Um acto sem precedentes de ataque à liberdade de imprensa

(Wikileaks, in Resistir, 23/05/2019)

Assange

(A hipocrisia no seu melhor. Os mesmos, que dizem que querem defender a democracia e as liberdades na Europa contra a extrema-direita e promovem a dita “frente progressista”, supostamente para lhe fazer face, são os mesmos que estão caladinhos e não criticam Trump e os EUA por este ataque à liberdade e à imprensa livre.

Por isso fica-nos a dúvida: será que a tal “frente progressista” quer mesmo defender as liberdades, ou quer apenas atingir outros objectivos, servindo-se da defesa das liberdades como pretexto?

Comentário da Estátua, 25/05/2019)


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Hoje a administração Trump lançou um ataque sem precedentes à liberdade de imprensa global, revelando 17 acusações sob a Lei da Espionagem que implicam 175 anos de prisão contra o editor da WikiLeaks, Julian Assange. As acusações relacionam-se a revelações de crimes de guerra e abusos de direitos humanos pelo governo dos EUA, incluindo o vídeo pioneiro do Assassinato colateral, Diários da Guerra Afegã, Cablegate e o Manual para detidos na Baia de Guantanamo, publicado em 2010 e 2011. 

A acusação do Departamento da Justiça dos EUA declara que “Assange, Manning e outros partilham o objectivo de promover a missão da WikiLeaks como uma “agência de inteligência dos povo”, … a fim de revelar informação para o público e inspirar outros com acesso à mesma a fazer o mesmo”. Com esta acusação, a administração Trump procura fazer exactamente o oposto: estropiar a liberdade de imprensa e enviar uma mensagem de que nenhum jornalista que mereça esse nome está seguro contra represálias. 

O Departamento da Justiça quer aprisionar Assange por crimes alegadamente cometidos fora do Estados Unidos. A aplicação extra-territorial da lei estado-unidense é explícita ao longo da acusação (“numa ofensa começada e cometida fora da jurisdição de qualquer estado ou distrito particular dos Estados Unidos”), portanto classificando qualquer território no mundo como sujeito à lei dos EUA. 

“Julian Assange não é jornalista”, disse o Procurador Geral dos EUA John Demers, revelando a sua pouca familiaridade com a Primeira Emenda e ao mesmo tempo ignorando as dúzias de prémios de jornalismo que lhe foram concedidos, incluindo dois no mês passado, e sem se aperceber de determinações de tribunais do Reino Unido e de relatórios da inteligência dos EUA reconhecendo-o como jornalista. 

Em resposta à sem precedentes acusações de espionagem hoje formuladas contra Julian Assange, o editor-chefe da WikiLeaks, Kristinn Hrafsson, declarou: 

“Isto é o mal do desrespeito à lei na sua forma mais pura. Com a acusação, o “líder do mundo livre” ignora a Primeira Emenda – louvada como um modelo de liberdade de imprensa em todo o mundo – e lança um descarado assalto extra-territorial fora das suas fronteiras, atacando princípios básicos de democracia e no resto do mundo”. 

Barry J. Pollack, advogado de defesa de Julian Assange: 

“Hoje o governo acusou Julian Assange sob a Lei de Espionagem por encorajar fontes a proporcionarem informação verídica e por publicar aquela informação. A folha de figueira de que isto é meramente acerca de hacking de computadores foi removida. Esta acusação sem precedente demonstra a gravidade da ameaça que o processo criminal de Julian Assange coloca a todos os jornalistas no seu esforço para informar o público acerca de acções que foram efectuadas pelo governo dos EUA. 

Jennifer Robinson, advogada, afirmou: “Isto é um ataque total à liberdade de expressão, aos media e à Primeira Emenda”. 

A acusação transporta sérias implicações para parceiros que publicam a WikiLeaks, que são mais de uma centena por todo o mundo, incluindo o New Yok Times, The Telegraph The Guardian, os quais colaboraram nas publicações e podem agora enfrentar processos como co-acusados. 

A decisão final sobre a extradição de Assange permanece com o secretário do Interior do Reino Unido, os qual agora está sob enorme pressão para proteger os direitos da liberdade de imprensa no Reino Unido e alhures. Advogados dos direitos da imprensa argumentaram unanimemente que o processo de Assange sob a Lei de Espionagem é incompatível com princípios democráticos básicos. 

Este é o mais grave ataque à liberdade de imprensa do século.


Recursos: 
The Assange Precedent: Briefing paper on the precedent set by prosecuting Assange and its profound implications for press freedom 
defend.wikileaks.org/…

Live Blog (Courage Foundation) 
https://defend.wikileaks.org/2018/07/23/liveblog-julian-assange-in-jeopardy/

Donate: 
https://defend.wikileaks.org/donate

Ver também: 
Assange may spend the rest of his life in jail, he’s got a ‘HANGING judge’ – CIA whistleblower
Declaração escrita de Assange entregue à promotora sueca que o interrogou na Embaixada do Equador em 14-15/Novembro/2016 (extenso) 


Fonte aqui

4 pensamentos sobre “Um acto sem precedentes de ataque à liberdade de imprensa

  1. É claro que as acusações a Assange são outros tantos actos miseráveis de banditismo! Todos os pormenores deste atentado à Democracia são de uma crueldade e dum cinismo inqualificáveis!

  2. Os EUA sentem-se encurralados. Entendem-se como a força motora, o exemplo a seguir pela cantera dos estados vassalos e pelos outros que, não sendo vassalos arrostam com ameaças mais ou menos concretizadas de sanções e canhoneiras à porta.

    O Patriot Act que surgiu no pós 11/9 escancarou as portas, não só para as intervenções militares que sabemos, como para a criação de um Guantanamo (depois de Abu Ghraib, como áreas não direi sem direito mas com o direito da força. E assim, todo o mundo- na lógica dos EUA – parece ficar sobre a jurisdição do Patriot Act e as suas interpretações; sobretudo quando feitas por gente de tão exemplar perfil democrático, de intelectuais como Trump, Pence, Bolton, Pompeo e outras pomposas figuras, perante as quais o “Cão Raivoso” parece um ajuizado menino de coro.

    Lembram-se dos intelectuais Hitler, Himmler, Goebbels? Tinham como referência um intelectual racista americano, Chamberlain (homónimo do imbecil que capitulou em Munique) tal como hoje os acima citados escutam o Bannon que entretanto anda pela Europa a doutrinar a família LePen, o Wilders, o Farage, os AfD e o alarve do Vox (embora este se baseie mais num catolicismo ultra-montano, saudoso da Inquisição) e entulho humano do mesmo tipo.

    Os impérios não são fontes de liberdades e democracia. O único terá sido o Romano onde só se era obrigado a pagar impostos e venerar o imperador. E quando esse modelo começou a fraquejar com invasões e divisões, Constantino impôs o cristianismo, usando os bispos por si nomeados para controlar e dar uniformidade ao império. A coisa durou pouco a Ocidente mas ficou a duradoura supremacia do eleitor do Vaticano, árbitro com interesses próprios no jogo dos príncipes europeus.

    No estado em que está a Europa, submissa, dividida, sem pingo do que se possa chamar democracia, recheada de bases militares da NATO (nome de um biombo que tem o Pentágono por detrás) e sem sequer uma classe política que vá para além do quantitative easing (leia-se dopping monetário), a única resistência ao desespero trumpeano face à evidente decadência dos EUA, vem da Ásia.

    A resistência não parte da Europa, onde uma esquerda é algo que só se vê com lupa. E, embora a vulgata mediática defina os partidos participantes na romaria de hoje, como de esquerda, centro-esquerda, socialistas, sociais-democratas, liberais, ecologistas, cujas práticas e propostas não entusiasmam ninguém.

    A nível global a resistência à agressividade dos EUA vai-se centrando no eixo China-Rússia e outros parceiros mais ou menos alinhados – que não são um modelo de liberdades – cabendo à Europa, quatro alternativas:

    1 – Integração como ramal ocidental da Rota da Seda, protagonizada pela China
    2 – Integração na mesma (que parece inevitável) mas com um protagonismo de parceiro e não de dependência ou vassalagem
    3 – Continuidade (acentuada) como conjunto de estados vassalos, – mais ou menos desavindos – dos EUA; estes, encarregar-se-ão de semear o terreno com quartéis e armas, para garantir o domínio do Atlântico Norte (na velha lógica de Mahan ou Spykman)
    4 – Desagregação da UE, com conflitos latentes e novos que podem desencadear guerras, com os EUA e a OCX a procederem a um género de pesca à linha de influências para investimentos, armamentos made in USA

    A coisa está preta…

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