer figuras de parvo. Aliás, o facto de o José Sócrates continuar a ter o apoio entre tipos que se dizem do PS tem razões profundas e que tiveram o seu tempo de sementeira na cultura de corrupção (RFC dixit), há anos!, e não no Amor jurado ao estado de Direito. Isso vê-se nas caixas de comenários de agumas sarjetas da blogosfera, e também aqui em que os teus comentários e os da Mariazinha são sinais. Mas há pior: é ler as merdas que, em uníssono, os mamíferos do PS e pensar a quem servem… O António Costa na frase sobre o PEC 4 segue essa linha de continuidade, e acrescenta-lhe uma dose enorme de desfaçatez sobre uma credibilidade reconquistada por si. Haja cu, pás!

        _____

        RFC diz:
        Junho 30, 2019 às 6:13 pm

        Medidas anticorrupção e poder judicial
        (Carlos Esperança, 29/06/2019)

        Ministério Público com poderes absolutos de corporação porquê?
        29 Junho 2019 às 11:43 por Penélope

        Quando fala uma bordalenga
        (Dieter Dellinger, 28/06/2019)

        Para além de um escândalo, estamos perante um projecto político
        28 Junho 2019 às 16:22 por Valupi

        Joana Marques Vidal diz que PS e PSD querem cometer crimes
        25 Junho 2019 às 13:50 por Valupi

        As inteligentes perguntas do PSD a Sócrates. As úteis e inteligentes Comissões Parlamentares de Inquérito
        (In Blog Um Jeito Manso, 25/06/2019)

        Perigosidades
        (Virgínia da Silva Veiga, 25/06/2019)

        Statement. No PS de António Costa subsiste uma cultura de #corrupção, veja-se este tweet do PM, https://twitter.com/antoniocostapm/status/1145318337745997824 (não se passa nada, pás?). Enquanto isso, os seus cães de guarda aqui, ali e acolá tomam conta do que podem (uns coitados, supra, e os outros literalmente, infra)*. Que dizer d teu comentário, Vitinho?

        Asterisco. https://estatuadesal.com/2019/06/28/quando-fala-uma-bordalenga/#comment-14946

    • E o bloco PS-PS deu muito mais cabo do país ao assinar os tratados de Masstricht e de Lisboa, coisa que nenhum PEC pode concertar. Mas há quem continue a esperar benesses de um país que quer ser o único a violar as regras que impõe, vão acordar com azia em breve.

  4. Quanto a Sócrates e não só, a Justiça que cumpra o seu dever: – que seja bem mais célere e condene todos os que vão vigarizando o País e que por aí se pavoneiam como se nada acontecesse.

    Não foi tanto a Troika que nos trouxe o inferno, mas os que dela se serviram para carregar no acelerador do empobrecimento que Passos Coelho com toda a convicção defendeu:

    DNotícias 2011- Passos Coelho apresentou as linhas mestras do programa eleitoral do PSD, numa conferência promovida pelo Diário Económico, em Lisboa: -(26 de Outubro, 2011)
    «Primeiro-ministro defende empobrecimento de Portugal “em termos relativos e em termos absolutos até” como única forma de sair da crise
    “Este programa (do PSD) está muito além do memorando” da ‘troika’, afirmou Passos Coelho – era a sua convicção logo na apresentação do seu programa eleitoral».

    O RESULTADO FOI O SEGUINTE:

    1. 2013 – INE a taxa de pobreza aumentou de 17,9% para 19,5%. Este valor reconduz-nos aos níveis de pobreza registados no início do século.
    2. Desemprego: Portugal passará dos 17,6% registados em Maio para 18,5% no final de 2014. Um valor que lhe confere a terceira mais alta, dos países que compõem a Organização…
    3. “Emigração portuguesa manteve em 2015 o pico atingido em 2013. O nível das 110 mil saídas mantém-se desde 2013”.
    Significa que 110 mil, não contaram para os cálculos da taxa de desemprego. Se contassem aumentariam a taxa de 18.5% para cerca de 20%…
    4. (2015) -Segundo o NEWS, mais de 6.100 empresas apresentaram insolvência este ano, mais 10,8% que em 2014
    — famílias representam mais de 60% das falências
    — Os processos de falência que dão entrada nos tribunais estão a aumentar a olhos vistos e atingem cada vez mais as famílias, cujo peso já ultrapassou os 60% no total. segundo o último relatório do ministério da justiça, referente ao terceiro trimestre do ano passado, o número de processos de falência – incluindo famílias e empresas – subiu 27% face ao mesmo período de 2011.

  5. volto a dizer aqui que a estátua tem um alter ego que se insurge no meio da conversa dos adultos com a ridícula e indigente, cifra de rêfêcê.

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